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Carlos Castaneda: diferenças entre revisões

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==Vida e Obra==
==Vida e Obra==
Antes de mais nada, é preciso dizer, que Carlos Castaneda é um escritor impecável, que descreve de maneira muito competente, um enredo transcendental que se passa desde que encontrou um velho índio durante seu doutorado em antropologia. Em 1973 revê os conceitos apresentados na primeira obra em uma versão de sua tese de [[Phd]] intitulada ''Journey to Ixtlan - Lessons of Don Juan'' (Viagem a Ixtlan). Sua obra consiste em onze livros autobiográficos nos quais relata experiências decorrentes de sua associação com o ''bruxo'' conhecido por [[Don Juan Matus]], índio da tribo [[Yaquis]] do deserto de [[Sonora]], no [[México]]. Um 13° livro chamado ''Magical Passes'' ([[Tensegridade (misticismo)|Passes Mágicos]]) foi lançado, mas destoa do conjunto da obra, se aproximando mais de um manual prático de aplicação de exercícios corporais de Eduacação Física.
Antes de mais nada, é preciso dizer, que Carlos Castaneda é um escritor impecável, que descreve de maneira muito competente, um enredo transcendental que se passa desde que encontrou um velho índio durante seu doutorado em antropologia. Em 1973 revê os conceitos apresentados na primeira obra em uma versão de sua tese de [[Phd]] intitulada ''Journey to Ixtlan - Lessons of Don Juan'' (Viagem a Ixtlan). Sua obra consiste em onze livros autobiográficos nos quais relata experiências decorrentes de sua associação com o ''bruxo'' conhecido por [[Don Juan Matus]], índio da tribo [[Yaquis]] do deserto de [[Sonora]], no [[México]]. Um 13° livro chamado ''Magical Passes'' ([[Tensegridade (misticismo)|Passes Mágicos]]) foi lançado, mas destoa do conjunto da obra, se aproximando mais de um manual prático de aplicação de exercícios corporais de Educação Física.


''A Erva do Diabo'', seu primeiro livro, também tese de mestrado, tornou-se um ''best-seller'' entre os jovens do [[Hippie|movimento hippie]] e da contracultura, que rapidamente elegeram Castaneda um [[guru]] da nova era e formaram legiões de admiradores que queriam, por conta própria, reviver as experiências descritas no livro. Também era bastante relevada no meio acadêmico, sobretudo porque, em seu princípio, tratava-se de uma obra de cunho científico e despertara o interesses de jovens. Muitos o criticaram, pois isto, supostamente apenas atraia jovens para o mundo das drogas e do crime. Uma história curiosa ocorreu nos [[EUA]] após a publicação do livro, um grupo de jovens invadiu uma tribo indigena e roubou sacos com aproximadamente 20kg cada para vender. Os relatos, nunca confirmados, levaram as autoridades uma série de dúvidas referentes ao livro, chegando a ser proibido no [[Brasil]],
''A Erva do Diabo'', seu primeiro livro, também tese de mestrado, tornou-se um ''best-seller'' entre os jovens do [[Hippie|movimento hippie]] e da contra-cultura, que rapidamente elegeram Castaneda um [[guru]] da nova era e formaram legiões de admiradores que queriam, por conta própria, reviver as experiências descritas no livro. Também era bastante relevada no meio académico, sobretudo porque, em seu princípio, tratava-se de uma obra de cunho científico e despertara o interesses de jovens. Muitos o criticaram, pois isto, supostamente apenas atraia jovens para o mundo das drogas e do crime. Uma história curiosa ocorreu nos [[EUA]] após a publicação do livro, um grupo de jovens invadiu uma tribo indígena e roubou sacos com aproximadamente 20kg cada para vender. Os relatos, nunca confirmados, levaram as autoridades uma série de dúvidas referentes ao livro, chegando a ser proibido no [[Brasil]],


