Jorge Segurado

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Jorge Segurado
Jorge Segurado
Em retrato publicado em 1919
Nome completo Jorge de Almeida Segurado
Nascimento 1898
Morte 1990 (92 anos)
Nacionalidade Portugal portuguesa
Ocupação arquiteto
Prémios Prémio Valmor 1947

Jorge de Almeida Segurado ComCOSE (Lisboa, 15 de Outubro de 1898 – 9 de Novembro de 1990) foi um arquiteto português.

Foi um dos pioneiros da implementação da linguagem modernista na arquitetura portuguesa. A partir do final da década de 1930 acompanhou a mudança de rumo associada ao "gosto oficial, neo-tradicional, do Estado Novo, que praticou depois por vários anos",[1] para mais tarde regressar aos princípios do idioma modernista inicial, informado pelos desenvolvimentos mais recentes da arquitetura internacional.

Biografia / Obra[editar | editar código-fonte]

Galeria UP, c. 1933

Era filho do engenheiro João Emílio Segurado (autor de um conjunto de livros técnicos sobre construção). Frequentou o Liceu Pedro Nunes. Em 1913 inscreveu-se no Curso Preparatório da Escola de Belas-Artes de Lisboa e em 1918 no Curso Especial de Arquitetura, que concluiu em 1924. A sua formação nas Belas-Artes foi marcada por José Luís Monteiro e pelo academismo neoclássico; trabalhou no ateliê de Tertuliano de Lacerda Marques (1883-1942) ainda antes de terminar o curso; trabalhou com Porfírio Pardal Monteiro na Caixa Geral de Depósitos.[2]

A sua obra inicial da década de 1920 é marcada pela herança clássica, pela Art Déco e pela Secessão Vienense, evoluindo para uma progressiva simplificação modernizante. É o que acontece no projeto "geométrico e purista" do Liceu Masculino de Coimbra (1929-1931), de que foi coautor (com Carlos Ramos e Adelino Nunes). Data desta época a sua participação no I Salão dos Independentes (SNBA, 1930), incluído num grupo de autores e de obras inovadoras, bem como uma longa viagem que lhe permitiu contactar em direto com a arquitetura modernista europeia. Conhece obras de Walter Gropius na Alemanha e de Dudok na Holanda; em Paris visita a Exposição Colonial Internacional (1931).[3]

Datam dos anos de 1930 os projetos de diversas lojas em Lisboa (Galeria UP, Rua Serpa Pinto; Farmácia Azevedo & Filhos, Rossio; etc.) e os exemplos mais emblemáticos da sua década modernista: Casa da Moeda, considerada "uma das mais interessantes edificações dos anos 30 portugueses";[4] Liceu D. Filipa de Lencastre, Lisboa (ambos com importante colaboração de António Varela).[5][6]

Casa da Moeda (maquete)

Com um programa de utilização vasto e complexo que incluía zonas destinadas à indústria e oficinas, a escritórios e equipamentos de apoio, a Casa da Moeda ocupa a totalidade de um quarteirão ao Arco do Cego, Lisboa. Segurado optou por distribuir as zonas edificadas na periferia, deixando um vasto pátio preencher o espaço interior do quarteirão. O desenho global foi pensado em articulação com uma malha geométrica organizadora; e grande parte do exterior, pontuado por pilares sequenciais a meia esquadria, é revestido com tijolos cerâmicos de cor verde. Vários documentos e publicações da época atestam o impacte que este conjunto teve no meio arquitetónico português.[7]

A partir de final da década de 1930 a obra de Jorge Segurado inflete, acompanhando a generalização do estilo oficial do Estado Novo, frequentemente apelidado Português Suave, que determinou o "regresso aos múltiplos formulários neo-conservadores e tradicionalistas". Projeta os pavilhões de Portugal nas Feiras Internacionais de Nova Iorque e S. Francisco (1939) e o núcleo das Aldeias Portuguesas da Exposição do Mundo Português (1940).[8][9] Entre muitos outros projetos com estas características assinale-se o Colégio de Santa Doroteia (1935-1957), Lisboa, um prédio na Rua Visconde Coriscada, Covilhã (1943), ou a sua própria habitação na Rua de S. Francisco Xavier nº 8, Ajuda, Lisboa – Prémio Valmor 1947.[9]

Casa da Moeda

Ao longo das décadas de 1940 e 1950 o seu trabalho alterna as opções claramente modernistas com as de pendor mais tradicional; a oscilação é manifesta na cerca de meia centena de postos de abastecimento que projeta para a Sacor (gosto neo-tradicional em Aljubarrota e de tipo moderno em Vilar Formoso, ambos de 1951). Procura também compatibilizar esses valores formais contrastantes em projetos como o da Estação Agronómica Nacional (1963) e da Fábrica de Fogões Portugal, Oeiras, ou da Pousada de Sagres (1960).[10]

Uma obra do período final, poderosamente moderna, "que brilha desde a sua construção como exemplo dos mais qualificados espaços de habitação plurifamiliar no Bairro de Alvalade", em Lisboa, é a do conjunto dos chamados Blocos Amarelos, na Avenida do Brasil (em associação com o seu filho, João Carlos Segurado), onde é claro o desejo de aproximação às propostas da Carta de Atenas e do urbanismo internacional mais recente.[11]

Em paralelo com a prática da arquitetura dedicou-se à investigação e aos temas de história da arte e da arquitetura portuguesa (séculos XV e XVI; século XX);[12] foi também autor de obras literárias e artísticas, tendo realizado uma exposição de desenho e pintura na Galeria Diário de Notícias, Lisboa (1983).

