Datura stramonium
Datura stramonium | |||||||||||||||
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Classificação científica | |||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||
Datura stramonium L. |
Datura stramonium, comummente conhecida como estramónio[1] ou castanheiro-do-diabo[2][3], é uma erva herbácea, ereta anual, pertencente à família das Solanáceas e ao tipo fisionómico dos terófitos.[3][2]
Nomes comuns
[editar | editar código-fonte]Além de trombeta, dá ainda pelos seguintes nomes comuns: pomo-espinhoso[2], trombeta, trombeteira, estramónio[4], figueira-do-demo, figueira-do-diabo,[5] figueira-do-inferno (não confundir com a espécie Euphorbia mellifera , com a qual partilha este nome comum),[6] figueira-brava[7], erva-dos-feitiços[8] e zabumba,[9]
Descrição
[editar | editar código-fonte]Trata-se de uma espécie herbácea erecta e anual, pautada pelo caule cilíndrico que pode ascender aos 190 centímetros de altura.[10] Geralmente, os caules são falsamente dicotómicos, tanto podendo ser glabros como hirsutos, sendo que, quando jovens, os espécimes exibem algumas glândulas amareladas.[10]
Conta com folhas grandes, de formato que alterna entre o ovado, ovado-lanceolado, oblanceolado ou rombóides.[10] Do que toca ao pecíolo costuma medir entre 10 e 90 milímetros, amiúde exornado na face superior, com algunas glândulas amareladas, quando a planta ainda é jovem.[10] O limbo das folhas tem um formato cuneado, amiúde assimétrico na base, com os nervos principais proeminentes.[10]
Do que toca às inflorescências reduzem-se a uma só flor de posicionamento axilar.[10] As flores, por seu turno, são actinomorfas, hermafroditas, dotadas de brácteas e de pedicelos curtos.[10] Exibem uma coloração que vai de branco ao roxo, com tamanhos de de 5 a 17,5 cm.[10]
Os pedicelos medem entre 4 e 10 mm na altura da floração e até 16 mm na da fructificação, são erectos e pubescentes.[10]
O cálice é tubular e, pelo menos enquanto a planta é jovem, pubescente.[10] A corola é infundibuliforme (forma de trombeta), contando com 5 pequenos lóbulos que se prolongam num apéndice triangular lanceolado, de coloração que se matiza entre o branca e azul-arroxeado, normalmente com 15 nervos.[10]
Os estames encontram-se inseridos mais ou menos à mesma altura, na metade inferior da corola.[10]
Os frutos desta planta têm um formato que pode alternar entre o ovóide, elipsóide ou mais ou menos esférico,são espinhosos e contam com mais de 35 espinhos.[10] Dividem-se internamente em quatro câmaras, cada qual com dúzias de sementes de cor negra e pequenas no seu interior. [10]
Todas as partes da planta emitem um odor fétido, quando esmagadas ou apertadas.
Distribuição
[editar | editar código-fonte]Originária do Norte do continente americano, conspecta-se hoje em dia como uma espécie cosmopolita.[2]
Portugal
[editar | editar código-fonte]Trata-se de uma espécie exótica invasora, presente em território português, designadamente nos Arquipélagos dos Açores e da Madeira e em Portugal Continental.[3]
Com efeito, do que toca a Portugal Continental, esta espécie já marca presença em todas as zonas do território.[2]
Ecologia
[editar | editar código-fonte]Trata-se de uma espécie ruderal[2] e nitrófila[3], que tanto medra em baldios sáfaros, como em courelas cultivadas, podendo inclusive surgir nas cercanias de entulhos, aterros de obras e bermas de estradas.[3]
Estatuto legal
[editar | editar código-fonte]Encontra-se classificada enquanto espécie invasora em Portugal Continental, desde 1999, por efeito do Decreto-Lei n.º 565/99 de 21 de Dezembro.[11]
Uso tradicional
[editar | editar código-fonte]Essa planta e outras variedades das Datura fazem parte das farmacopéias tradicionais de diversos povos euro-asiáticos e ameríndios.[12] Seus princípios ativos são os alcalóides tropânicos atropina, hiosciamina e escopolamina, que são classificados como anticolinérgicos.
Recentemente pesquisas na Colômbia com a administração da escopolamina, extraídos de plantas pertencentes ao gêneros Datura e Brugmansia, têm fornecido um importante modelo toxicológico do fenômeno neurológico da memória. Extratos da planta, popularmente conhecida como "burundanga", capazes de causar uma intoxicação por escopolamina,[13] são descritos como causadores de uma amnésia anterógrada transitória e de comportamento submisso e apático,[14] induzindo em maior dose delírios e perda da consciência e amnésia por ação no sistema nervoso central.[15] Devido ao elevado risco de overdose em usuários desinformados, muitas internações e algumas mortes são relatados com seu uso recreativo.[16]
Entre os antigos índios Chumash habitantes do litoral da Califórnia, segundo relatos do explorador português João Rodrigues Cabrilho a datura ou "Erva de Jimson" era utilizada para ajudar a produzir visões. "Especialistas" preparavam uma infusão da raiz da planta, que deixava o indivíduo num estado letárgico por 18-24 horas, após o que suas visões ou sonhos eram relatados e interpretados por anciões da aldeia. Além do uso religioso, também foi usada como anestesia, auxiliar na fixação ossos e tratamento de contusões e feridas, entre outros usos clínicos. [17]
Don Juan, no livro "A Erva do Diabo" de Carlos Castañeda (1931-1998) [18] refere-se nestes termos a esta espécie de Datura:
- "A erva-do-diabo tem quatro cabeças; a raiz, a haste e as folhas, as flores e as sementes. Cada qual é diferente, e quem a tornar sua aliada tem de aprender a respeito delas nessa ordem. A cabeça mais importante está nas raízes. O poder da erva-do-diabo é conquistado por meio de suas raízes. A haste e as folhas são a cabeça que cura as moléstias; usada direito, essa cabeça é uma dádiva para a humanidade. A terceira cabeça fica nas flores, e é usada para tornar as pessoas malucas ou para fazê-las obedientes, ou para matá-las. O homem que tem a erva por aliada nunca absorve as flores, nem mesmo a haste e as folhas, a não ser no caso de ele mesmo estar doente; mas as raízes e as sementes são sempre absorvidas; especialmente as sementes, que são a quarta cabeça da erva-do-diabo e a mais poderosa das quatro".
