Calcas
Na mitologia grega Calcas ("homem de bronze") ou Kalchas Thestórides ("filho de Téstor") foi um vidente poderoso.
Biografia[editar | editar código-fonte]
O nome do seu pai era Téstor,[1][2] e ele foi enviado pelos frígios, seu povo, para levar presentes a Apolo em Delfos.[2] Calcas era considerado o melhor dos adivinhos que interpretavam o voo dos pássaros. Ele sabia das coisas que haviam acontecido, das coisas que iriam acontecer e do que havia ocorrido antes.[1]
Adivinhações anteriores à Guerra de Troia[editar | editar código-fonte]
Quando Aquiles tinha nove anos de idades, Calcas previu que Troia não poderia ser tomada sem ele, o que levou sua mãe Tétis, que previra a morte do filho na guerra, a vesti-lo com roupas de mulher e confiá-lo, como se fosse uma menina, a Licomedes.[3]
Quando os aqueus se reuniram em Áulis, na preparação da invasão, um total de mil e treze navios,[4] após o sacrifício a Apolo, uma serpente saiu do altar e consumiu oito pássaros que estavam em um ninho próximo, junto com a mãe, fazendo um total de nove vítimas, e, em seguida, se transformou em pedra. Calcas interpretou este sinal como vindo de Zeus, indicando que Troia seria tomada após dez anos.[5]
De acordo com o texto atribuído a Dares da Frígia, quando Príamo estava recrutando seus aliados, inclusive da Frígia, os frígios enviaram Calcas a Delfos para consultar o deus. O oráculo deu a Calcas a mesma resposta que havia dado a Aquiles: que os gregos conquistariam Troia no décimo da guerra. O oráculo também disse que Calcas deveria ir com os gregos e os aconselhar.[2]
Adivinhações durante a Guerra de Troia[editar | editar código-fonte]
Reunidos de novo em Áulis, após oito anos de guerra, e sem um líder para levá-los de volta a Troia,[6] os aqueus receberam a visita de Télefo, que pediu a Aquiles para curá-lo do ferimento por este inflingido, prometendo mostrar o caminho até Troia. Aquiles o curou, e Télefo os guiou até Troia, sendo o caminho confirmado por Calcas através da sua arte da advinhação.[7]
Os ventos, porém, não eram favoráveis, e Calcas disse que eles só conseguiriam o vento se Agamenon sacrificasse a mais bela de suas filhas a Ártemis, porque a deusa estava irritada com o rei, porque ele havia dito, ao matar um cervo, que Ártemis não poderia ter feito melhor, e porque Atreu não havia sacrificado à deusa o cordeiro dourado.[8][Nota 1] Odisseu [Nota 2] e Talthybius foram enviados a Clitemnestra e pediram que ela entregasse Ifigênia, dizendo que ela seria dada a Aquiles como esposa, como recompensa por seu serviço no exército. Clitemnestra a enviou e Agamenon colocou-a no altar do sacrifício, porém Ártemis a levou até a Táurida, fez dela sua sacerdotisa, e a substituiu por um cervo.[9]
Durante a Guerra, Apolo passou a matar vários dânaos com suas flechas.[10] No décimo dia, Aquiles propôs ao filho de Atreu [Nota 3] que os aqueus se retirassem, ou que consultassem um vidente, sacerdote ou interpretador de sonhos, para explicar porque Febo Apolo estava irritado, e o que eles poderiam fazer para agradá-lo.[11] O adivinho escolhido foi Calcas, porém este pediu proteção a Aquiles, através da palavra e da sua força, antes de proclamar o que havia sido feito pelo líder dos argivos.[1] Após receber garantias de Aquiles,[12] Calcas revelou que Apolo estava irritado pelo que havia sido feito a um sacerdote de Apolo,[13] Crises,[14] cuja filha Criseida havia sido desonrada por Agamenon.[13][14] A solução seria devolver Criseida a Crises, e fazer uma hecatombe em Crisa,[13] cidade onde vivia o sacerdote.[15] Agamenon, após acusar Calcas de apenas profetizar desgraças e de gostar disto, e de declarar que preferia Criseida à sua esposa Clitemnestra, concorda em devolver Criseida,[16] mas diz que vai tomar Briseida, cativa de Aquiles, para si.[17] Isto levou à ruptura entre Aquiles e Agamenon.[18]
