Operação Rena

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Operação Rena
Guerra sul-africana na fronteira
Data 4 de maio de 1978 a 11 de maio de 1978
Local Angola
Desfecho Vitória militar da África do Sul
Vitória política da SWAPO
Situação Terminado
Beligerantes
África do Sul (SADF) SWAPO (PLAN)
Cuba (FAR)
Comandantes
Ian Gleeson Desconhecido
Desconhecido
Forças
c. 700 2200
144-400

A operação Rena, foi uma intervenção militar iniciada em 4 de maio de 1978, a segunda maior do tipo que a África do Sul, sob regime do apartheid, fez nos territórios de Angola, somente superada em dimensão pela operação Savana.

A operação sul-africana consistiu em um ataque de dois batalhões de infantaria sul-africana aos complexos Chetequera e Dombondola da Organização do Povo do Sudoeste Africano (SWAPO), próximo à fronteira Angola-Namíbia; um ataque do 32º Batalhão de Elite ao complexo Omepepa-Namuidi-Henhombe da SWAPO, a cerca de 20 km a leste de Chetequera; e, finalmente, o ataque pelo qual a operação é mais conhecida - a polêmica batalha de Cassinga, um assalto aéreo de pára-quedistas nas proximidades da vila angolana de Cassinga, onde funcionava um campo de refugiados e uma suposta sede regional da SWAPO, a 260 km da fronteira Angola-Namíbia. A operação foi concluída em 11 de maio de 1978.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

O primeiro ministro da África do Sul, Balthazar Vorster reuniu-se com seus conselheiros de defesa em dezembro de 1977, onde discutiu-se a necessidade de tomar medidas mais fortes contra a SWAPO, passando da posição defensiva contra as incursões do Exército Popular de Libertação da Namíbia (PLAN; braço armado da SWAPO) no Sudoeste Africano (atual Namíbia), para uma situação em que a Força de Defesa da África do Sul (SADF) conduziria ataques preventivos às bases PLAN em Angola.[1] Todos os planos operacionais de ataque ao exterior teriam que ter a aprovação do primeiro-ministro.[1]

No início de 1978, havia começado o planejamento da Operação Casamento, que envolvia uma infantaria mecanizada combinada e um ataque aéreo nas bases da SWAPO em torno da vila de Chetequera, a 25 km de Angola. Esses planos foram abandonados e expandidos para um novo plano chamado "Operação Rena".[1] Esta nova operação incluiu planos para atacar as bases de Chetequera, mas acrescentou o alvo mais importante, que era de atacar a suposta sede da SWAPO em Cassinga.[1] A data da operação foi marcada para 4 de maio de 1978.[1]

Planejamento[editar | editar código-fonte]

Soldados em posto de observação da SADF, nas proximidades da fronteira Angola-Namíbia.

O comando supremo da operação, do lado sul-africano, ficou a cargo do general Ian Gleeson, enquanto que do lado da SWAPO não havia clareza de quem comandava a contra-operação; o planejamento da Operação Rena identificou três alvos:

Alvo Alfa "Moscou"[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Batalha de Cassinga

O alvo era a antiga área de mineração de cobre no complexo mineiro de Cassinga, que ficava a cerca de 250 km adentrando Angola. Supostamente as minas de Cassinga haviam sido convertidas em quartel-general e operacional, além de base de treinamento comandadas pelo líder da SWAPO Dimo Hamaambo. De fato funcionava como o maior campo de trânsito de refugiados do Sudoeste Africano no sul de Angola. A inteligência militar sul-africana acreditava que Cassinga continha cerca de 1.200 recrutas do PLAN. A área estava guarnecida por trincheiras em ziguezague e búnqueres.[1]

O plano de ataque envolveu três etapas, com um ataque aéreo dos bombardeiros da Força Aérea da África do Sul (SAAF), seguido de um assalto com pára-quedas liderado pelo coronel Jan Breytenbach e, finalmente, a retirada de paraquedistas com helicópteros. Os alvos eram destruir a suposta base, capturar o comandante Dimo ​​Hamaambo, destruir suprimentos e equipamentos, reunir informações e levar prisioneiros. O último objetivo era libertar o prisioneiro de guerra Sapper Johan van der Mescht.[1]

Alvo Bravo "Vietnã"[editar | editar código-fonte]

Este plano foi desenvolvido para o ataque pela SADF à seis bases em Chetequera, que incluía uma suposta sede da SWAPO para a frente Ocidental e Ovambolândia, além dos armazéns de suprimentos. A inteligência sul-africana acreditava que essas bases concentravam um total de 900 a 1000 recrutas do PLAN. Essas bases eram fortemente guarnecidas por trincheiras e búnqueres, e continham armas como canhões sem recuo, RPG-7, morteiros de 82 mm e canhões AA de 14,5 mm.[1]

