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==Biografia==
==Biografia==
Embora não haja registros oficiais que confirmem esta circunstância de forma cabal, acredita-se que tenha nascido em Vila Rica, então capital da [[Capitania das Minas Gerais]] (hoje Ouro Preto), filho do mestre-de-obras português, que imigrara para as Minas, Manuel Francisco Lisboa, e de uma sua escrava africana, Isabel.
Embora não haja registros oficiais que confirmem esta circunstância de forma cabal, acredita-se que tenha nascido em Vila Rica, então capital da [[Capitania das Minas Gerais]] (hoje Ouro Preto), filho do mestre-de-obras português, que imigrara para as Minas, Manuel Francisco Lisboa, e de uma sua escrava africano, Isabela nardoni.


Por volta de [[1777]], quando estava empenhado na execução de seu projeto arquitetônico e na fatura das obras de arte da [[Igreja São Francisco de Assis (Ouro Preto)|igreja de São Francisco de Assis]], em Vila Rica, começou a desenvolver uma doença degenerativa dos membros (não se sabe ao certo se [[porfiria]], [[lepra]], [[escorbuto]], [[reumatismo]] ou [[sífilis]]), que lhe comprometeu gradativamente os movimentos das mãos, chegando mesmo, segundo o relato colhido por Bretas, a perder dedos dos pés e das mãos. Para poder trabalhar, um ajudante amarrava-lhe as ferramentas aos membros. Dessa anomalia em seu corpo causada pela doença veio seu apelido, ''Aleijadinho''.
Por volta de [[1777]], quando estava empenhado na execução de seu projeto arquitetônico e na fatura das obras de arte da [[Igreja São Francisco de Assis (Ouro Preto)|igreja de São Francisco de Assis]], em Vila Rica, começou a desenvolver uma doença degenerativa dos membros (não se sabe ao certo se [[porfiria]], [[lepra]], [[escorbuto]], [[reumatismo]] ou [[sífilis]]), que lhe comprometeu gradativamente os movimentos das mãos, chegando mesmo, segundo o relato colhido por Bretas, a perder dedos dos pés e das mãos. Para poder trabalhar, um ajudante amarrava-lhe as ferramentas aos membros. Dessa anomalia em seu corpo causada pela doença veio seu apelido, ''Aleijadinha''.


[[Imagem:SFrancisOuroPreto-CCBY.jpg|thumb|left|250px|Igreja de São Francisco em Ouro Preto]]
[[Imagem:SFrancisOuroPreto-CCBY.jpg|thumb|left|250px|Igreja de São Francisco em Ouro Preto]]

Revisão das 12h10min de 20 de novembro de 2008

 Nota: Se procura o documentário de 1978, veja O Aleijadinho.
Cristo carregando a cruz, Congonhas


Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, (Vila Rica, 29 de agosto de 1730 — Vila Rica, 18 de novembro de 1814) foi um escultor, entalhador, desenhista e arquiteto brasileiro.

É considerado o maior expoente do estilo barroco nas Minas Gerais (barroco mineiro) e das artes plásticas no Brasil, não só à época, mas durante o período colonial.

Biografia

Embora não haja registros oficiais que confirmem esta circunstância de forma cabal, acredita-se que tenha nascido em Vila Rica, então capital da Capitania das Minas Gerais (hoje Ouro Preto), filho do mestre-de-obras português, que imigrara para as Minas, Manuel Francisco Lisboa, e de uma sua escrava africano, Isabela nardoni.

Por volta de 1777, quando estava empenhado na execução de seu projeto arquitetônico e na fatura das obras de arte da igreja de São Francisco de Assis, em Vila Rica, começou a desenvolver uma doença degenerativa dos membros (não se sabe ao certo se porfiria, lepra, escorbuto, reumatismo ou sífilis), que lhe comprometeu gradativamente os movimentos das mãos, chegando mesmo, segundo o relato colhido por Bretas, a perder dedos dos pés e das mãos. Para poder trabalhar, um ajudante amarrava-lhe as ferramentas aos membros. Dessa anomalia em seu corpo causada pela doença veio seu apelido, Aleijadinha.

Igreja de São Francisco em Ouro Preto

Além da arquitetura revolucionária para a época, esta igreja contém várias de suas obras-primas: o frontispício e o medalhão da fachada, os maravilhosos púlpitos, também totalmente esculpidos em pedra-sabão, assim como o monumental lavabo da sacristia, o retábulo (altar principal) e o barrete da capela-mor, em talha dourada, no estilo rococó.

