Terapia metacognitiva

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A terapia metacognitiva (TMC) é uma psicoterapia focada na modificação das crenças metacognitivas que perpetuam estados de preocupação, ruminação e fixação da atenção.[1] Foi desenvolvida por Adrian Wells[2] com base em um modelo de processamento de informações de Wells e Matthews.[3] É apoiado por evidências científicas de um grande número de estudos.[4][5]

O objetivo da TMC é primeiro descobrir o que os pacientes acreditam sobre os próprios pensamentos e sobre como acreditam que a própria mente funciona (chamadas de crenças metacognitivas), em seguida, mostrar ao paciente como essas crenças levam a pensamentos ineficazes e auto-sabotativos que prolongam ou pioram os sintomas de forma não intencional, e então o profissional fornece formas alternativas de responder aos pensamentos, a fim de permitir uma redução dos sintomas. Na prática clínica, o TMC é mais comumente usado para tratar transtornos de ansiedade, como transtorno de ansiedade social, transtorno de ansiedade generalizada, ansiedade de saúde, transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e transtorno de estresse pós-traumático, bem como depressão - embora o modelo foi projetado para ser transdiagnóstico (o que significa que se concentra em fatores psicológicos comuns que se acredita manter todos os distúrbios psicológicos).

História[editar | editar código-fonte]

Metacognição, grego para "depois, posterior, além" (meta) "pensamento" (cognição), refere-se à capacidade humana de estar ciente e controlar os próprios pensamentos e processos mentais internos.[6] A metacognição tem sido estudada por várias décadas por pesquisadores, originalmente como parte da psicologia do desenvolvimento e da neuropsicologia.[7][8][9][10] Exemplos de metacognição incluem uma pessoa saber quais pensamentos estão atualmente em sua mente e saber onde está o foco de sua atenção, e as crenças de uma pessoa sobre seus próprios pensamentos (que podem ou não ser corretos). As primeiras intervenções metacognitivas foram planejadas para crianças com transtornos de atenção na década de 1980.[11][12] Uma recente revisão de acesso aberto resume as diferenças e semelhanças da terapia metacognitiva, treinamento metacognitivo, terapia cognitivo-comportamental e terapia de reflexão metacognitiva. [13]

Modelo de transtornos mentais[editar | editar código-fonte]

Modelo de função executiva autorregulatória[editar | editar código-fonte]

No modelo metacognitivo,[2] sintomas são causados por um conjunto de processos psicológicos chamados de síndrome da atenção cognitiva (SAC). O SAC inclui três processos principais, cada um dos quais constitui um pensamento estendido em resposta a pensamentos negativos. Esses três processos são:

  1. Preocupação / ruminação
  2. Monitoramento de ameaças
  3. Comportamentos de enfrentamento que auto-sabotam

Todos os três são movidos pelas crenças metacognitivas dos pacientes, como a crença de que esses processos ajudarão a resolver problemas, embora todos os processos tenham, em última instância, a consequência não intencional de prolongar o sofrimento.[4] De particular importância no modelo são as crenças metacognitivas negativas, especialmente aquelas relacionadas à incontrolabilidade e periculosidade de alguns pensamentos. Acredita-se que as funções executivas também desempenham um papel na maneira como a pessoa pode se concentrar e voltar a se concentrar em certos pensamentos e modos mentais. Esses modos mentais podem ser categorizados como modo de objeto e modo metacognitivo, que se refere aos diferentes tipos de relacionamentos que as pessoas podem ter com os pensamentos.[2] Todos os SACs, as crenças metacognitivas, os modos mentais e a função executiva juntos constituem o modelo de função executiva autorregulatória (S-REF). Isso também é conhecido como modelo metacognitivo. Em um trabalho mais recente, Wells descreveu em maiores detalhes um sistema de controle metacognitivo do S-REF com o objetivo de promover a pesquisa e o tratamento usando a terapia metacognitiva.

Intervenção terapêutica[editar | editar código-fonte]

TMC é uma terapia que se limita em um total de 8 a 12 sessões. O terapeuta usa discussões com o paciente para descobrir suas crenças, experiências e estratégias metacognitivas. O terapeuta então compartilha o modelo com o paciente, apontando como seus sintomas particulares são causados e mantidos.

A terapia então prossegue com a introdução de técnicas adaptadas às dificuldades do paciente, destinadas a mudar a forma como o paciente se relaciona com os pensamentos e como colocarem os pensamento sob controle. Experimentos são usados para desafiar as crenças metacognitivas (por exemplo "Você acredita que se se preocupar demais, ficará 'louco' - vamos tentar nos preocupar o máximo possível pelos próximos 5 minutos e ver se há algum efeito") e estratégias como técnica de treinamento atencional e atenção plena desapegada (isto é uma estratégia distinta de várias outras técnicas de atenção plena).[14][15]

Pesquisa[editar | editar código-fonte]

Os ensaios clínicos (incluindo ensaios clínicos randomizados) descobriram que a TMC produz melhoras clínicas significativas em uma gama de transtornos de saúde mental, embora em 2014 o número total de indivíduos estudados seja pequeno e uma meta-análise tenha concluído que mais estudos são necessários antes de que grandes conclusões sejam tiradas em relação à eficácia.[5] Uma edição especial da revista Cognitive Therapy and Research foi dedicada à resultados de pesquisas sobre TMC.[16] Uma meta-análise de 2018 confirmou a eficácia do MCT no tratamento de uma variedade de queixas psicológicas com depressão e ansiedade, mostrando melhoras significativas.[17] E um estudo em 2020, mostrou eficácia superior no tratamento com TMC do que pela TCC no tratamento de depressão.[18]

