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Durante o programa matutino ''O Despertar da Fé'', transmitido pela [[Rede Record]], o até então bispo [[Sérgio von Helder]] proferiu insultos verbais e físicos contra uma imagem de [[Nossa Senhora de Aparecida]], à qual se dedicava o [[feriado]] do dia. O bispo da [[Igreja Universal do Reino de Deus|Igreja Universal]] protestava contra o caráter do feriado nacional de 12 de outubro<ref>{{citar web|url=http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/864623.stm|titulo=Church makes airwaves|autor=Site BBC|lingua=Inglês|acessodata=13/08/2009}}</ref> (Nossa Senhora Aparecida é padroeira do Brasil<ref>{{citar web|url=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/|titulo= Lei 6.802/1980|autor=Site Presidência|lingua=Português|acessodata=11/08/2009}}</ref>), não aceitando a crença da [[Igreja Católica]]. O acontecimento provocou forte repercussão em grande parte da sociedade brasileira. |
Durante o programa matutino ''O Despertar da Fé'', transmitido pela [[Rede Record]], o até então bispo [[Sérgio von Helder]] proferiu insultos verbais e físicos contra uma imagem de [[Nossa Senhora de Aparecida]], à qual se dedicava o [[feriado]] do dia. O bispo da [[Igreja Universal do Reino de Deus|Igreja Universal]] protestava contra o caráter do feriado nacional de 12 de outubro<ref>{{citar web|url=http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/864623.stm|titulo=Church makes airwaves|autor=Site BBC|lingua=Inglês|acessodata=13/08/2009}}</ref> (Nossa Senhora Aparecida é padroeira do Brasil<ref>{{citar web|url=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/|titulo= Lei 6.802/1980|autor=Site Presidência|lingua=Português|acessodata=11/08/2009}}</ref>), não aceitando a crença da [[Igreja Católica]]. O acontecimento provocou forte repercussão em grande parte da sociedade brasileira. |
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Isso tudo não é nada, não existem santos e vã procurar o que fazer |
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== Período pré-Chute na Santa == |
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Segundo o sociólogo [[Ricardo Mariano]], o ''boom'' do interesse [[Meios de comunicação social|midiático]] pela Igreja Universal chegou ao seu ápice em 1995.<ref name="Books1" /> |
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Semanas antes do lançamento da minissérie nomeada "[[Decadência (minissérie)|Decadência]]", líderes da [[Igreja Universal do Reino de Deus]], já acreditando que a obra pretendia os alvejar, atacavam a [[Rede Globo]] e a [[Igreja Católica]], nos jornais e programas da [[Rede Record]] como o [[25ª Hora]]. A acusação levantada era que no ponto de vista da Igreja Universal, havia uma afinidade entre as alas católicas e a emissora. Chegou-se a cogitar ingressar na Justiça contra a [[Rede Globo]].<ref name="Books1">{{citar notícia|url=http://books.google.com.br/books?id=KY-O_a9KuzYC&printsec=frontcover&dq=Neopentecostais:+sociologia+do+novo+pentecostalismo+no+Brasil&ei=DMQMS6GDE4WIygT6w_zUAg#v=onepage&q=Chute%20na%20santa&f=false|titulo=Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil|obra=MARIANO, RICARDO. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil|acessodata=30/08/2010}}</ref> |
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Em 7 de setembro de 1995, em resposta, com Decadência em fase de exibição, a Record exibiu o filme canadense de 1992 "''[[The Boys of St. Vincent]]''", sobre o abuso psicológico e sexual infantil.<ref name="Books1" /> A Globo fez [[editorial]] na abertura da minissérie, declarando que ''"Decadência não pretende fazer crítica a nenhuma religião ou mesmo a qualquer um de seus representantes"''. |
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Catorze frases pronunciadas por [[Edir Macedo]] cinco anos antes, numa [[entrevista]] para uma [[revista]] de grande circulação, a [[Veja]], foram proferidas pelo protagonista da trama, Dom Mariel.<ref name="Books1" /> Uma frase utilizada, por exemplo foi: ''"O dinheiro pode ser usado para o bem ou para o mal"''<ref>Acervo Digital Veja. 14 de novembro de 1990, Edição 1156. Seção Entrevista.</ref> |
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A TV Globo foi recentemente acusada pela TV Record, em 14 de outubro de 2007 no programa jornalístico [[Domingo Espetacular]], de utilizar declarações públicas do bispo em sua minissérie [[Decadência (minissérie)|Decadência]] por meio do matéria produzida acerca da prisão de [[Edir Macedo]] em 1992 (controlador da Igreja Universal). As falas do personagem de [[Edson Celulari]], um pastor evangélico [[corrupção|corrupto]] e devasso, insinua às falas de Edir Macedo, o que supostamente sugeriria uma identificação entre ambos. O último capítulo da minissérie foi ao ar no dia 22 de setembro de 1995, 23 dias antes do episódio.<ref>{{citar notícia|url=http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u336672.shtml|titulo=Em entrevista com Edir Macedo, Record volta a criticar Globo|data=14 de outubro de 2009|obra=folha online|acessodata=30/08/2010}}</ref> |
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==O episódio== |
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Revisão das 03h07min de 18 de julho de 2013
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/thumb/d/d9/Chute-na-santa.jpg/250px-Chute-na-santa.jpg)
Chute na santa é o termo pelo qual ficou conhecido e pelo qual a população brasileira se refere, ainda hoje, a um episódio controverso ocorrido no dia 12 de outubro de 1995 quando Sérgio von Helde, um ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, chutou uma estátua retratando uma santa católica.
