Cucumbi carnavalesco: diferenças entre revisões

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'''Cucumbi carnavalesco''' eram grupos compostos por foliões socialmente reconhecidos como negros que ganham destaque na imprensa carioca na década de 1880. O termo foi utilizado por [[Eric Brasil]] para diferenciar esses grupos dos [[Cucumbi|Cucumbis]] do período colonial,<ref>{{Citar periódico |titulo=Cucumbis Carnavalescos: Áfricas, carnaval e abolição (Rio de Janeiro, década de 1880) |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0002-05912014000100009&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt |jornal=Afro-Ásia |data=2014-06 |issn=0002-0591 |paginas=273–312 |numero=49 |acessodata=2020-08-31 |doi=10.1590/S0002-05912014000100009 |lingua=pt |primeiro=Eric |ultimo=Brasil}}</ref> bastante descritos por memorialistas e folcloristas. Os cucumbis do período colonial foram muito associados às [[Congada|Congadas]], Reisados, principalmente a partir das descrições de [[Alexandre José de Melo Morais Filho|Melo Morais Filho]] e [[Luís Edmundo]].
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O enredo central de seus desfiles contava a história de uma embaixada do rei do Congo em visita a outro reino. No meio da viagem, o filho do rei é assassinado por um rival, muitas vezes representado por um “caboclo” brasileiro. Rei e rainha, desesperados, exigem que o mais famoso feiticeiro (Quimboto) do reino devolva a vida ao pequeno príncipe (Mamêto). Após cenas de encantamento, batalhas e muitos versos referentes à África e aos seus costumes, o jovem príncipe renasce e dança em júbilo com sua família e súditos.
Os primeiros [[cucumbi]]s a se apresentarem durante o carnaval mantinham sua organização original. Mas, pouco a pouco os encontros com os diversos grupos carnavalescos que tomavam as ruas do Rio de Janeiro acabaram inspirando novas formas de apresentações. Com isso, surgem os chamados Cucumbis Carnavalescos.


Desde a segunda metade do [[século XIX]] já se nota a presença, nas ruas do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]], de grupos de [[cucumbi]] durante os dias de [[carnaval]]. Necessitados de autorização policial para desfilar, esses grupos, compostos basicamente de negros, se aproveitavam da liberalidade característica do período carnavalesco para conseguirem as autorizações necessárias para suas apresentações.
Felipe Ferreira, em seu livro ''[[Inventando carnavais]]'' aborda o assunto e destaca alguma citações na imprensa.

Entretanto, na década de 1880 sua presença é cada vez mais marcante nos dias de Carnaval e passam a aparecer também nas fontes, especialmente na imprensa. O prof. Eric Brasil encontrou o registro de vários desses grupos entre 1884 e 1888, como por exemplo: Cucumbis Carnavalescos, Lanceiros Cucumbis, Iniciadora dos Cucumbis, Filha da Iniciadora dos Cucumbis, Triunfo dos Cucumbis e Cucumbis Africanos.

Segundo Eric Brasil (BRASIL, 2014, 290):<blockquote>Os Cucumbis Carnavalescos não representam apenas uma reprodução de antigas festas coloniais. Eles eram uma manifestação mais ampla, uma elaboração criativa de seus participantes estabelecendo um diálogo entre as novas formas de se brincar o carnaval da década de 1880 com os elementos culturais presentes entre as culturas negras da cidade. Elementos das congadas, dos reisados, das festas das irmandades religiosas, dos cortejos fúnebres, de embaixadas africanas, e também referências à tradição religiosa banto (o complexo ventura/desventura, o feiticeiro, a Calunga, um cristianismo africano) e à história da África (o reino do Congo, a rainha Ginga, a travessia do Atlântico) entravam em contato com as formas europeizadas de se brincar o carnaval (os préstitos com estandartes que dançavam em frente às redações dos jornais, o passeio pela Rua do Ouvidor).</blockquote>Felipe Ferreira, em seu livro ''[[Inventando carnavais]]'' aborda o assunto e destaca alguma citações na imprensa.


Alguns exemplos:
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Revisão das 21h03min de 31 de agosto de 2020

Cucumbi carnavalesco eram grupos compostos por foliões socialmente reconhecidos como negros que ganham destaque na imprensa carioca na década de 1880. O termo foi utilizado por Eric Brasil para diferenciar esses grupos dos Cucumbis do período colonial,[1] bastante descritos por memorialistas e folcloristas. Os cucumbis do período colonial foram muito associados às Congadas, Reisados, principalmente a partir das descrições de Melo Morais Filho e Luís Edmundo.

