Saltar para o conteúdo

Guilhermino César: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
bot: revertidas edições de 187.7.120.225 ( modificação suspeita : -39), para a edição 24742487 de Fasouzafreitas
Linha 9: Linha 9:
==Fonte de referência==
==Fonte de referência==
*[http://www.memorial.rs.gov.br/cadernos/ensaistas.pdf Caderno de Historia – nº 25 Memorial do Rio Grande do Sul]
*[http://www.memorial.rs.gov.br/cadernos/ensaistas.pdf Caderno de Historia – nº 25 Memorial do Rio Grande do Sul]
Quem foi Guilhermino Cesar? Certamente, os estudantes que freqüentam o Campus do Vale já passaram por uma “praça” assinalada com seu nome e sua poesia. Os mais antigos da Universidade não passariam indiferentes diante das realizações daquele que foi um professor no sentido mais pleno da palavra. Os que fomos seus alunos, entre a reverência e o fascínio, temos gravadas sua erudição, sua inquietude, seu rigor, seu espírito critico, seu fervor, transmitidos pelas modulações da voz, na imagem indelével do grande mestre de literatura brasileira, professor também no Curso de Arte Dramática.
Quem sabe que o pesquisador, historiador, escritor, tradutor, autor de uma obra humanística densa e multiforme foi Doutor Honoris Causa pela mítica Universidade de Coimbra? E os especialistas de hoje, aptos nas novas e profusas áreas do conhecimento, como veriam um cidadão mineiro, nascido em 1908, transferido a Porto Alegre em 1943, dedicado até o fim dos seus dias à literatura, à política, à cultura, à história do Rio Grande, à nossa economia e ainda ao jornalismo cultural entre a Província de São Pedro, a Revista do Globo, o Diário de Notícias e o Correio do Povo?
Aquele que viria a ser catedrático de Literatura Brasileira no curso de Letras da Faculdade de Filosofia da UFRGS e fundador do Curso de Pós-Graduação em Letras, nasceu em Eugenópolis, Minas Gerais, em 1908. Cursou os preparatórios no Ginásio Municipal de Cataguases, onde fez amizade com Ascânio Lopes, Francisco Peixoto, Humberto Mauro e Rosário Fusco, parceiros da revista Verde (1927). Lá dirigiu o Grêmio Literário Machado de Assis, com reuniões por ele denominadas de “caldeirão literário”, já como colaborador de jornais locais e do Rio de Janeiro.
Aos 19 anos, estudante universitário em Belo Horizonte, é um dos fundadores da revista Verde, de Cataguases, que marcou história como uma das maiores vertentes modernistas em Minas Gerais. Tendo abandonado a Medicina e ingressado no curso de Direito, publica o livro Meia Pataca (1928), em parceria com Francisco Peixoto e capa de Rosário Fusco. Orador da turma na colação de grau em Direito (1932), Guilhermino Cesar casa-se no ano seguinte com dona Wanda Belli de Sardes. São seus filhos João José e Guilhermino Augusto, este também poeta e advogado na capital gaúcha.
Junto à literatura, o interesse pelo jornalismo revela-se desde os anos iniciais de sua formação intelectual, levando-o a fundar, além do jornal Mercúrio, o tablóide Leite Criôlo, que veio a se transformar em página especial do Estado de Minas. O pulso jornalístico desse homem da Zona da Mata (“bicho do mato”, como certa feita se designou), foi despertado e gestado em Minas Gerais, do final dos anos 20 ao início dos anos 40, em veículos de Belo Horizonte como A Tribuna, Folha de Minas, Estado de Minas, Minas Gerais, Diário da Tarde, O Diário e Revista Mensagem, passando a ter rendimento, a partir dos anos 40, nos periódicos gaúchos citados acima. No Correio do Povo, o escritor, que fixaria o texto teatral de Qorpo Santo, desenvolve por mais de uma década a prática de cronista e de crítico literário no Caderno de Sábado, deitando sua escrita terna e vigorosa em outros tantos jornais e revistas universitários do Brasil, de Portugal e da França.
