Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul
Emblema | |
Tipo | Instituição privada sem fins lucrativos |
Fundação | 5 de agosto de 1920 (102 anos) |
Estado legal | Ativa |
Sede | Porto Alegre, Rio Grande do Sul |
Línguas oficiais | Português |
Presidente | Miguel Frederico do Espírito Santo[1] |
Diretora Administrativa e Financeira | Hilda Agnes Hubner Flores[1] |
Sítio oficial | [www.ihgrgs.org.br] |
O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRGS) é uma instituição privada sem fins lucrativos com sede em Porto Alegre, fundada em 5 de agosto de 1920, que tem por objetivo promover e divulgar a produção de conhecimento, principalmente centrado no Estado do Rio Grande do Sul. Passou por diversos locais até ocupar o edifício atual no centro da capital gaúcha, inaugurado em 25 de março de 1972. A sede atual do IHGRGS conta com uma sala de pesquisa, a Biblioteca Tomás Carlos Duarte, uma sala de arquivos, a biblioteca geral, a mapoteca e um auditório com capacidade para 150 pessoas[1].
Possui dois grandes acervos bibliográficos em sua sede (cerca de 150 mil volumes ao todo)[2], que tratam principalmente da História e da Geografia do Estado, bem como antropologia, paleontologia e folclore. Em 2003, o Instituto iniciou a informatização de sua biblioteca.
O IHGRGS, até a década de 1950, foi a principal instituição produtora e difusora do conhecimento histórico no Estado, mais até que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul[3] (UFRGS). Foi nas décadas de 1930 e 1940 que o IHGRGS atingiu seu auge, com a comemoração do centenário farroupilha e a realização de congressos históricos do Rio Grande do Sul. A partir de meados da década de 1940, porém, ocorre uma divisão entre membros que defendiam uma renovação do modelo historiográfico e os que se mantinham fieis a um recorte mais político e militar. A partir daí o Instituto vai perder a hegemonia na produção histórica gaúcha.[2]
A Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul foi publicada trimestralmente de forma ininterrupta de 1921 a 1950, ressurgindo em 1975; atualmente, integra o sistema de revistas acadêmicas da UFRGS e tem publicação semestral.[2]
Antecedentes[editar | editar código-fonte]
Boa parte do debate político na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul durante a primeira metade do século XIX estava concentrado na imprensa, que circulava pela cidade de Porto Alegre e pelo interior ideais geralmente alinhados a algum dos partidos em voga[4]. Mesmo que produzido por intelectuais na imprensa, havia circulação desses debates entre a população geral.
Já no âmbito histórico, desde a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1838, havia o interesse de expandir os centros de estudo pelo país, a fim de incorporar as províncias na criação de uma narrativa oficial da história do império[5]. Ainda que o IHGRGS só viesse a surgir no século XX, foi precedido por outras tentativas de fundação de centros de estudos que congregassem intelectuais na província e se realizassem estudos que orientassem uma narrativa oficial para a mesma.
Instituto Histórico e Geográfico da Província de São Pedro (IHGPSP)[editar | editar código-fonte]
Na esteira da criação do IHGB, há uma tentativa de fundação de uma instituição congênere na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, em 1854. A partir do governo provincial, elege-se para diretoria o Visconde de Sinimbu, à época presidente da província e sócio do IHGB desde 1840, e como vice-presidente Manuel Marques de Sousa, Barão de Porto Alegre. O primeiro entre os Institutos Históricos e Geográficos regionais, esse IHGPSP deve duração efêmera devido ao afastamento de Sinimbu do cargo público[5].
Em 1860, é retomada a iniciativa de criação de uma filial provincial do IHGB. A segunda iteração do IHGPSP nasce também ligada ao governo provincial, sendo o presidente à época, Joaquim Antão Fernandes Leão, eleito sócio efetivo da instituição[5]. Desta vez, com a publicação da revista e um corpo maior de sócios pesquisadores, a atuação do IHGPSP passava pelos estudos da história provincial a ser inserida dentro do contexto nacional promovido pelo IHGB desde os anos de 1840[6].
Sociedade Partenon Literário[editar | editar código-fonte]

Em 1868, foi fundada a Sociedade Parthenon Litterario em Porto Alegre, uma associação literária que surge em um momento de grandes debates entre os intelectuais, incluindo os desdobramentos da Guerra do Paraguai e as discussões no movimento abolicionista[7]. Além de fomentar trocas intelectuais entre letrados na antiga Província de São Pedro, como debates, publicações, seminários e outras atividades, o Parthenon Litterario foi uma das primeiras agremiações a promover uma espécie de regionalismo na província, ao buscar a exaltação da figura do gaúcho farroupilha, que viria a influenciar outros grupos que surgem no século XX[8].
