Majestade de Batlló

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Majestade de Batlló (Museu Nacional d'Art de Catalunya.

Majestade de Batlló é uma imagem em madeira policromada do século XII, que apresenta Cristo crucificado em forma de Cristo Majestade o triunfante sem rastos de sofrimento. É uma das mostras mais interessantes da imagética medieval deste tipo iconográfico na Catalunha. A sua proveniência é dos Pirenéus catalães do município de la Garrotxa. Esta obra encontra-se exposta no Museu Nacional de Arte da Catalunha de Barcelona.

História[editar | editar código-fonte]

A Majestade deve o seu nome ao colecionador Enric Batlló i Batlló, que a comprou num mercado de antiguidades e a doou à Assembleia de Barcelona no ano de 1914. Quando chegou ao museu estava coberta por uma capa de verniz que impedia ver a policromia.[1]

Crê-se que este tipo de iconografia se introduziu na Catalunha pelos pisanos, quando chegaram em 1114 para ajudar o conde de Barcelona Ramon Berenguer III na sua conquista das ilhas Baleares.[2] No românico, a madeira foi um dos materiais mais usados para a elaboração de mobiliário litúrgico e as imagens para o interior dos templos, utilizando-se para os Cristos crucificados dois blocos ou troncos de madeira, um para o corpo outro para os braços, era normal que depois de talhadas as imagens se policromassem.[3]

A imagem de Cristo crucificado, na Idade Média mostra-se em vários tipos de iconografia: com o torso desnudado e com o perizoniumo túnica curta atada à cintura e morto na cruz com os olhos fechados e o rosto com dramatismo e certa tensão; e o outro tipo, como a Majestade de Batlló, em cima da cruz com uma túnica grande apertada na cintura e triunfante, com a particularidade de ter os olhos abertos e sem nenhum sinal de dor.

Esta representação foi a mais abundante no Ocidente durante todo o século XII seguindo o protótipo de Cristo de Santa Faz de Lucca. Depois de novas datações deste Cristo considera-se que é uma obra tardia de finais do século XII ou inícios do século XIII, pelo qual se explica problemas na cronologia de outras crucificações, seguramente a Santa Faz de Lucca é uma cópia de um protótipo anterior como o da catedral de Milan ou o da Majestade de Battló de Barcelona.[4]

A Majestade de Batlló esteve sempre relacionada com o Volto Santo da catedral de Lucca. Compara-se com outras através da indumentária, a túnica e a cinta como a da Catedral de Braunschweig de 1173 ou a conservada no Museu de Arte Sacra de San Gimignamo.[5] Na Catalunha relacionou-se com a de Las Palmas, a de Sant Salvador de Bellver, a de Beget, a de Angostrinay, a de Eller, apesar de que só a de Bellver e a de Beget, dispõem de pregas tubulares.[6]

Descrição[editar | editar código-fonte]

La Majestade (MNAC).

A obra está talhada em madeira de cipreste e a sua proveniência situa-se habitualmente na região de Olot, no município de la Garrotxa. A imagem de Cristo tem as medidas de 94x96x17 cm e a cruz de 156x120x4 cm.[7]

Caracteriza-se a imagem pela atitude rígida e solene, com os olhos abertos, com uma talha esquemática, que combina com certo sentido de detalhe como os que se observam no cabelo e na barba, faltam os pés e alguns dedos nas mãos. O Cristo está vestido com uma larga túnica com mangas também largas (túnica manicata) e pregas tubulares paralelas que alternam na sua tonalidade, (que se podem também na majestade de Baget da la Garrotxa); está policromada com círculos de cor vermelho com fundo azul e motivos vegetais de clara influencia oriental; encontram-se tecidos islâmicos com decoração parecida no Museu Episcopal de Vic. A cruz está pintada à base de franjas azuis, brancas e vermelhas e apresenta na parte superior a inscrição:

JHS NAZARENUS REX IUDEORUM (Jesus da Nazaré Rei dos Judeus)

No reverso da cruz e no seu centro há restos da pintura de um Agnus Dei. Enquanto à pintura dos círculos da túnica encontra-se relacionada com o sudário, de tecido islâmico, de San Ramón morto em 1126, da catedral de Roda de Isábena.[8]

Simbologia[editar | editar código-fonte]

A representação de Cristo com os olhos abertos interpreta-se como o triunfante sobra a morte, assim como do caráter das vestes, faz-se a sua leitura, como reflexo do Apocalipse. O Agnus Dei, é o Cordeiro Pascual que salva os homens com o seu sangue assim como ao mesmo tempo representa o Cordeiro triunfante sobre a morte e que compartilha com Deus o trono e é adorado pelos homens.[9][10]

Cronologia[editar | editar código-fonte]

A sua cronologia é difícil de datar mas pelos caracteres da inscrição da cruz e pela pintura localiza-se no século XI e outros autores datam-na no século XII, a pintura é parecida aos frontais da zona de Ripoll, de meados do século XII, que se utiliza como argumento por diversos investigadores. Atualmente pode-se situar dentro de 1150.[11] Os caracteres cúficos do bordo da túnica apresentam uma analogia com o motivo islâmico de uma cimalha do claustro de Saint Pierre de Moissac, parece uma prova da ampla difusão que durante o românico se fez de alguns recursos em distintos lugares.

