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Censo demográfico no Brasil

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Lista de família do censo de 1872.

O censo demográfico no Brasil é uma operação censitária realizada a nível nacional desde 1872,[1] com o objetivo de coletar, processar e disseminar informações sobre a população, sua composição, características, distribuição espacial e organização (indivíduos, famílias e domicílios).

O primeiro censo demográfico do Brasil coletou, além do número de habitantes, informações como cor, sexo, estado de livres ou escravos, estado civil, nacionalidade, ocupação e religião.[2] Após anos, outras informações passaram a ser coletadas e, hoje, o questionário do censo responde a questões fundamentais que servem de base para a definição de políticas públicas e planejamento de entidades públicas e privadas do Brasil.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística é o órgão responsável por realizar o censo demográfico brasileiro desde 1940. O último censo realizado pelo instituto foi realizado no ano de 2022 (Censo de 2022), que foi atrasado em dois anos em decorrência da Pandemia de COVID-19 e do corte de verbas previstas para a operação.[3][4][5]

História

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Período pré-censo

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Antes da realização da primeira contagem geral da população, em 1872, a estimativa da população portuguesa na América e depois da brasileira, era feita com base em estimativas de números fornecidos por autoridades e por integrantes da Igreja[6], com o objetivo principal de saber o número de pessoas que frequentavam a Igreja no Império do Brasil.[carece de fontes?]

A partir de 1750, começaram a aparecer as primeiras informações oficiais sobre a população do Brasil, na época a Coroa Portuguesa organizava as contagens com objetivos estritamente militares. Algumas cidades também realizavam contagens populacionais antes do primeiro recenseamento geral, a exemplo a cidade de São Paulo, nos anos de 1765, 1777, 1798 e 1836, e a cidade do Rio de Janeiro, que realizou contagens em 1799, 1821, 1838, 1849, 1856 e 1870.[6]

Entre 1831 e 1832, Minas Gerais realizou um censo com listas nominativas de seus habitantes.[7][8][9]

No ano de 1846, foi decidido que o censo demográfico deveria acontecer e seria fixado o intervalo de oito anos para sua execução, contudo, o governo somente foi autorizado a realizar o censo em 1850, com início tardio, em 1852. Um decreto editado em 1851, o nº 797 de junho de 1851, fez crer que os homens de cor libertos seriam escravizados, o que gerou rejeição entre a população e atrapalhou a execução dos trabalhos, vindo a por fim ao censo.

Primeiros censos

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Em 1870 ficou estabelecido que o intervalo entre os censos seria de dez anos. Dois anos depois, em 1872, foi realizado o primeiro censo nacional no Brasil que recebeu o nome de Recenseamento da População do Império do Brasil.[1] O intervalo de dez anos para a realização de censos não foi cumprido e o censo seguinte, que deveria ter sido em 1882, não ocorreu. Com o fim do Império e a Proclamação da República, em 1889, um novo censo foi realizado em 1890 seguido de censo em 1900.[2]

Por motivos não explicados, entre 1900 e 1940 foram feitos censos a cada 20 anos. Em 1910 não foi realizada contagem retornando em 1920. Em 1930 também não houve censo retornando 10 anos depois.[2]

Censos do IBGE

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Ilustração representativa da coleta manual de informações realizada no processo de recenseamento.

O censo de 1940 inicia então nova fase nas pesquisas populacionais do Brasil sendo organizado pelo IBGE que fora criado em 1938 com a contribuição do renomado demógrafo italiano Giorgio Mortara. Desde então o censo tem sido realizado rigorosamente a cada 10 anos. Os questionários passaram a ser mais abrangentes contendo perguntas sobre temas econômicos e sociais, tais como: mão de obra, emprego, desemprego, rendimento, fecundidade, migrações internas, entre outros temas.

Depois do censo de 1991, o IBGE buscou um novo modelo de condução de integração com a sociedade proporcionando a reformulação de perguntas e na estratégia das pesquisas e abordagem do entervistado visando ao censo de 2000. Os planos para o censo de 2010 eram de uma constante atualização da população com aumento da informatização na coleta de dados já iniciada na contagem populacional de 2007.