Professor fundador da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Minas Gerais, foi seu diretor e ocupou as cadeiras de Literatura Brasileira, História Moderna, Estética e História do Brasil. Lecionou ainda Economia Política na Escola de Ciências Econômicas. Transferido a Porto Alegre como chefe de gabinete do governador Ernesto Dornelles, presta ao Rio Grande do Sul relevantes serviços políticos e culturais, por exemplo, como ministro junto ao Tribunal de Contas do Estado (do qual foi presidente por um ano), como presidente do Instituto Histórico e Geográfico, por vários mandatos na década de 50 (Sócio Benemérito do mesmo Instituto a partir de 1989) e como secretário da Fazenda entre 1953 e 1956.
A brilhante carreira docente concentra-se na UFRGS. Em 1962, é convidado a inaugurar e exercer a cátedra de Literatura Brasileira junto ao Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de Coimbra, permanecendo por alguns anos em Portugal. Em 1964, recebe o título máximo de Doutor Honoris Causa pela secular universidade. Sua obra literária, cuja estréia em livro de ficção já estava marcada pelo romance Sul (1939) e assinalada pela publicação da História da Literatura do Rio Grande do Sul (1956), cresce a partir da experiência européia.
Incluído de imediato como escritor em enciclopédias portuguesas, Guilhermino dá ao público uma série de obras como Ladrão de Cavalo (poema dramático); Lira Coimbrã e Portulano de Lisboa (poesia); O Barroco e a Crítica Literária no Brasil; Dona Fernanda, a gaúcha do Quincas Borba; além de O Embuçado do Erval – Mito e Poesia de Pedro Canga; Bouterwek, os Brasileiros na Geschichte der Poesie und Berdsamkeit; Sismonde de Sismondi e a Literatura Brasileira; Resumo da História Literária do Brasil, de Ferdinand Denis, todas nos anos 60. Homem do seu tempo, alerta-se para os processos históricos, econômicos e culturais ao alcance de sua fina observação e arguta pesquisa, o que transparece – e muito – nos livros de poesia.
Depois de alguns anos na Europa, retorna a Porto Alegre e adentra cada vez mais a atmosfera do Rio Grande do Sul, vindo a publicar, em 1969, Arte de matar (poesia), além de dois outros livros: Qorpo Santo, as Relações Naturais e Outras Comédias, com fixação do texto, estudo e notas, e Primeiros Cronistas do Rio Grande do Sul (1605-1801), estudo das fontes primárias da história rio-grandense acompanhado de vários textos.
A sua alentada História do Rio Grande do Sul – Período Colonial, é obra de referência valiosa para a investigação histórica, coincidindo na data com outras publicações de foco temático aproximado, editadas em Portugal em 1970, como Antecedentes da Fundação do Rio Grande do Sul. Isso sem mencionar que, nos intervalos de sua produção, Guilhermino Cesar encantou e ensinou aos leitores gaúchos através das crônicas no Caderno de Sábado, que abordavam temas como o ensino universitário, escritores, leituras, costumes, modismos, personagens reais ou inventadas, obras literárias e até a “esquizofrenia cultural” ou “glosas da era atômica”. Parte desse rico material está publicada sob o título de Notícia do Rio Grande, com organização da professora Tania Franco Carvalhal.
