Zona de fratura Charlie-Gibbs

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Extensão da Zona de Fractura Charlie-Gibbs.
Vista esquemática da Zona de Fractura Charlie-Gibbs.
Falha transformante Charlie-Gibbs.

A Zona de Fractura Charlie-Gibbs é uma estrutura tectónica constitituído por duas zonas de fractura paralelas localizadas na parte central da bacia do Atlântico Norte, próximo dos 53º de latitude Norte, considerada a mais proeminente das interrupções do alinhamento geral da Dorsal Média Atlântica entre os Açores e a Islândia. A estrutura pode ser detectada no relevo submarino ao longo de mais de 2000 km, desde o nordeste da Terra Nova ao sudoeste da Irlanda. Estima-se que terá demorado mais de 90 milhões de anos para que a movimentação das placas tectónicas levassem à criação de uma estrutura com aquele comprimento.[1]

Descrição[editar | editar código-fonte]

A estrutura resultou da acção diferencial de duas falhas transformantes, a qual levou ao deslocamento do eixo da Dorsal Média Atlântica para leste e oeste em relação ao seu andamento geral naquela região, criando uma descontinuidade lateral centrada sobre as referidas falhas.

O efeito atrás descrito foi produzido pelo movimento conjugado da falha transformante localizada mais a sul, a qual deslocou o sector da Dorsal Média Atlântica que vem da Junção Tripla dos Açores cerca de 120 km para leste, com o movimento da falha transformante mais a norte, o qual deslocou o eixo do rifte cerca de 230 km para oeste, efectivamente provocando uma translação dessa magnitude na parte terminal do segmento da Dorsal Média do Atlântico no sector que liga a Zona de Fractura Charlie-Gibbs à Islândia. Nas proximidades da longitude 31.75º W, um vale de rifte sismicamente activo, com cerca de 40 km de comprimente e orientação sul-norte, liga o extremo ocidental da falha transformante mais a sul ao extremo oriental da falha transformante mais a norte.[1] Adicionando o efeito das duas falhas transformantes, o distanciamento entre o eixo central do rifte nos sectores para sul e norte da Zona de Fractura Charlie-gibbs atinge os 350 km, uma das maiores descontinuidades laterais conhecidas nos sistemas dorsais submarinos.

As duas falhas transformantes prolongam-se por milhares de quilómetros para leste e oeste, actualmente como zonas de fractura inactivas.

Exploração[editar | editar código-fonte]

Com base na análise da distribuição do epicentro dos sismos registados ao longo de vários anos, em 1963 foi postulada por Bruce Heezen e Maurice Ewing a existência de uma falha transformante no fundo do Oceano Atlântico próxima da latitude dos 53º N.[2] Por outro lado, o estudo da circulação profunda naquela região oceânica, em particular das correntes associadas à massa de água profunda do Atlântico Norte, apontava para a existência de uma passagem profunda através da Dorsal Média Atlântica, que se presumia deveria corresponder a uma interrupção naquela região.

Em 1966 a área foi investigada pelo USCGC Spar (WLB-403) no seu regresso de uma viagem de exploração hidrográfica ao Oceano Árctico.[3] A falha geológica então identificada foi designada por «Zona de Fractura Charlie» devido à sua proximidade com a estação de recolha de dados meteorológico e oceanográficos da Guarda Costeira dos Estados Unidos designada por estação «C» (ou «Charlie» no código fonético internacional, logo a Ocean Weather Station Charlie) então posicionada na posição 52° 45′ N, 35° 30′ O, nas proximidades da falha. Em Julho de 1968 o navio oceanográfico USNS Josiah Willard Gibbs (T-AGOR-1) levou a cabo uma exploração mais aprofundada daquele zona,[4] razão pela qual foi proposto que a zona de fractura fosse designada por «Gibbs Fracture Zone» (Zona de Fractura Gibbs), já que as zonas de fractura são designadas em geral pelo nome de um navio oceanográfico ligado à sua descoberta. A proposta foi apenas parcialmente aceite, e o nome oficial actualmente em uso é «Zona de Fractura Charlie-Gibbs».[5] Note-se que o nome duplo se refere conjuntamente ao sistema tectónico formado pelas duas fracturas paralelas, sendo que a referência a cada uma das falhas deve ser completado com a indicação de «Norte» e «Sul», conforme o caso (Charlie-Gibbs Norte e Charlie-Gibbs Sul).

Montes submarinos[editar | editar código-fonte]

A região em torno da Zona de Fractura Charlie-Gibbs contém dois montes submarinos aos quais foram atribuídos topónimos internacionais:

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. a b Lilwall, R. C.; R. E. (1 de janeiro de 1985). «Ocean-bottom seismograph observations on the Charlie—Gibbs fracture zone». Geophysical Journal International (em inglês). 80 (1): 195-208. ISSN 0956-540X. doi:10.1111/j.1365-246X.1985.tb05085.x 
  2. Leonard Johnson, G. (1 de agosto de 1967). «North atlantic fracture zones near 53°». Earth and Planetary Science Letters. 2 (5): 445-448. doi:10.1016/0012-821X(67)90187-2 
  3. «Report on voyage of USCGC Spar». Consultado em 19 de outubro de 2014. Arquivado do original em 6 de junho de 2011 
  4. Fleming, Henry S.; Norman Z. (1 de agosto de 1970). «The Gibbs Fracture Zone: A double fracture zone at 52°30′N in the Atlantic Ocean». Marine Geophysical Researches (em inglês). 1 (1): 37-45. ISSN 0025-3235. doi:10.1007/BF00310008 
  5. a b «IHO-IOC GEBCO Gazetteer of Undersea Feature Names, March 2011 version; www.gebco.net». GEBCO. Consultado em 16 de novembro de 2011 
  6. Minia-homepage Gebco indica para o navio os anos 1885-1907, o que é incompatível com a participação no socorro ao Titanic (1912).
  7. History of the Atlantic Cable & Undersea Communications from the first submarine cable of 1850 to the worldwide fiber optic network

Ligações externas[editar | editar código-fonte]