O enredo central de seus desfiles contava a história de uma embaixada do rei do Congo em visita a outro reino. No meio da viagem, o filho do rei é assassinado por um rival, muitas vezes representado por um “caboclo” brasileiro. Rei e rainha, desesperados, exigem que o mais famoso feiticeiro (Quimboto) do reino devolva a vida ao pequeno príncipe (Mamêto). Após cenas de encantamento, batalhas e muitos versos referentes à África e aos seus costumes, o jovem príncipe renasce e dança em júbilo com sua família e súditos.

Desde a segunda metade do século XIX já se nota a presença, nas ruas do Rio de Janeiro, de grupos de cucumbi durante os dias de carnaval. Necessitados de autorização policial para desfilar, esses grupos, compostos basicamente de negros, se aproveitavam da liberalidade característica do período carnavalesco para conseguirem as autorizações necessárias para suas apresentações.

Entretanto, na década de 1880 sua presença é cada vez mais marcante nos dias de Carnaval e passam a aparecer também nas fontes, especialmente na imprensa. O prof. Eric Brasil encontrou o registro de vários desses grupos entre 1884 e 1888, como por exemplo: Cucumbis Carnavalescos, Lanceiros Cucumbis, Iniciadora dos Cucumbis, Filha da Iniciadora dos Cucumbis, Triunfo dos Cucumbis e Cucumbis Africanos.

Segundo Eric Brasil (BRASIL, 2014, 290):

Os Cucumbis Carnavalescos não representam apenas uma reprodução de antigas festas coloniais. Eles eram uma manifestação mais ampla, uma elaboração criativa de seus participantes estabelecendo um diálogo entre as novas formas de se brincar o carnaval da década de 1880 com os elementos culturais presentes entre as culturas negras da cidade. Elementos das congadas, dos reisados, das festas das irmandades religiosas, dos cortejos fúnebres, de embaixadas africanas, e também referências à tradição religiosa banto (o complexo ventura/desventura, o feiticeiro, a Calunga, um cristianismo africano) e à história da África (o reino do Congo, a rainha Ginga, a travessia do Atlântico) entravam em contato com as formas europeizadas de se brincar o carnaval (os préstitos com estandartes que dançavam em frente às redações dos jornais, o passeio pela Rua do Ouvidor).

Felipe Ferreira, em seu livro Inventando carnavais aborda o assunto e destaca alguma citações na imprensa.

Alguns exemplos:

O Diário de Notícias de 8 de março de 1883 inclui os cucumbis entre os grupos que se apresentaram durante o carnaval.

O Jornal do Commercio de 14 de fevereiro de 1888 descreve a apresentação de um Cucumbi Carnavalesco do seguinte modo.

(...) na frente vinham alguns sócios, fantasiados de índios, os quais faziam manobras selvagens, deitando-se às vezes no chão para ouvir o que ia ao longe. No centro do grupo estava a rainha, coberta por um grande manto, cujas pontas eram seguras por dois Cucumbys. Paravam em frente aos jornais, cantavam e dançavam à moda africana. (Apud Ferreira, 2005:133)

A valorização (inclusive turística!) da presença dos cucumbis no carnaval carioca pode ser percebida no texto publicado no Jornal do Commercio em 20 de junho de 1892 sobre o passeio da Sociedade Iniciadora Cucumbys Carnavalescos:

(...) Por causa deles de certo nunca desaparecerá o carnaval. São constantes e sempre interessantes com os seus batuques e danças originais, já de pouco interesse para nós que estamos habituados a vê-los mas curiosas para os estrangeiros. (Apud Ferreira, 2005:159)

Os cucumbis carnavalescos, com seus instrumentos de percussão, seus ritmos, suas fantasias de índios e nobres e seus animais vivos ou empalhados se transformarão, no início do século XX, naquilo que mais tarde seria definido como cordão.

Ver também

Referências

  1. Brasil, Eric (junho de 2014). «Cucumbis Carnavalescos: Áfricas, carnaval e abolição (Rio de Janeiro, década de 1880)». Afro-Ásia (49): 273–312. ISSN 0002-0591. doi:10.1590/S0002-05912014000100009. Consultado em 31 de agosto de 2020 

FERREIRA, Felipe. Inventando carnavais: o surgimento do carnaval carioca no século XIX e outras questões carnavalescas. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2005.iaoo locos