Artéria ilíaca interna

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Artéria ilíaca interna
Artéria ilíaca interna
Frente do abdome, mostrando as marcas da superfície pelas artérias e pelo canal inguinal.
Nome em Latim arteria iliaca interna
Gray's subject # 614
Origem artéria ilíaca comum
Ramos artéria iliolombar, artéria sacral lateral, artéria glútea superior, artéria glútea inferior, artéria retal média, artéria uterina, artéria obturatória, artéria vesical inferior, artéria umbilical, artéria pudenda interna
Veia veia ilíaca interna
MeSH A07.231.114.444
Dorlands/Elsevier a_61/12154560

A artéria ilíaca interna (antigamente chamada de artéria hipogástrica)[1] é a principal artéria da pelve.[2][3][4]

Diversas vísceras pélvicas são nutridas por seus ramos. Músculos e ossos da pelve também recebem irrigação que vem, indiretamente, da artéria ilíaca interna. No entanto, a área de atuação desse vaso não se restringe à região: também se destina à região glútea, ao períneo e à região medial da coxa.[3]

É uma artéria calibrosa, porém curta, com cerca de 4 cm de comprimento.[2][3][5]

Estrutura[editar | editar código-fonte]

É um vaso curto e pequeno, menor que a artéria ilíaca externa. Ambas se formam quando a artéria ilíaca comum penetra na pelve maior e lá se bifurca.[6]

A artéria ilíaca interna penetra na pelve menor e logo emite vários ramos.[7] Por outro lado, a artéria ilíaca externa tem uma extensão maior, pois não penetra na pelve menor: segue pela pelve maior até o ligamento inguinal, depois do qual muda de nome, tornando-se artéria femoral.[8][9]

Trajetória[editar | editar código-fonte]

Conforme explicitado anteriormente, ela surge com a bifurcação da artéria ilíaca comum. Essa bifurcação ocorre a nível do disco intervertebral entre as vértebras L5 e S1.[3]

Para compreendermos essa informação, podemos pensar, comparativamente, em nossos olhos - eles estão no mesmo nível, lado a lado, o que não necessariamente significa que estão um à frente do outro ou um adjacente ao outro. Da mesma forma, a bifurcação da artéria ilíaca comum não está à frente do disco, mas no mesmo nível que ele.

Além disso, a bifurcação da artéria ilíaca comum se encontra ântero-medialmente à articulação sacroilíaca.[3] Entretanto, não se encontra em contato direto com ela: a veia ilíaca interna e o tronco lombossacral estão entre um e outro.[2]

Em relação ao peritônio, é extraperitoneal, de modo que o peritônio é medial à artéria ilíaca interna.[2]

Quando se forma, é medial à veia ilíaca externa.[7] Para irrigar as vísceras pélvicas, a artéria ilíaca interna, depois de formada, tem um trajeto descendente na pelve menor.[3]

Ao longo de seu percurso, é inicialmente medial ao ureter. Todavia, mais inferiormente, o ureter a cruza anteriormente.[4][5]

O nervo obturatório passa lateralmente a ela, para atingir o canal obturatório.[7]

Finalmente, divide-se, à frente da margem superior do forame isquiático maior, em dois grandes troncos, o anterior e o posterior.[5]

O tronco posterior tem a função de nutrir: parede póstero-inferior do abdome, parede posterior da pelve e parte da região glútea.[3]

Já o tronco anterior segue o mesmo trajeto que a artéria que o forma.[5] É o ramo responsável pela irrigação da maior quantia de estruturas (vísceras pélvicas, região medial da coxa, períneo e a maior parte da região glútea).[3]

Ramos[editar | editar código-fonte]

A disposição exata dos ramos da artéria ilíaca interna é bastante variável.[2][4] Geralmente, a artéria se divide em uma divisão anterior e uma posterior, com a posterior dando origem às artérias glútea superior, iliolombar e sacral lateral. As restantes geralmente são originadas da divisão anterior.[2][5]

A seguir, lista-se a ramificação mais comum da artéria ilíaca interna.

