Homo sovieticus: diferenças entre revisões
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'''Homo sovieticus''' (em [[latim macarrônico]]: "'''Homem soviético'''", em [[língua russa|russo]]: '''Хомо советикус''') é um [[termo]] [[Sarcasmo|sarcástico]] que refere-se de forma crítica ao [[estereótipo]] das pessoas medianas da antiga [[URSS]] (e do [[bloco do Leste]] em geral), que teriam certos esquemas mentais e socio econômicos específicos, derivados da doutrinação e da própria cultura política dos governos comunistas do denominado "[[socialismo real]]", estabelecidos na antiga URSS e na [[europa oriental]] durante várias décadas do [[século XX]]. |
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'''Homo sovieticus''' ''em [[Língua russa|russo]]: Советский народ'' — Foi um termo adotado pelo antigo dirigente [[russos|soviético russo]] [[Nikita Khruschov|Nikita Sergeevich Khrushchyov]] ''em [[Alfabeto cirílico|cirílico]] Никита Сергеевич Хрущёв'' no [[:en:22nd Congress of the Communist Party of the Soviet Union|22º Congresso do Partido da União Soviética]] em [[1961]] quando ele declarou que na [[União Soviética|URSS]] não havia formado uma nova comunidade histórica de pessoas de diversas nacionalidades, tendo características comuns, o [[Soviéticos|povo soviético]]. |
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== Origem == |
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O "povo soviético" foi dito ser "uma nova comunidade histórica, social e internacional de pessoas possuírem em comum um [[território]], [[economia]] e conteúdo [[socialismo|socialista]], uma [[cultura]] que reflete as particularidades de múltiplas [[nacionalidade]]s, um estado federal, e um final comum objetivo: a construção do [[comunismo]]." |
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Este termo foi popularizado pelo conhecido [[escritor]] e [[sociólogo]] [[Aleksandr Zinovyev]], autor do livro ''[[Homo sovieticus (livro)|Homo sovieticus]]''.<ref>[[BBC News]] - [http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/4760109.stm ''Soviet-era satirist Zinovyev dies.''] 10 de Maio de 2006. {{en}} Acessado em 06/01/2016.</ref> Um termo similar em russo coloquial é ''sovok'' (совок, plural: ''sovki'', совки) que é derivado de "soviete" (literalmente, [[pá]]). |
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'''Homo sovieticus''' é um termo do [[latim]], que quer dizer "Homem soviético". Foi usado para descrever os [[soviéticos]], como um povo de personalidade e características próprias. |
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[[Michel Heller]] afirma <ref>''Cogs in the wheel: the formation of Soviet man.'' Autor: Mikhail Geller. Knopf, 1988, {{en}} ISBN 9780394569260 Adicionado em 06/01/2016</ref> que o termo foi cunhado na introdução da [[monografia]] de [[1974]], ''Sovetskye lyudi'' ("povo soviético") para descrever o próximo nível da [[evolução humana]] alcançado graças ao sucesso do experimento social marxista (''ver: [[Engenharia social]]''). |
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No livro publicado em [[1981]], disponível desde os [[anos 1970]] através do sistema de burla de [[censura]] [[samizdat]], Zinovyev também cunhou a abreviatura ''homosos'' (гомосос).<ref>''New Lithuania in Old Hands: Effects and Outcomes of EUropeanization in Rural Lithuania.'' Autora: Ida Harboe Knudsen. Anthem Press, 2013, pág. 20, {{en}} ISBN 9781783080472 Adicionado em 06/01/2016.</ref> |
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== Características gerais == |
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A ideia de que o sistema soviético criaria um novo tipo melhor de povo soviético foi postulada pela primeira vez pelos defensores do sistema, o chamado "[[novo homem soviético]]". Homo sovieticus, no entanto, era um termo com conotação negativa, inventado por adversários para descrever o que estes afirmavam ser o resultado real das políticas soviéticas. De muitas formas, isso significava o oposto do novo homem soviético, alguém caracterizado pelo seguinte: |
