Euryoryzomys russatus

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Para outros significados, veja Rato-do-mato.

Euryoryzomys russatus
Classificação científica edit
Domínio: Eukaryota
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Rodentia
Família: Cricetidae
Subfamília: Sigmodontinae
Gênero: Euryoryzomys
Espécies:
E. russatus
Nome binomial
Euryoryzomys russatus
(Wagner, 1848)[2]
Sinónimos
  • Calomys coronatus Winge, 1887
  • Oryzomys intermedius (Leche, 1886)
  • Oryzomys kelloggi Avila-Pires, 1959
  • Oryzomys russatus (Wagner, 1848)
  • [Euryoryzomys] russatus Weksler, Percequillo & Voss, 2006
Wikispecies
Wikispecies
O Wikispecies tem informações sobre: Euryoryzomys russatus

Euryoryzomys russatus, popularmente denominado de rato-do-mato,[3] ou rato-do-arroz,[4] é uma espécie de roedor da família Cricetidae.[5] Foi descrita pela primeira vez por Johann Andreas Wagner em 1848.[6] É encontrada no Brasil,[7] Paraguai e Argentina.[7][8] Possui pelagem marrom-avermelhada, cauda longa e crânio grande.[7] É um roedor terrestre, que passa seu tempo em busca de sementes, frutas e insetos.[9][10] É listada pela IUCN como "menos preocupante", embora estudos tenham mostrado que é influenciada por distúrbios antropogênicos.[6] Predadores consistem em pequenos membros da ordem Carnivora.[11][12]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O prefixo eury- vem da palavra grega "eurys", que significa "largo".[13] O epíteto específico russatus vem da palavra latina "russatus", que significa "vestido de vermelho".[14]

Taxonomia[editar | editar código-fonte]

Euryoryzomys russatus[15] (Wagner, 1848) é seu nome atualmente aceito. É um membro da ordem Rodentia e família Cricetidae,[16] com o gênero Euryoryzomys compreendendo seis espécies válidas.[17]

Distribuição e habitat[editar | editar código-fonte]

Euryoryzomys russatus é encontrado no Brasil continental e em ilhas periféricas.[7] Também é encontrada na Bolívia, Argentina e Paraguai.[7] É encontrada ao longo de gradientes altitudinais consistindo em áreas baixas e montanhosas (montanas).[7][18] É encontrada na Mata Atlântica, bem como em algumas áreas da Floresta Amazônica.[7][18][19]

Locais específicos em que E. russatus foi encontrada inclui: Ilha de Santa Catarina, Brasil (espécimes vivos);[20] Além Paraíba, Minas Gerais, Brasil (espécimes de museu);[18] Parque Nacional Guaricana, Paraná, Brasil (espécimes de museu);[18] Ilha do Cardoso, São Paulo, Brasil (espécimes de museu);[18] Paraná, Brasil (identificação genética de excrementos de felinos predadores);[11] Picinguaba, São Paulo, Brasil (espécimes vivos);[21] Rio de Janeiro, Brasil (espécimes vivos);[22] Reserva Florestal do Morro Grande, São Paulo, Brasil (espécimes vivos).[23]

É considerada um especialista florestal, habitando apenas em habitats com extensa cobertura de dossel florestal.[24] Foi demonstrado que as taxas de abundância e imigração aumentam conforme aumenta a cobertura florestal.[24]

Histórico[editar | editar código-fonte]

Vista dorsal do crânio

Morfologia[editar | editar código-fonte]

O gênero Euryoryzomys é descrito como tendo pelagem que varia da cor amarela a marrom-avermelhada dorsalmente, embora tenha uma cor ventral mais clara.[25] As orelhas são geralmente de tamanho médio a grande. As vibrissas (bigodes) não ultrapassam as orelhas. A maioria das espécies possui um jugal (com exceção de E. lamia).[25]

Euryoryzomys russatus é descrito como tendo um crânio grande e comprimento corporal relativamente grande; com uma faixa de comprimento de corpo de 112−185 mm (4 402,17 in).[7] Alguns estudos registraram seu peso, que era em média de 59 g (2,1 oz).[23] A cauda mede entre 105–196 105−196 mm (4 126,14 in) de comprimento.[7] A pelagem é marrom-avermelhada na parte dorsal do corpo e branca na parte ventral. O pinnae e a cauda são ambos na cor cinza. Os membros anteriores e posteriores são rosa claro, junto com o nariz. As vibrissas faciais são de cor preta. Parietais em E. russatus não possuem expansões laterais.[25]

Ecologia[editar | editar código-fonte]