Uma controvérsia se formou em torno de sua figura tanto por parte de admiradores, que queriam encontrar Don Juan pessoalmente e de alguma forma fazer parte do processo de aprendizado, quanto de céticos, que queriam encontrar motivos para desacreditá-lo academicamente, argumentando que o testemunho fornecido em seus escritos era ficional e apontando a escassez de fontes documentais sobre sua pesquisa de campo junto ao mestre indígena. Castaneda foi procurado pela policia durante a ditadura militar e seus livros foram banidos de entrar no Brasil pelo Governo Federal por acreditarem que o livro dava incentivo aos jovens do [[Hippie|do movimento hippie]] ao uso de drogas, neste caso o cactus [[Peiote]] descrito no livro "[[A Erva do Diabo]]"
Uma controvérsia se formou em torno de sua figura tanto por parte de admiradores, que queriam encontrar Don Juan pessoalmente e de alguma forma fazer parte do processo de aprendizado, quanto de cépticos, que queriam encontrar motivos para desacreditá-lo academicamente, argumentando que o testemunho fornecido em seus escritos era ficcional e apontando a escassez de fontes documentais sobre sua pesquisa de campo junto ao mestre indígena. Castaneda foi procurado pela policia durante a ditadura militar e seus livros foram banidos de entrar no Brasil pelo Governo Federal por acreditarem que o livro dava incentivo aos jovens do [[Hippie|do movimento hippie]] ao uso de drogas, neste caso o cactus [[Peiote]] descrito no livro "[[A Erva do Diabo]]"


Em 1973, no auge de sua fama, a conhecida revista norte-americana [[TIME (revista)|TIME]] publicou uma extensa matéria de capa sobre o autor. Esta só foi conseguida depois de muita insistência junto aos agentes literários do autor que, inclusive, imploraram para Castaneda posar para fotos em ângulos parciais, o que sempre evitava a todo custo. A abrangente matéria notabilizou-se por publicar o resultado de uma suposta investigação envolvendo a biografia de Castaneda antes da fama, e tinha entre seus objetivos implícitos e explícitos, o propósito de retratá-lo como um mentiroso. A reportagem alega que Castaneda era [[peru]]ano, nascido na andina cidade de [[Cajamarca]], cuja origem remonta ao [[império inca]]. A reportagem cita amigos da terra natal e mesmo uma irmã de Castaneda falando sobre traços da personalidade de Castaneda, como alguém dono de imaginação fértil e entregue ao vício do jogo e das Drogas. Segundo ela, Castaneda seria filho de um relojoeiro e teria nascido no ano de 1925. Aos 24 anos, em 1951, teria decidido imigrar para os EUA após a traumática morte da mãe, assassinada por seu pai e assistida por Casataneda em seus seis anos de vida. No livro de entrevistas Conversando com Carlos Castaneda, da jornalista Carmina Fort, Castaneda, décadas depois, lamenta a decisão da TIME de publicar estes dados, que teriam sido inseridos porque ela "precisava de uma história". O autor ironiza o esforço da matéria em situar sua ascendência junto a índios sul-americanos.
Em 1973, no auge de sua fama, a conhecida revista norte-americana [[TIME (revista)|TIME]] publicou uma extensa matéria de capa sobre o autor. Esta só foi conseguida depois de muita insistência junto aos agentes literários do autor que, inclusive, imploraram para Castaneda posar para fotos em ângulos parciais, o que sempre evitava a todo custo. A abrangente matéria notabilizou-se por publicar o resultado de uma suposta investigação envolvendo a biografia de Castaneda antes da fama, e tinha entre seus objetivos implícitos e explícitos, o propósito de retratá-lo como um mentiroso. A reportagem alega que Castaneda era [[peru]]ano, nascido na andina cidade de [[Cajamarca]], cuja origem remonta ao [[império inca]]. A reportagem cita amigos da terra natal e mesmo uma irmã de Castaneda falando sobre traços da personalidade de Castaneda, como alguém dono de imaginação fértil e entregue ao vício do jogo e das Drogas. Segundo ela, Castaneda seria filho de um relojoeiro e teria nascido no ano de 1925. Aos 24 anos, em 1951, teria decidido imigrar para os EUA após a traumática morte da mãe, assassinada por seu pai e assistida por Casataneda em seus seis anos de vida. No livro de entrevistas Conversando com Carlos Castaneda, da jornalista Carmina Fort, Castaneda, décadas depois, lamenta a decisão da TIME de publicar estes dados, que teriam sido inseridos porque ela "precisava de uma história". O autor ironiza o esforço da matéria em situar sua ascendência junto a índios sul-americanos.


