Colorados da Bolívia
Colorados da Bolívia | |
---|---|
Regimiento Primero de Infantería Colorados de Bolivia Escolta Presidencial | |
País | Bolívia |
Corporação | Ficheiro:EjercitoEB.png Exército Boliviano |
Missão | Guarda Presidencial |
Tipo de unidade | Infantaria |
Criação | 1821 |
Aniversários | 26 de maio |
Marcha | Marcha de los Colorados de Bolivia |
Lema | A paso de vencedores. Temblad rotos que aquí entran los Colorados de Bolivia. Vencer o morir carajo...!! |
Cores | Vermelho (infantaria) |
História | |
Guerras/batalhas | Guerra de Independência
|
Comando | |
Comandantes notáveis |
José Miguel Lanza Plácido Yáñez |
O Regimento de Infantaria RI-1 Colorados da Bolívia é uma unidade militar do Exército Boliviano que se constitui como regimento escolta presidencial cuja missão específica é resguardar a segurança e integridade física do Presidente do Estado plurinacional e a cujo cargo se encontra a custodia do Palácio de Governo e Residência Presidencial.
Conta com dois batalhões de infantaria que são o BI-201 e BI-202 com seus respectivos quartéis. O quartel-central Calama, localizado na rua do mesmo nome onde funcionam os escritórios centrais da unidade e o centro de recrutamento. O quartel Olhador com assento no cerro de Quilli Quilli, zona da Villa Pavón, é um centro de adestramento em diversas áreas de especialização como assalto, apoio, proteção de pessoas, primeiros socorros, etc. Este regimento é considerado como o mais representativo do Exército Boliviano, por seus feitos realizados e o significado que tem na memória histórica do povo boliviano.[1]
História
[editar | editar código-fonte]Este corpo militar tem suas origens em 1821, ano em que o guerrilheiro altoperuano José Miguel Lança organizou uma milícia independentista nos territórios que hoje são parte da República da Bolívia.[2] Em suas fileiras figuraram alguns personagens que posteriormente seriam importantes na história boliviana entre outros José Ballivian, Mariano Torrelio e Manuel Deheza.
A primeira referência a este corpo aparece em 1857 quando figura como Batalhão "Colorados" 39 de Linha se convertendo desde então numa unidade de elite do exército boliviano.[3] O ideólogo deste corpo de infantaria foi o então Coronel Plácido Yáñez, que fora responsável pela Matança do Loreto (23 de outubro de 1861), quem impôs uma disciplina férrea em extremo. Recorda-se muitas vezes que ele foi quem dispôs a proibição de sair em licença durante o primeiro mês de instrução.
Yáñez tinha como lema O amor às armas entra com sangue, o que lhe servia para justificar inclusive a morte de quem pediam sua baixa ou morriam em decorrência do adestramento. Foi mediante esta dura aprendizagem e disciplina que se formou uma unidade de tipo pretoriana que depois poria no poder ou manteria nele a vários caudilhos militares desde Belzu até Daza, que o sustentaram como um corpo profissional e permanente lhe dando tratamento preferencial. Contando com o apoio dos Colorados, Hilarión Daza derrubou o presidente Agustín Morais em 1876 assumindo dali em diante a presidência da Bolívia. Os Colorados converteram-se desde então no braço armado que manteve a Daza no poder. A maioria de seus membros eram compadres ou apadrinhados do mesmo.[4] De seus 593 praças, 370 ostentavam um grau superior ao de soldado e recebiam o pagamento de comandantes.[5] Por este motivo eram conhecidos popularmente como os Colorados de Daza.
