Aquidabã (encouraçado de esquadra)
Aquidabã | |
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Brasil | |
Operador | Armada Imperial Brasileira Marinha do Brasil |
Fabricante | Samuda & Brothers |
Homônimo | Rio Aquidabã |
Batimento de quilha | 18 de junho de 1883 |
Lançamento | 17 de janeiro de 1885 |
Comissionamento | 14 de agosto de 1885 |
Comandante(s) | Custódio de Melo Júlio César de Noronha Alexandrino Faria de Alencar Arthur da Serra Pinto |
Estado | Explodiu na Baía de Jacuecanga |
Destino | Explodiu e afundou na BaíadeJacuecanga em 21 de janeiro de 1906 |
Características gerais | |
Tipo de navio | Encouraçado a vapor |
Deslocamento | 5,029 t (11 100 lb) |
Comprimento | 85,40 m (280 ft) |
Boca | 17,16 m (56,3 ft) |
Calado | 5,49 m (18,0 ft) |
Propulsão | vela, com três mastros armado em Barca 8 caldeiras cilíndricas a carvão 2 máquinas combinadas de três cilindros a vapor 4,500 hp (3,36 kW) |
Velocidade | 14.5 nós (26,85 km/h) |
Armamento | 4 canhões de 234 mm (9,2 in) 4 canhões de 140 mm (5,5 in) 11 metralhadoras de 25 mm (0,98 in) 5 metralhadoras de 11 mm (0,43 in) 5 tubos lança-torpedos |
Blindagem | 178 a 280 mm nas laterais do casco 254 mm nas torretas principais 254 mm na superestrutura |
Tripulação | 303 homens e oficiais |
O Aquidabã foi um encouraçado de esquadra da Armada Imperial Brasileira tendo sido o primeiro navio a ostentar esse nome. O navio foi construído pelo estaleiro Samuda & Brothers em meio a um ostensivo programa de modernização da Armada. Teve a sua quilha batida em 1883, lançado em 17 de janeiro de 1885 e comissionado em 14 de agosto do mesmo ano. Durante seus vários anos de serviço, recebeu alguns apelidos como "Encouraçado de Papelão", por causa de sua blindagem irregular e "Casaca de Ferro", após resistir a três incursões na baía de Guanabara.
O navio de guerra chegou a ser afundado parcialmente pelo contratorpedeiro Gustavo Sampaio na barra norte de Florianópolis em 1894 durante a Revolta da Armada, mas foi rapidamente posto a flutuar. Ele também foi usado como embarcação para experiências de telégrafo sem fio. O encouraçado explodiu sob circunstâncias ainda desconhecidas na baía de Jacuecanga, o naufrágio está localizado a cerca de 8 a 18 metros de profundidade, sendo considerado relativamente perigoso por causa de vários vergalhões expostos e da baixa visibilidade.
Características gerais
[editar | editar código-fonte]Classificado como encouraçado de esquadra, foi construído no Reino Unido pelo estaleiro Samuda & Brothers que operava as margens do rio Tâmisa na cidade de Londres. O navio foi lançado ao mar a 14 de agosto de 1885 e era considerado tecnicamente um dos navios mais avançados de sua época, chegando a atingir dezesseis nós com seus motores de 6 200 cavalos-vapor. Tinha as dimensões de 85,40 metros de comprimento, 15,86 metros de boca e 5,60 metros de calado. Seu deslocamento médio era de 5 029 toneladas.[1][3]
O armamento do vaso de guerra era constituído por quatro canhões de retrocarga Armstrong de retrocarga de 234 milímetros (9.2 polegadas), instalados em duas torres duplas dispostas diagonalmente, uma a boreste e outra a bombordo; quatro canhões de 146 milímetros no convés superior; onze metralhadoras de 25 milímetros, cinco metralhadoras de 11 milímetros e cinco lança-torpedos Whiehead.[1][3][4]
Sua blindagem consistia em uma couraça com espessura entre 177,8 a 279 milímetros e um convés blindado de 304,8 milímetros de espessura. Como a sua couraça não protegia igualmente todo o navio, chegou a ser apelidado de "Encouraçado de Papelão" pelo seu primeiro comandante, Custódio de Melo.[3][5]
História
[editar | editar código-fonte]Antecedentes
[editar | editar código-fonte]Em abril de 1880 o então Ministro da Marinha, Almirante José Rodrigues de Lima Duarte, apresentou um relatório à Câmara dos Deputados sobre a urgência de se modernizar a Marinha Imperial, com a adoção de então modernos navios encouraçados. A intenção do Almirante era a de adquirir duas dessas embarcações junto a estaleiros britânicos, e desse modo, foram encomendados os encouraçados Riachuelo e Aquidabã.[6]
Primeiros anos