Os participantes do Parthenon Litterario eram homens com um nível de instrução que diferia do restante da população, em geral analfabeta, e buscavam, através desse espaço de construção de códigos culturais, a formação de um determinado ideal de sociedade alinhado ao progresso e à modernidade[9]. Isso se reflete nas atividades desenvolvidas pelo grupo, entre elas a escola noturna, os seminários e, especialmente, a Revista Mensal da Sociedade Parthenon Litterario. Devido ao caráter progressista, entre as bandeiras debatidas nas Revista e em outras publicações constavam questões voltadas à abolição da escravatura, a emancipação feminina no contexto imperial e pautas alinhas ao republicanismo[8][9].
Membros[editar | editar código-fonte]
Os sócios fundadores do IHGRGS foram[10]:
Efetivos
- Aquiles Porto-Alegre, professor;
- Adroaldo Costa, advogado;
- Alfonso Aurélio Porto, jornalista;
- Afonso Guerreiro Lima, professor;
- Alberto Juvenal do Rego Lins, advogado;
- Alfredo Clemente Pinto, professor;
- Amaro Augusto da Silveira Batista, engenheiro;
- Antão Gonçalves de Faria, engenheiro;
- Armando Dias de Azevedo, advogado;
- Arthur Candal, professor;
- Augusto Daisson, jornalista;
- Benjamin Flores, jornalista;
- Carlos Teschauer, padre;
- Delfino Marques Riet, estancieiro;
- Eduardo Mafra Duarte, médico;
- Emílio Fernandes de Souza Docca, militar;
- Florêncio Carlos de Abreu e Silva, advogado;
- Francisco Antonino Xavier e Oliveira, advogado;
- Fancisco de Leonardo Truda, jornalista;
- Francisco Rodolfo Simch, advogado;
- João Baptista Hafkemeyer, padre;
- João Bittencourt de Menezes, jornalista;
- João Cândido Maia, jornalista;
- João Pinto da Silva, escritor;
- José Paulo Ribeiro, notário;
- José Zeferino da Cunha, advogado;
- Lindolfo Collor, jornalista;
- Luiz Mariano da Rocha, monsenhor;
- Manoel Theóphilo Barreto Vianna, militar;
- Manuel Joaquim de Faria Correa, professor;
- MIguel José Pereira, militar;
- Olavo Franco de Godoy, advogado;
- Oscar Miranda, militar;
- Otávio Augusto de Faria Correa, professor;
- Protásio Antônio Alves, médico;
- Roberto Landell de Moura, padre[nota 1];
- Roque Olveira Callage, jornalista;
Correspondentes
- Alcides de Mendonça Lima, advogado;
- Alcides Maya, jornalista;
- Alfredo Álvaro Maciel Moreira, advogado;
- Alfredo Ferreira Rodrigues, jornalista;
- Alfredo Varella; advogado;
- Álvaro Batista, médico;
- Augusto Porto Alegre, jornalista;
- Demétrio Ribeiro, advogado;
- Fernando Luiz Osório Filho, advogado;
- Homero Batista, advogado;
- João da Silva Belém, jornalista;
- Joaquim Francisco de Assis Brasil, advogado;
- José Vieira de Rezende e Silva, advogado;
- Leopoldo Cruz de Freitas, advogado;
Honorário
- Augusto Borges de Medeiros, advogado[nota 2];
Acervos e recursos de pesquisa[editar | editar código-fonte]
O acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul é diverso, contando com diferentes suportes, entre bibliográfico, documental, iconográfico e tridimensional. O acesso é livre a grande parte dos materiais, feito após o preenchimento de uma ficha com os dados do pesquisador e o pagamento de uma taxa de pesquisa. A realização de registro fotográfico é permitida, sendo possível também solicitar cópias digitalizadas mediante pagamento. Parte do acervo também encontra-se digitalizado no site do IHGRGS[11].
Biblioteca[editar | editar código-fonte]
A biblioteca do IHGRGS possui um expressivo volume exemplares, entre 100 e 150 mil títulos, do quais cerca de 22 mil já estão processados em catálogo, através do sistema de Classificação Decimal Universal[2][12]. Formada, em grande parte, por doações - recebendo inclusive bibliotecas particulares inteiras - o acervo bibliográfico do Instituto encontra-se em processo de reorganização, entre os setores de material geral, de "Coleções Pessoais". e da "Coleção de Obras Raras"[12]. Destaca-se, entre as coleções pessoais, o acervo da professora Sandra Pesavento, doado pela família ao Instituto em 2014 e em processo de catalogação e pesquisa desde então[13]. Além da biblioteca pessoal da historiadora, o acervo ainda conta com seus arquivos pessoais, que registram, além da produção científica, materiais como anotações de pesquisas, recordações de viagens, objetos pessoais e álbuns de fotografia[14].