Segundo o próprio Castaneda, ele teria nascido no [[Brasil]], em 1935, no extinto município de [[Juquerimã]], hoje [[Mairiporã]],<ref><Kosobudzkin>, Luiz André. Entrevista à Revista Veja. Mayrink, Geraldo (Reportagem Especial) "As últimas lições do eterno aluno" p. 86-92, Revista Veja [[veja.abril.com.br/]], 2 de julho de 1975</ref> acidentalmente, no meio de uma família conhecida. Um parente - pelo lado paterno - era o diplomata brasileiro [[Oswaldo Aranha]], famoso pela sua notável participação internacional durante a Segunda Guerra mundial. Seu pai, posteriormente um professor de literatura, tinha apenas 17 anos, e sua mãe, 15. Após a morte de sua mãe, quando tinha 6 anos, sua criação ficou a cargo dos avós maternos, pequenos proprietários rurais de uma granja e cultivadores de Cana-de-açucar. Episódios da sua infância no interior de [[São Paulo]] são descritos primeiramente em ''Viagem a Ixtlan'' e com mais detalhes em seu último livro, ''O Lado Ativo do Infinito''. Semi-abandonado pelo pai, o autor guardou mágoa em relação a ele durante toda a vida, retratando-o algumas vezes como um homem fraco e sem propósito. Em um dos seminários que deu no final da vida, afirma que o pai havia se casado de novo e tido uma outra filha, e possuía uma grande biblioteca, tendo se tornado um notável leitor.
Segundo o próprio Castaneda, ele teria nascido no [[Brasil]], em 1935, no extinto município de [[Juquerimã]], hoje [[Mairiporã]],<ref><Kosobudzkin>, Luiz André. Entrevista à Revista Veja. Mayrink, Geraldo (Reportagem Especial) "As últimas lições do eterno aluno" p. 86-92, Revista Veja [[veja.abril.com.br/]], 2 de julho de 1975</ref> acidentalmente, no meio de uma família conhecida. Um parente - pelo lado paterno - era o diplomata brasileiro [[Oswaldo Aranha]], famoso pela sua notável participação internacional durante a Segunda Guerra mundial. Seu pai, posteriormente um professor de literatura, tinha apenas 17 anos, e sua mãe, 15. Após a morte de sua mãe, quando tinha 6 anos, sua criação ficou a cargo dos avós maternos, pequenos proprietários rurais de uma granja e cultivadores de Cana-de-açucar. Episódios da sua infância no interior de [[São Paulo]] são descritos primeiramente em ''Viagem a Ixtlan'' e com mais detalhes em seu último livro, ''O Lado Ativo do Infinito''. Semi-abandonado pelo pai, o autor guardou mágoa em relação a ele durante toda a vida, retratando-o algumas vezes como um homem fraco e sem propósito. Em um dos seminários que deu no final da vida, afirma que o pai havia se casado de novo e tido uma outra filha, e possuía uma grande biblioteca, tendo se tornado um notável leitor.
O jovem Castaneda foi enviado para um importante colégio de [[Buenos Aires]], o Nicolas Avellaneda, onde permaneceu até os 15 anos estudando e onde provavelmente aprendeu o espanhol que mais tarde viria exercitar no [[México]]. Tornando-se um problema para a família pelo seu comportamento revoltoso, Oswaldo Aranha, seu tio famoso e patriarca da família, teria intercedido para que ele arrumasse um lar adotivo em [[Los Angeles]], Califórnia, em 1951. Depois de se formar na Hollywood High School, tentou cursar [[Belas Artes]] em [[Milão]], na [[Itália]], mas abandonou o curso por falta de afinidade, voltando então para os [[EUA]] e matriculando-se no curso de [[Psicologia]] [[Social]] da [[UCLA]], escolha que seria alterada posteriormente ao mudar o curso para [[antropologia]].
O jovem Castaneda foi enviado para um importante colégio de [[Buenos Aires]], o Nicolas Avellaneda, onde permaneceu até os 15 anos estudando e onde provavelmente aprendeu o espanhol que mais tarde viria exercitar no [[México]]. Tornando-se um problema para a família pelo seu comportamento revoltoso, Oswaldo Aranha, seu tio famoso e patriarca da família, teria intercedido para que ele arrumasse um lar adoptivo em [[Los Angeles]], Califórnia, em 1951. Depois de se formar na Hollywood High School, tentou cursar [[Belas Artes]] em [[Milão]], na [[Itália]], mas abandonou o curso por falta de afinidade, voltando então para os [[EUA]] e matriculando-se no curso de [[Psicologia]] [[Social]] da [[UCLA]], escolha que seria alterada posteriormente ao mudar o curso para [[antropologia]].