Em 2018–2020, um tópico de pesquisa na revista Frontiers in Psychology destacou a crescente base de evidências experimentais, clínicas e neuropsicológicas para TMC.[19]

Referências

  1. Mulder, Roger; Murray, Greg; Rucklidge, Julia (2017). «Common versus specific factors in psychotherapy: opening the black box». The Lancet Psychiatry (em inglês). 4: 953–962. PMID 28689019. doi:10.1016/S2215-0366(17)30100-1 
  2. a b c Wells, Adrian (2011). Metacognitive therapy for anxiety and depression. Guilford Press. New York: [s.n.] ISBN 9781593859947. OCLC 226358223 
  3. Wells, Adrian; Matthews, Gerald (Novembro 1996). «Modelling cognition in emotional disorder: The S-REF model». Behaviour Research and Therapy. 34: 881–888. PMID 8990539. doi:10.1016/S0005-7967(96)00050-2 
  4. a b Wells, Adrian (12 Dezembro 2019). «Breaking the cybernetic code: understanding and treating the human metacognitive control system to enhance mental health». Frontiers in Psychology. 10. 2621 páginas. PMC 6920120Acessível livremente. PMID 31920769. doi:10.3389/fpsyg.2019.02621 
  5. a b Normann, Nicoline; van Emmerik, Arnold A. P.; Morina, Nexhmedin (Maio 2014). «The efficacy of metacognitive therapy for anxiety and depression: a meta-analytic review». Depression and Anxiety. 31: 402–411. PMID 24756930. doi:10.1002/da.22273 
  6. Moritz, Steffen; Lysaker, Paul H. (2018). «Metacognition – What did James H. Flavell really say and the implications for the conceptualization and design of metacognitive interventions». Schizophrenia Research (em inglês). 201: 20–26. PMID 29903626. doi:10.1016/j.schres.2018.06.001 
  7. Biggs, J. (1 Agosto 1988). «The role of metacognition in enhancing learning». Australian Journal of Education. 32: 127–138. doi:10.1177/000494418803200201 
  8. Brown, Anne L. (1978). «Knowing when, where, and how to remember: a problem of metacognition». In: Glaser. Advances in instructional psychology. Lawrence Erlbaum Associates. 1. Hillsdale, N.J.: [s.n.] pp. 77–165. ISBN 9780470265192. OCLC 4136451 
  9. Forrest-Pressley, ed. (1985). Metacognition, cognition, and human performance. Vol. 2: Instructional practices. Academic Press. Orlando: [s.n.] ISBN 978-0122623028. OCLC 11290806 
  10. Shimamura, Arthur P. (2000). «Toward a cognitive neuroscience of metacognition». Consciousness and Cognition. 9: 313–23; discussion 324–6. PMID 10924251. doi:10.1006/ccog.2000.0450 
  11. Reeve, R. A.; Brown, A. L. (1985). «Metacognition reconsidered: Implications for intervention research». Journal of Abnormal Child Psychology (em inglês). 13: 343–356. ISSN 0091-0627. PMID 4045006. doi:10.1007/BF00912721 
  12. Kurtz, Beth E.; Borkowski, John G. (1987). «Development of strategic skills in impulsive and reflective children: A longitudinal study of metacognition». Journal of Experimental Child Psychology (em inglês). 43: 129–148. PMID 3559472. doi:10.1016/0022-0965(87)90055-5 
  13. Moritz, S.; Klein, J. P.; Lysaker, P. H.; Mehl, S. (30 de setembro de 2019). «Metacognitive and cognitive-behavioral interventions for psychosis: new developments». Dialogues in Clinical Neuroscience (em inglês). 21: 309–317. PMC 6829173Acessível livremente. PMID 31749655. doi:10.31887/DCNS.2019.21.3/smoritz 
  14. Fergus, Thomas A.; Wheless, Nancy E.; Wright, Lindsay C. (Outubro 2014). «The attention training technique, self-focused attention, and anxiety: a laboratory-based component study». Behaviour Research and Therapy. 61: 150–155. PMID 25213665. doi:10.1016/j.brat.2014.08.007 
  15. Gkika, Styliani; Wells, Adrian (Fevereiro 2015). «How to deal with negative thoughts?: a preliminary comparison of detached mindfulness and thought evaluation in socially anxious individuals». Cognitive Therapy and Research. 39: 23–30. doi:10.1007/s10608-014-9637-5 
  16. «Special issue on metacognitive theory, therapy and techniques». Cognitive Therapy and Research, Volume 39, Issue 1, Springer Verlag. Fevereiro 2015 
  17. Morina, Nexhmedin; Normann, Nicoline (2018). «The Efficacy of Metacognitive Therapy: A Systematic Review and Meta-Analysis». Frontiers in Psychology (em English). 9. 2211 páginas. ISSN 1664-1078. PMC 6246690Acessível livremente. PMID 30487770. doi:10.3389/fpsyg.2018.02211 
  18. Callesen, Pia; Reeves, David; Heal, Calvin; Wells, Adrian (12 de março de 2020). «Metacognitive Therapy versus Cognitive Behaviour Therapy in Adults with Major Depression: A Parallel Single-Blind Randomised Trial». Scientific Reports (em inglês). 10 (1). 7878 páginas. ISSN 2045-2322. PMC 7217821Acessível livremente. PMID 32398710. doi:10.1038/s41598-020-64577-1 
  19. «Metacognitive Therapy: Science and Practice of a Paradigm | Frontiers Research Topic». frontiersin.org. Frontiers Media. Consultado em 26 de junho de 2019 

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]