No censo de 2010, foram-se utilizadas das novas Tecnologias de Informação e Comunicação que possibilitaram ao Brasil a primazia de realização do primeiro censo demográfico digital do mundo. Este feito, inclusive, suscitou o prêmio NetExplorateur, conferido, em 2011, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization - UNESCO) e empresas de tecnologia mundiais, além de outras várias menções honrosas.[10]

O Censo que estava previsto para 2020 foi adiado para 2021 por conta da pandemia de COVID-19.[3][11] Já em 2021, o Censo foi novamente adiado, devido ao corte no orçamento previsto para a operação.[12][13][14]

Subsídio à pesquisa e políticas públicas

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Os Censos Demográficos modernos constituem ferramentas essenciais para o conhecimento aprofundado da população e do território, utilizados tanto pelo Estado quanto pelo setor privado e por pesquisadores[6][15]. Sua relevância reside em serem a principal fonte de informação para a formulação de políticas públicas, o direcionamento de investimentos e a elaboração de estratégias de ação por parte de agências governamentais, empresas e organizações sociais. Além disso, servem como a principal base de dados para diversas pesquisas acadêmicas, oferecendo referência para análises históricas e para a realização de projeções futuras.

Exemplos concretos da aplicação desses dados incluem a alocação de recursos orçamentários federais para estados e municípios em áreas cruciais como saúde e educação, bem como a definição de projetos prioritários em infraestrutura, saneamento básico, habitação e acesso à energia. Em nível local, os dados censitários permitem a identificação precisa do perfil e do número de famílias que se qualificam para programas sociais como o Bolsa Família, ou que necessitam de acesso a equipamentos públicos como creches, escolas, transporte, serviços de saúde e lazer nas diferentes regiões[15].

No contexto brasileiro, pesquisas têm demonstrado a riqueza das informações censitárias desde seu início no século XIX, revelando sua capacidade de analisar mudanças e continuidades na estrutura social do país [6][15][16]. Em outras escalas, esses dados também têm sido de extrema importância para análises espaciais das transformações urbanas em cidades e regiões metropolitanas, por serem uma das fontes mais abrangentes e detalhadas disponíveis para esse fim [17][18][19][20][21][22]. Mesmo com as limitações inerentes a toda fonte de dados, o Censo Demográfico tem-se mostrado fundamental para o entendimento das sociedades, de suas características, fluxos, transformações, localização e condições de vida, incluindo situações de extrema pobreza, precariedade e informalidade habitacional [23][24].