Cria cultural da inigualável cidade mineira de Cataguases, Guilhermino foi pioneiro também em outras frentes. Na tímida Porto Alegre de 1948, dirige a encenação da peça Antigona, de Jean Anouilh, tendo como atores os alunos Walmor Chagas, Gilda Marinho e Sérgio da Costa Franco, entre outros, do Teatro de Estudante. Nos anos 50, está entre os fundadores do Clube de Cinema de Porto Alegre. Em 1978, no Festival de Cinema de Gramado, profere bem humorada palestra crítica sobre Humberto Mauro, diretor do clássico Ganga Bruta (1933). Em maio do mesmo 1978, o Caderno de Sábado homenageia o assíduo cronista com uma edição comemorativa à passagem dos seus 70 anos, com textos de destacados intelectuais, escritores, professores e críticos brasileiros.
A esta altura, o autor de Sistema do Imperfeito & Outros Poemas (1977) já se impunha também como poeta singular e contundente (ou “ácido”, como quis definir), até para aqueles que não percorreram as páginas navegantes de Lira Coimbrã e Portulano de Lisboa (1965) ou não disputaram a doce leitura de Meia Pataca. Na maturidade, criações pontuais como O Contrabando no Sul do Brasil e O Conde de Piratini e a Estância da Música emanam do mesmo sujeito que continua a verter poesia plena, naturalíssima nos 28 poemas que verbalizam fotos de Luiz Claudio Marigo em Banhados do Rio Grande do Sul (1986), depurada em Cantos do Canto Chorado (1990), reunião de poesia édita e inédita, sob a organização de Tania Carvalhal.
Em 1986, o Instituto Estadual do Livro dedica-lhe o número 13 de seus Cadernos, série Autores Gaúchos. Em 1990, é escolhido patrono da 36ª Feira do Livro de Porto Alegre. Em 1995, a UFRGS, pelo reitor Hélgio Trindade, presta tributo à memória de Guilhermino com a instalação de uma praça junto ao Instituto de Letras. Em julho de 1999, o Instituto de Letras inaugura oficialmente o Núcleo de Literatura Brasileira Guilhermino Cesar, dedicado à pesquisa literária. No mesmo contexto, vêm sendo desenvolvidas pesquisas integradas sobre a obra desse humanista de largo fôlego, cuja obra – referência em compêndios brasileiros e estrangeiros – continua a ser editada no Brasil e em Portugal até os últimos anos de sua vida.
Não faltaram distinções a Guilhermino. Professor Emérito da UFRGS, recebeu os títulos de Cidadão Honorário de Porto Alegre, Palmes Académiques (Academia Francesa), Oficial da Légion d’Honneur e as medalhas do Pacificador, da Inconfidência e Simões Lopes Neto. Decorrido meio século de sua vinda para o Rio Grande do Sul, o brilhante intelectual mineiro morreu em Porto Alegre em 7 de dezembro de 1993, aos 85 anos. Além de uma inestimável biblioteca e da imensa obra publicada, deixou um conjunto surpreendente de inéditos e significativa correspondência pública e privada. O legado de Guilhermino Cesar, argüidor de seus contemporâneos e lúcido contendor de sua própria figura, movimenta-se nos recantos profundos da alma sulina e brasileira.


