Igreja de Nossa Senhora da Vitória (Vila do Porto)
A Igreja de Nossa Senhora da Conceição,[1] primitiva e ainda hoje popularmente denominada Igreja de Nossa Senhora da Vitória, localiza-se no largo de Nossa Senhora da Conceição, na freguesia da Vila do Porto, concelho da Vila do Porto, na Ilha de Santa Maria, nos Açores.
História
[editar | editar código-fonte]Integrava o convento franciscano de Nossa Senhora da Vitória, cuja fundação foi aprovada em 1607. As obras do convento foram iniciadas a 27 de outubro desse mesmo ano, e o lançamento da pedra fundamental da igreja deu-se a 6 de março do ano seguinte (1608). A missa inaugural da igreja foi celebrada a 26 de março de 1609.[1]
Do mesmo modo que o convento, a igreja foi saqueada pelos piratas da Barbária em 1616 e, novamente, em 1675.[2]
Um escrito do padre Manuel Delgado Fragoso,[3] dá conta de que o convento e a igreja foram edificados em 1725 por iniciativa de Frei Agostinho de São Francisco com esmolas suas e da população da ilha, conservando-se o sacrário, enquanto decorreram as obras, na capela do 2º capitão do donatário, João Soares de Albergaria (c. 1415 — 1499), onde então se celebraram os ofícios divinos. Por essa razão atribuía-se a Albergaria a fundação do convento, para o qual teria dado o terreno, dotando-o. Esse dote, entretanto, cessara em tempos remotos, não havendo mais memória da causa.[4] Datam desta etapa construtiva a instalação dos valiosos paineis de azulejos na igreja.
No período de 1808 a 1822 o convento e a igreja foram ampliados, com recurso a esmolas dos marienses e de fiéis no Brasil, graças ao fervor de um frade micaelense: Frei Ignácio de Santa Maria. As obras foram dirigidas pelo padre-mestre Frei António de São João Evangelista.[4]
É tradição que foi o referido Frei Ignácio quem adquiriu, na Itália e no Brasil, as imagens de Nossa Senhora da Conceição, do Senhor Jesus do Bonfim e do Senhor dos Terceiros que se veneravam nesta igreja, bem como a de Nossa Senhora da Vitória, orago da mesma igreja e que no alvorecer do século XX se venerava no altar-mor da Igreja Matriz de Vila do Porto onde substituiu a de Nossa Senhora da Assunção, que se queimou por ocasião de um incêndio na capela-mor da dita Matriz. Adquiriu ainda as imagens do Senhor Jesus dos Passos, venerada na Igreja da Misericórdia de Vila do Porto, vendida pelos frades à Irmandade daquela Misericórdia, e a de Nossa Senhora das Dores e a de Nossa Senhora da Piedade que se encontravam à época no Convento de São Francisco de Ponta Delgada, e que os frades deste roubaram quando vieram do Brasil, tendo por esse motivo havido demanda entre Frei Ignácio e estes frades.[5]
COSTA (1955-56) informava que, à época, o templo encontrava-se devidamente restaurado.[1]
O conjunto encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto nº 251/70, de 31 de Julho de 1970.
Atualmente desconsagrada, o seu espaço é utilizado como espaço cultural.
Uma pintura sobre tela do acervo desta igreja, com o tema "São Francisco e as Almas", foi entregue à DRaC para restauro na década de 1980. Sem que o mesmo tivesse ocorrido desde então, foi localizada recentemente em 2010 e restaurada ao custo de 5 mil euros, coparticipados igualmente entre a Câmara Municipal de Vila do Porto e aquele órgão, encontrando-se (2011) em fase final de restauro para retorno à ilha, a ser depositada na Igreja Matriz de Vila do Porto.[6]
Características
[editar | editar código-fonte]Em alvenaria de pedra rebocada e caiada, a igreja apresenta planta rectangular com nave única e, actualmente, tecto de três esteiras. A capela-mor, de planta rectangular, apresenta cobertura em abóbada de berço abatido e um nicho com moldura de pedra na parede do fundo.
Na parede do lado direito da nave abre-se a Capela de Santo António, onde se destacam nas paredes laterais dois painéis figurativos de azulejos do século XVII, um representando a pregação de Santo António aos peixes, e outro, que lhe é fronteiro, o milagre da ressuscitação de um morto diante da Sé de Lisboa pelo mesmo santo. O fundo da capela é preenchido por um retábulo de talha pintada. Tanto o arco de comunicação da igreja com esta capela quanto o arco triunfal são de volta inteira.
Na mesma parede da igreja, à direita do arco de comunicação com a Capela de Santo António, encontra-se uma inscrição epigráfica: "CAPELA D / AS ALMAS Q FV / DOV O CAPITAÕ MA / NOEL CVRVELO DA / COSTA E SVA MER MA / IACOME. 1652."
Na parede oposta, existe um púlpito rectangular, com guarda de madeira (bilros) sobre consola de pedra. Na mesma parede vê-se ainda a porta do antigo coro-alto, um arco de volta inteira (possivelmentre destinado a um altar) e uma grande pia de água-benta.
Tanto nos pavimentos da Capela de Santo António quanto da capela-mor da igreja existem lajes numeradas, que atestam a existência de enterramentos no local.
