Zósimo: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Linha 19: Linha 19:
== Citações ==
== Citações ==


{{Quote2|Li a ‘História’ do conde Zósimo, ex-advogado do Fisco, em seis livros. Sendo um ímpio pagão, ele freqüentemente ataca os adeptos da verdadeira fé. Seu estilo é conciso, claro, puro, e não isento de charme. Ele inicia sua história a partir do tempo de [[Augusto]], tratando de forma bastante breve todos os reinados seguintes até Diocleciano, quase que apenas mencionando sua ordem de sucessão. A partir de [[Diocleciano]], contudo, sua narrativa é mais detalhada, cobrindo cinco livros. Assim, os primeiros cinco livros contêm a história dos Imperadores de Augusto até Diocleciano, e o sexto livro termina por ocasião do segundo cerco de [[Roma Antiga|Roma]] por [[Alarico I|Alarico]], quando os cidadãos, exasperados por continuadas provações, e em acordo com o próprio Alarico, elevaram Átalo à dignidade imperial. Logo a seguir, contudo, Alarico o depôs, mandando uma embaixada a [[Honório]] em [[Ravenna]], com propostas de paz. Mas Saro, ele mesmo um godo e inimigo de Alarico, no comando de cerca de 300 homens, passou-se para o lado de Honório e, prometendo ajudá-lo contra Alarico, fez fracassarem as negociações. Nesse exato ponto termina o sexto livro. Deve-se dizer que Zósimo não escreveu sua história por si mesmo, copiando, ao invés, o trabalho de [[Eunápio]], do qual ela difere apenas na sua brevidade, e no fato de ser menos severa para com [[Estilicão]]. Fora isso, os dois relatos são praticamente idênticos, especialmente nos ataques que lançam aos Imperadores cristãos. Creio que ambos esses historiadores editaram novas versões de seus trabalhos. Não pude obter a edição original, mas o fato pode ser plausivelmente conjecturado a partir do título ‘nova’ que ostenta, o que me faz supor que, como Eunápio, Zósimo também publicou uma segunda versão de sua obra. Seu estilo, como já comentei, é mais claro e conciso do que o de Eunápio, e ele raramente emprega figuras de linguagem.|Fócio, "Biblioteca", códice 98}}
{{Quote2|Li a ‘História’ do conde Zósimo, ex-advogado do Fisco, em seis livros. Sendo um ímpio pagão, ele freqüentemente ataca os adeptos da verdadeira fé. Seu estilo é conciso, claro, puro, e não isento de charme. Ele inicia sua história a partir do tempo de [[Augusto]], tratando de forma bastante breve todos os reinados seguintes até Diocleciano, quase que apenas mencionando sua ordem de sucessão. A partir de [[Diocleciano]], contudo, sua narrativa é mais detalhada, cobrindo cinco livros. Assim, os primeiros cinco livros contêm a história dos Imperadores de Augusto até Diocleciano, e o sexto livro termina por ocasião do segundo cerco de [[Roma Antiga|Roma]] por [[Alarico I|Alarico]], quando os cidadãos, exasperados por continuadas provações, e em acordo com o próprio Alarico, elevaram Átalo à dignidade imperial. Logo a seguir, contudo, Alarico o depôs, mandando uma embaixada a [[Honório]] em [[Ravena]], com propostas de paz. Mas Saro, ele mesmo um godo e inimigo de Alarico, no comando de cerca de 300 homens, passou-se para o lado de Honório e, prometendo ajudá-lo contra Alarico, fez fracassarem as negociações. Nesse exato ponto termina o sexto livro. Deve-se dizer que Zósimo não escreveu sua história por si mesmo, copiando, ao invés, o trabalho de [[Eunápio]], do qual ela difere apenas na sua brevidade, e no fato de ser menos severa para com [[Estilicão]]. Fora isso, os dois relatos são praticamente idênticos, especialmente nos ataques que lançam aos Imperadores cristãos. Creio que ambos esses historiadores editaram novas versões de seus trabalhos. Não pude obter a edição original, mas o fato pode ser plausivelmente conjecturado a partir do título ‘nova’ que ostenta, o que me faz supor que, como Eunápio, Zósimo também publicou uma segunda versão de sua obra. Seu estilo, como já comentei, é mais claro e conciso do que o de Eunápio, e ele raramente emprega figuras de linguagem.|Fócio, "Biblioteca", códice 98}}