topo

Coisas Espantosas no tempo de Cataguases

“Percorri longes terras antes de cá chegar”, disse Guilhermino Cesar em Coimbra, ao proferir sua Oração durante a cerimônia de outorga do título de Doutor Honoris Causa pela secular universidade fundada por Dom Dinis. “Devorei distâncias quase imensuráveis, por caminhos (...) na selva, no agreste, na fraga, no vale.” Num livro também publicado em Coimbra, expressa em versos o sentimento da terra: “Embarco pra Cataguases,/Que lá me vão enterrar”.
Perceber distâncias e sentir o coletivo levam a aprofundar a experiência histórica. São medidas de um passado profundo interrogado em prosa e em verso pelo professor e pelo poeta, onde quer que se encontrasse. A poesia enlaça cacos da memória, une o vivido ao lembrado, salda dívidas com a origem e recupera, no exílio, o frescor da juventude. Sempre Cataguases, onde Guilhermino cultivou a literatura e a seiva da amizade.
Ao longo da vida, volta-lhe a cidade de 3.500 habitantes onde “deram-se coisas espantosas para o tempo, o lugar e o ambiente cultural”: criou-se uma editora, um jornal semanal, um cinema, um ginásio com 80 alunos e a revista Verde, de 1927, que registrou o fenômeno Cataguases na Literatura Brasileira.
Quase sonolenta à beira do Rio Pomba, com seu afluente Meia-Pataca (nome do primeiro livro do jovem Guilhermino), a cidade fundada a 7 de setembro de 1877 tinha uma fábrica de tecidos, uma marmoraria, uma biblioteca, três farmácias e três tipografias, mais a Estrada de Ferro Leopoldina, que a ligava ao Rio de Janeiro.
Desviada da rota barroca nos caminhos mineiros, a Zona da Mata teve outros cultivos que possibilitaram a Cataguases crescimento econômico e intensa vitalidade cultural até os dias de hoje. A crise do café foi superada por investimentos no comércio e na indústria concretizados em 1905, com a fundação da Fábrica de Fiação e Tecelagem Cataguases, e com a fundação posterior da Companhia Força e Luz Cataguases-Leopoldina.
Hoje, o visitante tem na cidade achados preciosos, vários tombados pelo Patrimônio Histórico Nacional. Além do famoso Colégio, onde foram alunos o centenário Ary Barroso e Chico Buarque de Hollanda, vê prédios do início do século 20, como o Paço Municipal, o Grande Hotel Villas, a Estação Ferroviária e a sede da Companhia Força e Luz. Também são atrações painéis magníficos, como “As fiandeiras”, de Portinari, e o de Djanira, na Matriz de Santa Rita de Cássia. Sem falar da casa de Francisco Peixoto, projetada por Oscar Niemeyer, com jardins de Burle Marx.
Além disso, Cataguases conta com o moderníssimo Centro Cultural Humberto Mauro, editora, fundações culturais, ateliês de artes plásticas, grupos de teatro e de música, jornais e a dinâmica Faculdade de Filosofia e Letras, afirmando aquela vitalidade moderna, que já completa 126 anos. E de repente, por uma dessas injunções de tempo e espaço, achei-me entre amigos na cidade mineira.
A palavra “Cataguases” ecoava remota na lembrança do topônimo, tantas vezes pronunciada nos idos tempos da Faculdade de Filosofia. Era a menção aos Verdes, como emblema venturoso de uma certa seiva preservada nas imensidões do Brasil. Hoje a cidade ainda pulsa, vitalizada. Lá estão os poetas Lina Tamega Peixoto del Peloso, Joaquim Branco, Ronaldo Werneck, Francisco Marcelo Cabral. E Cataguases segue homenageando um de seus “ases”, aquele que destinou ao Rio Grande do Sul e ao Brasil cinqüenta anos de sua existência.

topo

Encontro lembrou a trajetória do mestre

A autora dos textos desta página dividiu com a professora Márcia Ivana de Lima e Silva a organização do “Encontro com Guilhermino Cesar”. Promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Letras do Instituto de Letras (IL) da UFRGS, o seminário ocorreu no dia 10 de dezembro no Auditório Celso Pedro Luft, do IL. A programação:
Homenagem à memória de Guilhermino Cesar, com os professores Sara Viola Rodigues (diretora do IA), Sabrina de Abreu (coordenadora do PPG-Letras), Sergius Gonzaga (diretor do Instituto Estadual do Livro) e Luís Augusto Fischer (Núcleo de Literatura Brasileira Guilhermino Cesar, do IL).
A trajetória sulina, com os professores Antonio Hohfeldt (vice-governador do Estado do RS), Tânia Franco Carvalhal e Márcia Ivana de Lima e Silva (mediadora).
As raízes mineiras, com um representante da cidade de Cataguases (MG), Donaldo Schüler, Guilhermino Augusto de Sardes Cesar e Maria do Carmo Campos (medidadora).
O homem e sua obra, com os professores Gilda Bittencourt, Helga Piccolo, Léa Masina e Nayr Tesser.
A memória viva: a pesquisa sobre Guilhermino Cesar, com os bolsistas e pós-graduandos Diego Grando, Flaiane Rodrigues da Silveira, Luís Francisco Wasilewski, Mariana Kliemann Chagas e Vivian Ignes A. da Silva (pesquisadores responsáveis: Maria do Carmo Campos, Márcia Ivana de Lima e Silva e Homero Vizeu Araújo).

topo
{{esboço-biografia}}
{{esboço-biografia}}



Revisão das 01h11min de 21 de abril de 2013

Guilhermino César (Eugenópolis, 1908Porto Alegre, 1993) foi um escritor, jornalista, professor e historiador brasileiro.