Euryoryzomys russatus é um roedor noturno terrestre que se move principalmente sobre a serapilheira encontrada no solo da floresta.[23][26] Um estudo sazonal de seleção de microhabitats encontrou variação na escolha de microhabitats nas estações quente-úmida e fria-seca.[23] Euryoryzomys russatus possui maior abundância em áreas com detritos lenhosos, baixa altura da serapilheira e alta biomassa de artrópodes durante a estação quente-úmida e durante a estação fria-seca; a maior abundância foi observada em áreas com alta umidade da serapilheira.[23] É um comedor oportunista, consumindo sementes, frutas e insetos quando possível.[9][10] Um estudo de predação de sementes na Mata Atlântica brasileira encontrou E. russatus um eficiente predador de sementes, comendo a maioria das sementes oferecidas (com exceção daquelas com massa maior que a dos indivíduos observados).[27]

Um estudo da dinâmica populacional de uma população da E. russatus na Ilha de Santa Catarina, no sul do Brasil, mostrou que tanto machos como fêmeas possuem proporção quase iguais.[20] Mantém um sistema de acasalamento monogâmico.[10][20] As fêmeas tiveram atividade reprodutiva ao longo do ano e se correlacionam com a disponibilidade de recursos alimentares.[10] Seus ninhos possuem forma de xícara e são construídos com fibras de bambu e outras gramíneas da família Poaceae.[26] A prole nasce altricial, sem cabelo e com olhos e ouvidos fechados.[26] Um estudo calculou o número médio de crias por gravidez (a partir do levantamento de fêmeas grávidas e filhotes) como sendo 3,6, com três a seis filhotes sendo típicos.[26]

Genética[editar | editar código-fonte]

Análises genéticas agruparam diferentes populações de E. russatus' em três clados usando regiões do gene mitocondrial e nuclear, porém nenhuma subespécie foi identificada.[19] Um estudo focado na estruturação genética de populações na Mata Atlântica do sul do Brasil não encontrou nenhuma estruturação genética ao longo da distribuição das espécies.[28] Por meio do cariótipo de indivíduos de E. russatus do Parque Estadual da Serra do Mar (Santa Virgínia, Brasil), verificou-se que possuem um número cromossômico de 2n=80.[16] Este número é compartilhado com Euryoryzomys emmonsae e Euryoryzomys nitidus.[16]

Conservação[editar | editar código-fonte]

Em 2016, a Euryoryzomys russatus foi listada como Espécie pouco preocupante pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).[6] No entanto, estudos têm mostrado que esta espécie é suscetível a distúrbios antropogênicos, como degradação ou destruição de habitat.[19][24][29][30]

Predadores[editar | editar código-fonte]

Estudos descobriram que o E. russatus é uma presa de várias espécies de felinos neotropicais, incluindo jaguarundi (Puma yagouaroundi), gato-do-mato (Leopardus tigrinus) e jaguatirica (Leopardus pardalis).[11] Também foi demonstrado que os gatos domésticos (Felis silvestris catus) se alimentam de E. russatus.[12]

Parasitas[editar | editar código-fonte]

Exemplo de um Trichomonas sp. semelhante ao encontrado em E. russatus

Pesquisas sobre os parasitas gastrointestinais da E. russatus encontraram oito endoparasitas diferentes em populações insulares e continentais.[31] Uma nova espécie de nematóide, Hassalstrongylus luquei, foi encontrada no intestino delgado de E. russatus.[22] Foi descoberto que um único indivíduo possuía anticorpos de uma infecção fúngica sistêmica com Paracoccidioides brasiliensis.[32] Um estudo sobre Rickettsia rickettsii, febre maculosa brasileira, mostrou que E. russatus é um hospedeiro da espécie de carrapato Amblyomma ovale, que é um vetor conhecido da doença zoonótica.[33]

