Intervenção militar no Barém em 2011

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Intervenção militar no Barém
Revolta no Barém de 2011

Mapa do Barém. No canto superior esquerdo se encontra a Ponte do Rei Fahd
Data 2011
Local Barém
Beligerantes
Força do Escudo da Península

Milhares de manifestantes condenando a intervenção saudita no Barém em uma marcha à embaixada saudita em Manama em 15 de março.

A intervenção na revolta no Barém teve inicio em 14 de março de 2011, três semanas depois que os Estados Unidos pressionaram o Barém para retirar as suas forças militares das ruas.[1] Como uma decisão do Conselho de Cooperação do Golfo, a intervenção incluiu o envio de 1.000 (1200[2]) soldados, juntamente com veículos sauditas,[1] a convite da família real Al-Khalifa, marcando a primeira vez que o Conselho de Cooperação do Golfo usou tal opção militar coletiva para suprimir uma revolta.[2][3]

Considerando isso como uma ocupação militar[4] e uma declaração de guerra, a oposição bareinita pediu ajuda internacional.[5][4] A intervenção foi precedida pela intervenção saudita no Barém em 1994 .[6][7]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Revolta no Barém de 2011

Os protestos no Barém tiveram inicio em 14 de fevereiro de 2011 principalmente pelos muçulmanos xiitas, que constituem a maior parte da população bareinita[8], o qual enfrentou reação imediata do governo.[9] Esses protestos eram inicialmente destinados a obtenção de maior liberdade política e igualdade para a população xiita majoritária,[10] mas se expandiriam para a reivindicação pelo fim da monarquia de Hamad bin Isa Al Khalifa[11] após uma incursão mortal na noite de 17 de fevereiro de 2011 contra os manifestantes na Praça da Pérola em Manama,[12][13] conhecida localmente como a Quinta-feira Sangrenta.[14]

Como a polícia bareinita foi surpreendida com manifestantes que também bloquearam estradas, o governo do Barém solicitou o auxílio dos países vizinhos.[15] Em 14 de março, o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) concordou em enviar tropas da Força do Escudo da Península ao Barém. A razão alegada da intervenção foi a de assegurar as principais instalações.[2][16]

Embora os líderes bareinitas afirmassem que a insurreição era um assunto externo, chamando-a de "uma conspiração iraniana", não forneceram nenhuma evidência para sua reivindicação.[17] De acordo com Guido Steinberg, embora haja algumas conexões entre o Irã e alguns dos grupos xiitas bareinitas e sauditas: "não há nenhuma evidência de mãos iranianas por trás dessa revolta", o que também foi confirmado pelo secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates.[18]

Unidades envolvidas[editar | editar código-fonte]

O Conselho de Cooperação do Golfo respondeu ao pedido do rei bareinita Hamad bin Isa al-Khalifa enviando a sua Força do Escudo da Península.[19] As unidades enviadas da Arábia Saudita incluíram 1.000 (1.200[2]) tropas junto com 150 veículos. Os veículos incluíram "veículos blindados ligeiros sobre rodas com metralhadoras pesadas instaladas no teto." Os soldados sauditas eram aparentemente da Guarda Nacional da Arábia Saudita, comandada por um filho do Rei Abdullah, o Príncipe Miteb.[1] Além disso, 500 policiais dos Emirados Árabes Unidos foram enviados através do istmo entre a Arábia Saudita e o Barém.[18] Para proteger os Al-Khalifa, os kuwaitianos também "enviaram sua marinha para patrulhar as fronteiras" do Barém[17][20] e alguns milhares de "ex-soldados" foram recrutados do Paquistão também.[21]

Em 2014, 5.000 forças sauditas e emiradenses e quase 7.000 forças estadunidenses estavam posicionadas a "menos de 10 milhas da Praça da Pérola, o centro do movimento de protesto do país."[17]

Objetivos[editar | editar código-fonte]

A importância estratégica do Barém ao governo da Arábia Saudita é originada das razões econômicas, sectárias e geopolíticas.[22]

Objetivos sectários e geopolíticos[editar | editar código-fonte]

Segundo o The Guardian, o propósito real da intervenção seria parar "uma rebelião crescente pela maioria do reino, mas privados, cidadãos xiitas" tomando todas as medidas necessárias.[23] A morte de um policial emiradense, Tariq al-Shehi, iria clarificar que as tropas estrangeiras estavam, de facto, envolvidas em suprimir os protestos.[17] De acordo com Nuruzzaman, o fator mais importante que conduziu a intervenção saudita no Barém[24] seria "o efeito dominó da queda do Barém para as mãos xiitas.[24][25] Temendo uma mudança democrática, o rei saudita Abdullah pretendia reverter os movimentos pró-democracia em seus países vizinhos usando a força.[24] A Arábia Saudita sustentava que a causa dos distúrbios na Província Oriental saudita era a revolta xiita no Barém. Segundo Steffen Hertog, um especialista em Arábia Saudita na London School of Economics, o movimento saudita foi um sinal para os movimentos xiitas na Província Oriental para expressar quão seriamente os sauditas pretendiam reprimir os distúrbios.[18] Além disso, manter Al-Khalifa, "o principal aliado conservador sunita dos sauditas", no poder seria de notável importância para a Arábia Saudita já que poderia evitar a propagação da influência iraniana no oeste de Golfo e a Arábia Saudita agiu através do Conselho de Cooperação do Golfo para encobrir "sua preocupação estratégica" sobre o Irã e sua influência.[26]

Tendo laços estreitos com os Estados Unidos, os eventos no Barém envolveriam os interesses dos estadunidenses também.[27][28][29] Qualquer desvio do Barém dos sauditas e a afirmação do poder xiita afetariam diretamente os interesses estadunidenses[24] e levaria ao enfraquecimento da sua "postura militar na região", uma vez que o Barém é o lar da Quinta Frota dos Estados Unidos.[29]