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* Indiferença pelos resultados de seu próprio trabalho e baixa produtividade no mesmo, expressas na famosa [[piada]] soviética: "''Eles ''(burocratas e políticos)'' fingem pagar-nos e nós fingimos que trabalhamos.''" |
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* Falta de iniciativa e evitar tomar qualquer responsabilidade individual sobre qualquer coisa. [[Jerzy Turowicz]] escreveu: "''este é um indivíduo escravizado, incapacitado, privado de iniciativa, incapaz de pensar criticamente, ele espera (e exige) que tudo seja fornecido pelo Estado, ele não pode e não quer tomar seu destino em suas próprias mãos''".<ref>Turowicz, Jerzy (1993). "Pamięć i rodowód". Tygodnik Powszechny (45).</ref> |
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* Indiferença para com a propriedade comum e para com os pequenos furtos no local de trabalho, tanto para uso pessoal quanto para o [[lucro]].<ref>[http://www.roca.org/OA/76-77/76f.htm Roca] - ''Orthodox America. 1917-1987: Unsuccessful and Tragic Attempt to Create a "New Man".'' Sergei Khodorovich. {{en}} Acessado em 06/01/2016.</ref> A frase de uma música popular, "''Tudo que pertence ao ''[[kolkhoz]],'' pertence a mim''" (всё теперь колхозное, всё теперь моё / Vsyo teperь kolkhoznoe, Vsyo teperь moyo), significando que as pessoas em fazendas coletivas consideravam-se donas de todos os bens comuns, às vezes era usada ironicamente, para se referir a casos de pequenos furtos. |
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* As restrições ao [[turismo]] no exterior e a [[censura na União Soviética|censura soviética]] rigorosa aos meios de comunicação (assim como a abundância de [[propaganda]]) com o objetivo de isolar o povo soviético da influência ocidental. Existiam "listas de proibição" não públicas de [[artista]]s e [[banda]]s ocidentais, que, para além dos critérios usuais de não conformidade com os valores fundamentais soviéticos, foram acrescentados à lista por razões bastante peculiares; um exemplo disso sendo a banda [[irlandesa]] [[U2]], cujo nome assemelhava-se ao [[Lockheed U-2]], um [[avião de reconhecimento]] [[estadounidense]] de grandes altitudes. Como resultado, a "exótica" cultura popular ocidental tornou-se mais interessante precisamente por ser proibida. Devido à exposição limitada, artistas considerados de menor expressão no [[Ocidente]] eram super valorizados na esfera soviética. Funcionários soviéticos chamavam este fascínio "idolatria ocidental" / "idolatria do Ocidente" (идолопоклонничество перед Западом / idolopoklonnichestvo Pered Zapadom). |
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* Obediência ou aceitação passiva a tudo o que é imposto pelo governo (''ver: [[autoritarismo]]''). |
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* Na opinião de um ex-[[embaixador]] dos [[EUA]] no [[Cazaquistão]], uma tendência a beber muito: "[o ministro da defesa [[cazaque]]] ''parece apreciar liberar-se no verdadeiro estilo ''Homo sovieticus'', isto é, bebendo até um estado de estupor.''"<ref>[[The Globe and Mail]] - [http://www.theglobeandmail.com/news/world/vain-shady-and-stupendously-fat-latest-wikileaks-like-a-teens-diary/article1818379/ ''Vain, shady and stupendously fat: Latest WikiLeaks like a teen's diary.''] Greg McArthur, 29 de Novembro de 2010, {{en}} Acessado em 06/01/2016.</ref> |
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* De acordo com [[Leszek Kołakowski]], a publicação de propaganda [[A História do Partido Comunista da União Soviética (Bolcheviques)]] (Краткий курс истории ВКП(б) foi fundamental na formação das características (sociais e mentais) do Homo Sovieticus como um "livro de falsa memória e [[duplipensar]]". Ao longo de anos, os soviéticos foram forçados a repetir continuamente e aceitar as constantes mudanças nas edições do "curso curto", como este livro era conhecido, com cada edição apresentando uma versão ligeiramente diferente dos acontecimentos passados. Isto levou inevitavelmente a formação de "''um novo homem soviético: ideológicamente ''[[esquizofrênico]]'', "mentiroso honesto", sempre pronto para ''[[Automutilação|automutilações]]'' mentais constantes e voluntárias''".<ref>''Main Currents of Marxism: The Founders, the Golden Age, the Breakdown.'' Autor: [[Leszek Kolakowski]]. W. W. Norton, 2007, {{en}} ISBN 9780393329438 Adicionado em 06/01/2016.</ref> |
