Maziar

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Maziar
Maziar
Busto de Maziar em Sari, no Irã
Ispabade/Guilguilã do Reino Carinvande
Reinado 817–839
Antecessor(a) Carim ibne Vindaurmusde
Sucessor(a) Cuiar
Ispabade do Tabaristão
Reinado 825/6-839
Predecessor(a) Sapor (bavândidas)

Vinda-Umide (Baduspânida)

Sucessor(a) Carim I
 
Morte 839
  Samarra
Descendência Ársaces II
Dinastia carinvândida
Pai Carim ibne Vindaurmusde
Religião Zoroastrismo

Maziar ou Maizade (em persa médio: ; em mazandarani/persa: مازیار, Māzyār) foi um príncipe iraniano da dinastia carinvândida, que foi o governante (ispabade) da região montanhosa do Tabaristão de 825/6 a 839. Por sua resistência ao Califado Abássida, é considerado um dos heróis nacionais do Irã pela historiografia nacionalista iraniana do século XX. Seu nome significa "protegido pelo iazata da lua".

Origem[editar | editar código-fonte]

Maziar pertencia à dinastia carinvândida, que descendia de Sucra, um poderoso magnata da Casa de Carano, que foi o governante de fato do Império Sassânida de 484 a 493. No entanto, devido à sua grande influência e poder, foi exilado e executado pelo xainxá Cavades I (r. 488–496 e 498–531). Sucra deixou oito filhos, sendo um deles Carim, que em troca de ajudar Cosroes I (r. 531–579), o filho de sucessor de Cavades, contra o Grão-Canato Turco Ocidental na década de 550, recebeu terras ao sul de Amol no Tabaristão, iniciando assim a dinastia.[1]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Maziar sucedeu ao pai Carim ibne Vindaurmusde em cerca 817. No entanto, seus territórios foram logo invadidos pelo governante bavândida Xariar I, que o derrotou e forçou a fugir. Maziar se refugiou com seu primo Vinda-Umide, que o traiu e o entregou a Xariar. Maziar conseguiu escapar e chegar à corte do califa abássida Almamune. Lá, conheceu um de seus astrólogos, Iáia ibne Almunajim, um persa que havia se convertido recentemente ao Islã e pertencia à família Banu Munajim. Maziar logo também abraçou o Islã,[a] e Almamune lhe deu o título de "Servo do Comandante dos Fiéis" (maula miramolim) e o nome muçulmano de Alboácem Maomé.[2]

Maziar também recebeu as cidades de Ruiã e Damavande no Tabaristão como seu feudo, e foi nomeado cogovernador do Tabaristão com o estadista abássida Muça ibne Hafes. Em 822/823, retornou ao Tabaristão com reforços abássidas e começou a lidar com seus inimigos - exilou seu irmão Cuiar e o filho de Xariar I, Carim I, que era seu sobrinho.[3] Em 825/6, invadiu os domínios bavândidas e capturou o filho e sucessor de Xariar, Sapor. Seu tio, Vinda-Umide, também foi derrotado e logo depois morto.[4] Assim uniu as terras altas sob seu próprio governo.[5] Então assumiu os títulos de Guilguilã, Ispabade e de Padiscuargar, todos títulos usados pelo rei dabuída do Tabaristão do século VIII, Farrucã, o Grande (r. 712–728).[3]

Reinado[editar | editar código-fonte]

Governo como Ispabade do Tabaristão[editar | editar código-fonte]

Mapa do norte do Irã

Sapor, sabendo que Maziar planejava matá-lo, enviou uma mensagem secreta a Muça, disposto a pagar-lhe 100 mil dirrãs se o afirmasse como seu próprio prisioneiro. Muça respondeu dizendo que sua melhor chance seria se converter ao Islã e se tornar um cliente do califa. Muça, nervoso de Maziar saber de sua comunicação secreta com Sapor, perguntou-lhe como reagiria se Sapor se convertesse ao Islã e se oferecesse para se tornar um cliente do califa. Maziar não respondeu, mas mandou decapitar Sapor no mesmo dia, o que irritou muito Muça. Maziar, temendo as consequências de matar Sapor sem consenso, pediu desculpas a Muça.[2] Maziar começou a construir mesquitas em várias cidades, saqueou com sucesso os territórios dos dailamitas e teve grande número deles reassentados na fronteira de Musne.[5] Em 826/7, Muça morreu e foi sucedido por seu filho Maomé ibne Muça, a quem Maziar não prestou atenção.[2] Continuou a expandir sua influência, mas suas políticas foram consideradas pelos muçulmanos do Tabaristão como opressivas. Os muçulmanos do Tabaristão e o príncipe bavândida Carim I começaram a reclamar com Almumine sobre o comportamento de Maziar, mas não conseguiram colocar o califa contra ele.[3]

Depois que Almumine se envolveu em uma guerra contra o Império Bizantino, Maziar aproveitou a oportunidade para prender Maomé ibne Muça sob a acusação de estar secretamente envolvido com os álidas. Almumine logo reconheceu o governo de Maziar sobre o Tabaristão e suas regiões vizinhas.[5] Quando morreu em 833, foi sucedido por seu meio-irmão Almotácime, que também reconheceu Maziar como o governante do Tabaristão. No entanto, quando o governante taírida Abedalá ibne Tair exigiu o pagamento do imposto sobre a terra (caraje), ele recusou e alegou preferir pagar diretamente aos oficiais do califa. Abedalá, reivindicando o Tabaristão como seu próprio feudo, então exigiu que libertasse Maomé ibne Muça. Maziar, no entanto, mais uma vez se recusou a obedecer a Abedalá, e este foi até Almotácime para acusá-lo.[6][7][8]