Como relata em entrevista para [[Sam Keen]], pensando em ir para o curso de antropologia, buscava a publicação de um ''paper'' para dar início à carreira acadêmica. Havia lido e escrito um pequeno ensaio sobre o livro de [[Aldous Huxley]], ''As Portas da Percepção'', que havia celebrizado no mundo ocidental os efeitos psicotrópicos da [[mescalina]], [[alcalóide]] [[alucinógeno]] presente em grandes quantidades no botão do cacto de [[peiote]], que era usado de forma ritual por vários povos indígenas americanos. Pesquisou o tema das plantas medicinais em livros como o de Weston La Barre, ''O ritual do peiote'' e partiu para o trabalho de campo no sudoesta da [[Califórnia]]. Foi então para o estado de [[Arizona]], onde conheceu o índio ''bruxo'' conhecido como Don Juan Del Peiote. Este viria a ser seu guia, e é personagem central nos livros autobiográficos que escreveu. O encontro com o índio foi um episódio marcante, que é recontado várias vezes na sua obra. Numa estação rodoviária, indicado por um colega da faculdade, Castaneda aproximou-se e apresentou-se como especialista em peiote, convidando o índio a lhe conceder entrevista. Como não sabia virtualmente nada a respeito do cacto, segundo relata, Don Juan teria captado sua mentira e devolvido-a com um olhar. Este olhar foi bastante significativo, pois Castaneda, normalmente um homem falante e extrovertido, ficou sem ação e tímido ao ser perscrutado. Nas explanações posteriores, diz que Don Juan o havia capturado com o olhar mostrando-lhe o [[nagual]], pois havia percebido que Castaneda poderia ser o homem que ele procurava para lhe passar seu conhecimento. Depois de mais alguns encontros, Don Juan lhe anuncia sua decisão e decide levá-lo a experimentar as plantas medicinais que Castaneda tanto pedia.
Como relata em entrevista para [[Sam Keen]], pensando em ir para o curso de antropologia, buscava a publicação de um ''paper'' para dar início à carreira acadêmica. Havia lido e escrito um pequeno ensaio sobre o livro de [[Aldous Huxley]], ''As Portas da Percepção'', que havia celebrizado no mundo ocidental os efeitos psicotrópicos da [[mescalina]], [[alcalóide]] [[alucinógeno]] presente em grandes quantidades no botão do cacto de [[peiote]], que era usado de forma ritual por vários povos indígenas americanos. Pesquisou o tema das plantas medicinais em livros como o de Weston La Barre, ''O ritual do peiote'' e partiu para o trabalho de campo no sudoesta da [[Califórnia]]. Foi então para o estado de [[Arizona]], onde conheceu o índio ''bruxo'' conhecido como Don Juan Del Peiote. Este viria a ser seu guia, e é personagem central nos livros autobiográficos que escreveu. O encontro com o índio foi um episódio marcante, que é recontado várias vezes na sua obra. Numa estação rodoviária, indicado por um colega da faculdade, Castaneda aproximou-se e apresentou-se como especialista em peiote, convidando o índio a lhe conceder entrevista. Como não sabia virtualmente nada a respeito do cacto, segundo relata, Don Juan teria captado sua mentira e devolvido-a com um olhar. Este olhar foi bastante significativo, pois Castaneda, normalmente um homem falante e extrovertido, ficou sem ação e tímido ao ser perscrutado. Nas explicações posteriores, diz que Don Juan o havia capturado com o olhar mostrando-lhe o [[Nagualismo|nagual]], pois havia percebido que Castaneda poderia ser o homem que ele procurava para lhe passar seu conhecimento. Depois de mais alguns encontros, Don Juan lhe anuncia sua decisão e decide levá-lo a experimentar as plantas medicinais que Castaneda tanto pedia.
Aos poucos o jovem ocidental e acadêmico foi sendo posto ao encontro de experiências cognitivas que desafiavam o poder de explicação de sua razão, sendo forçado finalmente a mudar toda a sua concepção de mundo em prol das novas explicações que o mestre lhe fornecia e que ia compreendendo, gradualmente. Como explica no sexto livro, ''O Presente da Águia'', o sistema de interpretações e crenças que se dispôs a estudar terminou por engalfinhá-lo, ao se revelar tão ou mais complexo que o sistema "ocidental" de interpretações do mundo.
Aos poucos o jovem ocidental e académico foi sendo posto ao encontro de experiências cognitivas que desafiavam o poder de explicação de sua razão, sendo forçado finalmente a mudar toda a sua concepção de mundo em prol das novas explicações que o mestre lhe fornecia e que ia compreendendo, gradualmente. Como explica no sexto livro, ''O Presente da Águia'', o sistema de interpretações e crenças que se dispôs a estudar terminou por engalfinhá-lo, ao se revelar tão ou mais complexo que o sistema "ocidental" de interpretações do mundo.


