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Coca (folclore): diferenças entre revisões

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Revisão das 15h24min de 28 de outubro de 2009

A coca é um ser mítico, uma espécie de fantasma, bruxa ou bicho-papão com que se assustam meninos. Embora não tenha uma aparência definida, este ser assustador tinha uma representação figurada, a sua cabeça era uma espécie de abóbora ou cabaça da qual saía luz (ou fogo). A representação da coca era feita com uma panela ou abóbora oca em que se faziam três ou quatro buracos, imitando olhos, nariz e boca, e em que se colocava uma luz dentro e deixava-se, durante a noite, num lugar bem escuro para assustar crianças e pessoas que passavam[1]. A coca é um ser feminino, o equivalente masculino é o coco embora ambos acabem por ser dois aspectos do mesmo ser, e confundem-se um com o outro na sua representação e no seu papel de assustar meninos; como nenhum destes seres tem uma forma definida toma-se um pelo outro.

Uma Coca iluminada.

No Minho esta máscara que se faz com a casca de uma abóbora é chamada de coco.[2]

A Festa da Coca

No norte de Portugal, a coca é representada por um dragão com escamas. Na vila de Monção, conhecida como a terra da "coca", ela é chamada de "santa coca" ou "coca rabixa". Na festa do dia do Corpus Christi a coca é o dragão que luta com São Jorge na representação da lenda de São Jorge e o dragão. Há referências à Festa da Coca desde o século XVI.

Após a Procissão do Corpo de Deus, o povo reúne-se no Campo do Souto, antigas instalações do caminho de ferro. O combate das Festas do Corpo de Deus decorre num anfiteatro em terra batida construído em paralelo ao troço que chegou a ser aberto até São Gregório. A coca (o dragão) – uma estrutura de madeira com um homem no interior – e um cavaleiro representando S. Jorge, com uma capa vermelha, elmo e lança, iniciam a "luta". A coca é empurrada, contra o cavalo, enquanto o cavaleiro tenta enfiar a lança na mandíbula da fera. Finalmente, S. Jorge vence com um golpe sobre a orelha da coca. A coca sem a orelha perde a força. Segundo a lenda , quando o cavaleiro ganha, o ano agrícola é fértil; quando é a Coca que vence o ano agrícola é mau.[3]

Na antiga Beira Alta era costume os rapazes levarem espetadas num pau, como símbolo das almas do outro mundo, uma abóbora esculpida em forma de cara, com uma vela acesa dentro, lembrando uma caveira.[4]

Literatura

Na literatura oral a coca é tema das cantigas de embalar, tal como o bicho-papão que rouba criancinhas ou a Maria-da-Manta que tem fogo nos olhos, é um ser que assusta as crianças, está sempre à espreita (está sempre à coca), e impede que o sono chegue. O sono é muitas vezes personificado por um outro ser mítico, o João Pestana.

“Vai-te coca vai-te coca
Para cima do telhado
Deixa dormir o menino
Um soninho descansado.”

No Auto da Barca do Purgatório (1518), de Gil Vicente, um menino identifica o diabo como o "coco" [5]:

“Mãe e o coco está ali
queres vós estar quedo co'ele?
Demo: Passa passa tu per i.
Menino: E vós quereis dar em mi
Ó demo que o trouxe ele."

Nas Décadas da Ásia (1563), João de Barros descreve como o nome do coco (fruto), teve origem nesta tradição [6]:

“[...]por razão da qual figura, sem ser figura, os nossos lhe chamaram coco,
nome imposto pelas mulheres a qualquer cousa, com que querem fazer medo às crianças,
o qual nome assi lhe ficou[...]”

A coca e o coco no mundo

O papel de assustar meninos estendeu-se até ao Brasil, levado pelos primeiros colonizadores, onde a coca é conhecida por um outro sinónimo: Cuca.

Na Catalunha este ser é chamado de "cuca" ou "cucafera" e é frequentemente representada por um dragão.

Na Galiza a coca é representada por um dragão e o dia da coca é celebrado em Redondela no dia do Corpus Christi. A representação da coca, com uma abóbora iluminada, faz parte do património imaterial galego-português[7]. Na Galiza é tema na festa das caliveras, ou samaín[8], e assume vários nomes[9]: calacús, caveiras de melón, calabazotes, colondros etc.[10] Em Ribadeo o coco e a coca são representados por dois gigantes.[11][12] O mito do coco também se espalhou pelos países de língua castelhana e, segundo o dicionário da Real Academia Espanhola[13], “el coco” (também chamado de “el cuco”) teve origem no fantasma português: “(Del port. côco, fantasma que lleva una calabaza vacía, a modo de cabeza). Fantasma con que se mete miedo a los niños[14].

Referências

  1. Figueiredo, Cândido. Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa. Livraria Bertrand. Lisboa 1940
  2. Corpo de Deus Portal Municipal de Monção
  3. Festa da Coca anima Monção
  4. Beira Alta‎ - Assembleia Distrital de Viseu, Junta de Província da Beira Alta, Arquivo Provincial (Beira Alta, Portugal), Junta Distrital de Viseu, Arquivo Distrital (Viseu, Portugal) - Beira Alta (Portugal) - 1946. Pg 296
  5. Vicente, Gil. Auto da Barca do Purgatório(1518).
  6. Barros, João de. Da Ásia de João de Barros e de Diogo do Couto: dos feitos que os portugueses fizeram no descobrimento dos mares e terras do Oriente. Década Terceira. Lisboa: Na Régia Officina Typografica, 1777-1788 (Biblioteca Nacional Digital)
  7. Património Imaterial galego-português
  8. Loureiro, Rafael. Samaín: A Festa das Caliveras
  9. Cabazas do País. culturagalega.org
  10. Loureiro, Rafael. Samaín. Vieiros da escola, nº10
  11. [1]
  12. [2]
  13. Diccionario de la lengua Española
  14. Coco2

Ver também

Ligações externas

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