{{Quote2|Zósimo, um seguidor da amaldiçoada e louca superstição dos gregos, em sua raiva contra [[Constantino I]], por ele ter sido o primeiro Imperador a adotar o [[Cristianismo]], abandonando a abominável superstição pagã, diz em sua obra ter sido ele o criador da taxa denominada ''chrysargyrium'', a ser levantada a cada cinco anos. E também, de muitas outras maneiras, ataca aquele piedoso e magnificente monarca (...) Tu disseste, ó ser detestável e poluído, que o [[Império Romano]] se vem arruinando desde o surgimento do Cristianismo – mas dizes isso ou porque és um ignorante, não tendo lido nenhuma das antigas narrativas históricas, ou porque és um traidor da verdade. Porque, ao contrário, é evidente que o poder de Roma vem apenas crescendo concomitantemente ao crescimento de nossa fé (...) Basta-nos analisar as circunstâncias pelas quais os Imperadores pagãos e cristãos concluíram seus reinados (...) Pois desde a época em que Constantino assumiu o Império, e dedicou a [[Cristo]] a cidade que agora toma o seu nome, veja bem, nenhum daqueles que aqui reinaram, à exceção do pagão [[Juliano (imperador)|Juliano]], morreu assassinado por seus inimigos, internos ou externos, e nenhum deles foi, até ao presente, deposto, exceto aquele Basilisco que expulsou [[Zenão I|Zenão]] (sendo contudo depois derrotado e morto por ele, que retornou). Também foi o caso de [[Valente (imperador)|Valente]] (nisso concordo contigo), mas ele infligiu uma série de maldades sobre os verdadeiros crentes – e tu mesmo não és capaz de citar mais nenhum outro exemplo.|Evágrio do Ponto, "História Eclesiástica", livro III, capítulos 50 e 51, parte}}
{{Quote2|Zósimo, um seguidor da amaldiçoada e louca superstição dos gregos, em sua raiva contra [[Constantino I]], por ele ter sido o primeiro Imperador a adotar o [[Cristianismo]], abandonando a abominável superstição pagã, diz em sua obra ter sido ele o criador da taxa denominada ''chrysargyrium'', a ser levantada a cada cinco anos. E também, de muitas outras maneiras, ataca aquele piedoso e magnificente monarca (...) Tu disseste, ó ser detestável e poluído, que o [[Império Romano]] se vem arruinando desde o surgimento do Cristianismo – mas dizes isso ou porque és um ignorante, não tendo lido nenhuma das antigas narrativas históricas, ou porque és um traidor da verdade. Porque, ao contrário, é evidente que o poder de Roma vem apenas crescendo concomitantemente ao crescimento de nossa fé (...) Basta-nos analisar as circunstâncias pelas quais os Imperadores pagãos e cristãos concluíram seus reinados (...) Pois desde a época em que Constantino assumiu o Império, e dedicou a [[Cristo]] a cidade que agora toma o seu nome, veja bem, nenhum daqueles que aqui reinaram, à exceção do pagão [[Juliano (imperador)|Juliano]], morreu assassinado por seus inimigos, internos ou externos, e nenhum deles foi, até ao presente, deposto, exceto aquele Basilisco que expulsou [[Zenão I|Zenão]] (sendo contudo depois derrotado e morto por ele, que retornou). Também foi o caso de [[Valente (imperador)|Valente]] (nisso concordo contigo), mas ele infligiu uma série de maldades sobre os verdadeiros crentes – e tu mesmo não és capaz de citar mais nenhum outro exemplo.|Evágrio do Ponto, "História Eclesiástica", livro III, capítulos 50 e 51, parte}}