Guerra do Pacífico
[editar | editar código-fonte]Ao estourar a Guerra do Pacífico, o exército boliviano estava composto de dois esquadrões de cavalaria, uma bateria de artilharia e três batalhões de infantaria sendo os Colorados o N.º 1 de Linha. Seu armamento consistia em fuzis Remington enquanto os outros batalhões, dada a pouca confiança que inspiravam ao presidente, se encontravam armados em sua maioria de antiquados fuzis de antecarga.[6]
No final de 1879, o exército boliviano ao comando do presidente Daza, foi mobilizado para Tacna onde se reuniu com o exército peruano ao comando de seu presidente, Mariano Ignacio Prado. Depois da captura do monitor Huáscar e o início da campanha terrestre, marcharam junto ao resto do exército boliviano de Arica a Tarapacá em apoio das forças peruano-bolivianas do general Juan Buendía, que se encontravam prontas a enfrentar o exército chileno na estação de Dolores. No entanto o temor de Daza de que as tropas que lhe sustentavam no poder fossem dizimadas e isto fosse aproveitado por seus inimigos internos para o derrubar, fez que à altura do rio Camarones desse meia volta e contra-marchara para Arica abandonando a Buendía à sua sorte. Estas notícias desmoralizaram o exército aliado e depois da derrota em Dolores as tropas bolivianas dispersaram-se por completo em direção a Oruro. Esta ação é conhecida na história como a Traição de Camarones. Segundo o general boliviano Juan José Pérez (morto posteriormente na Batalha de Tacna) quando os soldados perguntaram a Daza como é que iriam contra-marchar sem ter vingado a seus irmãos mortos em Pisagua este os enganou dizendo que o presidente Prado os precisava para defender Sama (ao norte de Arica) que supostamente ia ser atacada pelos chilenos ao igual que Pisagua. Com isso, os Colorados concordaram em dar a volta.[7]
Como consequência deste comportamento desleal, Daza foi derrubado por suas próprias tropas pouco depois, assumindo o comando do exército o General Narciso Campero. Para evitar que seguisse sendo conhecido como Colorados de Daza, o batalhão foi renomeado "Aliança N.º 1".[8]
Batalha do Alto da Aliança
[editar | editar código-fonte]A ocasião na que finalmente o Batalhão Colorados teria a oportunidade de demonstrar toda sua capacidade foi na Batalha do Alto da Aliança na planície localizada ao norte da cidade de Tacna. Ali enfrentaram-se 8.500 peruanos e 5.150 bolivianos com 23 peças de artilharia contra 14.147 chilenos, dos quais combateram somente 9.000 pois a reserva não conseguiu participar. As forças chilenas contavam com 41 peças de artilharia.
O Batalhão Colorados constituía o ala direita do dispositivo aliado, mas ao meio dia de 26 de maio de 1880 recebeu a ordem de transladar ao ala esquerda, onde flaqueava a defesa aliada ante o ataque das divisões chilenas dos coronéis Barceló e Amengual. Sua missão era reforçar aos aliados e arremeter contra o inimigo, ao que procurou atemorizar com o famoso grito de "tremam rotos que aqui entram os Colorados da Bolívia".
«O batalhão Buin, famoso entre os chilenos, avançou resolutamente e o grito foi ouvido em suas fileiras: onde estão os Colorados? Estes não eram homens que se faziam esperar em tais ocasiões. Eles também avançam e após um fogo pesado, ganhando terreno, brandem a baioneta e atacam com admirável coragem. Podia ser visto ali no chão e banhado de sangue um grupo formado por um Colorado e um de Buin, cuja baioneta estava presa em seu peito perto de seu ombro esquerdo, enquanto o Colorado havia inserido a sua na virilha direita do chileno, encontrando ali ambos reciprocamente inutilizados.»— Capitão argentino Florencio del Mármol "Recuerdos de Bolivia".[9]
«A ordem de avanço foi cumprida passando sobre cadáveres cuja visão inflamava o ardor patriótico de nossos soldados, o combate se repetiu ali com tanto ímpeto e bravura que após 17 minutos de fogo mortal a linha foi restabelecida, os batalhões inimigos Esmeralda, Santiago e Navales... tiveram que nos ceder terreno, fugindo em fuga vergonhosa e colocados em completa derrota pelos bravos do 1º da Bolívia, o fogo compacto e nutrido não conseguiu assustá-los, nem fez parte alguma... para que eles arrebataram ao inimigo suas peças de canhão... as peças tomadas e ainda quentes eram dois Krupp de maior calibre, três menores e uma metralhadora desmontada e caída, todos com suas respectivas munições, fuzis abandonados pelo pânico do adversário, três bandeiras... era um espetáculo grandioso e exemplar... Avançávamos e avançávamos espalhando cada vez mais medo nas destroçadas fileiras inimigas, passando sobre cadáveres e fuzis abandonados, mas apresentando-se muito logo a numerosa cavalaria inimiga, que com uma corrida rápida e por esquadrões lançava sobre nós a carga... os brilhantes quadros de infantaria que para alguns permaneciam proscritos da tática moderna devido à precisão das armas destes últimos tempos nos serviram ali mais uma vez para mostrar aos nossos inimigos a destreza e a pujança de nossos soldados... no impetuoso avanço de seus cavalos o inimigo chegou a quinze metros de nós: armado de baioneta, uma descarga que parecia ter sido feita por um único homem a recebeu e depois outra e outra, uniformes e tremendas, a covarde cavalaria virou as caras em menos tempo do que leva para dizê-lo... Estrondosos vivas para a Aliança, ao Peru e Bolívia acompanhavam este glorioso incidente de combate...»
