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Genbaku no Ko

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Genbaku no Ko
原爆の子
Filhos de Hiroshima (BRA)
Genbaku no Ko
A atriz Nobuko Otowa e o ator mirim Takashi Itō em cena do filme
 Japão
1952 •  p&b •  98[1][2] min 
Direção Kaneto Shindo
Produção Kozaburo Yoshimura[2]
Roteiro
  • Kaneto Shindō
  • Arata Osada (livro)
Elenco Nobuko Otowa
Música Akira Ifukube[2]
Cinematografia Takeo Itō[2]
Edição Zenju Imaizumi
Lançamento
  • 6 de agosto de 1952 (1952-08-06) (Japão)[1][2]
Idioma japonês

Genbaku no Ko (原爆の子? lit. "Crianças da Bomba Atômica") (bra: Filhos de Hiroshima)[3] é um filme de drama japonês de 1952 dirigido por Kaneto Shindō.

Takako Ishikawa trabalha como professora em uma ilha no Mar Interior de Seto, na costa de uma Hiroshima do pós-guerra. Durante as férias de verão, ela pega uma balsa rumo a sua cidade natal, Hiroshima, para visitar os túmulos de seus pais e de sua irmã mais nova, que foram mortos no bombardeio atômico da cidade. Ela vê um mendigo e o reconhece como Iwakichi, um ex-servo de seus pais, agora com o rosto queimado e parcialmente cego. Ela o segue até seu pequeno barraco, onde ele é cuidado por uma mulher que mora ao lado, nisso, Takako pergunta sobre sua família. Com a morte da esposa, do filho e da nora, o único parente ainda vivo de Iwakichi é Tarō, seu neto, que mora em um orfanato nas redondezas. Takako visita o orfanato e descobre que as crianças mal têm o que comer. Ela se oferece para levar Iwakichi e seu neto de volta com ela, mas Iwakichi recusa, fugindo.

Takako visita Natsue Morikawa, ex-colega do jardim de infância onde lecionava, que agora atua como parteira. Natsue ficou estéril como consequência da bomba e está planejando, junto do marido, de adotar uma das inúmeras crianças órfãs na região. Natsue e Takako visitam o antigo jardim de infância, que agora está destruído, e Takako decide visitar os ex-alunos do infantário.

O pai do primeiro aluno que ela visita, Sanpei, adoeceu repentinamente devido a uma doença relacionada à exposição a radiação e morre minutos antes de ela chegar ao local. Outra estudante está acometido por uma doença terminal e morrendo em uma igreja, onde muitas pessoas feridas pelas bombas se reúnem.

Depois de passar a noite na casa de Natsue, ela vai visitar, Heita, um de seus outros estudantes. Sua irmã, que está com uma perna machucada, está prestes a se casar e Takako é convidada a jantar com ela. Ela conversa com o irmão mais velho de Heita, Kōji, sobre as pessoas que morreram ou se feriram durante a guerra.

Ela retorna a onde Iwakichi mora e pede novamente para deixá-la levar Tarō de volta para a ilha onde ela leciona. Ele recusa de início, mas depois seu vizinho o convence a deixar Takako cuidar de Tarō. No entanto, Tarō ainda se recusa a abandonar seu avô. Na última noite antes da partida de Takako, Iwakichi convida Tarō para uma última refeição, dá-lhe os sapatos novos que comprou ao menino e o envia para Takako, acompanhado de uma carta. Logo depois, ele incendeia sua casa. Ele sobrevive ao incêndio, mas fica gravemente queimado e acaba não resistindo. No final, Tarō deixa Hiroshima para trás junto com Takako, carregando as cinzas de seu avô.