Revisão das 18h10min de 24 de novembro de 2013

Zósimo (em grego: Ζώσιμος) foi um historiador de língua grega atuante em Constantinopla e ativo entre o final do século V e o início do século VI. Era pagão numa sociedade já amplamente cristianizada. As datas exatas de seu nascimento e morte, bem como o seu local de nascimento, não são conhecidos, mas ele exerceu a função de advocatus fisci ("advogado do fisco")[1], tendo alcançado na carreira o título honorífico de comes ("conde").

Vida

Que ele se encontrava ativo na época do imperador Anastácio I Dicoro (reinou de 491 a 518) se depreende por uma passagem da sua "História Nova"[2] na qual ele cita o chrysargyron[3], imposto abolido por Anastácio em 498.

Sua obra ("História Nova"), escrita em grego, em seis "livros" (isto é, "rolos", cada cinco "livros" antigos correspondendo aproximadamente a um volume médio moderno), cobre o período de Augusto (31 a.C.14 d.C.) até o ano de 410, e é uma das mais importantes fontes para o conhecimento dos eventos do século IV e do início do século V. Sua atitude freqüentemente pró-pagã e anticristã lhe dá um colorido especial, podendo ser utilizada como balizadora para as obras de historiadores cristãos da época.

Vários aspectos da "História Nova" foram combatidos e refutados tanto na "História Eclesiástica" de Evágrio Escolástico (final do século VI) quanto na "Bibliotheca" do patriarca Fócio (século IX).

O texto da "História Nova" sobreviveu num único manuscrito, atualmente no Vaticano (Codex Vaticanus Graecus 156), dos séculos X-XII, provavelmente originário do mosteiro de São João de Estúdio, de Constantinopla. Mas mesmo esse único manuscrito sofreu danos: um caderno de oito folhas, entre o final do livro I e o início do livro II, desapareceu; uma folha também falta a partir do livro V, capítulo 22. O manuscrito encontra-se no Vaticano desde 1475.

O autor mostra-se, em sua narrativa, repetidamente anticristão; culpa as dificuldades pelas quais passa o Império Romano ao abandono dos antigos cultos[4]. Não lhe falta em alguns casos senso crítico, mas ele também adere a muitas superstições, como a crença na astrologia e nos augúrios, e o seu uso das fontes é, muitas vezes, superficial.

Obra

Sua obra inicia-se na época de Augusto, tratando de forma breve todo o período até Diocleciano (livro I, capítulos 1 a 36), tornando-se mais detalhada a partir daí. Não se trata de trabalho original, mas sim de compilação de outros autores; o sexto livro termina de modo abrupto, mostrando-se claramente inacabado; é provável também que Zósimo tencionasse levar sua história adiante, sendo talvez impedido pela sua morte.

Tanto quanto se pode depreender, as fontes utilizadas foram Dexipo de Atenas para o livro I, Eunápio de Sardes para os livros II até V, capítulo 27 e Olimpiodoro de Tebas a partir daí, tendo sido utilizadas, no geral, de forma bastante literal e pouco crítica. A história de Eunápio termina no ano 404; a obra de Olimpiodoro cobria o período de 407 a 425. O uso quase servil dessas duas fontes, em especial, se torna patente no final do livro V: o tratamento dado a Estilicão, o comandante-em-chefe do Império Romano do Ocidente, é hostil enquanto Zósimo segue Eunápio, mas muda para um tom de quase aprovação no capítulo 34, quando a fonte utilizada passa a ser Olimpiodoro.

Citações

Notas e referências

  1. agente encarregado de zelar pelos interesses do tesouro público) na prefeitura pretoriana do Oriente
  2. "História Nova", livro II, cap. 38
  3. "imposto em ouro e prata", taxa paga pela população urbana e incidente sobre ofícios exercidos
  4. "História Nova", livro II, capítulo 7

Ligações externas