Saltar para o conteúdo

Retrato do Artista quando Jovem

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A Portrait of the Artist as a Young Man
Retrato do Artista quando Jovem
Autor(es) James Joyce
Idioma inglês
Gênero Romance
Lançamento 29 de dezembro de 1916
Edição portuguesa
Tradução Alfredo Margarido
Editora Livros do Brasil
Lançamento 1960
Páginas 258
Edição brasileira
Tradução José Geraldo Vieira
Editora Civilização Brasileira
Lançamento 1984
A Portrait of the Artist as a Young Man - James Joyce

Retrato do Artista Quando Jovem (A Portrait of the Artist as a Young Man no original) é o primeiro romance de James Joyce, publicado em 1916. Narra experiências de infância e adolescência de Stephen Dedalus, alter ego do autor; termina com a recriação de seus ritos de passagem para a idade adulta, que incluíram deixar para trás a família, os amigos e a Irlanda e ir viver no continente.

A obra, cuja prosa evolui estilisticamente conforme o próprio Stephen se torna capaz de narrar-se de maneira mais sofisticada, baseou-se numa ideia que Joyce tivera havia mais de uma década, e que depois foi publicada na obra póstuma Stephen Herói. O Retrato do Artista é um romance de formação, tipo de romance em que é exposto de forma pormenorizada o processo de desenvolvimento físico, moral, psicológico, estético, social ou político de uma personagem, geralmente passando por fases de sua vida (infância, adolescência, adulta, maturidade).

Como uma narrativa que retrata um personagem ao longo de seus anos de formação, M. Angeles Conde-Parrilla postula que a identidade é possivelmente o tema mais prevalente no romance.[1] No início do romance, Joyce retrata a consciência crescente do jovem Stephen, que é considerada uma versão condensada do arco de toda a vida de Dedalus, à medida que ele continua a crescer e a formar sua identidade.[2] O crescimento de Stephen como personagem individual é importante porque através dele Joyce lamenta a tendência da sociedade irlandesa de forçar os indivíduos a se conformarem com tipos, o que alguns dizem que marca Stephen como um personagem modernista.[3] Temas que permeiam os romances posteriores de Joyce encontram expressão ali.[4]

À medida que Stephen transita para a idade adulta, ele deixa para trás a sua identidade religiosa católica, que está intimamente ligada à identidade nacional da Irlanda.[5] A sua rejeição desta dupla identidade é também uma rejeição da restrição e uma aceitação da liberdade na identidade.[6] Além disso, as referências ao Dr. Fausto ao longo do romance evocam algo demoníaco na renúncia de Stephen à sua fé católica. Quando Stephen se recusa veementemente a cumprir seu dever de Páscoa mais tarde no romance, seu tom reflete personagens como Fausto e Lucifer em sua rebeldia.[7]

O Mito de Dédalo

[editar | editar código-fonte]

O mito de Dédalo e Ícaro tem paralelos na estrutura do romance e dá a Stephen seu sobrenome, bem como a epígrafe contendo uma citação de Metamorfoses de Ovídio. Segundo Ivan Canadas, a epígrafe pode ser paralela às alturas e profundidades que terminam e iniciam cada capítulo, e pode ser vista como uma proclamação da liberdade interpretativa do texto.[8] O sobrenome de Stephen ligado a Dédalo também pode trazer à mente o tema de ir contra o status quo, já que Dédalo desafia o rei de Creta.

Identidade Irlandesa

[editar | editar código-fonte]

A luta de Stephen para encontrar identidade no romance é paralela à luta irlandesa pela independência durante o início do século XX. Ele rejeita qualquer nacionalismo absoluto e muitas vezes tem preconceito em relação àqueles que usam o Irlandês-Inglês, que era o padrão de fala marcante da classe rural e da classe baixa irlandesa.[9] No entanto, ele também está fortemente preocupado com o futuro do seu país e se considera um irlandês, o que o leva a questionar até que ponto a sua identidade está ligada ao referido nacionalismo.[10]