  • O ator Osamu Takizawa e o ator mirim Takashi Itō, como, respectivamente, avô e neto
    Os atores Jukichi Uno (esquerda) e Tomoko Naraka fazem papéis de irmãos
    Os atores Nobuko Otawa (esquerda), Tsutomu Shimomoto (centro) e Miwa Saito. O casal Morikawa (Shimomoto e Saito) hospeda Takako durante sua estadia em Hiroshima
    Nobuko Otawa (primeiro plano) visita o pai de um aluno que acaba por falecer minutos antes
    Nobuko Otowa como Takako Ishikawa
  • Osamu Takizawa como Iwakichi
  • Miwa Saito como Natsue Morikawa
  • Tsuneko Yamanaka como uma criança
  • Hideji Ōtaki como vizinho de Sanpei
  • Takashi Ito como Taro
  • Chikako Hosokawa como Setsu, mãe de Takako
  • Masao Shimizu como Toshiaki, pai de Takako
  • Yuriko Hanabusa como Oine
  • Tanie Kitabayashi como Otoyo
  • Tsutomu Shimomoto como marido de Natsue
  • Eijiro Tono
  • Taiji Tonoyama como capitão do navio
  • Jūkichi Uno como Kōji, irmão mais velho de Heita
  • Tomoko Naraoka como Sakie, irmã mais velha de Heita[2]

O filme foi encomendado pelo Sindicato dos Professores do Japão e foi baseado nos testemunhos recolhidos, em primeira mão, pelo educador japonês Arata Osada, reunidos em seu livro de 1951, Children of the Atomic Bomb.[4] O fim da ocupação do Japão no pós-guerra pelas forças americanas permitiu a produção de obras abordando os bombardeios atômicos nas cidades de Hiroshima e Nagasaki.[5]

Genbaku no Ko foi exibido no Festival de Cinema de Cannes de 1953.[6]

O filme fez sucesso no Japão em sua estreia, mas o Sindicato dos Professores do Japão, que encomendou o filme, criticou sua visão "externa" da devastação física e pessoal do bombardeio e, especialmente, a falta de críticas políticas e sociais mais claras, concentrando-se em vez disso, nas histórias de alguns indivíduos afetados pelos bombardeios. Consequentemente, o sindicato encomendou outro filme, Hiroshima (lançado em 1953), do diretor Hideo Sekigawa, que era muito mais realista na sua representação das consequências do bombardeamento e muito mais crítico em relação a postura dos líderes americanos e japoneses, que resultaram no imenso desastre.[5]

Em 1959, Donald Richie, historiador americano de cinema, percebeu e descreveu uma grande fraqueza no filme, seu "acoplamento do naturalismo mais realista com o sentimentalismo verdadeiramente excessivo", mas enfatizou que "ele mostrava as consequências da bomba sem qualquer polêmica perversa".[7]

Em 2011, Genbaku no Ko estreou nos Estados Unidos e recebeu críticas positivas. Em uma resenha do filme, onde também é comentado sobre o papel do longa na carreira de Kaneto Shindō, o crítico A. O. Scott, do The New York Times, comenta: "O Sr. Shindo combina austeridade e sensualidade com um efeito emocionante, às vezes hipnotizante. A beleza das composições em Genbaku no Ko — a clareza do foco, o equilíbrio gracioso dentro dos quadros — proporciona algum alívio da severidade de seu tema [...] Ele contempla a experiência do Japão durante a guerra com pesar, em vez de indignação".[8]

J. Hoberman, do jornal The Village Voice, chamou-o de "um melodrama sombrio" que carece de sutileza, mas tem "a capacidade de ferir".[9] Alexander Jacoby, estudioso de cinema, resumiu: "continua sendo um dos filmes mais comoventes de Shindo e um testemunho do espírito anti-guerra que se enraizou no Japão após sua derrota".[10]

No Metacritic, o filme detém uma classificação média de 86/100.[11]

Temas e análises

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Cena de uma Hiroshima arrasada pela bomba
Bomba atômica formando uma nuvem de cogumelo