«Meu batalhão estava na vanguarda de toda a primeira divisão, seguido pelo Navales, Esmeralda e Chillán. Assim que chegamos à última colina, avisto os famosos Colorados. Sofremos várias baixas, na batalha fomos derrotados porque uma grande reserva veio para os Colorados. Nossas forças já estavam dizimadas e as munições quase esgotadas. Valparaíso e Navales estavam todos juntos após a retirada, mas guiados pela coragem inimitável do bravo Coronel Urriola, fomos capazes de nos reorganizar e atacar com todas as nossas forças.»— Relato de um soldado chileno, extrato de El Mercurio de Valparaíso Nros. 15974-15975.
Pese ao sucesso inicial cedo as tropas chilenas em retirada conseguiram reorganizar-se e remuniciar-se. Reforçadas por uma nova divisão ao comando do Coronel Amunátegui voltaram ao ataque, a superioridade material e militar finalmente impôs-se e a batalha foi perdida. Ao ser destruído o único exército com que contava, a Bolívia se retirou da Guerra do Pacífico. Entre os Colorados famosos nesta batalha, achava-se Juan Pinto que era tamboreiro no regimento, além do Coronel Ildefonso Murguía Anze que conduziu os Colorados durante a batalha.
Em lembrança aos soldados que lançando-se com suas armas carregadas e baionetas caladas venceram a quatro corpos de exército e a uma carga de cavalaria (formando um quadrado de infantaria) e às centenas que morreram, já que foram os primeiros a sair, se instituiu o 26 de maio como no Dia da Infantaria.
Guerra do Acre
[editar | editar código-fonte]Na Guerra do Acre a unidade participou como parte integrante do Exército Nacional ao comando do Presidente José Manuel Pando.
Guerra do Chaco
[editar | editar código-fonte]Na Guerra do Chaco, agora já elevado a nível de regimento, participou em diferentes batalhas.[11] Em 18 de julho de 1932, dada as escassas forças no sudeste chaqüenho, o presidente Salamanca sugeriu ao General Osorio, que o Regimento Colorados, que se encontrava entre Ingavi e Picuiba, abrindo um caminho, se transladasse para Muñoz-Arce. Osorio opôs-se a dar cumprimento a essa ordem e apresentou sua renúncia que foi aceita por Salamanca. Resultou inexplicável para Salamanca a obstinação de Osorio tendo em conta, disse, que essa unidade «não tinha mais que o prestígio de seu glorioso nome» e ainda que, como outros regimentos, se encontrava em etapa de instrução militar, tivesse ajudado nesse setor onde, mês e meio depois, iniciar-se-ia a guerra.
Afetado moralmente pelo violento combate do 10 de dezembro de 1932, em Quilómetro Sete, juntamente com o RI-25, abandonou sua posição dirigindo-se para Saavedra. O Tenente-Coronel Bretel ordenou à artilharia que contivesse esta deserção, o que se conseguiu apontando os canhões diretamente à tropa.[12] Em 21 de janeiro de 1933 figurou no ataque frontal ao fortim Fernández (Herrera) onde foi dizimado por seus defensores. Os sobreviventes foram distribuídos em outros regimentos e seu nome passou ao Regimento 41.
Na Primeira Batalha de Nanawa chegou pelo sul até o setor das cozinhas do fortim paraguaio mas foi desalojado depois de um combate corpo-a-corpo e sofreu fortes perdas na retirada ao não ser apoiado por forças amigas.
Em 3 e 4 de dezembro de 1933 foi enviado pelo General Kundt a conter a massa de manobra paraguaia que tinha cortado o caminho Alihuatá-Saavedra à altura do km 31 mas foi derrotado por essas forças que eram muito superiores.[13] Em 11 de dezembro de 1933, em Campo Vía, realizou uma última tentativa de romper o cerco mas foi rechaçado com pesadas baixas resultando gravemente ferido seu comandante, o Major Sinforiano Bilbao Rioja. Figurou na lista de regimentos que se renderam no cerco de Campo Vía, em 11 de dezembro de 1933.
Em maio de 1934, destacou-se na Batalha de Cañada Strongest onde cercou e obrigou a capitular um batalhão do regimento "Lomas Valentinas" do exército paraguaio.Participou da defesa do setor Ballivián em meados de 1934:
«Deve-se notar que a fadiga e outros fatores [...] quebrou em mais de uma vez o moral de nossas aguerridas unidades [...] dois dias depois [10 de julho de 1934], o desenvolvimento de uma operação destinada a envolver o inimigo em suas posições foi prejudicado pela dissolução do regimento Colorados, um dos melhores do 1º. Corpo de Exército [...].»— Oficial boliviano Hugo René Pol (en Pol, 1945, pág. 91)
«Será menester apuntar que la fatiga y otros factores [...] quebró en más de una vez la moral de nuestras aguerridas unidades [...] dos días después [10 de julio de 1934], el desarrollo de una operación tendiente a envolver al enemigo en sus posiciones nos fue malogrado por el desbande del regimiento Colorados, uno de los mejores del 1er. Cuerpo de Ejército [...].»Oficial boliviano Hugo René Pol (en Pol, 1945, pág. 91)
Luta contra a guerrilha
[editar | editar código-fonte]Contra a guerrilha de Che Guevara em Ñancahuazú teve destacada participação em Overá, Lequira, El Espino e Muchiri. Também participou contra a Guerrilha de Teoponte.