No pavimento da capela-mor da igreja, são visíveis as inscrições epigráficas [7] da laje do túmulo [1] de D. José de Arlegui e Leoz , militar espanhol, que foi comandante do Esquadrão de Dragões de Luzon (Filipinas) e Governador das Ilhas Marianas (1786/1794). [2] [3]
A fachada da igreja tem a porta axial, de verga recta, encimada por uma janela com verga curva. Ambos os vãos são encimados por pequenas cornijas na verga e por cornijas maiores um pouco mais acima. Por cima da janela situa-se ainda um relevo com o símbolo dos franciscanos enquadrado por uma pequena moldura com verga curva. As três molduras e as cornijas estão ligadas entre si pelo prolongamento das ombreiras da janela.
Pelo exterior, anexa, encontra-se a Capela dos Terceiros, onde se destaca a talha dourada que acolhe a imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, cuja festa é aqui celebrada, anualmente, a 5 de junho.
Tanto a igreja como a Capela dos Terceiros são encimadas por cornijas que acompanham a inclinação das águas dos telhados, com pináculos nos extremos. As coberturas são predominantemente de duas águas, em telha de meia-cana tradicional, rematadas por beiral duplo.
Referências
- ↑ a b c COSTA, 1955-56:129.
- ↑ COSTA, 1955-56:129. Este autor refere a data deste último assalto como 1672, quando o correto será 1 de setembro de 1675, conforme as anotações ao Livro III das Saudades da Terra de Gaspar Frutuoso por Manuel Monteiro Velho Arruda, in Arquivo dos Açores, vol. V, p. 413.
- ↑ Que exerceu funções na Igreja Matriz de Vila do Porto no início do século XVIII.
- ↑ a b "Extincto Convento dos Franciscanos", in Álbum Açoriano, fascículo nº 33, 1903, p. 258.
- ↑ "Extincto Convento dos Franciscanos", in Álbum Açoriano, fascículo nº 33, 1903, p. 258-259.
- ↑ BORGES, Adriano (Pe.). "Sobre a Pia Baptismal da Matriz". O Baluarte de Santa Maria, ano XXXVIII, 2ª série, 16 dez 2011, nº 414, p. 24.
- ↑ AQUI JAZ O CORNEL D. JOZE ARLEGUI NATURAL DA CIDE DE NAVARRA E COMTE DOS DRAGONES DAS ILHAS DE FELEPINES AGTO 10 |1803 + J.J.B.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- REZENDES, Dinis Gabriel Sousa. D. José de Arlegui y Leoz ( O descanso do guerreiro e do Ex. Governador na Igreja do Convento de S.Francisco de Vila do Porto - extrato biográfico ). O Baluarte de Santa Maria, ano XLIII, 2.ª série, Abril 2016.
- CARVALHO, Manuel Chaves. Igrejas e Ermidas de Santa Maria, em Verso. Vila do Porto (Açores): Câmara Municipal de Vila do Porto, 2001. 84p. fotos.
- COSTA, Francisco Carreiro da. "129. Igreja de Nossa Senhora da Conceição - Vila do Porto - Santa Maria". in História das Igrejas e Ermidas dos Açores. Ponta Delgada (Açores): jornal Açores, 17 abr 1955 - 17 out 1956.
- FERREIRA, Adriano. Era uma vez... Santa Maria. Vila do Porto (Açores): Câmara Municipal de Vila do Porto, s.d.. 256p. fotos p/b cor.
- FIGUEIREDO, Jaime de. Ilha de Gonçalo Velho: da descoberta até ao Aeroporto. Lisboa: C. de Oliveira, 1954. 205p., il.
- FIGUEIREDO, Jaime de. Ilha de Gonçalo Velho: da descoberta até ao Aeroporto (2ª ed.). Vila do Porto (Açores): Câmara Municipal de Vila do Porto, 1990. 160p. mapas, fotos, estatísticas.
- MONTE ALVERNE, Agostinho de (OFM). Crónicas da Província de S. João Evangelista das Ilhas dos Açores (2ª ed.). Ponta Delgada (Açores): Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1986.
- MONTEREY, Guido de. Santa Maria e São Miguel (Açores): as duas ilhas do oriente. Porto: Ed. do Autor, 1981. 352p. fotos.
- "Extincto Convento dos Franciscanos", in Álbum Açoriano, fascículo nº 33, 1903, p. 258-260.
- Ficha 28/Santa Maria do "Arquivo da Arquitectura Popular dos Açores".
- Fichas A-27 e 28 do "Inventário do Património Histórico e Religioso para o Plano Director Municipal de Vila do Porto".
- Fichas 196 e 197/Santa Maria do "Levantamento do Património Arquitectónico da Vila do Porto", SREC/DRAC.
- Arquivo General de Simancas "José Arlegui. Grado"- Grado de coronel de Dragones concedido ao teniente coronel D. José Arlegui Leoz, comandante de Dragones de Luzón y gobernador de las Marianas. Fol. 67-71, SGU,LEG,6909,9.
- de la Rosa, Alexandre Coello: Colonialism, resistance and Chamorro identity in the post-Jesuit mission of the Marian Islands, 1769-1831,pág.92,93.
- Centro de Conhecimento dos Açores: Registos Paroquiais, Registo de óbito de D.José de Arlegui e Leoz.
- Cronologia Histórica: Año 1795
Ver também
[editar | editar código-fonte]Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Convento de São Francisco / Igreja de Nossa Senhora e Igreja Vitória». in Sistema de Informação para o Património Arquitetónico (SIPA/DGPC)
- «Ficha do Conjunto do Convento de São Francisco no Inventário do Património Imóvel dos Açores»
- «Diniz Gabriel Sousa Rezendes/Fragmentos da História da Ilha de Santa Maria (extracto)»