A obra de Castañeda tem caído em descrédito em função das descobertas de bigamia, sexo com a filha adotada, formação de seita e fraude literária durante a sua vida. Jiaornalistas investigativos alegam que Castañeda tenha falsificado o trabalho de campo e que a experência xamânica por ele relatada era um mero produto de sua imaginação criativa, como se pode ver em recente documentário da BBC (2006).
A obra de Castañeda tem caído em descrédito em função das descobertas de bigamia, sexo com a filha adotada, formação de seita e fraude literária durante a sua vida. Jornalistas investigadores alegam que Castañeda tenha falsificado o trabalho de campo e que a experiência xamânica por ele relatada era um mero produto de sua imaginação criativa, como se pode ver em recente documentário da BBC (2006).


Em junho de 1998, foi divulgada, muito discretamente, a notícia da morte de Carlos Castaneda, ocorrida supostamente dois meses antes, em função de um câncer no esofago. Casteñeda dizia que em sua morte seu corpo se transformaria em energia e luz: de fato, teve seu corpo cremado.
Em Junho de 1998, foi divulgada, muito discretamente, a notícia da morte de Carlos Castaneda, ocorrida supostamente dois meses antes, em função de um câncer no esófago. Casteñeda dizia que em sua morte seu corpo se transformaria em energia e luz: de fato, teve seu corpo cremado.


Discipulas de Castaneda: Florinda Dorner Grall, Taisha Abelar, Carol Tiggs.
Discipulas de Castaneda: Florinda Dorner Grall, Taisha Abelar, Carol Tiggs.

Revisão das 13h20min de 8 de fevereiro de 2014


Carlos Castaneda
Nome completo Carlos Aranha Castaneda
Nascimento 25 de dezembro de 1925
Cajamarca
Morte 27 de abril de 1998 (72 anos)
Los Angeles
Ocupação Escritor e antropólogo

Carlos Castaneda ou Carlos Aranha Castaneda (segundo revista Time, Cajamarca, 25 de dezembro de 1925Los Angeles, 27 de abril de 1998 foi um escritor e antropólogo formado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA); notabilizou-se após a publicação, em 1968, de sua dissertação de mestrado intitulada The Teachings of Don Juan - a Yaqui way of knowledge, lançado no Brasil como A Erva do Diabo.