Referências

  1. Percequillo, A.; Weksler, M.; Langguth, A.; Patterson, B.; D'Elia, G.; Teta, P. (2017) [errata version of 2016 assessment]. «Euryoryzomys russatus». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2016: e.T29405A115168400. doi:10.2305/IUCN.UK.2016-3.RLTS.T29405A22328896.enAcessível livremente 
  2. Wagner, Andr (1848). «Beiträge zur Kenntniss der Säugthiere Amerika's». München. Abhandlungen der Mathematisch-Physikalischen Klasse der Königlich Bayerischen Akademie der Wissenschaften. 5 (2): 312 
  3. «Capítulo 3.2 - Avaliação da Biodiversidade - Anexo 7 - Pequenos mamíferos» (PDF). p. 3 
  4. «Rato-do-arroz (Euryoryzomys russatus)». Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2021. Consultado em 14 de julho de 2021 
  5. Musser, G.G. (2005). «Superfamily Muroidea». In: Wilson, D.E.; Reeder, D.M. Mammal Species of the World 3º ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press. ISBN 978-0-8018-8221-0. OCLC 62265494 
  6. a b c Percequillo, A.; Weksler M.; Langguth, A.; Patterson, B.; D'Elia, G.; Teta, P. (2016). «Russet Rice Rat». IUCN Red List of Threatened Species. doi:10.2305/IUCN.UK.2016-3.RLTS.T29405A22328896.en. Consultado em 14 de julho de 2021 
  7. a b c d e f g h i Patton, James; Pardinas, Ulyses; D'Elia, Guillermo (2015). Mammals of South America: Rodents. 2. Chicago: University of Chicago Press. 319 páginas 
  8. Duff, A. and Lawson, A. 2004. Mammals of the World: A checklist. Yale University Press, 312 pp. ISBN 978-0-300-10398-4
  9. a b Powers AM, Mercer DR, Watts DM, Guzman H, Fulhorst CF, Popov VL and Tesh RB (1999) Isolation and genetic characterization of a hantavirus (Bunyaviridae: Hantavirus) from a rodent, Oligoryzomys microtis (Muridae), collected in northeastern Peru Am J Trop Med Hyg 61:92–98
  10. a b c d Bergallo, H. & Magnusson, W. (2004). Factors affecting the use of space by two rodent species in Brazilian Atlantic forest. Mammalia. 68. 121-132. 10.1515/mamm.2004.013.
  11. a b c Silva-Pereiraa, J. E.; Moro-Rios, R. F.; Bilski, D. R.; Passos, F. C. (2010). «Diets of three sympatric Neotropical small cats: Food niche overlap and interspecies differences in prey consumption». Mammalian Biology. 76 (3): 308–312. doi:10.1016/j.mambio.2010.09.001 
  12. a b Ferreira, Giovanne Ambrosio; Nakano-Oliveira, Eduardo; Genaro, Gelson (2014). «Domestic cat predation on Neotropical species in an insular Atlantic Forest remnant in southeastern Brazil». Wildlife Biology. 20 (3): 167–175. doi:10.2981/wlb.13131 
  13. «eury- | Origin and meaning of prefix eury- by Online Etymology Dictionary». www.etymonline.com (em inglês). Consultado em 28 de setembro de 2019 
  14. «Definition of russatus». Latin Lexicon. Consultado em 28 de setembro de 2019 
  15. Wagner, A. J. (1848). Beiträge zur Kenntniss der Säugthiere Amerika's / vom A. Wagner. Munich, Germany: Königliche Akademie der Wissenschaften. pp. 271–332. doi:10.5962/bhl.title.15738 
  16. a b c Di-Nizo, C. B.; Neves, C. L.; Vilela, J. F.; Silva, M. J. (24 de janeiro de 2014). «New karyologycal data and cytotaxonomic considerations on small mammals from Santa Virgínia (Parque Estadual da Serra do Mar, Atlantic Forest, Brazil)». Comparative Cytogenetics. 8 (1): 11–30. ISSN 1993-078X. PMC 3978240Acessível livremente. PMID 24744831. doi:10.3897/compcytogen.v8i1.6430 
  17. Patton, J. L.; Pardiñas, U. F. J.; D’Elía, G. (2015). Mammals of South America, Volume 2. [S.l.]: University of Chicago Press. pp. 314–321. ISBN 9780226169576. doi:10.7208/chicago/9780226169606.001.0001 
  18. a b c d e Libardi, G. S.; Percequillo, A. R. (2016). «Variation of craniodental traits in russet rats Euryoryzomys russatus (Wagner, 1848) (Rodentia: Cricetidae: Sigmodontinae) from Eastern Atlantic Forest». Zoologischer Anzeiger: 57–74 
  19. a b c Miranda, Gustavo B.; Andrades-Miranda, Jaqueline; Oliveira, Luiz F. B.; Langguth, Alfredo; Mattevi, Margarete S. (2007). «Geographic Patterns of Genetic Variation and Conservation Consequences in Three South American Rodents». Biochemical Genetics. 45 (11–12): 839–856. PMID 17939030. doi:10.1007/s10528-007-9122-x 
