Hermetia illucens

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Classificação científica
Nome binomial
Hermetia illucens
Distribuição geográfica

Hermetia illucens

A mosca-soldado-negro[1] [2] (Hermetia illucens) é uma espécie de díptero braquícero da família Stratiomyidae[3] originária da América do Norte, que medra em zonas temperadas, subtropicais e quentes da América do Norte, sendo que, presentemente, também se encontra amplamente distribuída pelo continente europeu, com maior incidência no Sul, ocupando territórios na Península Ibérica, no Sul de França, em Itália, em Malta, na Croácia e mesmo na Suíça.[4]

Também tem vindo a marcar presença em África, na Ásia, particularmente na Índia, e nalgumas ilhas do Pacífico.[4]

Caracterização[editar | editar código-fonte]

A mosca-soldado-negro, quando chega ao estado adulto, apresenta uma coloração preta com reflexos metálicos, que alternam entre matizes azuis e verdes.[5] Enquanto díptero, conta com duas asas membranosas, que ziziam ao voar, possuindo, ainda, duas janelas transparentes no abdómen, para as resguardar.[5]

Tem uma cabeça larga, com olhos grandes e antenas compridas, compostas por 3 segmentos, quando chegam a adultas.[6] As extremidades das pernas apresentam uma coloração esbranquiçada.[7] Não vem munida de ferrão na ponta do abdómen, pelo que não é uma espécie perigosa.[7] Podem orçar entre os quinze e os 25 milímetros de comprimento.[5]

Reprodução[editar | editar código-fonte]

Esta espécie reproduz-se 3 vezes ao ano, entre os meses de Abril e Novembro.[6] Põe os ovos durante o dia, nos dois dias seguintes à fertilização. Cada fêmea deposita uma média de quinhentos ovos, cada um dos quais de cor amarelada e um milímetro de comprimento.[5] Ao fim de 1 semana, estes ovos eclodem.[6]

Larvas[editar | editar código-fonte]

As larvas, de cor alvadia, chegam até aos vinte e sete milímetros de comprimento e seis milímetros de largura, pesando por torno de 220 miligramas, já no último estágio larval.[8] Caracterizam-se pela cabeça e boca salientes.[8]

As larvas alimentam-se diariamente, podendo consumir entre 25 a 500 miligramas de matéria orgânica fresca, como estrume, restos de comida ou vegetais em estado de putrefacção, a qual convertem em proteínas e lípidos de elevada qualidade.[8] Contanto se verifiquem temperaturas entre os 29 e os 31 graus celsius e humidades relativas na ordem dos 50 a 70%, encontram-se reunidas as condições ideais para que as larvas da mosca-soldado-negro atinjam a maturidade no espaço de dois meses. [9]

Já no final do estádio larvar, antes de se transformar em pupa, a larva esvazia o trato digestivo e deixa de se alimentar e de se mover.[10] Só depois de se transformar em pupa, é que o exoesqueleto escurece. [10]

Valor nutricional[editar | editar código-fonte]

A larva da mosca-soldado-negro dispõe um teor proteico na ordem dos 35-46% e um perfil de aminoácidos essenciais semelhante à farinha de peixe[11] [12]. Por outro lado, o conteúdo lipídico alterna entre os 15 e os 49%, sendo que a variação depende exclusivamente da dieta das larvas. [12]

Esta percentagem lipídica, pode, em todo o caso, ser cerceada até aos até 9%, por meio de processos de desengorduramento, o que, por arrasto, resultará num correspondente aumento do teor proteico de 35% para 60%. [13] De igual modo, os níveis de ácidos gordos destas larvas espelham o perfil de ácidos gordos da sua dieta, o que significa que é possível manipulá-los.[14] Por exemplo, o teor em ácidos gordos n-3 da mosca-soldado-negro é cerca de 0,2% quando alimentada com estrume de vaca, porém, essa percentagem sobe para os 3%, se a larva for alimentada com 50% de estrume de vaca e 50% de desperdícios de peixe[10].

Usos[editar | editar código-fonte]

Esta espécie é usada, geralmente, para controlo de pragas e na bioconversão de lixo orgânico.[14] As larvas também podem ser utilizadas para o consumo animal, uma vez convertidas em farinhas, farelos e outras rações, que por seu turno são usadas no âmbito da aquacultura.[11] Das pupas, uma vez processadas e prensadas, pode extrair-se gordura, com que se faz biodiesel.[13]

Na aquacultura[editar | editar código-fonte]

A farinha de mosca-soldado-negro tem sido sopesada como ingrediente-base para rações de peixes de aquacultura, vocacionada mormente para espécies de água doce.[15] Dessarte, a substituição de farinha de peixe por farinha de mosca-soldado-negro foi testada em culturas de peixe-gato amarelo (Pylodictis olivaris)[16], de truta arco-íris e de carpas-comuns[17]. Desses testes, concluiu-se que a farinha de mosca-soldado-negro pode ser usada como um substituto das farinhas e rações de peixe, sem que haja prejuízo para o crescimento ou a digestibilidade das já mencionadas espécies de peixe e mesmo para outras espécies de aquacultura, como o robalo europeu, o robalo japonês (Lateolabrax japonicus) e o salmão-do-atlântico (Salmo salar)[18] .