Homenagem
[editar | editar código-fonte]- A Lei Nº 2922, promulgada pelo governo do presidente Carlos Mesa em 26 de novembro de 2004, declarou Herói Nacional o Coronel Ildefonso Murguía Anze, Comandantes, Classes e Soldados do batalhão Colorados da Bolívia, por sua valente e patriótica ação na Batalha do Alto da Aliança.[14]
- É uma tradição anual que uma delegação do regimento Colorados da Bolívia participe da cerimónia realizada a cada 26 de maio no Alto da Aliança onde aconteceu a Batalha de Tacna, localizado ao norte de Tacna, na qual, depois de içar os pavilhões de ambas nações, se entoam seus respectivos hinos e se colocam oferendas florais em honra aos soldados peruanos e bolivianos caídos na batalha. No ano de 2009 esta tradição foi rompida pelo governo do presidente Evo Morais, que alegando tensões diplomáticas, pelo asilo político concedido no Peru a três ex-ministros do Governo de Gonzalo Sánchez de Lozada, não permitiu a participação da delegação boliviana nos atos protocolares.[15]
Lemas
[editar | editar código-fonte]Tradicionalmente o lema oficial do Exército Boliviano tem sido Subordinación e Constancia. Viva Bolívia! (Subordinação e Constância. Viva a Bolívia!) no entanto em março de 2010 o presidente Evo Morais ordenou sua substituição pelo lema socialista Patria o Muerte. ¡Venceremos! (Pátria ou Morte. Venceremos!). Essa medida gerou uma profunda polêmica na Bolívia, encontrando a rejeição da oposição, por considerar que se tratava de impor a doutrina política do partido de governo no exército, e gerando mal-estar em ex-altos comandantes do mesmo, por tratar de um lema introduzido no país pelo guerrilheiro comunista Ernesto "Che" Guevara, que fora tomado prisioneiro e assassinado pelo exército boliviano em 1967. A controvérsia pareceu superar-se com a vigência oficial e paralela dos dois lemas mas voltou a ressurgir numa cerimônia oficial levada a cabo em Cochabamba em 22 de abril de 2010, quando o presidente venezuelano Hugo Chávez, depois de cumprimentar os Colorados da Bolívia, lançou o grito Pátria ou Morte em duas ocasiões sem que este fosse respondido pelos soldados.[16]
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ [ligação inativa]
- ↑ [ligação inativa] "Vocero Militar" publicación del ejército boliviano, Año:9, Nro. 436 mayo de 2009
- ↑ Díaz Arguedaz Julio "Historia del Ejército de Bolivia, 1825-1932", pág. 266
- ↑ Dámaso E. Uriburu "Guerra del Pacífico: episodios, 1879 á 1881" pág. 83
- ↑ Jorge Basadre "Chile, Perú y Bolivia independientes" pág. 387
- ↑ Andrés A. Cáceres "Memorias de la Guerra del 79" pág. 14
- ↑ Basadre Jorge "Historia de la República del Perú" Tomo VII pág. 1757
- ↑ Dirección General de Estadística y Estudios Geográficos de Bolivia "De siglo a siglo: hombres celebres de Bolivia" Pág. 414
- ↑ Relato citado en "Recopilación de Partes y Documentos de la Guerra del Pacífico" de Carlos Milla Batres
- ↑ Ahumada Moreno, Pascual: "Guerra del Pacífico, tomos VII-VIII", págs. 73-75
- ↑ Mazacotte 1983, p. 192.
- ↑ Querejazu Calvo 1981, p. 120.
- ↑ Querejazu Calvo 1981, p. 241.
- ↑ de 26 novembro 2004.htm LEY No 2922 de 26 de novembro de 2004
- ↑ [ligação inativa]"Radio Uno" Emisora de Tacna
- ↑ [1] Periódico Virtual "Hoy Bolivia" 23 de abril de 2010
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Mazacotte, Alejandro (1983). Ensayo sobre la Guerra del Chaco. Asuncion (Paraguay): NAPA
- Querejazu Calvo, Roberto (1981). Masamaclay. Historia política, diplomática y militar de la guerra del Chaco. Cochabamba-La Paz (Bolivia): Los Amigos del Libro