[editar | editar código-fonte]Em novembro de 1891, o Aquidabã cumpriu um papel decisivo na consolidação do golpe de estado, contra a Monarquia, pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Foi de um de seus canhões que saiu o tiro de advertência à Esquadra de São Bento, chegando a danificar o campanário da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores no centro do Rio de Janeiro. O encouraçado atingiu o ápice de sua carreira em 1893, no início da Revolta da Armada, quando voltou a ter a bordo o agora Almirante Custódio de Melo, na chefia de uma rebelião contra o governo do Marechal Floriano Peixoto. O navio cruzou três vezes a baía de Guanabara, resistindo à artilharia de costa e, ainda por cima, levando a bordo o oficial que o chamara de "Encouraçado de Papelão". A partir daí, o seu apelido passou a ser "Casaca de Ferro".[3][7][8][9]
Combate naval de Anhatomirim
[editar | editar código-fonte]Em abril de 1894 encontrava-se nas águas da Baía Norte da Ilha de Santa Catarina. Durante o combate naval de 16 de abril, junto à Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, foi torpedeado pelo contratorpedeiro Gustavo Sampaio, vindo a afundar parcialmente. Posto a flutuar, foi levado ao Rio de Janeiro para reparos superficiais.[1][3]
Reformas e modernizações
[editar | editar código-fonte]O navio rumou em seguida para a Alemanha e para a Grã-Bretanha, para passar pelos reparos necessárias no casco e máquinas e na artilharia. Somente em 1897 o voltou a navegar, com um armamento ainda mais poderoso: dois canhões Armstrong de 203 milímetros, quatro canhões de 120 milímetros e quinze metralhadoras Nordenfelt.[1][3]
Algum tempo depois o Aquidabã retornou ao estaleiro para ser aparelhado como uma embarcação para experiências de transmissão de telégrafo sem fio. As mudanças foram basicamente, a retirada dos dois mastros militares (instalados durante a reforma), os tubos de torpedo acima da linha d'água e a instalação de um mastro para a transmissão de dados telegráficos.[3]
Naufrágio
[editar | editar código-fonte]No dia 21 de janeiro de 1906, quando fundeado na baía de Jacuecanga em Angra dos Reis, junto com os cruzadores Barroso e o Tamandaré, quando faltavam poucos minutos para as onze horas da noite, por razões até hoje desconhecidas, o Aquidabã sofreu uma violenta explosão em um de seus paióis contendo cordite, partindo o navio ao meio e vindo a afundar. Pereceram no desastre 212 homens de sua tripulação, inclusive parte da comitiva ministerial que procedia a estudos sobre o novo porto militar, o seu comandante e grande parte da oficialidade do vaso de guerra. Salvaram-se apenas 98 pessoas.[1][3]
A pouca distância, a bordo do cruzador Barroso, o então Ministro da Marinha, Júlio César de Noronha, assistiu à explosão do encouraçado, encontrando-se entre as vítimas, o seu próprio filho, o guarda-marinha Mário de Noronha e um sobrinho, o capitão-tenente Henrique de Noronha, além do contra-almirante Rodrigo José da Rocha e do contra-almirante João Cândido Brazil, patrono do Corpo de Engenheiros Navais da Marinha Brasileira.[1]
A notícia da catástrofe se espalhou imediatamente, tornando manchete dos principais periódicos de todo o mundo. Segundo o pesquisador da área educacional, Ivanildo Fernandes, no dia no naufrágio, foi emitida a seguinte nota de pesar, Expediente de 27 de janeiro de 1906, dirigida ao Presidente Rodrigues Alves, no qual estavam alunos da Academia do Comércio.[9][10]
Illm. Exm. Sr. Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves, Dignissimo Presidente da Republica. Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 1906.—Ante o tragico episodio occorrido na enseada de Jacitecanga, os alumnos Academia de Commercio do Rio de Janeiro atual Universidade Candido Mendes no Rio de Janeiro e os seus collegas da Escola Commercial da Bahia, respeitosa e profundamente consternados, veem manifestar a V. Ex. a sua solidariedade na magua que ora compunge a alma da Patria. O momento actual representa para a Republica a mais dura e commovente das provações que ella já ha soffrido. A V. Ex., como dignissimo o directo representante do povo brazileiro, de que somos obscura parcela, cabe receber a expressão da mais sentida condolencia pelo infortúnio que experimentamos. Affeitos e confiados no animo torto de V. Ex., tão sobejamente provado, estamos certos do que a angustia por que passa neste momento a vida nacional, produzirá, longo de desanimo, a vontade de prosseguir no louvável e extraordinario resurgimento observado no governo de V. Ex. Digne-se, pois, permittir V. Ex. que reiteremos os nossos pezames sentidos pela horrorosa, catastrophe que privou o Brazil de um pugilo do tão distinctos e devotados servidores. A nossa dor é, como a de todo o Brazil, inteira, intensa, eterna e inexprimivel. Muito respeitosamente. — A Commissão. Alvaro de Mello.—Julio de Abreu Gomes.—Percilio de Carvalho. Fonte: DOU de 01 de fevereiro de 1906, fls 637.