Aos 19 anos, em Cataguases, foi um dos fundadores da Revista Verde, de caráter modernista, juntamente com Rosário Fusco, Ascânio Lopes, Francisco Inácio Peixoto e outros . Publicou, em 1928, Meia Pataca, em parceria com Francisco Inácio Peixoto.

Mudou-se para o Rio Grande do Sul, onde tornou-se cronista e crítico literário do Correio do Povo. Foi chefe do gabinete do governo de Ernesto Dorneles, professor da UFRGS, ministro do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul e Secretário da Fazenda.

Foi também presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Atuou na dramaturgia como diretor de algumas peças de teatro na década de 1940. Foi escolhido patrono da Feira do Livro de Porto Alegre em 1990.

Fonte de referência

Quem foi Guilhermino Cesar? Certamente, os estudantes que freqüentam o Campus do Vale já passaram por uma “praça” assinalada com seu nome e sua poesia. Os mais antigos da Universidade não passariam indiferentes diante das realizações daquele que foi um professor no sentido mais pleno da palavra. Os que fomos seus alunos, entre a reverência e o fascínio, temos gravadas sua erudição, sua inquietude, seu rigor, seu espírito critico, seu fervor, transmitidos pelas modulações da voz, na imagem indelével do grande mestre de literatura brasileira, professor também no Curso de Arte Dramática. Quem sabe que o pesquisador, historiador, escritor, tradutor, autor de uma obra humanística densa e multiforme foi Doutor Honoris Causa pela mítica Universidade de Coimbra? E os especialistas de hoje, aptos nas novas e profusas áreas do conhecimento, como veriam um cidadão mineiro, nascido em 1908, transferido a Porto Alegre em 1943, dedicado até o fim dos seus dias à literatura, à política, à cultura, à história do Rio Grande, à nossa economia e ainda ao jornalismo cultural entre a Província de São Pedro, a Revista do Globo, o Diário de Notícias e o Correio do Povo? Aquele que viria a ser catedrático de Literatura Brasileira no curso de Letras da Faculdade de Filosofia da UFRGS e fundador do Curso de Pós-Graduação em Letras, nasceu em Eugenópolis, Minas Gerais, em 1908. Cursou os preparatórios no Ginásio Municipal de Cataguases, onde fez amizade com Ascânio Lopes, Francisco Peixoto, Humberto Mauro e Rosário Fusco, parceiros da revista Verde (1927). Lá dirigiu o Grêmio Literário Machado de Assis, com reuniões por ele denominadas de “caldeirão literário”, já como colaborador de jornais locais e do Rio de Janeiro. Aos 19 anos, estudante universitário em Belo Horizonte, é um dos fundadores da revista Verde, de Cataguases, que marcou história como uma das maiores vertentes modernistas em Minas Gerais. Tendo abandonado a Medicina e ingressado no curso de Direito, publica o livro Meia Pataca (1928), em parceria com Francisco Peixoto e capa de Rosário Fusco. Orador da turma na colação de grau em Direito (1932), Guilhermino Cesar casa-se no ano seguinte com dona Wanda Belli de Sardes. São seus filhos João José e Guilhermino Augusto, este também poeta e advogado na capital gaúcha. Junto à literatura, o interesse pelo jornalismo revela-se desde os anos iniciais de sua formação intelectual, levando-o a fundar, além do jornal Mercúrio, o tablóide Leite Criôlo, que veio a se transformar em página especial do Estado de Minas. O pulso jornalístico desse homem da Zona da Mata (“bicho do mato”, como certa feita