A partir de 1796, Antonio Francisco Lisboa dedica-se a produzir mais obras-primas: as esculturas, em madeira policromada, dos personagens das sete cenas da Paixão de Cristo e o 12 profetas do adro, em pedra-sabão, no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo, Minas Gerais. Nesta igreja, como na de São Francisco de Assis de Ouro Preto, trabalhou com o outro grande artista colonial brasileiro, o pintor mulato, nascido em Mariana, Manuel da Costa Ataíde.

Já bem velho, Aleijadinho piora de saúde, e de 1812, quando ficou cego, a 1814, quem cuida dele é a sua nora Joana, que considerava-o o pai que não teve. Aleijadinho veio a falecer em 18 de Novembro de 1814, ao completar oitenta e quatro anos, dois meses e vinte um dias. Seu corpo foi enterrado aos pés do altar da Nossa Senhora da Boa Morte, na Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto, construída por seu pai.

Apesar de ter granjeado fama e prestígio em vida, sendo considerado o primeiro artesão colonial "a ascender à dignidade de artista", segundo Germain Bazin, Aleijadinho morreu pobre e abandonado. Mas sua obra permanece como um registro genial da grande festa do ouro, cultura e arte, nas Minas da época colonial.

Lista de obras

Sabará Obras na Igreja de Nossa Senhora do Carmo:

  • Imagem de São Simão Stock
  • Imagem de São João da Cruz
  • O Cancelo
  • Os dois Atlantes
  • Os dois Púlpitos
  • O conjunto do coro
  • As esculturas em pedra sabão sobre a porta principal
  • As esculturas em pedra sabão do frontão

obra na matriz de Nossa Senhora da Conceição

  • A grade de madeira do batistério

Obra no Museu do Ouro

  • Imagem de Santana Mestra

Ouro Preto

Nossa Senhora das Dores, no Museu de Arte Sacra de São Paulo
  • Hospício da Terra Santa – Projeto e execução do chafariz em esteatita, situado nos fundos do monastério;
  • Palácio dos Governadores – Risco em sagüínea do chafariz interno (1752); feito de uma mesa de jacarandá preto; dois bancos de encosto e dois bancos torneados (1761), peças não identificadas;
  • Chafariz do Pissarrão – Projeto do chafariz situado no Alto da Cruz, antiga rua Larga, proximidade da Igreja de Santa Ifigênia (1761); busto de Afrodite no remate do frontão;
  • Igreja de Nossa Senhora do Carmo – Modificação do projeto original (1770); altares colaterais de Nossa Senhora da Piedade (1807) e de São João Batista (1809); acréscimo dos camarins e guarda-pós dos altares de Santa Madalena e Santa Luzia;
  • Casa do Açougue Público – Projeto e especificação do açougue (1771), obra demolida em 1797;
  • Igreja de São Francisco de Assis – Esculturas dos tambores ogivais dos púlpitos, em esteatita, representando episódios bíblicos (1772); barrete da capela-mor (1773–74); projeto atual da portada (1774–75); risco da tribuna do altar-mor (1778–79); feitio das pedras Dara (1789); retábulo da capela-mor (1790–94) (elaborado com a colaboração dos entalhadores Henrique Gomes de Brito, Luís Ferreira da Silva e Faustino da Silva Correia); projeto de dois altares colaterais consagrados a São Lúcio e Santa Bona (executados com alterações por Vicente Alves da Costa, em 1829);
  • Igreja de São José – Projeto do retábulo da capela-mor (1773, posteriormente alterado); modificações produzidas no risco da fachada (1772);
  • Igreja Nossa Senhora das Mercês e Perdões – Risco da primitiva capela-mor; revisão do projeto e verificação final da obra (1775–78), que foi depois demolida em 1805.

Congonhas

O conjunto monumental preservado em Congonhas, no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, representa talvez a obra máxima do artista, compondo uma série de grupos escultóricos em madeira policromada instalados em capelas ao pé da igreja, e outro grupo, em pedra, espalhado na escadarias do adro. Quando o realizou teria entre 58 e 66 anos, estando no auge de sua carreira, o primeiro artista de Minas, pois em 1790 Joaquim José da Silva, encarregado de uma monografia sobre os principais fatos da capitania para enviar a Lisboa, o descreveu como "superior a todos e singular nas escultura de pedra e desenho de ornamentos irregulares do melhor gosto francês".