Repercussão
[editar | editar código-fonte]Após este acidente, a Marinha criou um setor responsável pela identificação dos tripulantes, pois diversos corpos encontrados não puderam ser reconhecidos à época. Poucos meses após o naufrágio, a tragédia foi tema da Missa de Requiem do compositor francês Fernand Jouteux (1866-1956)[11] e da obra musical O Batel da Dor, para dois pianos, última obra do autor mineiro Francisco Magalhães do Valle (1869-1906).[12]
Atualmente os destroços repousam a uma profundidade entre 8 e 18 metros, ao largo do monumento em homenagem às vítimas da tragédia, inaugurado em 1913 na Ponta do Pasto. A visibilidade para mergulho no local dificilmente ultrapassa os dois metros de profundidade, podendo chegar até cinco metros em dias excepcionais. Recomenda-se tomar cuidado em função dos vergalhões expostos.[10]
Referências
- ↑ a b c d e f g h «NGB - Encouraçado de Esquadra Aquidabã». www.naval.com.br. Consultado em 31 de maio de 2021
- ↑ «O Occidente» (PDF). O Occidente: 235-237. Consultado em 23 de junho de 2021
- ↑ a b c d e f g h «Aquidabã encouraçado» (PDF). Ministério da Marinha. Consultado em 31 de maio de 2021
- ↑ Bacerllar, Capitão Tenente Gilberto (1953). «Almirante Huet de Barcelar - Evocando uma vida e uma época - (1881 - 1891)». Revista Marítima Brasileira: 494. ISSN 0034-9860
- ↑ «Histórico | Centro de Hidrografia da Marinha». www.marinha.mil.br. Consultado em 31 de maio de 2021
- ↑ Júnior, Ludolf Waldmann (outubro de 2018). «Tecnologia e política: a modernização naval na Argentina e Brasil, 1900-1930» (PDF). Universidade Federal de São Carlos. Consultado em 31 de maio de 2021
- ↑ «Brasil Republicano». querepublicaeessa.an.gov.br. Consultado em 31 de maio de 2021
- ↑ Vessoni, Eduardo (3 de maio de 2021). «115 anos do naufrágio do Aquidabã, o "Encouraçado de Papelão" -». Viagem em Pauta. Consultado em 31 de maio de 2021
- ↑ a b Araújo, José Goes de (25 de setembro de 2005). «A tragédia de Jacuecanga - O MB Aquidabã». Brasil Mergulho. Consultado em 31 de maio de 2021
- ↑ a b Redação (22 de janeiro de 1906). «Naufrágio Aquidabã». Brasil Mergulho. Consultado em 31 de maio de 2021
- ↑ «Diario de Pernambuco (PE) - 1900 a 1909 - DocReader Web». memoria.bn.br. Consultado em 21 de março de 2019
- ↑ MOTA, Lúcius; CASTAGNA, Paulo; VALLE, Cyro Eyer do (2008). Francisco Valle. In: CASTAGNA, Paulo (coord.). Francisco Valle; pesquisa musicológica, edição e comentários Lúcius Mota, Paulo Castagna; editoração musical Leonardo Martinelli; revisão técnica Marcelo Campos Hazan; english version Marcelo Campos Hazan, Tom Moore; textos introdutórios Angelo Alves Carrara, Cyro Eyer do Valle, Lúcius Mota, Paulo Castagna; prefácio Aurelio Tello (PDF). Col: (Patrimônio Arquivístico-Músical Mineiro, v.3) (em português e inglês) (PDF). Belo Horizonte: Governo de Minas Gerais / Secretaria de Estado de Cultura. pp. 27–32. ISBN 978-85-99528-17-4. Consultado em 23 de novembro de 2017. Arquivado do original (PDF) em 1 de dezembro de 2017
Ligações externas
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