Jorge de Ataíde

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Jorge de Ataíde
Bispo de Viseu
Jorge de Ataíde
D. Jorge de Ataíde, óleo sobre tela, Retrato de meio corpo, autor desconhecido (séc. XVII)
Antecessor(a) D. Gonçalo Pinheiro
Sucessor(a) D. Miguel de Castro
Nascimento 23 de abril de 1535
Morte 17 de janeiro de 1611 (75 anos)
Pai D. António de Ataíde, 1.º Conde da Castanheira
Mãe D. Ana de Távora
Título(s) Capelão-mor, Bispo Inquisidor-Geral, membro do Conselho de Portugal
Ocupação Fidalgo, Prelado, Estadista

D. Jorge de Ataíde (Lisboa, 23 de abril de 1535 - Castanheira do Ribatejo, 17 de janeiro de 1611)[1] [2] foi um fidalgo, prelado e estadista português.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Era filho segundogénito de D. António de Ataíde, 1.º Conde da Castanheira e de sua mulher Ana de Távora, filha de Álvaro Pires de Távora, senhor de Mogadouro.[3]

Sendo filho segundo, não herdeiro da casa paterna, seguiu a carreira eclesiástica e completou estudos em Direito canónico na Universidade de Coimbra.

Em 1562, por ordem da rainha D. Catarina de Áustria, foi enviado ao Concílio de Trento, juntamente com o frade dominicano Luis de Sotomayor e o frade franciscano António de Pádua. No final do Concílio, seguiu para Roma, onde participou na reforma do Missal Romano e do breviário, missão específica que lhe foi atribuída pelo Papa Pio IV.[3] No entanto, a sua permanência em Roma acabaria por ser curta, pois a morte do seu pai em 1563 obrigou-o a voltar a Portugal.[4]

Ao regressar, foi nomeado para o cargo de presidente da Mesa da Consciência e Ordens e mais tarde, em 23 de julho de 1568,[2] foi nomeado bispo de Viseu, cargo no qual, após a obtenção da bula papal, seria consagrado em 7 de novembro de 1568[2] por D. Julião de Alva, bispo de Miranda, sendo co-consagrantes D. Gaspar Cão, bispo de São Tomé e Príncipe e D. Manuel de Almada, bispo de Angra.

D. Jorge de Ataíde tomou formalmente posse da diocese de Viseu em 14 de março de 1569 e exerceu essa dignidade até 4 de julho de 1578, quando resignou ao cargo.[4] [2] Durante o seu governo da diocese, mandou construir a nova sacristia da Sé de Viseu.[5] Logo depois de deixar o cargo, o cardeal-rei D. Henrique nomeou-o Capelão-mor da casa real portuguesa.

Durante a crise de sucessão de 1578-1580, tornou-se apoiador das pretensões de Filipe II de Espanha ao trono português, atraindo os seus familiares para a causa filipina. Foi um dos primeiros súbditos portugueses a deslocar-se a Badajoz para servir o rei castelhano, auxiliando-o na tomada do poder em Portugal. Em recompensa, foi novamente nomeado presidente da Mesa da Consciência e Ordens, em 4 de dezembro de 1580.

Em 1583 deixou Portugal e instalou-se junto à corte de Madrid onde fez parte, juntamente com Cristóvão de Moura, Pedro Barbosa de Luna, Francisco Nogueira e Nuno Álvares Pereira, do recém criado Conselho de Portugal.

A morte de Filipe II em 13 de setembro de 1598 e a chegada ao trono do novo soberano, Filipe III de Espanha, decretaram o ocaso da sua influência na corte de Madrid.[1] O novo homem forte da monarquia ibérica, Francisco Gómez de Sandoval y Rojas, 1.º Duque de Lerma, logo começou a colocar os seus parentes e clientes nos principais órgãos do governo. Assim, Juan de Borja y Castro, tio do Duque de Lerma, foi nomeado para o cargo de presidente do Conselho de Portugal em 1599, onde rapidamente suplantou Cristóvão de Moura e D. Jorge de Ataíde, para se tornar o verdadeiro homem forte da política portuguesa.

Em 1602 Ataíde foi convidado para o cargo de Inquisidor-Geral de Portugal, apesar dos seus quase 70 anos de idade; aceitou o convite, mas acabaria por renunciar ao cargo pouco tempo depois, por este não vir acompanhado do prometido barrete cardinalício.[1]

Aproveitando a transferência da Corte para Valladolid, conseguiu recuperar algum prestígio e influência nos meios cortesãos, pois Juan de Borja teve que permanecer em Madrid ao serviço de Margarida da Áustria, Rainha da Espanha. Porém, nunca conseguiu recuperar o nível de influência que anteriormente tivera pelo que, após o ano de 1602, pediu para ser dispensado de todas as suas funções, a fim de poder regressar a Portugal.

Voltaria a Lisboa no ano seguinte, em 1603, e retomou as suas atividades eclesiásticas (incluindo a sagração, em 21 de março de 1610, do seu sobrinho D. João Manuel de Ataíde como bispo de Viseu) até à sua morte, ocorrida na Castanheira a 17 de Janeiro de 1611.

D. Jorge de Ataíde que, em vida, promovera vastas obras de reedificação de todo o convento de Santo António da Castanheira, foi sepultado junto ao túmulo dos seus pais, que ele mandara erguer à sua custa, nesse convento.[6] [7]

Obra literária[editar | editar código-fonte]

Publicou, em 2 Tomos, as "Actas do Concílio Tridentino até à 7 sessão a que assistiu", um Nobiliário das Famílias do Reino (que ficou manuscrito) e ainda obras religiosas escritas em latim.[3]

Referências

  1. a b c «Jorge de Ataíde - Cathopedia, l'enciclopedia cattolica». it.cathopedia.org. Consultado em 14 de janeiro de 2023 
  2. a b c d «Bishop Jorge de Ataíde [Catholic-Hierarchy]». www.catholic-hierarchy.org. Consultado em 14 de janeiro de 2023 
  3. a b c Pereira, Esteves; Rodrigues, Guilherme (1904). Portugal : diccionario historico, chorographico, heraldico, biographico, bibliographico, numismatico e artistico. Vol. 1. Getty Research Institute. Lisboa: Lisboa, J. Romano Torres. pp. 845 – 846 
  4. a b «Jorge de Ataíde | Real Academia de la Historia». dbe.rah.es. Consultado em 14 de janeiro de 2023 
  5. «Catedral». Diocese de Viseu. Consultado em 14 de janeiro de 2023 
  6. «Monumentos. Convento de Santo António da Castanheira». www.monumentos.gov.pt (em inglês). Consultado em 23 de junho de 2023. D. Jorge de Ataíde (1535 - 1611), filho do 1º conde, promove campanha de obras em todo o convento: reedifica a capela-mor da igreja (faz colocar os monumentos fúnebres dos seus pais, manda abrir uma sepultura rasa para aí ser sepultado seu corpo, coloca um altar com sacrário, dois altares e retábulos colaterais), o retrocoro (coloca cadeiras), a sacristia (coloca caixões), o corredor que vai do claustro à igreja, a escada que dava acesso à livraria e refaz, ladrilha e reforra as quatro galerias do claustro e o alpendre. São doadas diversas alfaias religiosas e paramentos 
  7. «Retrato de D. Jorge de Ataíde. Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 14 de janeiro de 2023 


Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Precedido por
Gonçalo Pinheiro
Brasão episcopal
Bispo de Viseu

15681578
Sucedido por
Miguel de Castro