O plano envolveu um ataque do Grupo de Batalha Mecanizado Juliet das tropas da SADF, de militares de outras forças nacionais e soldados permanentes da SADF, comandados por Frank Bestbier. Mais duas equipes de combate independentes atacariam as bases mais meridionais. O plano terminou com a retirada de volta à fronteira.[1]

Alvo Charlie[editar | editar código-fonte]

O plano envolveu um ataque às pequenas bases suspeitas que ficavam à leste de Chetequera. Os alvos seriam atacados por cinco companhias de fuzileiros do 32º Batalhão, apoiadas por unidades aéreas e de artilharia. O comandante seria Deon Ferreira.[1]

Batalhas e unidades da SADF empregadas[editar | editar código-fonte]

As unidades da SADF participaram das seguintes batalhas da Operação Rena:

Cassinga[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Batalha de Cassinga

Unidades empregadas[editar | editar código-fonte]

  • 44º Regimento de Paraquedistas:
    • Composto por elementos do 1º, 2º e 3º batalhões de parquedistas
      • 2 grupamentos Falcões do 1 Batalhão de Paraquedistas
  • 9º Pelotão de Artilharia Leve
  • 11º Pelotão de Artilharia Leve

Chetequera e Dombondola[editar | editar código-fonte]

Tropas mecanizadas da SADF aguardando ordem para invadir Angola.

O plano previa que o Grupo de Batalha Mecanizado Juliet atacasse a base ao norte de Chetequera, enquanto os Grupos de Batalha Mecanizados Joubert e Serfontein atravessariam a fronteira e atacariam as bases ao sul de Dombondola. O Grupo Juliet atravessou a fronteira por volta das 10 horas da manhã de 4 de maio nos novos Ratels. Dirigiram-se para o leste, passando por Dombondola, para se reunir ao norte de Chetequera, mas chegaram 90 minutos atrasados ​​devido às condições das trilhas e estradas angolanas. Isso atrasou o ataque aéreo da SAAF, que começou por volta das 13h30 com Canberras e Buccaneers bombardeando a base. Devido a atrasos na comunicação de rádio entre os controladores aéreos do Grupo de Batalha Mecanizado Juliet, o ataque das forças terrestres começou tarde, dando tempo ao PLAN para se preparar. Áreas com vegetação alta e com plantações de milho interromperam a eficácia da infantaria mecanizada e as unidades individuais se viram lutando sozinhas em locais próximos nas trincheiras com rifles e granadas. O ataque inicial durou apenas 11 minutos, antes que todas as unidades pudessem se reunir e, nesse momento, percebeu-se que parte da base havia sido perdida. A base foi atacada novamente e, às 15:30 da tarde, cessaram os combates, com as demais forças do PLAN mortas, rendidas ou tendo escapado para as áreas de mata. Houve o registro de que 248 membros do PLAN teriam sido mortos e 200 capturados, enquanto o Grupo Juliet perdeu 2 homens, com 10 feridos. Devido ao atraso no início da operação, o Grupo Juliet passou a noite em posições defensivas em território angolano e retornou à fronteira do Sudoeste Africano no dia seguinte.[2]

Devido aos pesados ​​combates em Chetequera, a SADF decidiu usar a artilharia para bombardear as bases 1 e 2 do PLAN em Dombondola e a base de Chatu. Os dois grupos de combate atravessaram a fronteira e seguiram para seus respectivos alvos. O Grupo de Combate Joubert se perdeu e atrasou-se, chegando à base na direção errada ao que havia planejado, tendo que usar uma manobra de giro com a ajuda de um bombardeio de artilharia para tentar um melhor posicionamento; o atraso fez com que o ataque completo à base de Chatu não se materializasse. O ataque teve que se resumir a 30 minutos, terminando com a captura e apreensão de algumas poucas armas. O Grupo Joubert passou a noite em posições defensivas e voltou no dia seguinte para o Sudoeste Africano.[2]

O Grupo de Combate Serfontein deveria ajudar o Grupo Joubert, se necessário. O suporte acabou mostrando-se desnecessário e, havendo emprego no ataque à base de Dombondola 2. A base foi encontrada deserta, sendo destruída, com as armas capturadas. O Grupo Serfontein estava pronto para atacar seu próximo alvo, mas as missões foram canceladas e o grupo retornou ao Sudoeste Africano.[2]

Unidades empregadas[editar | editar código-fonte]

  • 2º Batalhão de Infantaria da África do Sul
    • Grupo de Batalha Mecanizado Juliet (assalto a Chetequera)
    • Grupo de Batalha Mecanizado Joubert (assalto a Dombondola)
    • Grupo de Batalha Mecanizado Serfontein (assalto a Dombondola)

