Guerra Luso-Castelhana (1336-1339)
Guerra Luso-Castelhana (1336-1339) | |||
---|---|---|---|
Data | 1336-1339 | ||
Local | Península Ibérica | ||
Desfecho | Tratado de Sevilha de 1339 | ||
Beligerantes | |||
| |||
Comandantes | |||
|
A Guerra Luso-Castelhana de 1336-1339 foi um conflito armado que se deu entre o rei de Portugal D. Afonso IV e o rei Afonso XI de Castela.
Contexto
[editar | editar código-fonte]O rei D. Afonso IV havia casado a sua filha D. Maria com D. Afonso XI, porém o desprezo a que o monarca castelhano votava a sua mulher, mantendo inclusive relações com Leonor de Gusmão, veio a azedar as boas relações entre as duas Coroas.[1] Procurou D. Afonso IV portanto intervir na Corte castelhana, vendo nele alguns nobres castelhanos desafectos com a política de D. Afonso XI, como o poderoso infante D. João Manuel, e o magnata João Nuñez III de Lara um potencial aliado às suas ambições políticas pessoais.[1]
Assim, em 1335 D. Afonso IV acordou casar o seu filho D. Pedro com D. Constança Manuel, filha de D. João Manuel, ainda que tivesse antes acordado casar o príncipe herdeiro com a sobrinha do seu homólogo castelhano, D. Branca de Castela.[1] Apercebendo-se da trama, mandou D. Afonso XI raptar a noiva, precipitando assim uma declaração de guerra a Castela por parte do rei português, em 1336.[1]
Decorrer das hostilidades
[editar | editar código-fonte]Em pleno Verão de 1336, começou o conde de Barcelos D. Pedro Afonso, meio-irmão do rei, por atravessar o rio Minho com uma hoste e pôs cerco ao castelo de Entienza.[1] Situava-se este a poucos quilómetros para leste de Tui, e entre as suas muralhas havia o arcebispo de Compostela procurado refúgio.[1] Assolaram a região durante algumas semanas mas não tomaram o castelo e regressaram a Barcelos.[1]
Mais a sul, avançou o rei em pessoa sobre Badajoz, cidade a que impôs cerco ao mesmo tempo que lançava ataques de rapina na direcção de Aroche, Cortegana e de Aracena de Huelva.[1] A resistência de Badajoz e a derrota das tropas portuguesas na Batalha de Villanueva de Barcarrota porém, obrigaram o rei português a abandonar a campanha relativamente cedo.[1]
Entretanto, uma frota portuguesa sob o comando do corsário Gonçalo Camelo, com 2000 homens e vinte navios, entre os quais se contavam cinco galés e sete naus, partiu de Lisboa em finais de Agosto e avançou sobre a Andaluzia, tendo estas tropas expedicionárias atacado Gibraleão. Desembarcaram em Lepe a 8 de Setembro de 1336 e combateram com os castelhanos, tendo de lá regressado ao Tejo.[2][1] A caminho de Lisboa foram assolados por um temporal que, por outro lado, destroçou também uma frota castelhana de 40 velas e 5700 homens comandados pelo almirante Afonso Jofre Tenório, saído de Sevilha.[2][1] As armadas portuguesas combatiam também mais a norte: uma frota comandada pelo almirante Pessanha assolou as costas da Galiza e Astúrias, tendo capturado muitos navios.[1]
Em Dezembro de 1336, Afonso XI logrou forçar João Nuñez III de Lara, que se havia revoltado, à rendição.[1] Logo, já no ano seguinte, o rei castelhano penetrou pelo Alentejo, passando por Elvas, Arronches, Assumar, Vieiros, Vila Viçosa e Olivença, retirando-se devido a uma doença. No Minho, um exército comandado por D. Fernando de Castro avançou pela beira-mar na direcção do Porto, porém foi desbaratado pela hoste do bispo do Porto, do arcebispo de Braga e do mestre da Ordem de Cristo D. Estevão Gonçalves, perto de Braga, numa batalha em que mataram o irmão do comandante castelhano, D. João de Castro.[1]
Novo revés se sucedia aos portugueses perto do Cabo de São Vicente, ao largo do qual uma frota de 20 galés portuguesas foram desbaratadas por 30 galés castelhanas a 21 de Julho de 1337, sendo o almirante Pessanha e o seu filho capturados, juntamente com o estandarte real. Os prisioneiros portugueses foram obrigados a desfilar pelas ruas de Sevilha com cangas ao pescoço e a bandeira exposta na igreja de Santa Maria.[1]
Ainda em 1337, ou já em 1338, atravessa D. Afonso XI o rio Guadiana e invade o Algarve em pessoa, assolando Castro Marim, Tavira, Loulé e Faro, ao mesmo tempo que uma frota castelhana avançava na direcção de Lisboa, causando estragos ao longo da costa. Na Galiza, D. Afonso IV atacou Neves e Salvatierra do Miño.[1]
Parecem ter sido os últimos episódios bélicos de relevo desta guerra.[1] De lá do Estreito de Gibraltar chegavam notícias que Alboácem Ali, sultão de Marrocos, da dinastia dos Merínidas, se aproveitara da guerra entre portugueses e castelhanos para reunir tropas e juntar-se ao emir de Granada num projectado ataque a Castela e Portugal, em violação de umas tréguas acordadas com o soberano castelhano. Em finais de 1338 consentiam os dois monarcas numa trégua, mediada pelo bispo de Rodes, enviado pelo Papa e pelo bispo de Reims, enviado pelo rei de França. Em Julho de 1339 foi assinado um tratado de paz, em Sevilha.[1]
Rescaldo
[editar | editar código-fonte]Consoante as predisposições do Tratado de Sevilha de 1339, as fronteiras das duas Coroas eram mantidas sem alterações, D. Constança viria para Portugal a fim de desposar o príncipe-herdeiro, ao passo que D. Branca regressava a Castela.[1] Afonso XI comprometia-se a tratar a sua rainha com respeito e devolvia as galés portuguesas, bem como o almirante Pessanha e o seu filho.[1] Devido aos ataques castelhanos a Castro Marim, a Ordem de Cristo transferiu definitivamente a sua sede para Tomar.[3]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Ligações Externas
[editar | editar código-fonte]- Fernando Pessanha: A Expedição do Corsário D. Gonçalo Camelo às Costas de Huelva e-Strategica, 2020.
- Miguel Gomes Martins: A Guerra Esquiva. O Conflito Luso-Castelhano de 1338-1338, 2005, p. 59.
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t Nuno Severiano Teixeira, João Gouveia Monteiro, Francisco Contente Domingues: História Militar de Portugal: Da Fundação ao Príncipe Perfeito, 1096-1495, A Esfera dos Livros, 2017, pp.123-127.
- ↑ a b Fernando Pessanha: "1336: o assalto dos corsários portugueses às costas de Huelva", 2 de Abril de 2021, in jornaldoalgarve.pt
- ↑ Miguel Gomes Martins: A Guerra Esquiva. O Conflito Luso-Castelhano de 1338-1338, 2005, p. 68.