Observe-se que entendimento de concepções não ocidentais do efeito dessa planta, no caso as crenças de descendentes da etnia dos Yaquis, no norte do Mexico, nas quais o referido livro acima citado afirma que se baseou, requer a análise do contexto de seu uso e dos conceitos empregados. O principal conceito nesse caso é que que essa planta corresponde a um "aliado" descrito também como um veículo, uma qualidade e algo que pode ser domesticado. Em relação a outros aliados (associados à substancias psicoativas também empregadas por esse povo) a datura é um aliado imprevisível, possessivo e violento, capaz de matar quem a procura, e de muito difícil domesticação, Castañeda, (o.c.) É possível que essa "domesticação" seja uma possibilidade de manter a consciência e/ou a memória (do acontecido) sob seu efeito, contudo é essa capacidade de perda de consciência o que pode despertar interesse médico, numa perspectiva ocidental, como auxiliar do controle da dor, por exemplo ou do desenvolvimento de aspectos específicos de personalidade ou emoção na perspectiva etnomédica.
Galeria
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D. stramonium var. tatula, flor
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D. stramonium var. tatula
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D. stramonium var. tatula, flower (frente)
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D. stramonium var. tatula, flower (lado)
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D. stramonium fruto
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D. stramonium fruto
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D. stramonium fruto
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D. stramonium, sementes
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D. stramonium var. stramonium
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D. stramonium Otto W. Thomé, 1885
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D. stramonium em selo Magiar
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Datura inoxia
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D. Inoxia folhas e flor
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D. stramonium
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D. stramonium
Ver também
[editar | editar código-fonte]- A Erva do Diabo
- Atropina
- Beladona
- Escopolamina
- Hiosciamina
- Mandrágora
- Muscarina
- Duboisia
- Anticolinérgico
Referências
- ↑ S.A, Priberam Informática. «Dicionário Priberam da Língua Portuguesa». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 7 de abril de 2024
- ↑ a b c d e f «Jardim Botânico UTAD | Espécie Datura stramonium». Jardim Botânico UTAD. Consultado em 27 de março de 2023
- ↑ a b c d e «Datura stramonium | Flora-On | Flora de Portugal». flora-on.pt. Consultado em 27 de março de 2023
- ↑ Infopédia. «estramónio | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 15 de outubro de 2022
- ↑ Infopédia. «figueira-do-diabo | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 15 de outubro de 2022
- ↑ Infopédia. «figueira-do-inferno | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 15 de outubro de 2022
- ↑ Infopédia. «figueira-brava | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 15 de outubro de 2022
- ↑ Infopédia. «erva-dos-feitiços | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 15 de outubro de 2022
- ↑ FERREIRA. Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (Edição eletrônica). SP, Editora Positivo Informática LTDA, 2004
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n «Datura Stramonium | Flora Vascular - Toda la información detallada sobre la Flora Vascular | - Especie: Datura stramonium | BioScripts.net». www.floravascular.com. Consultado em 27 de março de 2023
- ↑ «Regulamento da introdução na natureza de espécies não-indígenas da flora e da fauna». dre.pt. Consultado em 27 de março de 2023
- ↑ Pascual, Marcos S.; Lorenzo, M Teresa, C. Notas históricas y estudio de algunas plantas mesoamericanas en Canarias: piteras, tuneras y estramonios Vegueta: Anuário, (255-263) , Universidad de Las Palmas Grand Canaria, 2003 PDF Maio 2011
- ↑ Scopolamine Erowid vault Maio 2011
- ↑ Ardila A., Moreno C. Scopolamine intoxication as a model of transient global amnesia. Brain and Cognition, 15 (2), pp. 236-245. USA, 1991
- ↑ Bustamante SE, Morales MA, Farmacología de los antagonistas muscarínicos. Apuntes Docentes Enfermería 2002; 1-9 PDF Maio 2011
- ↑ AJ Giannini,Drugs of Abuse--Second Edition. Los Angeles, Practice Management Information Corporation, pp.48-51.
- ↑ Ojibwa. Spiritual and Medicinal Plants Used by the Chumash Indians. Native American Netroots, March, 2015 http://nativeamericannetroots.net/diary/1880 Aces. Dez., 2015
- ↑ Castaneda, Carlos. A erva do diabo, os ensinamentos de dom Juan. RJ, Nova Era, 2009
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Datura stramonium from 'A modern herbal' by Mrs Grieve (1931)»
- «Datura stramonium at Liber Herbarum II»
- «Datura stramonium at CalPhotos»
- «Datura spp. at Erowid.org»
- «Datura Poisoning, Jimsonweed»
- «Herbalgram:The Role of Botanical Medicine in 100 Years of American Naturopathy»
- «Video of teens after ingesting Jimson Weed concoction»
- «Duboísia (Buscopan)»
- «Ficha da Datura stramonium em Portugal com fotografias e informação»