O acesso ao material é feito na forma de consulta local, mediante solicitação. Também é possível realizar atendimento prévio via e-mail, bem com solicitar a reprodução digital de partes das obras disponíveis, mediante pagamento de taxa pelo serviço[11].
Notas
- ↑ Segundo Silveira (Silveira, D. 2008, p. 92), Landell de Moura não consta na relação publicada na revista em 1921, mas havia sido eleito parte da Comissão Permanente de Arqueologia, Etnografia e Paleontologia.
- ↑ Segundo Silveira (Silveira, D. 2008, p. 31), Borges de Medeiros foi o único membro honorário a ser admitido à época, por ter cedido espaços do Estado para que o IHGRGS realizasse suas atividades e mantivesse seu acervo
Referências
- ↑ a b c Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul 2020.
- ↑ a b c d Gloria 2020.
- ↑ GOULART, Tiago Martins. A história que se tem é a memória que se quer.[ligação inativa]
- ↑ Silveira 2019.
- ↑ a b c Boeira 2009.
- ↑ Lazzari 2004.
- ↑ Laitano 2016.
- ↑ a b Santi 2004.
- ↑ a b Silveira, Cássia 2008.
- ↑ Silveira, Daniela 2008, pp. 92-97.
- ↑ a b Campos 2018, p. 22.
- ↑ a b Campos 2018, pp. 22-23.
- ↑ Santos 2019.
- ↑ Santos 2017.
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
Artigos[editar | editar código-fonte]
- Santos, Nádia Maria Weber (4 de setembro de 2019). «Apresentação do Acervo Sandra Jatahy Pesavento do IHGRGS (Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul)». Artelogie. Recherche sur les arts, le patrimoine et la littérature de l'Amérique latine (14). ISSN 2115-6395. doi:10.4000/artelogie.4184. Consultado em 30 de julho de 2021
- Santos, Nádia Maria Weber (2017). «Constituição e organização do acervo Sandra Jatahy Pesavento no IHGRGS». III Seminário Internacional História do Tempo Presente. ISSN 2237-4078. Consultado em 30 de julho de 2021
Livros, teses e dissertações[editar | editar código-fonte]
- Silveira, Daniela (2008). "O passado está prenhe do futuro" : a escrita da história no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (1920-30) (Dissertação de mestrado). UFRGS
- Boeira, Luciana Fernandes (2009). Entre História e Literatura: a formação do Panteão Rio-grandense e os primórdios da escrita da História do Rio Grande do Sul no século XIX (Dissertação de mestrado). UFRGS
- Lazzari, Alexandre (2004). Entre a grande e a pequena pátria: literatos, identidade gaúcha e nacionalidade (1860-1910) (Tese de Doutorado). UNICAMP
- Silveira, Cássia (2008). Dois pra lá, dois pra cá : o Parthenon Litterario e as trocas entre literatura e política na Porto Alegre do século XIX (Dissertação de mestrado). UFRGS
- Campos, Vanessa Gomes de (2018). Inventário dos Institutos Históricos e Geográficos no Rio Grande do Sul : de guardiões da memória à custódia do patrimônio (PDF). Porto Alegre: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul/Secretaria de Estado da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer
- Santi, Álvaro (2004). Do Partenon à Califórnia: O nativismo gaúcho e suas origens. Porto Alegre: Editora da UFRGS. ISBN 978-85-7025-7260
- Laitano, José Carlos Rolhano (2016). História da Academia Rio-Grandense de Letras (1901-2016) e Parthenon Litterario (1868-1885) (PDF). Col: Coleção Metamorfose Acadêmica. Porto Alegre: Metamorfose. ISBN 978-85-68175-64-4
- Silveira, Cássia (2019). «Os intelectuais e a política no Rio Grande do Sul: conceitos e abordagens». In: Neumann, Eduardo; Brandalise, Carla. O Rio Grande do Sul revisitado: novos capítulos. O Rio Grande do Sul revisitado: novos capítulos. Porto Alegre: Martins Livreiro
Recursos digitais[editar | editar código-fonte]
- Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (2020). «Quem somos». Consultado em 29 de julho de 2021
- Gloria, Rafael (30 de abril de 2020). «Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul completa 100 anos». Jornal do Comércio. Consultado em 29 de julho de 2021