No entanto, o mesmo já não sucedeu nos testes com douradas, em que se verificaram prejuizos de crescimento e de digestibilidade (Kroeckel et al., 2012)[19]. Desta feita, conclui-se que há diferenças significativas diferenças entre as espécies quanto ao potencial uso de farinha de mosca-soldado-negro como substituto da farinha de peixe convencional.[20]

Referências

  1. Infopédia. «mosca-soldado-negro | Definição ou significado de mosca-soldado-negro no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 19 de agosto de 2021 
  2. Oliveira, Fernanda. «Assessment of Diptera: Stratiomyidae, genus Hermetia illucens (L., 1758) using electron microscopy». AkiNik Publications. Journal of Entomology and Zoology Studies: 147-152. Consultado em 19 Agosto 2021  «A Mosca soldado-negro (Hermetia illucens), é um Díptero pertencente à família Stratiomyidae (mais de 2000 espécies e 400 géneros)»
  3. «Hermetia illucens». Fauna Europaea (em inglês). Consultado em 22 de novembro de 2019 
  4. a b «Hermetia illucens (Linnaeus, 1758) | Fauna Europaea». fauna-eu.org. Consultado em 19 de agosto de 2021 
  5. a b c d Oliveira, Fernanda. «Assessment of Diptera: Stratiomyidae, genus Hermetia illucens (L., 1758) using electron microscopy». AkiNik Publications. Journal of Entomology and Zoology Studies: 147-152. Consultado em 19 Agosto 2021 
  6. a b c TOMBERLIN, JEFFERY K. «Ability of Black Soldier Fly (Diptera: Stratiomyidae) Larvae to Recycle Food Waste». Oxford University Press. Environmental Entomology: 406-410. doi:10.1093/ee/nvv002. Consultado em 19 Agosto 2021 
  7. a b «Página de Espécie • Naturdata - Biodiversidade em Portugal». Naturdata - Biodiversidade em Portugal. Consultado em 19 de agosto de 2021 
  8. a b c Kaufman, Phillip E. «Black Soldier Fly Hermetia illucens Linnaeus (Insecta: Diptera: Stratiomyidae)» (PDF). University of Florida. IFS Extension: 1-3. Consultado em 19 de Agosto de 2021 
  9. Hardouin, Jacques (2003). Zootechnie d'insectes-Elevage et utilisation au bénéfice de l'homme et de certains animaux. [S.l.]: Bureau pour l'Echange et la Distribution del'Information sur le Mini,Elevage (BEDIM). pp. 95–96 
  10. a b c Heuzé, Valérie. «State-of-the-art on use of insects as animal feed». Association Française de Zootechnie. Animal Feed Science and Technology: 1-33. Consultado em 19 de Agosto de 2021 
  11. a b Henry, Morgane. «Review on the use of insects in the diet of farmed fish: Past and future». Elsevier. Animal Feed Science and Technology: 1-22. doi:10.1016/j.anifeedsci.2015.03.001. Consultado em 19 de Agosto de 2021 
  12. a b Meneguz, Marco. «Effect of rearing substrate on growth performance, waste reduction efficiency and chemical composition of black soldier fly ( Hermetia illucens ) larvae: Rearing substrate effects on performance and nutritional composition of black soldier fly». Penton. Journal of the Science of Food and Agriculture: 5776-5784. doi:10.1002/jsfa.9127. Consultado em 19 Agosto 2021 
  13. a b Schiavone, Achille. «Partial or total replacement of soybean oil by black soldier fly larvae (Hermetia illucens L.) fat in broiler diets: Effect on growth performances, feed-choice, blood traits, carcass characteristics and meat quality». Taylor & Francis. Italian Journal of Animal Science: 93-100. doi:10.1080/1828051X.2016.1249968. Consultado em 19 de Agosto de 2021 
  14. a b Bußler, Sara. «Recovery and techno-functionality of flours and proteins from two edible insect species: Meal worm (Tenebrio molitor) and black soldier fly (Hermetia illucens) larvae». Elsevier. Heliyon: 218. doi:10.1016/j.heliyon.2016.e00218. Consultado em 19 de Agosto 2021 
  15. Sealey, Wendy M. «Sensory Analysis of Rainbow Trout, Oncorhynchus mykiss, Fed Enriched Black Soldier Fly Prepupae, Hermetia illucens». World Aquaculture Society. Journal of the World Aquaculture Society: 34-45. doi:10.1111/j.1749-7345.2010.00441.x. Consultado em 19 de Agosto de 2021 
  16. Xiaopeng, Xiao. «Effects of black soldier fly (Hermetia illucens) larvae meal protein as a fishmeal replacement on the growth and immune index of yellow catfish (Pelteobagrus fulvidraco)». Wiley. Aquaculture Research: 1569-1577. doi:10.1111/are.13611. Consultado em 19 de Agosto de 2021 
  17. Zhou, J.S. «Effect of replacing dietary fish meal with black soldier fly larvae meal on growth and fatty acid composition of Jian carp (Cyprinus carpio var. Jian)». Wiley. Aquaculture Nutrition: 424-433. doi:10.1111/anu.12574. Consultado em 19 de Agosto de 2021 
  18. Moreira de Magalhães, Rui Pedro. «Black soldier fly ( Hermetia illucens ) pre-pupae meal as a fish meal replacement in diets for European seabass ( Dicentrarchus labrax )». Elsevier. Aquaculture journal: 79-85. doi:10.1016/j.aquaculture.2017.04.021. Consultado em 19 de Agosto de 2021 
  19. Kroeckel, Saskia. «When a turbot catches a fly: Evaluation of a pre-pupae meal of the Black Soldier Fly ( Hermetia illucens ) as fish meal substitute - Growth performance and chitin degradation in juvenile turbot ( Psetta maxima )». Elsevier. Aqualculture journal: 345-352. doi:10.1016/j.aquaculture.2012.08.041. Consultado em 19 de Agosto de 2021 
  20. Pereira Antunes, Beatriz (2019). Avaliação da farinha de Hermetia illucens como substituto da farinha de peixe em dietas para corvina (Argyrosomus regius): Crescimento, digestibilidade, composição corporal e aceitação do produto final pelo consumidor. Porto: Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. pp. 12–14