Omepepa-Namuidi-Henhombe[editar | editar código-fonte]

A operação para atacar as bases menores da SWAPO, ao norte da fronteira do Sudoeste Africano, começou na manhã de 6 de maio de 1978. Três companhias de artilharia do 32º Batalhão de Elite avançaram para o primeiro alvo, com uma companhia protegendo a unidade de artilharia enquanto a quinta companhia estava na posição de reserva. Ao se alinhar e atacar o primeiro alvo, o fogo da artilharia precisou ser cessado contra a base da SWAPO. A interrupção do ataque contra a base se deu porque as unidades do 32º Batalhão de Elite sofreram fogo amigo, resultando em uma morte e dezoito feridos. As forças sul-africanas recuaram para evacuar os feridos, com o primeiro alvo atacado somente no dia seguinte, após o avanço da tropa de artilharia.[3]

Em 8 de maio, helicópteros da SAAF foram incluídos no plano de ataque, e as unidades do 32º Batalhão de Elite foram transportadas pelas aeronaves de um alvo para outro, com cinco bases da SWAPO atacadas naquele dia. Em 9 de maio, a operação foi retomada sem apoio aéreo, com bases sendo atacadas ao longo do dia. O dia 10 de maio foi seguido por novos ataques às bases, com vários delas vazias, sem quaisquer forças inimigas, resultando no retorno de algumas das unidades para a borda da fronteira. Embora a operação tenha terminado oficialmente em 10 de maio, a última base foi atacada no início da manhã de 11 de maio, com todas as forças da SADF de volta à fronteira às 10h00 da manhã.[3]

Unidades empregadas[editar | editar código-fonte]

  • 32º Batalhão de Elite
    • 5 Companhias de Artilharia
    • Unidade de Morteiros de 81mm
    • Unidade de Artilharia de 140mm
    • Unidade de Helicópteros

Resultados[editar | editar código-fonte]

Em 25 de abril, vários dias antes do início da Operação Rena, o governo sul-africano havia concordado com a proposta das nações ocidentais para um acordo de transição para o Sudoeste Africano/Namíbia, com rechaço das propostas pela SWAPO. Ao mesmo tempo, a Assembleia Geral da ONU iniciou uma sessão de 10 dias para discutir o controle da África do Sul no Sudoeste Africano, que terminou no dia anterior ao ataque de 4 de maio. A agência de notícias angolana foi a primeira a denunciar um ataque a um campo de refugiados em Cassinga, chegando ao conhecimento da comunidade internacional no mesmo dia da batalha.[4] Como o governo sul-africano não conseguiu dar as notícias em primeira mão, perdeu a iniciativa de controlar o fluxo de informações.[4] Finalmente, em 5 de maio, o governo sul-africano respondeu aos questionamentos internacionais sobre o ataque, tentando explicar suas razões ao público sul-africano. Durante o dia 5, a Rádio de Moscou deu destaque ao relato de um extenso ataque a um campo de refugiados e, naquela noite, uma sessão especial do Conselho de Segurança da ONU foi convocada a pedido de Angola.[4] Sam Nujoma, líder da SWAPO, dirigiu-se ao conselho pedindo um embargo econômico, petrolífero e de armas à África do Sul, resultando na Resolução 428 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.[4] Em 8 de maio, a SWAPO e seu líder Sam Nujoma haviam deixado as negociações em Nova Iorque, justificando que um acordo sobre a questão do Sudoeste Africano/Namíbia não serviria para nada naquele estágio. Mais tarde, o representante dos Estados Unidos nas Nações Unidas alegaria que as nações ocidentais estavam a uma semana de conseguir a aceitação do plano de transição, e que o ataque destruiu esses esforços.[4]

Os números da SWAPO e do governo angolano variam de 582 a 624 mortos, sendo 80 no ataque de Cassinga com 400 a 611 feridos, entre combatentes e civis. Os números do governo sul-africano variam de até 1000 combatentes do PLAN mortos pela Operação Rena, com 200 capturados. Houve, na operação Rena, 77 vítimas da SADF.[1]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k Steenkamp, Willem (1989). South Africa's border war, 1966-1989. Gibraltar: Ashanti Pub. ISBN 0620139676 
  2. a b c «Death in the Desert: The Namibian Tragedy: Into Angola - Operation Reindeer | Namibia». Namibweb.com. Consultado em 6 de agosto de 2014 
  3. a b Nortje, Piet (2004). 32 Battalion : the inside story of South Africa's elite fighting unit. Cape Town: Zebra Press. ISBN 1868729141 
  4. a b c d e McGill Alexander, Edward (julho de 2003). The Cassinga Raid (PDF) (Tese de MA). Pretoria: UNISA. Consultado em 26 de março de 2015