Durante o programa matutino O Despertar da Fé, transmitido pela Rede Record, o até então bispo Sérgio von Helder proferiu insultos verbais e físicos contra uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida, à qual se dedicava o feriado do dia. O bispo da Igreja Universal protestava contra o caráter do feriado nacional de 12 de outubro[1] (Nossa Senhora Aparecida é padroeira do Brasil[2]), não aceitando a crença da Igreja Católica. O acontecimento provocou forte repercussão em grande parte da sociedade brasileira.
Isso tudo não é nada, não existem santos e vã procurar o que fazer
O episódio
Nos estúdios da Rede Record de São Paulo, o pastor Sérgio Von Helder transmitia o programa evangelístico “O Despertar da Fé”, durante a madrugada, ao vivo para todo Brasil. Uma vez que as Igrejas Protestantes consideram a utilização de imagens religiosas e a veneração dos santos, características da liturgia e culto católico, como idolatria,[3] o pastor von Helde, não aceitando esta crença, decidiu "criticá-la" no feriado do dia, que tinha forte significado para os católicos, adquirindo uma grande imagem de Nossa Senhora Aparecida, desfechando socos e chutes à estátua. Dentre outros gestos e falas, chamou a imagem de “boneco feio, horrível e desgraçado”.[4]
(...) nós estamos mostrando às pessoas que isso aqui não funciona, isso aqui não é santo coisa nenhuma (...) 500 reais - 5 salários mínimos - custa no supermercado essa imagem, e tem gente que compra!! Agora se você quiser uma santa mais barata, você encontra até por 100 [reais] (...) Será que Deus, o Criador do universo, pode ser comparado a um boneco desse, tão feio, tãão horrível, tããão desgraçado?!— Sérgio Von Helde, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, durante o programa O Despertar da Fé, exibido na madrugada de 12 de outubro de 1995[4]
A reação
No dia seguinte à exibição do programa pela Rede Record, houve grande cobertura jornalística ao episódio, apresentando o fato como um ultraje deliberado à padroeira do Brasil, e por conseguinte, à fé católica, e como uma demonstração de intolerância religiosa por parte da Igreja Universal. Diversos jornais e revistas brasileiras, publicaram matéria ou nota a respeito, notadamente a Rede Globo.
A agressão verbal e física a imagem de Nossa Senhora Aparecida provocou forte indignação nos católicos (religião a qual pertence), e também em seguidores de outras religiões, inclusive evangélicas. Houve queixas na polícia e na justiça contra o pastor Von Helder. Promotores de Justiça e pessoas comuns acionaram judicialmente a Igreja Universal em vários fóruns, sob alegação de crimes como vilipêndio e desrespeito ao direito fundamental constitucional da liberdade de culto. Durante vários dias, as cenas dos chutes e os desdobramentos judiciais do caso ficaram nos noticiários.