  • A Via Crucis, nas capelas
Anjo com o cálice da Paixão

Desde 1796 o Aleijadinho encarregara-se de fazer 66 estátuas de tamanho natural, em cedro, para a Via Crucis das seis capelinhas votivas, trabalho findo em 1799. Mas a construção das capelas demorou, a primeira ficou pronta apenas em 1808. As figuras mostram os progressos de sua doença e se inspiram no conjunto do Santuário do Bom Jesus do Monte, em Braga, Portugal. A pintura das estátuas foi encarregada a Francisco Xavier Carneiro e Manuel da Costa Ataíde, o grande pintor mineiro do século XVIII.

As cenas da Via Crucis são feitas em cedro: no sopé da rampa, a A última ceia tem imagens inteiramente esculpidas pelo Aleijadinho, pintadas por Ataíde. O Cristo, de beleza serena, é semelhante aos profetas, com rosto estreito, ossos salientes, cabelo abundante, barba em sulcos apertados, mas a roupa adere mais ao corpo.

Cristo no Horto

Jesus no Horto ou no Jardim das Oliveiras mostra uma figura formosa, o belo Cristo ajoelhado, de olhos orientais e persuasivos, o Anjo da Paixão (como seu companheiro da ábside da igreja de São Francisco) pertence à tradição portuguesa, de olhos muito abertos, modo de estar cravado no solo, para criar o efeito que flutua no ar, cobre o fundo da cena com imensas asas abertas; o panejamento é caracteristico do Aleijadinho, anguloso como lata amassada; há três apóstolos adormecidos, Tiago, Pedro e João. Trata-se de uma autêntica obra prima - apenas estes dois passos foram inteiramente feitos pelo Aleijadinho.

A prisão do Cristo tem oito figuras, Cristo, Pedro, Malco, servo do Sumo Pontifice de Jerusalém, Judas e quatro soldados. É um notável estudo da expressão dos personagens: violência encarnada por Pedro que se opõe: a ira do pescador de homens contra a mansidão do Cristo, que cura a ferida do soldado, voltando a prender no lugar a orelha cortada por Pedro.

A flagelação e coroação de espinhos mostra dois grupos numa capelinhas, os centuriões caricaturais, guardando lembrança da Idade Média, contraste com o Cristo apolíneo. Raro exemplo de nu na escultura do século XVIII. Os dois Cristos são do mestre Aleijadinho. Notáveis os braços, veias salientes e marcadas, no rosto o abandono, vigor especial ao sofrimento na estrutura fisico de atleta. Rostos sempre delgados, deixando adivinhar os ossos sob a pele.

Na coroação de Espinhos as pernas de Jesus novamente expostas, pateticamente, coroado de espinhos, de nobreza assombrosa, o irrisório cetro oferecido pelos soldados.

Carregando a cruz, detalhe
Profeta Oséias
O conjunto do adro da Igreja de Congonhas
Recibo assinado pelo Aleijadinho quando recebeu o pagamento pela obra dos Profetas. Museu da Inconfidência

Jesus carregando a Cruz às costas - tropeça, observado pelas Santas Mulheres ou filhas de Jerusalém, uma com rosto que parece o Anjo da Paixão. Trajes recordando as figuras de presépios de barro dos fins do século XVIII. Maravilhosa figura do Cristo, expressão horrorizada do rosto, dedos tensos, pernas sangrentas, rosto do soldado ao fundo é a caricatura do rosto do Cristo, sempre na tradição portuguesa. Feitos pelo Aleijadinho o Cristo e a mulher que enxuga as lágrimas com o lenço.

A crucifixão mostra a grande vítima em holocausto. Faltaria o brio das outras? As figuras separadamente sim, o conjunto não. Nas cabeças do Cristo, o Aleijadinho é sempre um escultor do século XVIII: cabelos simplesmente divididos, lábios delicados, entreabertos, superfície terna da carne, são todos de sua mão - embora discípulos devam ter esculpido outras figuras.

