Gruta de Ibne Ammar

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Gruta de Ibne Ammar
Entrada sul da gruta de Ibne Ammar
Entrada sul da gruta de Ibne Ammar
Tipo Cársico
Localização Lagoa, Algarve, Portugal
Coordenadas 37° 9' 23" N 8° 29' 59" O
Comprimento 2 kms
Gruta de Ibne Ammar está localizado em: Portugal Continental
Gruta de Ibne Ammar

A Gruta de Ibne Ammar fica junto ao rio Arade,[1] no concelho de Lagoa, Algarve, em Portugal. É a maior gruta em Portugal a sul do Tejo.[2] A gruta é ou foi também conhecida pelas designações de "Cavernas da Mexilhoeirinha", "Furnas dos Mouros", "Gruta do Algar", "Gruta da Mexilheirinha", "Gruta de D. Afonso Henriques" e "Furnas da Mexilhoeira da Carregação",[3] tendo a designação "Ibne Ammar" se generalizado a partir dos anos 70 do século XX, em homenagem a Abû Bacr Muhammad Ibn Ammâr, poeta e governador árabe que talvez tenha nascido em Estômbar, uma localidade ao pé das grutas[4] (as primeira referências a essa designação parecem vir do principio dos anos 60).[5]

Localização[editar | editar código-fonte]

A gruta de Ibne Ammar fica no lado esquerdo do estuário do rio Arade,[2] no concelho de Lagoa, no Algarve, em Portugal, ao pé das localidades da Mexilhoeira da Carregação[3] e de Estombar.[4] As coordenadas da sua localização são N 37°09'23.1" W 8°29'59.2".[6]

Descrição[editar | editar código-fonte]

Vista da entrada da gruta norte

A gruta de Ibne Ammar é uma gruta cársica,[3] numa arriba calcária,[7] com um desenvolvimento horizontal de cerca de dois quilómetros. A sua atmosfera interior tem uma humidade de 100% e uma temperatura de 18ºC no solo e de 20,8ºC no ar. Na maior câmara da gruta há um lago anquialino e uma nascente,[2] sendo que parte da água do aquífero de Querença-Silves vai para o rio Arade através das condutas da gruta.[4]

Tem dois conjuntos de galerias, a 120 metros de distância um do outro, não sendo conhecida nenhuma passagem que permita a seres humanos passarem de uma para a outra. O conjunto mais a sul é composta por estreitas passagens labirinticas. O mais a norte é mais amplo, conduzindo a uma galeria principal, com uma altura de 8 metros e uma largura máxima de 17 metros; é nessa galeria que se encontra o lago, ao longo de 65 metros, que é alimentado tanto tanto pelas marés do estuário como pelo referido aquífero de Querença-Silves.[4]


Fauna[editar | editar código-fonte]

Lusoblothrus aenigmaticus, pseudoescorpião apenas conhecido nesta gruta

O sistema de grutas do Algarve é considerado um hotspot de biodiversidade, e sendo a gruta de Ibne Ammar uma das suas principais componentes, encontram-se lá várias espécies (algumas recentemente descobertas pela bióloga portuguesa Ana Sofia Reboleira): pseudoescorpiões como o pseudoescorpião gigante das grutas do Algarve (Titanobochica magna)[1] e o Lusoblothrus aenigmaticus (até agora só conhecido nesta gruta), a aranha Teloleptoneta synthetica, isópodes como o Cordioniscus lusitanicus e o Trogleluma machadoi, o dipluro Litocampa mendesi (também só conhecido nesta gruta), o peixinho-de-prata Squamatinia algharbica ou a centopeia Lithobius inermis.[8][2] Algumas dessas espécies apresentam características únicas: o S. algharbica é o maior inseto terrestre subterrâneo da Europa,[9] o L. aenigmaticus não tem parentes próximos em quase todo o Hemisfério Norte[10] e o T. magna é um dos maiores pseudoescorpiões do mundo[8] e foi considerado em 2013 como uma das novas espécies mais incríveis do planeta.[11]

Entre os vertebrados, a gruta é o habitat de morcegos como o Rhinolophus hipposideros, o R. mehelyi, o Myotis blythii, o M. escalerai, o morcego-de-peluche e possivelmente outras espécies dos géneros Myotis e Rhinolophus;[12] no teto por cima do lago interior há uma colónia de M. escalerai e R. mehelyi, cujo guano é largamente removido pela maré.[2]

Referências

  1. a b Campos, António Luis. «Por baixo do Algarve que conhecemos». National Geographic Portugal. Consultado em 28 de junho de 2021 
  2. a b c d e Reboleira, A. S. P. S.; Zaragoza, J. A.; Gonçalves, F.; Oromi, P. (8 de novembro de 2012). «Lusoblothrus, a new syarinid pseudoscorpion genus (Arachnida) from Portugal, occupying an isolated position within the Holarctic fauna». Magnolia Press. Zootaxa (3544): 59. ISSN 1175-5334. doi:10.11646/ZOOTAXA.3544.1.4. Consultado em 28 de junho de 2021 
  3. a b c Boaventura et al. 2011, p. 256
  4. a b c d Regala et al. 2018, p. 90
  5. Francês, M. (1963). «As grutas de Ibn-Ammar em Estômbar constituirão uma atracção turística». Vila Real de Santo António. Jornal do Algarve. 7 (320): 1,7 , referido em Regala et al. 2018, pp. 90, 127
  6. Maio, Daniela Filipa Silva (2018). Ocupação Paleolitica no Barlavento Algarvio: Modelos Preditivos com Recurso aos SIG (PDF) (Tese de Mestrado). Universidade do Algarve - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. p. 70. 138 páginas. Consultado em 30 de junho de 2021 
  7. Maio 2018, p. 27
  8. a b Regala et al. 2018, pp. 95
  9. «Jovem bióloga portuguesa descobre maior insecto subterrâneo terrestre da Europa». Público. 10 de abril de 2012. Consultado em 17 de janeiro de 2019 
  10. «É um pseudo-escorpião único e vive numa gruta do Algarve». Público. 22 de novembro de 2012. Consultado em 2 de julho de 2021 
  11. «What on Earth?: 100 of Our Planet's Most Amazing New Species». 30 de Abril de 2013. Consultado em 30 de Abril de 2013 
  12. Regala et al. 2018, pp. 96

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Boaventura, Rui; Mataloto, Rui; Nakushina, Diana; Harpsöe, Carl; Harpsöe, Peter (7–9 de abril de 2011). Victor S. Gonçalves; Mariana Diniz; Ana Catarina Sousa, eds. A ocupação neolítica da gruta de Ibne Ammar (Lagoa, Algarve, Portugal) (PDF). 5.º Congresso do Neolítico Peninsular. Consultado em 28 de junho de 2021 
  • Regala, Frederico Tátá; Bicho, Nuno; Carvalho, Fátima; Cascalheira, João; Gonçalves, Célia; Luís, Rui; Luís, Walter; Mergulho, Rui; Oliveira, Bruno; Pacheco, Paulo; Parreira, Rui; Paulo, Luis Meira; Pinto, Maria José; Regala, João Tátá; Santos, André; Veiga-Pires, Cristina (2018). «Na senda de Charles Bonnet Grutas clássicas do Algarve revisitadas - PARTE I» (PDF). Associação de Estudos Subterrâneos e Defesa do Ambiente. Trogle (7): 36-105. Consultado em 29 de junho de 2021