se designou), foi despertado e gestado em Minas Gerais, do final dos anos 20 ao início dos anos 40, em veículos de Belo Horizonte como A Tribuna, Folha de Minas, Estado de Minas, Minas Gerais, Diário da Tarde, O Diário e Revista Mensagem, passando a ter rendimento, a partir dos anos 40, nos periódicos gaúchos citados acima. No Correio do Povo, o escritor, que fixaria o texto teatral de Qorpo Santo, desenvolve por mais de uma década a prática de cronista e de crítico literário no Caderno de Sábado, deitando sua escrita terna e vigorosa em outros tantos jornais e revistas universitários do Brasil, de Portugal e da França. Professor fundador da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Minas Gerais, foi seu diretor e ocupou as cadeiras de Literatura Brasileira, História Moderna, Estética e História do Brasil. Lecionou ainda Economia Política na Escola de Ciências Econômicas. Transferido a Porto Alegre como chefe de gabinete do governador Ernesto Dornelles, presta ao Rio Grande do Sul relevantes serviços políticos e culturais, por exemplo, como ministro junto ao Tribunal de Contas do Estado (do qual foi presidente por um ano), como presidente do Instituto Histórico e Geográfico, por vários mandatos na década de 50 (Sócio Benemérito do mesmo Instituto a partir de 1989) e como secretário da Fazenda entre 1953 e 1956. A brilhante carreira docente concentra-se na UFRGS. Em 1962, é convidado a inaugurar e exercer a cátedra de Literatura Brasileira junto ao Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de Coimbra, permanecendo por alguns anos em Portugal. Em 1964, recebe o título máximo de Doutor Honoris Causa pela secular universidade. Sua obra literária, cuja estréia em livro de ficção já estava marcada pelo romance Sul (1939) e assinalada pela publicação da História da Literatura do Rio Grande do Sul (1956), cresce a partir da experiência européia. Incluído de imediato como escritor em enciclopédias portuguesas, Guilhermino dá ao público uma série de obras como Ladrão de Cavalo (poema dramático); Lira Coimbrã e Portulano de Lisboa (poesia); O Barroco e a Crítica Literária no Brasil; Dona Fernanda, a gaúcha do Quincas Borba; além de O Embuçado do Erval – Mito e Poesia de Pedro Canga; Bouterwek, os Brasileiros na Geschichte der Poesie und Berdsamkeit; Sismonde de Sismondi e a Literatura Brasileira; Resumo da História Literária do Brasil, de Ferdinand Denis, todas nos anos 60. Homem do seu tempo, alerta-se para os processos históricos, econômicos e culturais ao alcance de sua fina observação e arguta pesquisa, o que transparece – e muito – nos livros de poesia. Depois de alguns anos na Europa, retorna a Porto Alegre e adentra cada vez mais a atmosfera do Rio Grande do Sul, vindo a publicar, em 1969, Arte de matar (poesia), além de dois outros livros: Qorpo Santo, as Relações Naturais e Outras Comédias, com fixação do texto, estudo e notas, e Primeiros Cronistas do Rio Grande do Sul (1605-1801), estudo das fontes primárias da história rio-grandense acompanhado de vários textos. A sua alentada História do Rio Grande do Sul – Período Colonial, é obra de referência valiosa para a investigação histórica, coincidindo na data com outras publicações de foco temático aproximado, editadas em Portugal em 1970, como Antecedentes da Fundação do Rio Grande do Sul. Isso sem mencionar que, nos intervalos de sua