Richard Ellmann escreveu que Joyce "reconheceu seu tema, o retrato do artista católico renegado como herói". Os críticos examinaram sua dívida para com o teólogo da Igreja Tomás de Aquino pela teoria estética de Stephen Dedalus.[11] [12][13]Tem sido argumentado que a teoria também se baseia nas doutrinas centrais do catolicismo em cada uma das suas duas partes: a primeira preocupada com o intelecto do artista, a segunda com a sua imaginação.[14] A teologia católica distingue entre a atividade de Deus na eternidade, Sua geração do Filho, o Verbo, e Sua atividade no tempo: a Criação (alma e corpo), a Encarnação - o Verbo feito carne - e a Consagração na Missa. aplicação dos três critérios de beleza ao Filho de Deus na eternidade para modelar o ato de compreensão do artista – “epifania” em Stephen Hero[15] – e então usa a Criação para modelar o ato de (re)incorporação do artista. Posteriormente, em seus devaneios, Stephen completa sua teoria estética comparando também o artista a Deus na Encarnação e, na pessoa de Seu sacerdote, na Consagração.[16]

Uma frase desta obra - "near to the wild heart of life" - inspirou o título do romance de estreia de Clarice Lispector Perto do Coração Selvagem, que tem afinidades com o "chocante realismo psicológico" de James Joyce [17].

Referências

  1. Conde-Parrilla, M Angeles. “Hiberno-English and Identity in Joyce’s A Portrait.” Language & Literature. 22.1 (2013): 102. Print.
  2. Kenner, Hugh (Summer 1948). "The 'Portrait' in Perspective". The Kenyon Review. 10 (3): 362. JSTOR 4332957. Retrieved 14 March 2024.
  3. Güneş, Ali. "Crisis of Identity in A Portrait of the Artist as a Young Man". Doğuş Üniversitesi Dergisi, 2002/6, 37-49.
  4. Kenner, Hugh (Summer 1948). "The 'Portrait' in Perspective". The Kenyon Review. 10 (3): 363. JSTOR 4332957. Retrieved 14 March 2024
  5. “A Portrait of the Artist as a Young Man: James Joyce, the Myth of Icarus, and the Influence of Christopher Marlowe."
  6. Akca, Catherine (2008). "Religion and Identity in Joyce's A Portrait of the Artist as a Young Man.". Online Journal of the Faculty of Arts and Social Sciences. 1 (1): 52. doi:10.21533/epiphany.v1i1.3.
  7. Cañadas, Ivan (2006). "A Portrait of the Artist as a Young Man: James Joyce, the Myth of Icarus, and the Influence of Christopher Marlowe". Electronic Journal of the Spanish Association for Irish Studies. 1. Estudios Irlandeses: 16–22. doi:10.24162/EI2006-1247.
  8. Conde-Parrilla, M. Angeles. "Hiberno-English and Identity in Joyce's A Portrait". Language & Literature. 22.1 (2013): 102. Print. pp. 2
  9. Conde-Parrilla, M Ángeles (February 2013). "Hiberno-English and identity in Joyce's A Portrait". Language and Literature. 22: 32–44. doi:10.1177/0963947012469750. S2CID 145174245.
  10. “A Portrait of the Artist as a Young Man: James Joyce, the Myth of Icarus, and the Influence of Christopher Marlowe."
  11. Tindall, William York (1959). A Reader's Guide to James Joyce. pp. 94–100. Retrieved 4 March 2024.
  12. Kenner, Hugh (1955). Dublin's Joyce. pp. 134–57. Retrieved 4 March 2024.
  13. O'Rourke, Fran (2022). "Thomist Joyce." Joyce, Aristotle, and Aquinas. University Press of Florida. ISBN 978-0813072234. Retrieved 6 March 2024.
  14. Lang, Frederick K (1993). "Ulysses" nd the Irish God. Lewisburg, London and Toronto: Bucknell University Press, Associated University Presses. pp. 19–20, 50–51. ISBN 0838751504. Retrieved 6 March 2024.
  15. Lang 1993, pp. 51–54.
  16. Lang 1993, pp. 57–58.
  17. Revista COLÓQUIO/Letras n.º 70 (Novembro de 1982), Clarice Lispector ou o naufrágio da introspeção, pág. 14.
Ícone de esboço Este artigo sobre literatura é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.