Por do sol no deserto de Sonora

Vida e Obra

Antes de mais nada, é preciso dizer, que Carlos Castaneda é um escritor impecável, que descreve de maneira muito competente, um enredo transcendental que se passa desde que encontrou um velho índio durante seu doutorado em antropologia. Em 1973 revê os conceitos apresentados na primeira obra em uma versão de sua tese de Phd intitulada Journey to Ixtlan - Lessons of Don Juan (Viagem a Ixtlan). Sua obra consiste em onze livros autobiográficos nos quais relata experiências decorrentes de sua associação com o bruxo conhecido por Don Juan Matus, índio da tribo Yaquis do deserto de Sonora, no México. Um 13° livro chamado Magical Passes (Passes Mágicos) foi lançado, mas destoa do conjunto da obra, se aproximando mais de um manual prático de aplicação de exercícios corporais de Educação Física.

A Erva do Diabo, seu primeiro livro, também tese de mestrado, tornou-se um best-seller entre os jovens do movimento hippie e da contra-cultura, que rapidamente elegeram Castaneda um guru da nova era e formaram legiões de admiradores que queriam, por conta própria, reviver as experiências descritas no livro. Também era bastante relevada no meio académico, sobretudo porque, em seu princípio, tratava-se de uma obra de cunho científico e despertara o interesses de jovens. Muitos o criticaram, pois isto, supostamente apenas atraia jovens para o mundo das drogas e do crime. Uma história curiosa ocorreu nos EUA após a publicação do livro, um grupo de jovens invadiu uma tribo indígena e roubou sacos com aproximadamente 20kg cada para vender. Os relatos, nunca confirmados, levaram as autoridades uma série de dúvidas referentes ao livro, chegando a ser proibido no Brasil,

Uma controvérsia se formou em torno de sua figura tanto por parte de admiradores, que queriam encontrar Don Juan pessoalmente e de alguma forma fazer parte do processo de aprendizado, quanto de cépticos, que queriam encontrar motivos para desacreditá-lo academicamente, argumentando que o testemunho fornecido em seus escritos era ficcional e apontando a escassez de fontes documentais sobre sua pesquisa de campo junto ao mestre indígena. Castaneda foi procurado pela policia durante a ditadura militar e seus livros foram banidos de entrar no Brasil pelo Governo Federal por acreditarem que o livro dava incentivo aos jovens do do movimento hippie ao uso de drogas, neste caso o cactus Peiote descrito no livro "A Erva do Diabo"

Em 1973, no auge de sua fama, a conhecida revista norte-americana TIME publicou uma extensa matéria de capa sobre o autor. Esta só foi conseguida depois de muita insistência junto aos agentes literários do autor que, inclusive, imploraram para Castaneda posar para fotos em ângulos parciais, o que sempre evitava a todo custo. A abrangente matéria notabilizou-se por publicar o resultado de uma suposta investigação envolvendo a biografia de Castaneda antes da fama, e tinha entre seus objetivos implícitos e explícitos, o propósito de retratá-lo como um mentiroso. A reportagem alega que Castaneda era peruano, nascido na andina cidade de Cajamarca, cuja origem remonta ao império inca. A reportagem cita amigos da terra natal e mesmo uma irmã de Castaneda falando sobre traços da personalidade de Castaneda, como alguém dono de imaginação fértil e entregue ao vício do jogo e das Drogas. Segundo ela, Castaneda seria filho de um relojoeiro e teria nascido no ano de 1925. Aos 24 anos, em 1951, teria decidido imigrar para os EUA após a traumática morte da mãe, assassinada por seu pai e assistida por Casataneda em seus seis anos de vida. No livro de entrevistas Conversando com Carlos Castaneda, da jornalista Carmina Fort, Castaneda, décadas depois, lamenta a decisão da TIME de publicar estes dados, que teriam sido inseridos porque ela "precisava de uma história". O autor ironiza o esforço da matéria em situar sua ascendência junto a índios sul-americanos.