produção, Guilhermino Cesar encantou e ensinou aos leitores gaúchos através das crônicas no Caderno de Sábado, que abordavam temas como o ensino universitário, escritores, leituras, costumes, modismos, personagens reais ou inventadas, obras literárias e até a “esquizofrenia cultural” ou “glosas da era atômica”. Parte desse rico material está publicada sob o título de Notícia do Rio Grande, com organização da professora Tania Franco Carvalhal. Cria cultural da inigualável cidade mineira de Cataguases, Guilhermino foi pioneiro também em outras frentes. Na tímida Porto Alegre de 1948, dirige a encenação da peça Antigona, de Jean Anouilh, tendo como atores os alunos Walmor Chagas, Gilda Marinho e Sérgio da Costa Franco, entre outros, do Teatro de Estudante. Nos anos 50, está entre os fundadores do Clube de Cinema de Porto Alegre. Em 1978, no Festival de Cinema de Gramado, profere bem humorada palestra crítica sobre Humberto Mauro, diretor do clássico Ganga Bruta (1933). Em maio do mesmo 1978, o Caderno de Sábado homenageia o assíduo cronista com uma edição comemorativa à passagem dos seus 70 anos, com textos de destacados intelectuais, escritores, professores e críticos brasileiros. A esta altura, o autor de Sistema do Imperfeito & Outros Poemas (1977) já se impunha também como poeta singular e contundente (ou “ácido”, como quis definir), até para aqueles que não percorreram as páginas navegantes de Lira Coimbrã e Portulano de Lisboa (1965) ou não disputaram a doce leitura de Meia Pataca. Na maturidade, criações pontuais como O Contrabando no Sul do Brasil e O Conde de Piratini e a Estância da Música emanam do mesmo sujeito que continua a verter poesia plena, naturalíssima nos 28 poemas que verbalizam fotos de Luiz Claudio Marigo em Banhados do Rio Grande do Sul (1986), depurada em Cantos do Canto Chorado (1990), reunião de poesia édita e inédita, sob a organização de Tania Carvalhal. Em 1986, o Instituto Estadual do Livro dedica-lhe o número 13 de seus Cadernos, série Autores Gaúchos. Em 1990, é escolhido patrono da 36ª Feira do Livro de Porto Alegre. Em 1995, a UFRGS, pelo reitor Hélgio Trindade, presta tributo à memória de Guilhermino com a instalação de uma praça junto ao Instituto de Letras. Em julho de 1999, o Instituto de Letras inaugura oficialmente o Núcleo de Literatura Brasileira Guilhermino Cesar, dedicado à pesquisa literária. No mesmo contexto, vêm sendo desenvolvidas pesquisas integradas sobre a obra desse humanista de largo fôlego, cuja obra – referência em compêndios brasileiros e estrangeiros – continua a ser editada no Brasil e em Portugal até os últimos anos de sua vida. Não faltaram distinções a Guilhermino. Professor Emérito da UFRGS, recebeu os títulos de Cidadão Honorário de Porto Alegre, Palmes Académiques (Academia Francesa), Oficial da Légion d’Honneur e as medalhas do Pacificador, da Inconfidência e Simões Lopes Neto. Decorrido meio século de sua vinda para o Rio Grande do Sul, o brilhante intelectual mineiro morreu em Porto Alegre em 7 de dezembro de 1993, aos 85 anos. Além de uma inestimável biblioteca e da imensa obra publicada, deixou um conjunto surpreendente de inéditos e significativa correspondência pública e privada. O legado de Guilhermino Cesar, argüidor de seus contemporâneos e lúcido contendor de sua própria figura, movimenta-se nos recantos profundos da alma sulina e brasileira.