  • Os Profetas
Ver artigo principal: Doze profetas de Aleijadinho

Diz-se que esculturas e arquitetura estão tão ligadas que deve ter sida reconstruída a área dos Profetas em Congonhas segundo seu plano, num fluído desenho barroco setecentista, muros ligeiramente arqueados, ângulos arredondados, escadaria ao centro. Na parede central desta, uma espécie de escudo de pedra-sabão, com inscrição latina com os fatos essenciais da história da igreja, inclusive as datas de construção da capela-mor — 175861, placa em estilo português com flores nos rebordos, volutas, formas amendoadas, largo painel convexo com talha em alto relevo — recorda o mobiliário contemporâneo. Também a brancura luminosa da igreja, sua escadaria, capelas votivas, recordam os santuários no Norte de Portugal. Mas atores serão brasileiros: os Profetas, introduzidos na arte da Idade Média para dar mais vida ao drama litúrgico, chamados a testemunhar na Paixão e no Natal contra os juízes do Cristo — daí sua eloquência. Proporções pouco convencionais, maiores que o tamanho natural, tem trajes patriarcais segundo a tradição portuguesa e seus rostos mostram variadas emoções.

Esculturas em pedra-sabão do Mestre Aleijadinho

Abrindo a cena, de cada lado, Jeremias (figura curta, cabeça forte, nariz aquilino, lábios apertados, olhos intensos, homem preocupado com a denúncia do pecado, fanático: «Choro o desastre da Judéia e a ruina de Jerusalém e rogo ao meu povo que volte ao Senhor», está inscrito no pergaminho. É sacerdote no templo como o pai, mas o formalismo religioso não pode salvar Israel; sua missão o escolhe, o profeta da urgência. O Reino do Norte não mais existe e o Reino do Sul está ameaçado, os exércitos de Babilônia vão invadir Jerusalém: na perda do templo e do homem se perde o império material. Necessidade de se separar de suas paixões e afeições para estar livre ao encontro de Deus. O templo é caverna de ladrões, expressão retomada por Jesus. Traidor que prega a renúncia… Suas orações mostram não mais Yahvé na boca do profeta, mas a boca do profeta falando a Deus no santuário interior. Não há mais Terra Prometida. Vê a chegada de um Messias de Justiça, a Nova Aliança. Suas profecias se tornam insuportáveis, seus companheiros na fuga para o Egito o matam).

Isaías e Jeremias estão de frente, sustentando suas inscrições como pilares fundamentais (Isaias o primeiro entre os profetas maiores, o vidente que anuncia a chegada de Emanuel, ocupa plano de precedência com Jeremias, mãos eloquentes, manto cobrindo a cabeça, seu barrete, como capucho monástico que suaviza o rosto e o perfil; mas sua idealização ou abstração mística, real a barba emaranhada e os sulcos da testa: «Depois que os serafins celebraram o Senhor, um deles trouxe a meus lábios uma brasa ardente com uma tenaz.» É a memória cósmica; entrevê a destruição de Babilônia. Aparentado à familia real, castas superiores do Reino de Judá. Começa sua missão no dia da morte ppor lepra do Rei Osias, antes da invasão pelos exércitos assírios; visão da destruição do grande templo de Jerusalém; impõe respeito por sua casta, sua conduta não escandaliza, mas surpreende e provoca interrogações. Os exércitos inimigos são o braço vingador de Yahvé, é necessário purificação brutal. O que promete é o Apocalipse. Anuncia o futuro Messias, Rei de Justiça; a Virgem grávida de Emanuel; mas o Rei Achaz não o ouve e alia-se ao rei da Assíria, sua estratégia protege o povo — Isaías se despede e caminha nu por Jerusalém — o teatro subversivo. O templo é o interior do coração, Deus ali está como uma aurora. A redenção de Deus no Homem, o restabelecimento da Antiga Aliança não mais gravada na pedra mas no coração. Prevê o cataclisma por fogo. Foi martirizado sob o Rei Manassés, serrado em dois.

Nova Lima

  • Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar — Altar-mór, altares laterais, púlpitos, coro e batistério, procedentes da Fazenda Jaguara, doação de George Chalmers, antigo superintendente da Mina de Morro Velho, quando adquiriu a fazenda.

Representações na cultura

Aleijadinho já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Geraldo Del Rey no filme "Cristo de Lama" (1966), Maurício Gonçalves no filme "Aleijadinho - Paixão, Glória e Suplício" (2003) e Stênio Garcia num caso especial da TV Globo.

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