Segundo o próprio Castaneda, ele teria nascido no Brasil, em 1935, no extinto município de Juquerimã, hoje Mairiporã,[1] acidentalmente, no meio de uma família conhecida. Um parente - pelo lado paterno - era o diplomata brasileiro Oswaldo Aranha, famoso pela sua notável participação internacional durante a Segunda Guerra mundial. Seu pai, posteriormente um professor de literatura, tinha apenas 17 anos, e sua mãe, 15. Após a morte de sua mãe, quando tinha 6 anos, sua criação ficou a cargo dos avós maternos, pequenos proprietários rurais de uma granja e cultivadores de Cana-de-açucar. Episódios da sua infância no interior de São Paulo são descritos primeiramente em Viagem a Ixtlan e com mais detalhes em seu último livro, O Lado Ativo do Infinito. Semi-abandonado pelo pai, o autor guardou mágoa em relação a ele durante toda a vida, retratando-o algumas vezes como um homem fraco e sem propósito. Em um dos seminários que deu no final da vida, afirma que o pai havia se casado de novo e tido uma outra filha, e possuía uma grande biblioteca, tendo se tornado um notável leitor. O jovem Castaneda foi enviado para um importante colégio de Buenos Aires, o Nicolas Avellaneda, onde permaneceu até os 15 anos estudando e onde provavelmente aprendeu o espanhol que mais tarde viria exercitar no México. Tornando-se um problema para a família pelo seu comportamento revoltoso, Oswaldo Aranha, seu tio famoso e patriarca da família, teria intercedido para que ele arrumasse um lar adoptivo em Los Angeles, Califórnia, em 1951. Depois de se formar na Hollywood High School, tentou cursar Belas Artes em Milão, na Itália, mas abandonou o curso por falta de afinidade, voltando então para os EUA e matriculando-se no curso de Psicologia Social da UCLA, escolha que seria alterada posteriormente ao mudar o curso para antropologia.

Como relata em entrevista para Sam Keen, pensando em ir para o curso de antropologia, buscava a publicação de um paper para dar início à carreira acadêmica. Havia lido e escrito um pequeno ensaio sobre o livro de Aldous Huxley, As Portas da Percepção, que havia celebrizado no mundo ocidental os efeitos psicotrópicos da mescalina, alcalóide alucinógeno presente em grandes quantidades no botão do cacto de peiote, que era usado de forma ritual por vários povos indígenas americanos. Pesquisou o tema das plantas medicinais em livros como o de Weston La Barre, O ritual do peiote e partiu para o trabalho de campo no sudoesta da Califórnia. Foi então para o estado de Arizona, onde conheceu o índio bruxo conhecido como Don Juan Del Peiote. Este viria a ser seu guia, e é personagem central nos livros autobiográficos que escreveu. O encontro com o índio foi um episódio marcante, que é recontado várias vezes na sua obra. Numa estação rodoviária, indicado por um colega da faculdade, Castaneda aproximou-se e apresentou-se como especialista em peiote, convidando o índio a lhe conceder entrevista. Como não sabia virtualmente nada a respeito do cacto, segundo relata, Don Juan teria captado sua mentira e devolvido-a com um olhar. Este olhar foi bastante significativo, pois Castaneda, normalmente um homem falante e extrovertido, ficou sem ação e tímido ao ser perscrutado. Nas explicações posteriores, diz que Don Juan o havia capturado com o olhar mostrando-lhe o nagual, pois havia percebido que Castaneda poderia ser o homem que ele procurava para lhe passar seu conhecimento. Depois de mais alguns encontros, Don Juan lhe anuncia sua decisão e decide levá-lo a experimentar as plantas medicinais que Castaneda tanto pedia.