  20. a b c Antunes, P., Campos, M., Oliveira-Santos, L., & Graipel, M. (2009). Population dynamics of Euryoryzomys russatus and Oligoryzomys nigripes (Rodentia, Cricetidae) in an Atlantic forest area, Santa Catarina Island, Southern Brazil. Biothemes, 22 (2), 143-151. doi: https://doi.org/10.5007/2175-7925.2009v22n2p143
  21. Pinheiro, P.S.; Geise, L. (2008). «Non-volant mammals of Picinguaba, Ubatuba, state of São Paulo, southeastern Brazil». Biol. Mus. Biol. Mello Leitao (N. Ser). 23: 51–59 
  22. a b Costa, M.A.R., Maldonado Jr, A., Bóia, M.N., Lucio, C.S. & Simões, R.O. 2014. a new species of Hassalstrongylus (Nematoda: Heligmonelidae) from Euryoryzomys russatus (Rodentia: Sigmodontinae) in the Atlantic forest, Brazil. Neotropical Helminthology, vol. 8, n°2, jul-dec, pp. 235-242.
  23. a b c d e Naxara, L., Pinotti, B., & Pardini, R. (2009). Seasonal Microhabitat Selection by Terrestrial Rodents in an Old-Growth Atlantic Forest. Journal of Mammalogy, 90(2), 404–415. Retrieved from http://www.jstor.org/stable/30224486
  24. a b c Püttker, T. A. A. Bueno, C. Santos de Barros, S. Sommer, R. Pardini. 2013. Habitat specialization interacts with habitat amount to determine dispersal success of rodents in fragmented landscapes, Journal of Mammalogy, Volume 94, Issue 3, 11:714–726, https://doi.org/10.1644/12-MAMM-A-119.1
  25. a b c Weksler, M.; Percequillo, A. R.; Voss, R. S. (2006-10-19). "Ten new genera of oryzomyine rodents (Cricetidae: Sigmodontinae)" (PDF). American Museum Novitates. American Museum of Natural History. 3537: 1–29.
  26. a b c d Ricardo S. Bovendorp, Jessica A. Laskowski and Alexandre R. Percequillo 2016. A first view of the unseen: nests of an endangered Atlantic Forest rat species. Mammalia (Short Note): 1-4. DOI 10.1515/mammalia-2015-0178
  27. Galetti, M.; Guevara, R.; Galbiati, L. A.; Neves, C. L.; Rodarte, R. R.; Mendes, C. P. (2015). «Seed Predation by Rodent and Implications for Plant Recruitment in Defaunated Atlantic Forests». Biotropica. 47 (5): 521–525. doi:10.1111/btp.12246 
  28. Gonçalves, Gislene L.; Marinho, Jorge R.; Freitas, Thales R.O. (2009). «Genetic structure of sigmodontine rodents (Cricetidae) along an altitudinal gradient of the Atlantic Rain Forest in southern Brazil». Genetics and Molecular Biology. 32 (4): 882–885. PMC 3036879Acessível livremente. PMID 21637469. doi:10.1590/S1415-47572009005000081 
  29. Pardini R, Souza SM, Braga-Neto R, Metzger JP (2005). The role of forest structure, fragment size and corridors in maintaining small mammal abundance and diversity in an Atlantic forest landscape. Biol Conserv 124:253–266
  30. Umetsu F, Pardini R (2007). Small mammals in a mosaic of forest remnants and anthropogenic habitats evaluating matrix quality in an Atlantic forest landscape. Landscape Ecol 22:517–530
  31. Kuhnen, VV.; Graipel, ME.; Pinto, CJC. (2012). «Differences in richness and composition of gastrointestinal parasites of small rodents (Cricetidae, Rodentia) in a continental and insular area of the Atlantic Forest in Santa Catarina state, Brazil». Brazilian Journal of Biology. 72 (3): 563–567. PMID 22990827. doi:10.1590/S1519-69842012000300019 
  32. Sbeghen, Mônica Raquel; Zanata, Thais Bastos; MacAgnan, Rafaela; De Abreu, Kaue Cachuba; Da Cunha, Willian Luiz; Watanabe, Maria Angelica Ehara; De Camargo, Zoilo Pires; Ono, Mario Augusto (2015). «Paracoccidioides brasiliensis Infection in Small Wild Mammals». Mycopathologia. 180 (5–6): 435–440. PMID 26232125. doi:10.1007/s11046-015-9928-8 
  33. Szabó, Matias P. J.; Pinter, Adriano; Labruna, Marcelo B. (2013). «Ecology, biology and distribution of spotted-fever tick vectors in Brazil». Frontiers in Cellular and Infection Microbiology. 3. 27 páginas. PMC 3709097Acessível livremente. PMID 23875178. doi:10.3389/fcimb.2013.00027