A 4 de Março de 1941 foi feito Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 16 de Junho de 1948 foi feito Comendador da Ordem Militar de Cristo.[13]

Entre os seus parentes arquitetos destacam-se: José de Almeida Segurado (1913-1988) e José Maria Segurado (1923-2011) [14] e João Carlos Segurado.

Alguns projectos e obras[editar | editar código-fonte]

  • 1929-30 – Liceu Júlio Henriques (atual Escola Secundária José Falcão), Coimbra (com Carlos Ramos e Adelino Nunes; construída em 1931-41).
  • 1932-38 – Liceu D. Filipa de Lencastre, Lisboa (com António Varela).
  • 1933 – Galeria UP, Rua Serpa Pinto 28-30, Lisboa.
  • 1933-37 – Farmácia Azevedo & Filhos, Rossio, Lisboa.
  • 1934-38 – Casa da Moeda, Lisboa.
  • 1935-1957 – Colégio de Santa Doroteia, Lisboa.
  • 1936-37 – Casa-clínica do Dr. Indiveri Collucci, Rua de Lino D’Assunção, Paço de Arcos.
  • 1939 – Pavilhões de Portugal nas Feiras Internacionais de Nova Iorque e S. Francisco, EUA.
  • 1940 – Núcleo das Aldeias Portuguesas, Exposição do Mundo Português, Lisboa.
  • 1944 – Estúdios da Tóbis Portuguesa, Alameda das Linhas de Torres, 144, Lisboa.
  • 1947 – Casa Própria na Rua S. Francisco Xavier, 8, Lisboa – Prémio Valmor, 1947.[15] (a casa da foto é a Casa de José Malhoa -Prémio Valmor 1905, e não a casa do arqª J. Segurado) (esta é a casa verdadeira: http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/moradia-na-rua-sao-francisco-xavier-8)
  • 1952 - Moradia do Editor Valentim de Carvalho, na Rua de Alcolena 25, Lisboa
  • 1953 - Conjunto Urbano do cruzamento entre a Av. EUA e a Av. de Roma (Bloco do Vavá)
  • 1953-67 – Edifícios da Estação Agronómica Nacional, Oeiras.
  • 1953-60 – Edifício da Estação Agrária, Tavira. [16]
  • 1957 – Conjunto habitacional para o Montepio Geral, Av. do Brasil, 112-132, Lisboa.
  • 1960 – Pousada do Infante D. Henrique, Sagres.

Liceu Dona Filipa de Lencastre[editar | editar código-fonte]

Casa da Moeda[editar | editar código-fonte]

Colégio de Santa Doroteia[editar | editar código-fonte]

Pavilhão de Portugal, Feira Internacional de Nova Iorque[editar | editar código-fonte]

Blocos Habitacionais, Av. do Brasil[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Fernandes, José Manuel – Arquitetos Segurado. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2011, p. 17. ISBN 978-972-27-2031-1
  2. Fernandes, José Manuel – Arquitetos Segurado. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2011, p. 13, 19. ISBN 978-972-27-2031-1
  3. Fernandes, José Manuel – Arquitetos Segurado. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2011, p. 17, 19, 26
  4. França, José Augusto – História da Arte em Portugal: o Modernismo. Lisboa: Editorial Presença, 2004. p. 89, 93. ISBN 972-23-3244-9
  5. Fernandes, José Manuel – Arquitetos Segurado. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2011, p. 34, 51
  6. «Casa da Moeda e Valores Selados». Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico 
  7. Fernandes, José Manuel – Arquitetos Segurado. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2011, p. 34, 39
  8. Fernandes, José Manuel – Português Suave: Arquiteturas do Estado Novo. Lisboa: IPPAR, Departamento de Estudos, 2003, p. 76. ISBN 972-8736-26-6
  9. a b Fernandes, José Manuel – Arquitetos Segurado. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2011, p. 55
  10. Fernandes, José Manuel – Arquitetos Segurado. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2011, p. 61, 89
  11. Fernandes, José Manuel – Arquitetos Segurado. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2011, p. 61
  12. Fernandes, José Manuel – Arquitetos Segurado. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2011, p. 81
  13. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Jorge Segurado". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 16 de abril de 2016 
  14. «Apresentação do livro Arquitetos Segurado». Câmara Municipal de Lisboa. Consultado em 2 de janeiro de 2012 
  15. «O Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura». Câmara Municipal de Lisboa 
  16. Pereda, Ignacio – O Posto Agrário de Tavira (1926-1974. Faro: DRAPA, 2023

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]