Apesar do escândalo, clérigos católicos argumentam que teologicamente a discussão seria irrelevante, pois a imagem não foi consagrada por um religioso católico, permanecendo apenas uma peça de gesso, tendo o pastor comprado a imagem somente para agredi-la e atingir a fé católica, igualmente os católicos argumentam que o ato de intolerância do pastor foi uma má compreensão da crença católica, uma vez que as imagens cumprem a função de "meras fotografias (...), servindo para nos lembrarmos dos santos homens [e mulheres] do passado".[5]
Repercussão
Muitas autoridades se pronunciaram acerca do acontecimento, que se tornou motivo de anedotas e símbolo da intolerância religiosa no Brasil. Houve uma especulação de que o pastor von Helder teria se convertido ao catolicismo após um milagre atribuído à santa; o pastor teria sido acometido de um “mal misterioso” que lhe atacou a perna com a qual chutou a santa, e esta teria ajudado na sua recuperação pelas mãos de uma enfermeira negra (como a santa) que nunca foi identificada. O pastor não se pronunciou sobre o assunto à época de sua circulação, quando trabalhava para a Igreja Universal em Nova Iorque.[6]
Em 1997, o cantor Gilberto Gil lançou seu 33º álbum, intitulado Quanta. Nele está presente a canção Guerra Santa, de sua autoria, na qual tece duras críticas ao bispo e à Teologia da Prosperidade. Posteriormente, o episódio inspirou a canção Milagre da Santa, gravada pela dupla sertaneja Felipe & Falcão, em 2000.
Igreja Católica
O Papa João Paulo II alertou para que os católicos “não respondessem ao mal com o mal”. O arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugênio de Araújo Sales disse que “a não ser que controlássemos nossas emoções, haveria o risco de uma guerra santa”. Também afirmou que o governo federal seria em parte responsável pelos incidentes, por fazer (sem critérios, que não os políticos) às concessões públicas de rádio e televisão.[7][8]
Nos primeiros dias, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em nota, condenou o incidente ocorrido, mas adotando uma postura conciliatória declarou querer respeito, evitar polêmica e conflito.[7]
Visando revigorar e trazer a mobilização da Igreja, clérigos (padres, bispos e arcebispos) lideraram caminhadas, passeatas e concentrações de desagravo à santa.[7]
Igreja Universal do Reino de Deus
A Igreja Universal não se manifestou oficialmente sobre o ocorrido, segundo registros, devido o temor que se instalou, Macedo teria oferecido 10 minutos da programação de televisão(via Rede Record) para os líderes católicos, o que foi recusado. Inicialmente defensiva, a Universal posteriormente alegou perseguição religiosa por meio da mídia.[7]
Foram registrados também atentados, invasões, apedrejamentos, incêndio de templos e ameaças de bomba.[7]
"Ele (Sérgio von Helde) agiu como um menino (...) e a TV Globo me transformou num monstro."— Declaração de Edir Macedo, a um repórter.[8]
A investigação é produto de inquisição contra o meu cliente.— Márcio Thomaz Bastos, até então advogado de Edir Macedo.[8]
O pastor Ronaldo Didini, que ganhou fama com programa de entrevistas 25ª Hora na Rede Record, deu apoio aos atos de Von Helder, perdeu apoio e influência dentro da própria igreja, inclusive o comando do programa e saiu da igreja em 1997. O estopim da saída foi ter apoiado Celso Pitta na corrida para a prefeitura de São Paulo, contrariando a orientação da Universal, que era favorável ao José Serra em 1996.[9]
Os acontecimentos ganharam tais proporções na época que a cúpula da igreja decidiu que Sérgio Von Helde seria enviado para os Estados Unidos e Ronaldo Didini, na época apresentador do 25ª Hora por ter apoiado Von Helde na época foi enviado para a África do Sul.[7]
Membros do governo
O presidente Fernando Henrique Cardoso pronunciou-se sobre o acontecimento, condenando a intolerância religiosa. O Ministério das Comunicações disse que iria investigar se o pastor infringiu leis de comunicação ao agredir uma imagem religiosa, apoiada por políticos como Afanásio Jazadji.[7][8]