Depois que a Guerra de Troia já tinha durado dez anos, Calcas profetizou que a cidade não poderia ser tomada a menos que os aqueus tivessem o arco e as flechas de Hércules. Odisseu e Diomedes foram até Lemnos, e convenceram Filoctetes a navegar até Troia.[19]
Após a derrota e o saque de Troia, quando os aqueus queriam voltar, Calcas os deteve, dizendo que Atena estava furisa com eles, pela impiedade de Ájax da Lócrida,[20] que havia violentado Cassandra no altar da deusa,[21] mas quando os aqueus iam matar Ájax, ele fugiu para o altar e foi deixado em paz.[20]
Pela versão de Dares da Frígia, a tempestade que reteve os aqueus foi causada porque os espíritos dos mortos estavam incomodados. Neoptólemo, lembrando que Polixena fora a causa da morte do seu pai Aquiles, procurou a jovem, e ela foi entregue por Eneas. Neoptólemo a sacrificou, cortando sua garganta, sobre o túmulo de Aquiles.[22]
Morte[editar | editar código-fonte]
Anfíloco, Calcas, Leontheus, Podalírio e Polipoetes não voltaram de navio, mas deixaram os navios em Troia e viajaram, por terra, até Colofonte.[23]
Em Colofonte, eles foram recebidos por Mopso, outro adivinho, filho de Apolo e Manto, que disputou contra Calcas para ver quem era o melhor adivinho.[24]
Na primeira disputa, Calcas perguntou a Mopso quantas folhas havia em uma figueira, este respondeu que eram dez mil, mais um barril, e mais uma, o que era o número certo.[24]
Depois disto, Mopso perguntou a Calcas quantos filhotes havia em uma porca grávida, e quando eles nasceriam, Calcas respondeu que eram oito. Mopso então disse que Calcas não era um adivinho exato, e que ele, filho de Apolo e Manto, sabia adivinhar de forma precisa, que o número de filhotes seria nove, e que eles nasceriam no dia seguinte, na sexta hora.[25]
Havia sido profetizado que Calcas morreria quando encontrasse um adivinho melhor que ele,[23] e quando as coisas aconteceram da forma prevista por Mopso, Calcas morreu de desgosto, e foi enterrado em Notium.[25]
Notas e referências
Notas
- ↑ Atreu era o pai ou, segundo outras versões, avô de Agamenon.
- ↑ A tradução de J. G. Frazer traz aqui Ulisses em vez de Odisseu.
- ↑ Agamenon.
Referências
- ↑ a b c «Homero, Ilíada, Canto I, 68-83» 🔗. Theoi.com
- ↑ a b c Dares da Frígia, História da Queda de Troia, 15 [em linha]
- ↑ «Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, 3.13.8» 🔗. Theoi.com
- ↑ «Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, Epítome, 3.14» 🔗. Theoi.com
- ↑ Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, Epítome, 3.15
- ↑ Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, Epítome, 3.19
- ↑ Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, Epítome, 3.20
- ↑ Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, Epítome, 3.21
- ↑ Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, Epítome, 3.22
- ↑ Homero, Ilíada, Canto I, 43-52
- ↑ Homero, Ilíada, Canto I, 53-67
- ↑ Homero, Ilíada, Canto I, 84-91
- ↑ a b c Homero, Ilíada, Canto I, 92-100
- ↑ a b Homero, Ilíada, Canto I, 8-21
- ↑ Homero, Ilíada, Canto I, 33-42
- ↑ Homero, Ilíada, Canto I, 101-120
- ↑ Homero, Ilíada, Canto I, 172-186
- ↑ Homero, Ilíada, Canto I, 222-244
- ↑ Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, Epítome, 5.8
- ↑ a b Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, Epítome, 5.23
- ↑ Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, Epítome, 5.22
- ↑ Dares da Frígia, História da Queda de Troia, 43
- ↑ a b Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, Epítome, 6.2
- ↑ a b Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, Epítome, 6.3
- ↑ a b Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, Epítome, 6.4