Ver também

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Ligações externas

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Referências

  1. a b «O Brasil e o IBGE através dos censos». O Globo. Grupo Globo. 29 de maio de 2016. Consultado em 9 de abril de 2021 
  2. a b c «Conheça os fatos que marcaram a história de cada censo demográfico». Laboratório de Demografia e Estudos Populacionais. Universidade Federal de Juiz de Fora. 21 de outubro de 2019. Consultado em 9 de abril de 2021 
  3. a b «IBGE adia Censo de 2020 para 2021 por causa do novo coronavírus». CNN Brasil. 17 de março de 2020. Consultado em 9 de abril de 2021 
  4. «IBGE diz que negociará com Ministério da Economia para fazer Censo em 2022». economia.uol.com.br. Consultado em 24 de abril de 2021 
  5. «Maioria do STF decide que governo deve fazer o Censo em 2022». Correio Brasiliense. 14 de maio de 2021. Consultado em 14 de maio de 2021 
  6. a b c d Botelho, Tarcisio R. (junho de 2005). «Censos e construção nacional no Brasil Imperial». Tempo Social (em inglês) (1). ISSN 0103-2070. doi:10.1590/S0103-20702005000100014. Consultado em 9 de junho de 2025 
  7. Paiva, C.A., Rodarte, M.M.S. e Godoy, M.M. (2010). "Acesso digital às listas nominativas: Poplin-Minas-1830, a proposta do Cedeplar para a universalização do acesso aos dados das fontes demográficas de Minas Gerais do século XIX" (pt-br).
  8. Godoy, M.M. e Paiva, C.A. (2010). "Um estudo da qualidade da informação censitária em listas nominativas e uma aproximação da estrutura ocupacional da província de Minas Gerais" (pt-br).
  9. «Poplin-Minas 1830: Listas nominativas da década de 1830 de Minas Gerais». Cedeplar. Universidade Federal de Minas Gerais. Consultado em 9 de abril de 2021 
  10. Metodologia do Censo Demográfico 2010 (PDF) 2ª ed. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2016. ISBN 9788524043628. Cópia arquivada (PDF) em 9 de fevereiro de 2019 
  11. «Censo 2020 adiado para 2021». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 17 de março de 2020. Consultado em 9 de abril de 2021 
  12. Natália Flach (6 de abril de 2021). «IBGE suspende processo seletivo para trabalhar no Censo 2021 previsto para abril». CNN Brasil. Consultado em 9 de abril de 2021 
  13. «Governo diz que Orçamento não prevê recursos para o Censo e que pesquisa não ocorrerá em 2021». G1. Consultado em 24 de abril de 2021 
  14. «Sem previsão orçamentária, Censo não será realizado em 2021, afirma governo». economia.uol.com.br. Consultado em 24 de abril de 2021 
  15. a b c Arretche, Marta Teresa da Silva (2015). Trajetórias das desigualdades: como o Brasil mudou nos últimos cinquenta anos. São Paulo: Centro de Estudos da Metrópole
  16. Medeiros, Marcelo; Galvão, Juliana de Castro (junho de 2016). «Educação e Rendimentos dos Ricos no Brasil». Dados (2): 357–383. ISSN 0011-5258. doi:10.1590/00115258201680. Consultado em 4 de julho de 2025 
  17. MARQUES, Eduardo. A metrópole de São Paulo no século XXI: Espaços, heterogeneidades e desigualdades. 1a edição ed. São Paulo, SP: Editora Unesp, 2015.
  18. MARQUES, Eduardo Cesar Leão; TORRES, Haroldo. São Paulo – segregação, pobreza e desigualdades sociais. São Paulo: SENAC, 2005.
  19. Marques, Eduardo; Requena, Carolina (março de 2013). «O centro voltou a crescer?: trajetórias demográficas diversas e heterogeneidade na São Paulo dos anos 2000». Novos Estudos - CEBRAP (95): 17–37. ISSN 0101-3300. doi:10.1590/S0101-33002013000100002. Consultado em 4 de julho de 2025 
  20. Mendonça, Pedro Henrique Rezende; Lima, Pedro Henrique Barbosa Muniz; Costa, Deiny Façanha; Canan, Henrique Giovani; Benedusi, Alec Akasaka; Giacomini, Lara Araujo; Azzolini, Gabriela Santo; Andrade, Luiza Giovana Hespanhol de; Stroher, Laisa Eleonora Maróstica (22 de maio de 2024). «A expansão – com desadensamento – da Região Metropolitana de São Paulo entre 2010 e 2022». e-metropolis - Revista eletrônica de estudos urbanos e regionais. ISSN 2177-2312. Consultado em 4 de julho de 2025 
  21. Moura, Rosa (15 de abril de 2024). «Metropolização: o que mostram os primeiros resultados do Censo 2022». e-metropolis - Revista eletrônica de estudos urbanos e regionais. ISSN 2177-2312. Consultado em 4 de julho de 2025 
  22. Torres, Haroldo da Gama; Marques, Eduardo; Ferreira, Maria Paula; Bitar, Sandra (abril de 2003). «Pobreza e espaço: padrões de segregação em São Paulo». Estudos Avançados (47): 97–128. ISSN 0103-4014. doi:10.1590/S0103-40142003000100006. Consultado em 4 de julho de 2025 
  23. Marques, Eduardo (24 de junho de 2026). «Estimando e caracterizando a precariedade urbana e habitacional na São Paulo de 2022» (PDF). doi:10.55881/cem.doc.nte22_0. Consultado em 4 de julho de 2025 
  24. BRASIL. População em situação de rua: diagnóstico com base em informações disponíveis em registros e sistemas do governo federal. Brasília - DF, Brasil: Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, ago 2023. Disponível em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/populacao-em-situacao-de-rua/publicacoes/relat_pop_rua_digital.pdf>.