Divisão posterior

  1. Artéria iliolombar: tem um trajeto recorrente, ou seja, enquanto as artérias ilíacas comum e interna se dirigem inferiormente, a artéria iliolombar ascende. Sai da pelve menor e forma um ramo ilíaco e um ramo lombar. O ramo lombar irriga os músculos psoas maior e quadrado lombar. Já o ramo ilíaco nutre o músculo ilíaco, como o nome sugere.[2][5]
  2. Artéria sacral lateral: seu trajeto é explicitado pelo nome, isto é, ela desce à frente do sacro, lateralmente. Emite um ramo superior que penetra no primeiro forame sacral anterior e deixa o sacro pelos forame sacral posterior, para irrigar a musculatura e a pele posterior ao sacro. Ao longo do trajeto, também nutre o sacro. Já o ramo inferior permanece na pelve menor, acompanhando o tronco simpático e se anastomosando com o ramo superior, bem como com a artéria sacral mediana.[5]
  3. Artéria glútea superior: corresponde à continuação do tronco posterior, sendo seu ramo mais calibroso. Deixa a pelve menor através do forame isquiático maior, para irrigar os músculos glúteo máximo, glúteo médio e glúteo mínimo, piriforme e tensor da fáscia lata.[2]

Divisão anterior:

  1. Artéria obturatória: acompanha a veia obturatória e o nervo obturatório até o canal obturatório, através do qual deixam a pelve menor para acessar a porção medial da coxa, que é irrigada pela artéria obturatória, drenada pela veia obturatória e inervada pelo nervo de mesmo nome.[3][5]
  2. Artéria umbilical: sua porção proximal permanece na pelve menor, onde dá origem à artéria vesical superior, que irriga a parte superior da bexiga urinária e a parte distal do ureter. No sexo masculino, a artéria vesical superior também forma um ramo chamado artéria do ducto deferente, que nutre o ducto deferente, ausente no sexo oposto. Em contrapartida, a parte distal da artéria umbilical não apresenta sangue, é um resquício embriológico que adquiriu constituição fibrosa, denominado ligamento umbilical medial. O trajeto da parte distal consiste em se dirigir anteriormente sobre a bexiga, para então deixar a pelve menor, ascendendo pela parede anterior do abdome até o umbigo.[2][5]
  3. Artéria vesical inferior (presente apenas no sexo masculino): encontra-se integralmente na pelve menor, uma vez que nutre a porção inferior e lateral da bexiga, assim como a próstata, as glândulas seminais, parte distal do ureter e porções do ducto deferente.[3][5]
  4. Artéria uterina (ocorre somente no sexo feminino): também não deixa a pelve, pois irriga estruturas que nela se localizam. Tem trajeto inferomedial, partindo da parede lateral da pelve, onde está a artéria ilíaca interna, e se dirigindo medialmente ao útero. Ao longo desse curso, atravessa a base do ligamento largo do útero.[3][5] Ali, cruza superiormente o ureter[2] e, mais distalmente, passa superiormente ao fórnice vaginal lateral, estrutura que pertence à vagina.[3] Em seguida, alcança o colo do útero e sobe pela margem lateral do útero, com fins de atingir a tuba uterina, onde se anastomosa com a artéria ovárica, que tem outra origem (é ramo da parte abdominal da aorta).[3] Ou seja, a artéria uterina é responsável por nutrir o útero, além de colaborar com a irrigação da vagina, da tuba uterina e do ovário.[2][3] Devido ao fato de que o útero se espande incrivelmente durante a gravidez, a artéria uterina é bastante contorcida, para que possa também se esticar e, assim, não se romper ao longo da gestação. Além disso, a intimidade com o ureter exige cuidado durante uma histerectomia - caso, no processo de clampear a artéria uterina, o ureter seja acidentalmente clampeado junto a ela, a chegada da urina à bexiga urinária será comprometida.[2]
  5. Artéria pudenda interna: acompanha a veia pudenda interna e o nervo pudendo. Deixa a pelve menor pelo forame isquiático maior e, na sequência, retorna a ela, através do forame isquiático menor. Em seguida, chega ao períneo via canal do pudendo.[2][10] É a principal artéria do períneo, pois emite ramos para os músculos da região, tal qual para o canal anal, ânus e o pênis (sexo masculino) ou clitóris (sexo feminino). A artéria retal inferior[11], a artéria dorsal do pênis[12] e a artéria profunda do pênis[13] são ramos diretos da pundenda interna, sendo as duas últimas seus ramos terminais.
  6. Artéria retal média: é uma das três artérias que irriga o reto. A artéria retal superior, ramo terminal da artéria mesentérica inferior, e a artéria retal inferior, ramo da artéria pudenda interna, são as outras duas[2][11].
  7. Artéria glútea inferior: assim como a artéria glútea superior é o maior ramo da divisão posterior da artéria ilíaca interna, a artéria glútea inferior é o maior ramo terminal da divisão anterior.[5] Deixa a pelve menor através do forame isquiático maior, para atingir a região glútea e colaborar com sua irrigação.[3] Lá, nutre os músculos glúteos máximo, piriforme e quadrado femoral. Ainda colabora com a irrigação do diafragma pélvico e dos músculos isquiotibiais.[2]