Rebelião[editar | editar código-fonte]

Sentindo-se ameaçado, Maziar se rebelou contra o Califado Abássida, um ato que foi amplamente apoiado pelos nativos zoroastristas, que começaram a saquear as aldeias muçulmanas[9] e as regiões fronteiriças controladas pelos abássidas. Maziar tentou garantir a lealdade dos nobres do Tabaristão e aprisionou qualquer um em quem não confiasse. De acordo com o historiador medieval ibne Isfandiar em seu Tarikh-e-Tabaristan, teria proclamado:

Afexim, filho de Cavus, Babaque Corrandim, e eu fizemos juramento e fidelidade de que tomaríamos o país de volta dos árabes e transferiríamos o governo e o país de volta para a família do Casraviã.[10]

Abedalá e Almotácime enviaram cinco exércitos que entraram no Tabaristão por todos os lados. Maziar nomeou seu irmão Cuiar como o defensor das montanhas carivândidas, e o bavândida Carim I como o defensor do Tabaristão Oriental. No entanto, o Tabaristão caiu rapidamente na invasão abássida: várias cidades foram pegas de surpresa, enquanto Carim I traiu Maziar e concordou em ajudar os abássidas em troca de ser restaurado como governante dos domínios de sua família. O povo de Sari se revoltou contra Maziar e ele foi traído por seu irmão, que o capturou e o entregou a Almotácime.[5] Maziar foi levado para Samarra, onde foi executado. Seu corpo mais tarde foi enforcado junto com o corpo de Babaque Corrandim. O irmão de Maziar, Cuiar, foi morto pouco depois por seus próprios soldados dailamitas por causa de sua traição a Maziar. Isso marcou o fim da dinastia carinvândida. Isso deixou os taíridas como os governantes do Tabaristão, e Carim I foi restaurado como o governante da dinastia bavândida como um vassalo.[4][11]

Notas[editar | editar código-fonte]

[a] ^ Isso parece ter sido apenas nominal, já que alguns anos depois, Maziar, durante sua rebelião contra o Califado Abássida, permitiu que seus súditos zoroastristas destruíssem mesquitas.[12]

Referências

  1. Pourshariati 2008, p. 113.
  2. a b c ibne Isfandiar 1905, p. 145–156.
  3. a b c Rekaya 1997, p. 644–647.
  4. a b Madelung 1984, p. 747–753.
  5. a b c d Madelung 1975, p. 204–205.
  6. Mottahedeh 1975, p. 75–76.
  7. Madelung 1975, p. 204.
  8. Kennedy 2004, p. 165.
  9. Mottahedeh 1975, p. 76.
  10. Nafisi 1955, p. 87.
  11. Madelung 1975, p. 205–206.
  12. Babaie 2015, p. 140.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Babaie, Susan; Grigor, Talinn (2015). Persian Kingship and Architecture: Strategies of Power in Iran from the Achaemenids to the Pahlavis. Nova Iorque: I. B. Tauris. ISBN 9780857734778 
  • ibne Isfandiar, Maomé ibne Haçane (1905). Edward G. Browne, ed. An Abridged Translation of the History of Tabaristan, Compiled About A.H. 613 (A.D. 1216). Leida: E.J. Brill 
  • Kennedy, Hugh N. (2004). The Prophet and the Age of the Caliphates: The Islamic Near East from the 6th to the 11th Century (Second ed. Harlow, RU: Pearson Education Ltd. ISBN 0-582-40525-4 
  • Madelung, W. (1975). «The Minor Dynasties of Northern Iran». In: Frye, R.N. The Cambridge History of Iran, Volume 4: From the Arab Invasion to the Saljuqs. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia 
  • Madelung, Wilferd (1984). «ĀL-E BĀVAND (BAVANDIDS)». Enciclopédia Irânica, Vol. I, Fasc. 7. Londres: Routledge & Kegan Paul. pp. 747–753. ISBN 90-04-08114-3 
  • Mottahedeh, Roy (1975). «The ʿAbbāsid Caliphate in Iran». In: Frye, Richard N. The Cambridge History of Iran, Volume 4: From the Arab Invasion to the Saljuqs. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia. pp. 57–89. ISBN 0-521-20093-8 
  • Nafisi, Said (1955). Babak Khorramdin Delawar-e-Azerbaijan. Teerã: Tabesh Publishers 
  • Pourshariati, Parvaneh (2008). Decline and Fall of the Sasanian Empire: The Sasanian-Parthian Confederacy and the Arab Conquest of Iran. Nova Iorque: IB Tauris & Co Ltd. ISBN 978-1-84511-645-3 
  • Rekaya, M. (1997). «Ḳārinids». The Encyclopedia of Islam, New Edition, Volume IV: Iran–Kha. Leida e Nova Iorque: BRILL. pp. 644–647. ISBN 90-04-05745-5