Aos poucos o jovem ocidental e académico foi sendo posto ao encontro de experiências cognitivas que desafiavam o poder de explicação de sua razão, sendo forçado finalmente a mudar toda a sua concepção de mundo em prol das novas explicações que o mestre lhe fornecia e que ia compreendendo, gradualmente. Como explica no sexto livro, O Presente da Águia, o sistema de interpretações e crenças que se dispôs a estudar terminou por engalfinhá-lo, ao se revelar tão ou mais complexo que o sistema "ocidental" de interpretações do mundo.

A obra de Castañeda tem caído em descrédito em função das descobertas de bigamia, sexo com a filha adotada, formação de seita e fraude literária durante a sua vida. Jornalistas investigadores alegam que Castañeda tenha falsificado o trabalho de campo e que a experiência xamânica por ele relatada era um mero produto de sua imaginação criativa, como se pode ver em recente documentário da BBC (2006).

Em Junho de 1998, foi divulgada, muito discretamente, a notícia da morte de Carlos Castaneda, ocorrida supostamente dois meses antes, em função de um câncer no esófago. Casteñeda dizia que em sua morte seu corpo se transformaria em energia e luz: de fato, teve seu corpo cremado.

Discipulas de Castaneda: Florinda Dorner Grall, Taisha Abelar, Carol Tiggs.

Livros

  • A Erva do Diabo (The Teachings of Don Juan: A Yaqui Way of Knowledge - 1968)
  • Uma Estranha Realidade (A Separate Reality: Further Conversations with Don Juan - 1971)
  • Viagem a Ixtlan (Journey to Ixtlan: The Lessons of Don Juan - 1972) - Esse livro foi a tese de PhD de Castaneda na UCLA em 1973 com o título: "Sorcery: A Description of the World"
  • Porta Para o Infinito (Tales of Power - 1975)
  • O Segundo Círculo do Poder (The Second Ring of Power - 1977)
  • O Presente da Águia (The Eagle's Gift - 1981)
  • O Fogo Interior (The Fire from Within - 1984)
  • O Poder do Silêncio (The Power of Silence: Further Lessons of Don Juan - 1987)
  • A Arte do Sonhar (The Art of Dreaming - 1993)
  • Readers of Infinity: A Journal of Applied Hermeneutics - 1996 - Diários do trabalho de Castaneda com suas discípulas ainda não traduzido.
  • Passes Mágicos (Magical Passes: The Practical Wisdom of the Shamans of Ancient Mexico - 1998)
  • O Lado Ativo do Infinito (The Active Side of Infinity - 1999)
  • Roda do Tempo (The Wheel Of Time : The Shamans Of Mexico - 2000) - uma antologia de citações comentadas.

Outros autores

  • Conversando com Carlos Castaneda (Carmina Fort)
  • Os Ensinamentos de Don Carlos (Víctor Sánchez)
  • Sonhos Lúcidos: uma iniciação ao mundo dos feiticeiros (Florinda Donner)
  • Castañeda em O Caminho do Nagual - (Roberto Carriconde)
  • Encontros com o Nagual - (Armando Torres)
  • Travessia das Feiticeiras - (Taisha Abelar)
  • Aprendiz de Feiticeiro: minha vida com Carlos Castaneda - (Amy Wallace)
  • Pelo Caminho do Guerreiro - (Ana Catan)
  • O Dominio da Consciência - Compilação dos Ensinamentos de Juan Matus, apresentados por Carlos Castañeda em seus doze livros. - (Flórion)
  • Carlos Castaneda e a Fenda entre os Mundos - Vislumbres da Filosofia Ānahuacah no Século XXI (Luis Carlos de Morais Junior)
  • O xamanismo de Carlos Castaneda: apropriação, ruptura ou continuidade? (Nelson Neraiel) Bia Labate Julho 2011
  • Entrevista Revista Time, de março de 1973, capa

Referências

  1. <Kosobudzkin>, Luiz André. Entrevista à Revista Veja. Mayrink, Geraldo (Reportagem Especial) "As últimas lições do eterno aluno" p. 86-92, Revista Veja veja.abril.com.br/, 2 de julho de 1975

Ligações externas


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