Outro vaso relevante é a artéria vaginal (observada só no sexo feminino), responsável por irrigar a vagina e que pode ser um ramo da artéria uterina[2] ou emergir diretamente da artéria ilíaca interna.[5] Neste último caso, substitui a artéria vesical inferior, emergindo proxima à artéria uterina.[5]

Por fim, a artéria ilíaca interna também contribui para a irrigação da cauda equina, por intermédio das artérias sacral lateral e iliolombar, ambas provenientes da divisão posterior.[2]

Estrutura em fetos[editar | editar código-fonte]

Nos fetos, a artéria ilíaca interna é continuação direta da ilíaca comum.[5]

Uma de suas porções sobe ao longo do lado da bexiga e ascende na parede anterior do abdome rumo ao umbigo, convergindo em direção ao lado oposto. Trata-se da artéria umbilical.[5]

Sua função é conduzir o sangue do feto até a placenta, para que oxigênio e nutrientes sejam repostos, além de descartarem-se excretas.[5]

A partir do nascimento, essa função é desnecessária: os rins assumem o papel de eliminação de excretas, os pulmões se encarregam da troca gasosa e os intestinos passam a fornecer nutrientes, via alimentação própria. Logo, boa parte da artéria umbilical é obliterada (obstruída), tornando-se um ligamento. É o ligamento umbilical medial.[5]

Apenas a porção proximal permanece inalterada (patente). A razão pela qual persiste é a seguinte: ela forma a artéria vesical superior, responsável por nutrir, entre outras estruturas, a bexiga urinária[5]

Imagens adicionais[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Bashir, Omar. «Internal iliac artery | Radiology Reference Article | Radiopaedia.org». Radiopaedia (em inglês). Consultado em 29 de abril de 2021 
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p q MOORE, Keith; DALLEY, Arthur; AGUR, Anne (2014). Anatomia Orientada para a clínica 7 ed. Rio de Janeiro: Koogan. p. 427-433 
  3. a b c d e f g h i j k l m n o DRAKE, Richard; VOGL, Wayne; MITCHELL, Adam (2010). Gray's: Anatomia para estudantes. [S.l.]: Elsevier. p. 428-431 
  4. a b c Selçuk, İlker; Yassa, Murat; Tatar, İlkan; Huri, Emre (junho de 2018). «Anatomic structure of the internal iliac artery and its educative dissection for peripartum and pelvic hemorrhage». Turkish Journal of Obstetrics and Gynecology (2): 126–129. ISSN 2149-9322. PMC 6022419Acessível livremente. PMID 29971190. doi:10.4274/tjod.23245. Consultado em 29 de abril de 2021 
  5. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s «Internal iliac artery». Kenhub (em inglês). Consultado em 29 de abril de 2021 
  6. Bashir, Omar. «Common iliac artery | Radiology Reference Article | Radiopaedia.org». Radiopaedia (em inglês). Consultado em 29 de abril de 2021 
  7. a b c «Arteries of the Pelvis - Internal Iliac - Pudendal - Vesical - TeachMeAnatomy». Consultado em 29 de abril de 2021 
  8. MOORE, Keith; DALLEY, Arthur; AGUR, Anne (2014). Anatomia Orientada para a clínica 7 ed. Rio de Janeiro: Koogan. p. 497 
  9. «External iliac artery». Kenhub (em inglês). Consultado em 29 de abril de 2021 
  10. «Pudendal canal». IMAIOS (em inglês). Consultado em 29 de abril de 2021 
  11. a b «Reto». Kenhub. Consultado em 29 de abril de 2021 
  12. «Deep Dorsal Artery Of Penis Anatomy, Function & Diagram | Body Maps». Healthline (em inglês). 24 de janeiro de 2018. Consultado em 29 de abril de 2021 
  13. «Deep Artery Of Penis Anatomy, Function & Diagram | Body Maps». Healthline (em inglês). 23 de janeiro de 2018. Consultado em 29 de abril de 2021 

Ver também[editar | editar código-fonte]