O Brasil é um país democrático conhecido por sua tolerância (...) qualquer manifestação de intolerância fere seu espírito de união, bem como o seu espírito cristão.— Fernando Henrique Cardoso, então presidente do Brasil [8]
Condenação
No dia 30 de abril de 1997, Sérgio Von Helde Luiz foi condenado pelo juiz da 12º Vara Criminal da cidade de São Paulo (SP), Ruy Alberto Leme Cavalheiro, a dois anos e dois meses de prisão por crimes de discriminação religiosa e vilipêndio a imagem.[10] O juiz determinou que seja cumprida em regime semiaberto, por ser o réu primário. Por causa de sua primariedade, o juiz concedeu-lhe o benefício de apelar em liberdade. Com isso, somente se a decisão for confirmada em segunda instância o bispo será recolhido a colônia penal agrícola para cumprir a pena. A defesa ainda não foi intimada da sentença.[10]
Quando a sentença foi proferida, Von Helde estava nos Estados Unidos, para onde foi transferido logo após o escândalo de agressão à imagem da santa.[10] O ineditismo da matéria e a consequente ausência de jurisprudência, obrigou o juiz Leme Cavalheiro a intensas pesquisas para fundamentar a decisão, que tem 16 laudas datilografadas.[10]
O caso também surpreendeu a justiça brasileira por seu ineditismo, com precedente semelhante somente num processo por discriminação política instaurado no Estado do Rio Grande do Sul pela acusação de pregar o nazismo.[10]
O processo criminal ficou parado no Tribunal de Justiça de São Paulo, e Von Helde voltou a morar no Brasil em 1998. Foi promovido a coordenador da Igreja Universal nas regiões Norte e Nordeste e em agosto assumiu a direção geral da TV Itapoan em Salvador, Bahia.[11]
No dia 10 de novembro de 1999, Von Helde foi condenado novamente, a dois anos de reclusão, com direito a suspensão condicional de pena, por incitar o preconceito religioso.[12]
Hoje
Segundo o site UOL em 2009, a pena contra Von Helde acabou reduzida. Um dos crimes imputados a von Helde, o vilipêndio, prescreveu. "A punição foi convertida em uma multa que hoje seria de uns R$ 2.000", calcula o juiz Cavalheiro, 58, hoje virtual desembargador no TJ-SP.[13]
Sergio von Helde e sua família moram nos Estados Unidos e continua a trabalhar em um dos cargos dentro da igreja Universal, o de obreiro.[13] Von Helde está no país de forma legal, com visto de missionário, e atua especialmente na região da Califórnia, junto a imigrantes espanhóis. O portal, filiado a Folha de S.Paulo, diz que ele jamais se arrependeu do chute na imagem.[13]
Ver também
- Intolerância religiosa no Brasil
- Catolicismo
- Veneração de imagens
- Idolatria
- Igreja Universal do Reino de Deus
- Nossa Senhora de Aparecida
- Religiões no Brasil
Referências
- ↑ Site BBC. «Church makes airwaves» (em inglês). Consultado em 13 de agosto de 2009
- ↑ Site Presidência. «Lei 6.802/1980». Consultado em 11 de agosto de 2009
- ↑ Van der Horst, Han (2000). Nederland, de vaderlandse geschiedenis van de prehistorie tot nu (in Dutch) (3rd ed.). Bert Bakker. pp. 133. ISBN 90-351-2722-6.
- ↑ a b VON HELDE, Sérgio. O Despertar da Fé. Rede Record. 12 de outubro de 1995. Disponível em [www.google.com.br Vídeos na internet]
- ↑ Declaração de padre Raimundo Ghizoni, na Catedral da Cidade de Tubarão. Santa Catarina Brasil. Fevereiro de 2009.
- ↑ SILVA, Chico. O Conto da Santa. Isto É. 21 de abril de 2004. Disponível em ISTOÉ Online
- ↑ a b c d e f g Erro de citação: Etiqueta
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inválida; não foi fornecido texto para as refs de nomeBooks1
- ↑ a b c d e Epstein, Jack (1995-11-24). Kicking of icon outrages Brazil Catholics. The Dallas Morning News. Visitado em 13 de agosto de 2009.
- ↑ Só levei 100 000, Veja, 20 de agosto de 1997
- ↑ a b c d e Von Helde da Universal é condenado, Vale do Paraíba, 1º de maio de 1997
- ↑ Holoforte - Em dia, Veja, 5 de agosto de 1998
- ↑ Datas, Veja, 17 de novembro de 1999
- ↑ a b c EXCLUSIVO: Bispo que chutou Santa volta à Universal como obreiro, UOL Notícias, 15 de junho de 2009
Ligações externas
- Vídeo do "Chute na Santa" (Quick Time)