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== Ver também == |
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* [[Etnocídio]] |
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* [[Patocracia]] |
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* [[Ponerologia]] |
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* [[Propaganda comunista]] |
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== Bibliografia == |
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* ''Homo Sovieticus.'' Autor: [[Aleksandr Zinovyev]]. Atlantic Monthly Press, 1985, {{en}}, ISBN 9780871130808 Adicionado em 06/01/2015. |
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* ''O Fim do Homem Soviético.'' Autora: [[Svetlana Alexijevich]]. [[Porto Editora]], 2015. ISBN 9789720047403 |
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Revisão das 17h37min de 6 de janeiro de 2016
Homo sovieticus (em latim macarrônico: "Homem soviético", em russo: Хомо советикус) é um termo sarcástico que refere-se de forma crítica ao estereótipo das pessoas medianas da antiga URSS (e do bloco do Leste em geral), que teriam certos esquemas mentais e socio econômicos específicos, derivados da doutrinação e da própria cultura política dos governos comunistas do denominado "socialismo real", estabelecidos na antiga URSS e na europa oriental durante várias décadas do século XX.
Origem
Este termo foi popularizado pelo conhecido escritor e sociólogo Aleksandr Zinovyev, autor do livro Homo sovieticus.[1] Um termo similar em russo coloquial é sovok (совок, plural: sovki, совки) que é derivado de "soviete" (literalmente, pá).
Michel Heller afirma [2] que o termo foi cunhado na introdução da monografia de 1974, Sovetskye lyudi ("povo soviético") para descrever o próximo nível da evolução humana alcançado graças ao sucesso do experimento social marxista (ver: Engenharia social).
No livro publicado em 1981, disponível desde os anos 1970 através do sistema de burla de censura samizdat, Zinovyev também cunhou a abreviatura homosos (гомосос).[3]
Características gerais
A ideia de que o sistema soviético criaria um novo tipo melhor de povo soviético foi postulada pela primeira vez pelos defensores do sistema, o chamado "novo homem soviético". Homo sovieticus, no entanto, era um termo com conotação negativa, inventado por adversários para descrever o que estes afirmavam ser o resultado real das políticas soviéticas. De muitas formas, isso significava o oposto do novo homem soviético, alguém caracterizado pelo seguinte:
- Indiferença pelos resultados de seu próprio trabalho e baixa produtividade no mesmo, expressas na famosa piada soviética: "Eles (burocratas e políticos) fingem pagar-nos e nós fingimos que trabalhamos."
- Falta de iniciativa e evitar tomar qualquer responsabilidade individual sobre qualquer coisa. Jerzy Turowicz escreveu: "este é um indivíduo escravizado, incapacitado, privado de iniciativa, incapaz de pensar criticamente, ele espera (e exige) que tudo seja fornecido pelo Estado, ele não pode e não quer tomar seu destino em suas próprias mãos".[4]
- Indiferença para com a propriedade comum e para com os pequenos furtos no local de trabalho, tanto para uso pessoal quanto para o lucro.[5] A frase de uma música popular, "Tudo que pertence ao kolkhoz, pertence a mim" (всё теперь колхозное, всё теперь моё / Vsyo teperь kolkhoznoe, Vsyo teperь moyo), significando que as pessoas em fazendas coletivas consideravam-se donas de todos os bens comuns, às vezes era usada ironicamente, para se referir a casos de pequenos furtos.