Referências

  1. Trens, M., (1966) Les majestats catalanes, (Monumenta Cataloniae, XIII) Barcelona, p.161
  2. Pijoán, José, (1927), Historia general del arte, Vol. IX, col. Summa Artis. El arte románico siglos XI y XII, p. 505
  3. Sureda, Joan, ( 1985) Historia Universal del Arte, Volumen IV, Editorial Planeta, p.132, ISBN 84-320-6684-2
  4. Barral i Altet, Xavier, Art de Catalunya, (1997), Barcelona, Volum 6 Thema, Equip Editorial, pp.192-193 ISBN 84-921314-6-2
  5. Armandi, M., 122 Volto Santo o Crist Majestat en Catàleg d'escultura i pintura medievals, 1. Fons del Museu Frederic Marès, Barcelona, 1991, cat.Núm. 122, pp. 105-109
  6. Bastardes i Parera, R., ( 1978), Les talles romàniques del Sant Crist a Catalunya, Art romànic IX, Barcelona, Artestudi, p.p.86-87 ISBN 84-8518-010-0
  7. Carbonell i Esteller, Eduard – Sureda i Pons, Joan, (1997) Tresors Medievals del Museu Nacional d'art de Catalunya,Barcelona, Lunwerg Editores, p.39, ISBN 84-7782-462-2
  8. Ainaud de Lasarte, J.( 1973), Art romànic. Guía, Barcelona, Ajuntament de Barcelona, Museu d'Art de Catalunya
  9. Schiller, Gertrud , Iconography of Christian Art, Volum II, (1972) Londres, pp.144-145, ISBN 0853313245
  10. Sureda, Joan, (1985) Historia Universal del Arte, Volum IV, Editorial Planeta, p.150, ISBN 84-320-6684-2
  11. Dalmases, Núria - José i Pitarch, Antoni, (1986) Els inicis i l'art romànic, Segle IX-XII a Història de l'Art català, volum I, Barcelona, Edicions 62

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • DDAA. Museu Nacional d'Art de Catalunya. Florència: Mnac i SCALA GROUP S.p.A, 2009. ISBN 978-84-8043-198-9.
  • Castiñeiras, Manuel; Camps, Jordi (2008). Romanesque art in the MNAC collections. [S.l.]: MNAC. ISBN 978-84-8043-196-5. Consultado em 3 de setembro de 2012 
  • Museu Nacional D'Art de Catalunya. [S.l.]: MNAC. 1 de março de 2009. ISBN 978-84-8043-200-9. Consultado em 3 de setembro de 2012 
  • Carbonell, Eduard; Pagès, Montserrat; Camps, Jordi; Marot, Teresa (1998). Romanesque Art Guide: Museu Nacional D'Art de Catalunya. [S.l.]: Museu Nacional d'Art de Catalunya. Consultado em 3 de setembro de 2012 
  • Carbonell, Eduard; Sureda i Pons, Joan (1997). The Medieval Treasures of the Museu Nacional D'Art de Catalunya. [S.l.]: Lunwerg. Consultado em 3 de setembro de 2012 
  • Abrams, Harry N. The Art of Medieval Spain. A.D. 500-1200. New York : Metropolitan Museum of Art : 1993, 322.
  • Altet, Xavier Barral I. Art and Architecture of Spain. New York: Bulfinch Press: 1998, 138-140.
  • Ferguson, George Wells. Signs and Symbols in Christian Art. New York : Oxford University Press, 1954. 50, 297.
  • Kauffman, C.M. Biblical Imagery in Medieval England. London : Harvey Miller Pub., 2003. 73-4.
  • Kupfer, Marcia A. The Art of Healing: Painting for the Sick and the Sinner in a Medieval Town. University Park : Pennsylvania State University Press, 2003, 61-3.
  • Loverance, Rowena. Christian Art. Cambridge, Mass. : Harvard University Press, 2007, 100-1.
  • Mann, Janice. "A Monumental Catalan Crucifix", Bulletin of the Detroit Institute of Arts, Detroit. 1997, LXXI, 1-2, p. 52, fig.9.
  • Mann, Janice. "Majestat Batlló", The Art of Medieval Spain, a.d.500-1200, New York, 1993, p. 322-324.
  • Museu Nacional d'Art de Catalunya Online Collections http://art.mnac.cat/?&lang=es
  • Régamey,Pie-Raymond. Religious Art in the Twentieth Century. New York: Herder and Herder. 1963, 182.
  • Schiller, Gertrud. Iconography of Christian Art. Volume 2. "The Passion of Jesus Christ." Janet Seligman (tr.), Greenwich, CT: New York Graphic Society, 1972: 144-5, 472-3.