Maomé ibne Solimão Alcatibe

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Maomé ibne Solimão Alcatibe
Nascimento século IX
Morte século X
Nacionalidade Reino Tulúnida
Califado Abássida
Etnia Árabe
Ocupação General
Religião Islamismo

Maomé ibne Solimão, chamado Alcatibe ("o Secretário"), foi um oficial senior e comandante do Califado Abássida, melhor conhecido por suas vitórias contra os carmatas e por sua reconquista da Síria e Egito do Reino Tulúnida.

Vida[editar | editar código-fonte]

Dinar de ouro de Amade ibne Tulune (r. 868–884)

Como seu sobrenome "Alcatibe" ("o Secretário") indica, foi originalmente um secretário do general tulúnida Lulu, que de Raca governou o norte da Síria em nome do emir autônomo do Egito, Amade ibne Tulune. Quando Lulu desertou para o regente abássida Almuafaque em 882, Maomé seguiu seu mestre e tornou-se secretário na administração califal central.[1][2] Ele é mencionado novamente por Atabari em 891, como secretário do vizir Abul Saquir Ismail ibne Bulbul. O último apoiou a tentativa fracassada de deposição de Almuafaque e a restauração no poder do califa Almutamide, mas a reação da população de Bagdá e do exército frustou-os. Nas revoltas resultantes, a casa de Maomé foi incendiada pela multidão.[3]

No entanto, em 896 ele foi um comandante militar e foi confiado com o recrutamento de muitos oficiais que haviam desertado dos tulúnidas por conspirar para matar o novo emir tulúnida, Jaixe ibne Cumarauai.[4] Em 903, foi chefe do departamento do exército (divã aljaixe) e recebeu a missão de lutar contra os carmatas.[5] Os últimos eram uma seita ismaelista radical fundada em Cufa cerca de 874. Originalmente um incômodo esporádico e menor no Sauade, seu poder cresceu rapidamente para proporções alarmantes após 897, quando começaram uma série de revoltas contra os abássidas. Sob a liderança de Abuçaíde Aljanabi, tomaram o Barém em 899 e no ano seguinte derrotaram um exército califal sob Alabás ibne Anre Alganaui. Outra base foi estabelecia na área em torno de Palmira pelos missionários Iáia ibne Zicrauai, também conhecido pelo nome Saíbe Anaca ("mestre da camela"), e Huceine, provavelmente irmão de Iáia, que tomou o nome de Saíbe Axama ("homem com a marca"). De suas bases no Barém e deserto da Síria, eles investiram contra os centros urbanos das províncias abássidas e tulúnidas, sitiando Damasco e devastando as províncias da Síria. O exército tulúnida pareceu incapaz de pará-los, e o governo abássida resolveu intervir diretamente.[6][7]

Dinar de Harune emitido em Alepo em 896/897
Dinar do califa Almoctafi (r. 902–908)

A campanha foi nominalmente chefiada pelo califa Almoctafi em pessoa, mas ele permaneceu em Raca enquanto Maomé liderou o exército no campo. Em 29 de novembro de 903, o exército abássida sob Maomé encontrou-se com os carmatas numa localização a aproximados 24 quilômetros ao sul de Hama, e infligiram-lhes uma derrota esmagadora. O exército carmata dispersou e foi perseguido pelas tropas abássidas; o Saíbe Xamea e os outros líderes carmatas foram executados.[8] Almoctafi retornou para Bagdá, enquanto Maomé permaneceu em Raca para vasculhar a zona rural e aniquilar os rebeldes remanescentes. Ele então prosseguiu para Bagdá, onde entrou em triunfo em 2 de fevereiro de 904. 11 dias depois, presidiu sobre uma execução pública dos líderes carmatas ao lado do saíbe da xurta da capital, Amade ibne Maomé Aluatiqui.[9] Cinco dias depois desta cerimônia, Maomé novamente deixou a capital como chefe dum exército, que compreendia 10 000 soldados segundo Atabari, e encarregou-se com a recuperação do sul da Síria e Egito dos tulúnidas.[10]

Sua campanha era para ser auxiliada pelo mar por uma frota dos distritos fronteiriços da Cilícia sob Damião de Tarso. Damião liderou uma frota pelo rio Nilo, atacou suas costas e evitou que suprimentos para as forças tulúnidas fossem embarcados nele. O regime tulúnida já havia sido enfraquecido por tumulto interno e rivalidades dos vários grupos étnicos no exército, que causou a deserção de Badre Alhamami e outros oficiais seniores para os abássidas; o regime foi ainda mais enfraquecido pelos raides destrutivos dos carmatas e sua inabilidade para lidá-lo.[11][12] O avanço abássida foi majoritariamente impopular, e em dezembro, o emir Harune ibne Cumarauai foi assassinado por seus tios Ali e Xaibã. Xaibã tomou as rédeas do Estado, mas o assassinato causou mais deserções para os abássidas, incluindo do governador de Damasco, Tugueje ibne Jufe. Em janeiro, o exército abássida chegou diante de Fostate. Xaibã abandonou suas tropas durante a noite, e a capital tulúnida rendeu-se. Os abássidas vitoriosos destruíram a capital fundada pelos tulúnida em Alcatai, com exceção da grande Mesquita de ibne Tulune.[13][14] Os membros da família tulúnida e seus principais aderentes foram presos e deportados para Bagdá, enquanto suas propriedades foram confiscadas.[15] Maomé deixou o Egito para o nome governador, Issa de Nuxar, e retornou para a Síria,[16] onde foi preso logo depois por desviar grande parte do espólio obtido com sua conquista.

Referências

  1. Tabari 1985, p. 30 (nota 159).
  2. Fields 1987, p. 82, 123–125.
  3. Fields 1987, p. 167.
  4. Tabari 1985, p. 30.
  5. Tabari 1985, p. 133.
  6. Kennedy 2004, p. 286–287.
  7. Bianquis 1998, p. 106–107.
  8. Tabari 1985, p. 134–141.
  9. Tabari 1985, p. 141–144.
  10. Tabari 1985, p. 146.
  11. Tabari 1985, p. 151.
  12. Kennedy 2004, p. 184–185.
  13. Kennedy 2004, p. 185.
  14. Bianquis 1998, p. 108.
  15. Tabari 1985, p. 151–152.
  16. Bianquis 1998, p. 108, 110.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Bianquis, Thierry (1998). «Autonomous Egypt from Ibn Ṭūlūn to Kāfūr, 868–969». In: Petry, Carl F. Cambridge History of Egypt, Volume One: Islamic Egypt, 640–1517. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-47137-0 
  • Fields, Philip M., ed. (1987). The History of al-Ṭabarī, Volume XXXVII: The ʿAbbāsid Recovery. The War Against the Zanj Ends, A.D. 879–893/A.H. 266–279. Albany, Nova Iorque: State University of New York Press. ISBN 0-88706-053-6 
  • Kennedy, Hugh N. (2004). The Prophet and the Age of the Caliphates: The Islamic Near East from the 6th to the 11th Century (Second ed. Harlow, RU: Pearson Education Ltd. ISBN 0-582-40525-4 
  • Tabari (1985). Rosenthal, Franz, ed. The History of al-Ṭabarī, Volume XXXVIII: The Return of the Caliphate to Baghdad: The Caliphates of al-Muʿtaḍid, al-Muktafī and al-Muqtadir, A.D. 892–915/A.H. 279–302. SUNY Series in Near Eastern Studies. Albânia, Nova Iorque: Imprensa da Universidade Estadual de Nova Iorque. ISBN 978-0-87395-876-9