O filme relembra o bombardeamento em Hiroshima e as tragédias subsequentes, que as forças dos EUA censuraram durante sua ocupação do Japão, que estava terminando de se fixar no país meses antes do lançamento do filme.[12] O filme homenageia o povo hibakusha e destaca como eles foram condenados ao ostracismo na sociedade japonesa, negando-os trabalho devido aos ferimentos visíveis causados pelas bombas e a radiação.[12] No entanto, o filme também promove o sentimento de vitimização do Japão através da tragédia dos ataques nucleares. Deixa de fora as lutas de outros países asiáticos durante a guerra e como o Japão também foi um vitimizador.[13] Falta um contexto mais amplo do Japão durante a guerra no filme, pois retrata o Japão como um lugar pacífico e próspero antes das bombas. O filme mostra a vitimização do Japão em flashbacks do atentado, onde crianças choram sobre os corpos de suas mães mortas, representando um vínculo de vida rompido.[13] A ênfase do filme na destruição que se seguiu ao bombardeio ressoa com as mensagens anti-guerra e pró-democracia de vários grupos de interesse social, incluindo o Sindicato dos Professores do Japão, que encomendou o produção.[14]

Genbaku no Ko foi exibido em uma retrospectiva de 2012 na Shindō e Kōzaburō Yoshimura em Londres, organizada pelo British Film Institute e pela Japan Foundation.[15]

Referências

  1. a b «原爆の子 (Children of Hiroshima)». Japanese Movie Database (em japonês). Consultado em 7 de fevereiro de 2021 
  2. a b c d e f «原爆の子 (Children of Hiroshima)» (em japonês). Kinema Junpo. Consultado em 7 de fevereiro de 2021 
  3. «Filhos de Hiroshima». Cineplayers. Consultado em 25 de julho de 2024 
  4. Bajo, Toshiko (20 de novembro de 2009). «Translations of "Children of the Atomic Bomb" grow in number». Hiroshima Peace Media Center. Consultado em 7 de fevereiro de 2021 
  5. a b Watanabe, Kazu (3 de maio de 2018). «A Tale of Two Hiroshimas». The Criterion Collection. Consultado em 7 de fevereiro de 2021. Cópia arquivada em 3 de março de 2019 
  6. «Gembaku no ko». Festival de Cannes. Consultado em 17 de julho de 2023 
  7. Anderson, Joseph L.; Richie, Donald (1959). The Japanese Film – Art & Industry. Rutland, Vermont and Tokyo: Charles E. Tuttle Company 
  8. Scott, A.O. (21 de abril de 2011). «Japanese Survivors Shaded by Puzzlement and Sorrow». The New York Times. Consultado em 7 de fevereiro de 2021. Cópia arquivada em 1 de maio de 2011 
  9. Hoberman, J. (20 de abril de 2012). «Surviving the Bomb in Children of Hiroshima». The Village Voice]. Consultado em 7 de fevereiro de 2021 
  10. Jacoby, Alexander (18 de novembro de 2013). «Classical virtues: Shindo Kaneto and Yoshimura Kozaburo». British Film Institute. Consultado em 7 de fevereiro de 2021 
  11. «Children of Hiroshima Reviews». Metacritic. Consultado em 17 de julho de 2016 
  12. a b Dower, John (primavera de 1995). «The Bombed: Hiroshimas and Nagasakis in Japanese Memory». Diplomatic History: 283 
  13. a b Dower, John (primavera de 1995). «The Bombed: Hiroshimas and Nagasakis in Japanese Memory». Diplomatic History: 284 
  14. Seraphim, Franziska (15 de março de 2008). War Memory and Social Politics in Japan, 1945–2005. (Cambridge, Mass: Harvard University Asia Center, 2006), 94.: Harvard University Asia Center. ISBN 978-0674028302 
  15. «Two Masters of Japanese Cinema: Kaneto Shindo & Kozaburo Yoshimura at BFI Southbank in June and July 2012» (PDF). Japan Foundation. Consultado em 18 de julho de 2023 

Ligações externas

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