A Corja

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A Corja
Autor(es) Camilo Castelo Branco
Idioma Português
País Portugal
Gênero Romance
Lançamento 1880
Cronologia
Eusébio Macário
A Brasileira de Prazins

A Corja é o título da continuação de Eusébio Macário de Camilo Castelo Branco, publicado em 1880.

Tal como o livro que o precede, esta obra parodia as novas correntes literárias do Realismo e, especialmente, da sua variante, o Naturalismo.[1]

Esta novela continua e conclui uma outra do mesmo autor intitulada Eusébio Macário. Pretendendo fazer paródia com a corrente naturalista segundo a qual as ideias e os comportamentos das pessoas/personagens são condicionadas pela educação e o meio envolvente, A Corja reflete, no que concerne à sua temática, os conflitos interiores que perturbam o autor e que derivam da sua educação e da sua vivência juvenil. Temas como a rutura social, as relações amorosas clandestinas, o problema dos bastardos, a luta contra os amores contrariados por desníveis sociais, e o anticlericalismo, informam histórias protagonizadas por personagens como o trabalhador rural, o fidalgo de província, a burguesia urbana, e o "brasileiro" (português que enriquece no Brasil por meios menos lícitos), etc. Percorrendo as páginas desta novela e as de quase toda a obra de Camilo Castelo Branco, estes temas e estas personagens permitem-lhe recriar, de forma quase pictórica, a sua época.

Resumo da obra[editar | editar código-fonte]

A história da obra desenrola-se já numa época em que o boticário Eusébio Macário e família pertenciam a um estatuto social superior e foram viver para o Porto, onde a filha casa com um barão por meras razões de estatuto social. Personagens sórdidas e ignorantes, arredadas de valores e princípios, que atropelam tudo e todos em nome do status quo. Daí, o título temático da novela congregar, simbolicamente, em si mesmo, toda a crítica que o autor pretende fazer aos burgueses, aos aristocratas e ao clero, aqui personificados pelas Famílias de Eusébio Macário e de Felícia e pelo Padre Justino. Tudo é permitido e tudo se aceita em nome do "estatuto", como exemplifica o casamento da aristocrata Felícia com um filho de Eusébio Macário, José Macário, mesmo sabendo-se que aquela era amante do Padre Justino e a quem continuava a dar notícias através das páginas do jornal "Periódico dos Pobres". Heterodiegético quanto à sua presença na ação, o narrador vai relatando o desenvolvimento da intriga e assumindo-se, por vezes, como um narrador subjetivo, não se abstém de tecer as suas próprias considerações sobres os factos. Com um conhecimento profundo das situações e das personagens, mesmo no que respeita ao mais recôndito da sua intimidade, fruto de uma focalização interna, este narrador é, predominantemente, omnisciente. Ausente, subjetivo e omnisciente, este narrador narra-nos, fundamentalmente a história da vingança do Padre Justino que, sentindo-se despeitado com o casamento de Felícia, sua amante, cria uma intriga que provoca o divórcio e a empurra, de novo, para os seus braços. Paralelamente, e para fundamentar e acentuar a ausência de valores destas personagens, cruzam-se as histórias dos amores ilícitos de Custódia, mulher de Bento Macário (agora barão do Rabaçal), que, descoberta pelo marido, foge com o amante e a do casamento de Eusébio Macário, já velho e sozinho, com Eufémia Troncha, mulher ambiciosa e calculista. Como um "painel" que deixa sempre um lugar vazio para o livro seguinte, a obra camiliana contém uma "unidade" que lhe é conferida pela transição de personagens e mesmo acontecimentos de umas obras para outras de que Eusébio Macário e A Corja são exemplo. Com esta unidade estruturante, o autor pretende apresentar a sociedade da sua época como um "conjunto", cujos vícios e ausência de valores são pintados com as cores cinzentas que caracterizaram a sua vida, levando-o a olhar algumas das suas personagens com antipatia. Repleta de ironia e mesmo sarcasmo, A Corja denota uma certa incapacidade do autor para sublimar muitos dos seus conflitos internos, nomeadamente o que opõe o seu meio cultural ao público para quem escreve e que decorre, na opinião e alguns estudiosos da sua obra, da necessidade de fazer face às reconhecidas dificuldades económicas que sentia. Por isso, e ainda de acordo com alguns ensaístas, o autor, impelido pelo lucro imediato, "envereda, por vezes, por temas folhetinescos, pactuando com o gosto menor e o sistema de valores literários dos leitores", mesmo sabendo que vai colidir com os valores estéticos que, enquanto autor reconhecido pela plêiade literária, deveria respeitar.

Referências

  1. Isabel Pires de Lima. «Camilo e o Fantasma do Naturalismo: Eusébio Macário e A Corja» (PDF). Universidade do Porto. Consultado em 29 de novembro de 2014 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]