- As restrições ao turismo no exterior e a censura soviética rigorosa aos meios de comunicação (assim como a abundância de propaganda) com o objetivo de isolar o povo soviético da influência ocidental. Existiam "listas de proibição" não públicas de artistas e bandas ocidentais, que, para além dos critérios usuais de não conformidade com os valores fundamentais soviéticos, foram acrescentados à lista por razões bastante peculiares; um exemplo disso sendo a banda irlandesa U2, cujo nome assemelhava-se ao Lockheed U-2, um avião de reconhecimento estadounidense de grandes altitudes. Como resultado, a "exótica" cultura popular ocidental tornou-se mais interessante precisamente por ser proibida. Devido à exposição limitada, artistas considerados de menor expressão no Ocidente eram super valorizados na esfera soviética. Funcionários soviéticos chamavam este fascínio "idolatria ocidental" / "idolatria do Ocidente" (идолопоклонничество перед Западом / idolopoklonnichestvo Pered Zapadom).
- Obediência ou aceitação passiva a tudo o que é imposto pelo governo (ver: autoritarismo).
- Na opinião de um ex-embaixador dos EUA no Cazaquistão, uma tendência a beber muito: "[o ministro da defesa cazaque] parece apreciar liberar-se no verdadeiro estilo Homo sovieticus, isto é, bebendo até um estado de estupor."[6]
- De acordo com Leszek Kołakowski, a publicação de propaganda A História do Partido Comunista da União Soviética (Bolcheviques) (Краткий курс истории ВКП(б) foi fundamental na formação das características (sociais e mentais) do Homo Sovieticus como um "livro de falsa memória e duplipensar". Ao longo de anos, os soviéticos foram forçados a repetir continuamente e aceitar as constantes mudanças nas edições do "curso curto", como este livro era conhecido, com cada edição apresentando uma versão ligeiramente diferente dos acontecimentos passados. Isto levou inevitavelmente a formação de "um novo homem soviético: ideológicamente esquizofrênico, "mentiroso honesto", sempre pronto para automutilações mentais constantes e voluntárias".[7]
Ver também
Bibliografia
- Homo Sovieticus. Autor: Aleksandr Zinovyev. Atlantic Monthly Press, 1985, (em inglês), ISBN 9780871130808 Adicionado em 06/01/2015.
- O Fim do Homem Soviético. Autora: Svetlana Alexijevich. Porto Editora, 2015. ISBN 9789720047403
Referências
- ↑ BBC News - Soviet-era satirist Zinovyev dies. 10 de Maio de 2006. (em inglês) Acessado em 06/01/2016.
- ↑ Cogs in the wheel: the formation of Soviet man. Autor: Mikhail Geller. Knopf, 1988, (em inglês) ISBN 9780394569260 Adicionado em 06/01/2016
- ↑ New Lithuania in Old Hands: Effects and Outcomes of EUropeanization in Rural Lithuania. Autora: Ida Harboe Knudsen. Anthem Press, 2013, pág. 20, (em inglês) ISBN 9781783080472 Adicionado em 06/01/2016.
- ↑ Turowicz, Jerzy (1993). "Pamięć i rodowód". Tygodnik Powszechny (45).
- ↑ Roca - Orthodox America. 1917-1987: Unsuccessful and Tragic Attempt to Create a "New Man". Sergei Khodorovich. (em inglês) Acessado em 06/01/2016.
- ↑ The Globe and Mail - Vain, shady and stupendously fat: Latest WikiLeaks like a teen's diary. Greg McArthur, 29 de Novembro de 2010, (em inglês) Acessado em 06/01/2016.
- ↑ Main Currents of Marxism: The Founders, the Golden Age, the Breakdown. Autor: Leszek Kolakowski. W. W. Norton, 2007, (em inglês) ISBN 9780393329438 Adicionado em 06/01/2016.