topo

Coisas Espantosas no tempo de Cataguases

“Percorri longes terras antes de cá chegar”, disse Guilhermino Cesar em Coimbra, ao proferir sua Oração durante a cerimônia de outorga do título de Doutor Honoris Causa pela secular universidade fundada por Dom Dinis. “Devorei distâncias quase imensuráveis, por caminhos (...) na selva, no agreste, na fraga, no vale.” Num livro também publicado em Coimbra, expressa em versos o sentimento da terra: “Embarco pra Cataguases,/Que lá me vão enterrar”. Perceber distâncias e sentir o coletivo levam a aprofundar a experiência histórica. São medidas de um passado profundo interrogado em prosa e em verso pelo professor e pelo poeta, onde quer que se encontrasse. A poesia enlaça cacos da memória, une o vivido ao lembrado, salda dívidas com a origem e recupera, no exílio, o frescor da juventude. Sempre Cataguases, onde Guilhermino cultivou a literatura e a seiva da amizade. Ao longo da vida, volta-lhe a cidade de 3.500 habitantes onde “deram-se coisas espantosas para o tempo, o lugar e o ambiente cultural”: criou-se uma editora, um jornal semanal, um cinema, um ginásio com 80 alunos e a revista Verde, de 1927, que registrou o fenômeno Cataguases na Literatura Brasileira. Quase sonolenta à beira do Rio Pomba, com seu afluente Meia-Pataca (nome do primeiro livro do jovem Guilhermino), a cidade fundada a 7 de setembro de 1877 tinha uma fábrica de tecidos, uma marmoraria, uma biblioteca, três farmácias e três tipografias, mais a Estrada de Ferro Leopoldina, que a ligava ao Rio de Janeiro. Desviada da rota barroca nos caminhos mineiros, a Zona da Mata teve outros cultivos que possibilitaram a Cataguases crescimento econômico e intensa vitalidade cultural até os dias de hoje. A crise do café foi superada por investimentos no comércio e na indústria concretizados em 1905, com a fundação da Fábrica de Fiação e Tecelagem Cataguases, e com a fundação posterior da Companhia Força e Luz Cataguases-Leopoldina. Hoje, o visitante tem na cidade achados preciosos, vários tombados pelo Patrimônio Histórico Nacional. Além do famoso Colégio, onde foram alunos o centenário Ary Barroso e Chico Buarque de Hollanda, vê prédios do início do século 20, como o Paço Municipal, o Grande Hotel Villas, a Estação Ferroviária e a sede da Companhia Força e Luz. Também são atrações painéis magníficos, como “As fiandeiras”, de Portinari, e o de Djanira, na Matriz de Santa Rita de Cássia. Sem falar da casa de Francisco Peixoto, projetada por Oscar Niemeyer, com jardins de Burle Marx. Além disso, Cataguases conta com o moderníssimo Centro Cultural Humberto Mauro, editora, fundações culturais, ateliês de artes plásticas, grupos de teatro e de música, jornais e a dinâmica Faculdade de Filosofia e Letras, afirmando aquela vitalidade moderna, que já completa 126 anos. E de repente, por uma dessas injunções de tempo e espaço, achei-me entre amigos na cidade mineira. A palavra “Cataguases” ecoava remota na lembrança do topônimo, tantas vezes pronunciada nos idos tempos da Faculdade de Filosofia. Era a menção aos Verdes, como emblema venturoso de uma certa seiva preservada nas imensidões do Brasil. Hoje a cidade ainda pulsa, vitalizada. Lá estão os poetas Lina Tamega Peixoto del Peloso, Joaquim Branco, Ronaldo Werneck, Francisco Marcelo Cabral. E Cataguases segue homenageando um de seus “ases”, aquele que destinou ao Rio Grande do Sul e ao Brasil cinqüenta anos de sua existência.

topo

Encontro lembrou a trajetória do mestre

A autora dos textos desta página dividiu com a professora Márcia Ivana de Lima e Silva a organização do “Encontro com Guilhermino Cesar”. Promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Letras do Instituto de Letras (IL) da UFRGS, o seminário ocorreu no dia 10 de dezembro no Auditório Celso Pedro Luft, do IL. A programação: Homenagem à memória de Guilhermino Cesar, com os professores Sara Viola Rodigues (diretora do IA), Sabrina de Abreu (coordenadora do PPG-Letras), Sergius Gonzaga (diretor do Instituto Estadual do Livro) e Luís Augusto Fischer (Núcleo de Literatura Brasileira Guilhermino Cesar, do IL). A trajetória sulina, com os professores Antonio Hohfeldt (vice-governador do Estado do RS), Tânia Franco Carvalhal e Márcia Ivana de Lima e Silva (mediadora). As raízes mineiras, com um representante da cidade de Cataguases (MG), Donaldo Schüler, Guilhermino Augusto de Sardes Cesar e Maria do Carmo Campos (medidadora). O homem e sua obra, com os professores Gilda Bittencourt, Helga Piccolo, Léa Masina e Nayr Tesser. A memória viva: a pesquisa sobre Guilhermino Cesar, com os bolsistas e pós-graduandos Diego Grando, Flaiane Rodrigues da Silveira, Luís Francisco Wasilewski, Mariana Kliemann Chagas e Vivian Ignes A. da Silva (pesquisadores responsáveis: Maria do Carmo Campos, Márcia Ivana de Lima e Silva e Homero Vizeu Araújo).

topo


Ícone de esboço Este artigo sobre uma pessoa é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.