Maria da Conceição Mendes Horta

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Maria da Conceição Mendes Horta
Maria da Conceição Mendes Horta
Nascimento 1931
Riachos
Morte 10 de agosto de 2003 (71–72 anos)
Cidadania Portugal
Ocupação mística

Maria da Conceição Mendes Horta,[1] geralmente conhecida como Maria da Conceição e pela alcunha de Santa da Ladeira do Pinheiro ou, mais abreviadamente, Santa da Ladeira e, popularmente, como a Santinha da Ladeira (Riachos, Torres Novas - Torres Novas, 10 de agosto de 2003[2]), foi uma mística natural de Torres Novas, ativa a partir da década de 1960. O episódio da Santinha da Ladeira, junto com outros casos célebres como o Tolan ou ou crime da Aldeia Velha, acabou integrando o imaginário e a memória coletiva de Portugal, sobretudo como episódio ilustrativo da crendice popular.[3][4] Em 2003, a Igreja Católica Ortodoxa Portuguesa, que havia apoiado o culto a partir da década de 1970, anunciou a desvinculação do santuário "Santa da Ladeira", devido aos "atos de heresia e fomento da desordem e desgraça" verificados naquele local de culto.[1]

História[editar | editar código-fonte]

O fenómeno surgiu no início da década de 1960, quando Maria da Conceição Mendes Horta, habitante de Torres Novas afirmou falar com Deus e com os santos, atraindo a atenção de milhares de católicos.[1] Segundo Maria da Conceição, a última aparição teria ocorrido numa árvore, em 1962, após uma grave doença que a teria afligido em 1959, repetindo outras duas aparições que já teria presenciado aos 7 e 9 anos.[5]

Maria da Conceição granjeou fama de milagreira entre o povo, tendo sido perseguida e presa pelas autoridades na década de 1960, e excomungada pela Igreja Católica Portuguesa.[1] A partir de novembro de 1962, a igreja católica recusou-lhe os sacramentos, afirmando que a mística mentia acerca das pretensas aparições. Uma das eventuais motivações para a rápida excomunhão terá sido a ameaça que o novo santuário fazia ao Santuário de Fátima.[6]

No final da década de 1970, a Igreja Católica Ortodoxa tentou uma aproximação procurando, em conjunto com Maria da Conceição, estabelecer um enquadramento e regras que dessem seriedade ao culto.[1] No documentário do jornalista Luís Bizarro, filmado em 1982-83, a igreja católica apostólica ortodoxa de Portugal surge apoiando e participando nas celebrações do Santuário da Ladeira do Pinheiro.[5]

No início da década de 1980, centenas de pessoas acorriam em peregrinação no dia 1 de abril ao chamado Santuário da Ladeira do Pinheiro, percorrendo quilómetros a pé, e em particular o caminho de terra que funcionava como via sacra, até ao local da aparição, que percorriam de joelhos, de gatas e rastejando, como forma de agradecimento pelas graças recebidas.[5]

A própria casa de Maria da Conceição tornou-se um local de peregrinação, com monumentos votivos, caixa de correio dedicada a pedidos de graças, jardim infantil e refeitório.[5]

A Santinha da Ladeira partilhava a fama mística, na época, com outros casos célebres como a Alexandrina de Balazar, a Çãozinha de Alenquer, a Doentinha de Balasar e Santa Maria Adelaide de Arcozelo.[7]

Desvinculação da Igreja Ortodoxa[editar | editar código-fonte]

Em agosto de 2003, a Igreja Católica Ortodoxa Portuguesa anunciou a desvinculação do santuário "Santa da Ladeira", devido aos "atos de heresia e fomento da desordem e desgraça" verificados naquele local de culto. A organização considerou Maria da Conceição como "uma espécie de contrapoder que não aceita qualquer regra, ultrapassando todos os limites", considerando-a nada mais que uma seita.[1]

Segundo a organização, haviam sido colocadas imagens religiosas nas capelas do santuário, o que não é permitido pelos ortodoxos, tendo surgindo vários pseudo-sacerdotes que se haviam associado ao local de culto. Considerou haver uma "mistura de cultos e doutrinas no local", "ilusão espiritual", "guerras tribais", "maledicência", "leilões e peditórios com fins duvidosos", fatores adicionais para o afastamento da Igreja Ortodoxa.[1]

A assembleia ortodoxa passou a aconselhar os seus fiéis a não frequentar o local, proibindo qualquer sacerdote de ali celebrar , sob pena de suspensão das suas funções eclesiásticas.[1]

Documentários[editar | editar código-fonte]

Entre 1982 e 1983, o jornalista Luís Bizarro Borges realizou o documentário Ladeira do Pinheiro, filmado em Super 8, sobre o caso da Santinha da Ladeira.[5]

Em 2001, foi tema do episódio "Santa da Ladeira", o oitavo de uma série de treze do programa documental Fenómeno, realizado por Margarida Moura Guedes para a RTP.[6]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h «Igreja Ortodoxa Desvincula-se da "Santa da Ladeira" :: Paroquias.org - Notícias». www.paroquias.org. Consultado em 1 de agosto de 2022 
  2. Lusa. «Morreu a Santa da Ladeira do Pinheiro». PÚBLICO. Consultado em 1 de agosto de 2022 
  3. Portugal, Rádio e Televisão de. «Duas Pessoas a Conversar - Humor - RTP». www.rtp.pt. Consultado em 1 de agosto de 2022 
  4. Barroso, Pedro (2005). A história maravilhosa do país bimbo. António Vitorino. Lisboa: Calidum. p. 182. OCLC 62724698 
  5. a b c d e Borges, Luís Bizzaro, "Ladeira do Pinheiro", 1983 - no YouTube
  6. a b Portugal, Rádio e Televisão de. «Santa da Ladeira - Fenómeno - Magazines - RTP». www.rtp.pt. Consultado em 1 de agosto de 2022 
  7. Príncipe, César (2004). Ementas do Paraíso : [uma cruzada contra os infiéis do fast-food] 1. ed ed. Porto: Campo das Letras. p. 464. OCLC 61694570