Cípsela (Trácia)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Para outras acepções, veja Cípsela (desambiguação).
Cípsela
Κύψελα
Localização atual
Cípsela está localizado em: Turquia
Cípsela
Localização de Cípsela na Turquia
Coordenadas 40° 55' 18" N 26° 22' 55" E
País  Turquia
Província Edirne
Distrito İpsala
Dados históricos
Início da ocupação Antiguidade Clássica
Cidade-fortaleza grega
Notas
Acesso público Sim
Dracma com efígie de Antíoco II Teos (r. 261–246 a.C.)
Hipérpiro com efígie de Isaac II Ângelo (r. 1185–1195; 1203–1204)

Cípsela (em grego: Κύψελα; romaniz.:Kýpsela; lit. arca[1]) foi uma antiga cidade grega da Trácia localizava sobre o rio Hebro. Atualmente seu sítio está situado na moderna cidade turca de İpsala, na zona onde uma ponte conduz a rodovia que atravessa a atual fronteira entre Grécia e Turquia.[2]

História[editar | editar código-fonte]

Antiguidade[editar | editar código-fonte]

Durante a Antiguidade era uma cidade-fortaleza e desempenhou um importante papel na defesa do Hebro contra os trácios. Cunhou suas próprias moedas de bronze e estudos comparativos de estilo, iconografia e cronologia sugerem um período de dependência a Eno e um período de alto-governo seguido pelo domínio odrísio ao menos desde c. 390–380 a.C..[3] Estima-se que com o tempo teria se tornado residência tradicional dos reis e dinastas odrísios.[4]

Durante o reinado do rei selêucida Antíoco II Teos (r. 261–246 a.C.), uma campanha foi realizada contra a Trácia e dentre as cidades afetadas estava Cípsela, que foi cercada pelas tropas selêucidas. Segundo o historiador macedônio Polieno:

Antíoco estava sitiando Cípsela, uma cidade trácia. Estava acompanhado por muitos aristocratas trácios, liderados por Teres e Dramiquetes. Tendo decorado-os com colares dourados e armas cravejadas a prata, ele levou-os a batalha. Os homens de Cípsela, quando viram homens de sua própria raça e língua adornados com tanto ouro e prata, consideraram os homens do exército de Antíoco afortunados, jogaram suas armas, foram até Antíoco, e tornaram-se aliados ao invés de inimigos.[4][5]

Antíoco II colocou a administração da Trácia sob o comando de Adeu, um general semi-independente alinhado aos selêucidas, que tomou como sede de seu governo Cípsela.[5] Mais adiante, com a anexação romana do Reino da Macedônia em 146 a.C. e a formação da província homônima, a importante Via Egnácia, que ligava a Ilíria desde Dirráquio e Apolônia até Salonica na Calcídica, foi estendida até Cípsela,[6][7] que passou a servir como terminal oriental e base para as vindouras operações militares romanas na Trácia.[2] Mais adiante, contudo, a Via Egnácia foi estendida ainda mais a leste, até Bizâncio no Bósforo.[6][7]

Idade Média[editar | editar código-fonte]

No período romano tardio e bizantino inicial, Cípsela pertenceu à província de Ródope, cuja capital e sé metropolitana era Trajanópolis. Do século VII em diante, o bispado de Cípsela, inicialmente sufragâneo de Trajanópolis, aparece no Notitiae Episcopatuum como uma arquidiocese autocéfala. Seus bispos Jorge e Teofilacto estiveram presentes, respectivamente, no Segundo Concílio de Constantinopla (553) e o Segundo Concílio de Niceia (787). Outro bispo, chamado Estêvão, esteve no Quarto Concílio Católico (869) e o Quarto Concílio Ortodoxo (879) de Constantinopla.[8][9] Não mais um bispado residencial, Cípsela é atualmente listada dentre as sés titulares da Igreja Católica.[10]

Em 1085, durante o reinado do imperador bizantino Isaac II Ângelo (r. 1185–1195; 1203–1204), uma revolta liderada pelos futuros Pedro IV da Bulgária (r. 1085–1097) e João Asen I da Bulgária (r. 1089–1096) eclodiu nas regiões búlgaras do Império Bizantino.[11] Os revoltosos dirigiram-se a figura imperial, que à época estava estacionado em Cípsela, exigindo um pronoia, porém seu pedido foi recusado.[12] Mais adiante, após a Queda de Galípoli em 1354, a maior parte da Trácia bizantina foi conquistada pelo Império Otomano de Orcano I (r. 1327–1362).[13]

Referências

  1. Kury 2003, p. 84.
  2. a b Freely 2000, p. 315.
  3. Loukopoulou 2004, p. 878.
  4. a b Ilıev 2013, p. 214.
  5. a b Kosmin 2014, p. 90.
  6. a b Roisman 2011, p. 266.
  7. a b Smith 1870, p. 1298.
  8. Lequien 1740, col. 1203-1204.
  9. Janin 1956, col 1161-1162.
  10. Vaticano 2013, p. 870.
  11. Paparrigopoulos 2004, p. 216.
  12. Dujcev 1957, p. 10.
  13. Ostrogorsky 1969, p. 530–537.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Dujcev, Ivan (1957). «Liberation of Bulgaria from byzantine domination». Bulgaria Today. 6. Sófia: Sofia Press Agency 
  • Freely, John (2000). The Companion Guide to Istanbul and Around the Marmara. Woodbridge, Suffolk: Companion Guides. ISBN 1900639319 
  • Ilıev, Jordan (janeiro de 2013). «The Campaign of Antiochus II Theos in Thrace». History Studies Internacional Journal of History. 5 (1). ISSN 1309-4173 
  • Janin, Raymond (1956). Dictionnaire d'Histoire et de Géographie ecclésiastiques. III. Paris: Letouzey et Ané 
  • Kosmin, Paul J. (2014). The Land of the Elephant Kings. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press. ISBN 0674728823 
  • Kury, Mario da Gama (2003). Dicionário de Mitologia Grega e Romana 8 ed. Rio de Janeiro: Zahar. ISBN 978-85-378-0218-2 
  • Lequien, Michel (1740). Oriens christianus in quatuor Patriarchatus digestus. I. Paris: Ex Typographia Regia 
  • Loukopoulou, Louisa (2004). «Thrace from Nestos to Hebros». In: Hansen, M. H.; Nielsen, T. M. An Inventory of Archaic and Classical Poleis. Oxford: Oxford University Press 
  • Paparrigopoulos, K. (2004). History of the Hellenic Nation (em inglês). Washington, D.C.: National Geographic 
  • Roisman, Joseph; Ian Worthington (2011). A Companion to Ancient Macedonia. Hoboken, Nova Jérsei: John Wiley & Sons. ISBN 144435163X 
  • Smith, William (1870). Dictionary of Greek and Roman Geography. Boston, Massachusetts: Little, Brown and Company