Objetivos econômicos[editar | editar código-fonte]

A intervenção foi aparentemente efetuada com o objetivo de proteger a infra-estrutura bareinita, tais como campos de petróleo.[17] Os dois reinos têm laços econômicos "fortes" e a Arábia Saudita têm feito investimentos significativos no Barém em "turismo, infra-estrutura e alguns outros planos industriais".[26] De acordo com Nuruzzaman, a Arábia Saudita, maior parceiro comercial do Barém, enviou tropas para o país visando alguns objetivos econômicos e entre os fatores importantes que conduziram ao envio de tropas estavam "a possibilidade da perda de campos petrolíferos, terminais e unidades de processamento de petróleo bruto, a perda de investimentos e perspectivas futuras de investimento".[24] Além disso, qualquer alastramento dos distúrbios do Barém para o reino vizinho iria "derrubar" os mercados mundiais de petróleo.[22]

Consequências[editar | editar código-fonte]

Primeiramente interpretada por analistas "em termos de políticas nacionais e regionais e dinâmicas estratégicas", a intervenção gerou sérias preocupações regionais e globais[24] e transformou a insurreição em uma guerra fria regional. Entre outros fatores, a intervenção militar estrangeira poderia conduzir ao sectarismo.[30] De acordo com a revista Foreign Policy, a intervenção assinalou "uma escalada dramática da crise política no Barém."[7]

Reações[editar | editar código-fonte]

  •  Irã: Teerã afirmou que o movimento era uma invasão e acusou o Conselho de Cooperação do Golfo de "intromissão nos assuntos internos do Barém".[18]
  •  Paquistão: Nawaz Sharif, primeiro-ministro do Paquistão, apoiou a intervenção e, em sua visita à Arábia Saudita, assegurou que iria "contribuir para construir um novo plano de batalha para a intervenção saudita no país."[31]
  •  Turquia: O primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan, condenou a intervenção e caracterizou o movimento saudita como "uma nova Carbala." Ele exigiu a retirada das forças sauditas do Barém.[32]
  •  Nações Unidas: Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, disse que estava "preocupado" com "a implantação da Força do Escudo da Península" e que "a chegada de tropas sauditas e dos Emirados Árabes Unidos foi notada com preocupação". Ele pediu a todos os envolvidos a "exercer a máxima contenção".[18]
  •  Estados Unidos: O país expressou estar "chocado" com o movimento, mas rejeitou a reivindicação iraniana de invasão.[18] A administração Obama "obliquamente criticou" o movimento saudita.[33]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c Henderson, Simon. «Bahrain's Crisis: Saudi Forces Intervene». Washington Institute 
  2. a b c d Bronner, Ethan; Slackman, Michael (14 de março de 2011). «Saudi Troops Enter Bahrain to Help Put Down Unrest». New York Times 
  3. Held, David; Ulrichsen, Kristian (2012). The transformation of the Gulf politics, economics and the global order. Abingdon, Oxon: Routledge. ISBN 9781136698408 
  4. a b «Gulf States Send Force to Bahrain Following Protests». BBC News. 14 de março de 2011. Cópia arquivada em 20 de abril de 2011 
  5. «Two Killed in Bahrain Violence Despite Martial Law». BBC News. 15 de março de 2011. Cópia arquivada em 5 de abril de 2011 
  6. Staff writers. «Saudi Intervention in Bahrain». Stratfor 
  7. a b Seznec, Jean-François (14 de março de 2011). «Saudi Arabia Strikes Back». Foreign Policy 
  8. Black, Ian (14 de fevereiro de 2011). «Arrests and Deaths as Egypt Protest Spreads Across Middle East». The Guardian. London. Cópia arquivada em 13 de abril de 2011 
  9. (em árabe) "قتيل وأكثر من 30 مصاباً في مسيرات احتجاجية أمس". Al Wasat. 15 February 2011.
  10. "Bahrain Shia Leaders Visit Iraq". The Daily Telegraph.
  11. Staff writer (18 de fevereiro de 2011). «Bahrain Mourners Call for End to Monarchy – Mood of Defiance Against Entire Ruling System After Brutal Attack on Pearl Square Protest Camp That Left at Least Five Dead». London: Associated Press (via The Guardian). Consultado em 28 de junho de 2016. Cópia arquivada em 18 de fevereiro de 2011 
  12. «Clashes Rock Bahraini Capital». Al Jazeera. 17 de fevereiro de 2011. Consultado em 28 de junho de 2016. Cópia arquivada em 17 de fevereiro de 2011 
  13. «Bahrain Protests: Police Break Up Pearl Square Crowd». BBC News. 17 de fevereiro de 2011. Cópia arquivada em 5 de abril de 2011 
  14. Staff writer. «Protesters killed in Bahrain honored». PressTV 
  15. "Bahrain 'asks for Gulf help'". Al Jazeera. 14 March 2011.
  16. «Saudi Soldiers Sent into Bahrain». Al Jazeera. 15 de março de 2011. Cópia arquivada em 15 de abril de 2011 
  17. a b c d e Holmes, Amy Austin. «The military intervention that the world forgot». Al-Jazeera 
  18. a b c d e f Amies, Nick. «Saudi intervention in Bahrain increases Gulf instability». Deutsche Welle 
  19. Goldenberg, Ilan; G. Dalton, Melissa (2015). «Bridging the Gulf: how to fix U.S. relations with the GCC». Foreign Affairs 
  20. Katzman, Kenneth. «Bahrain: Reform, Security, and U.S. Policy» (PDF). Congressional Research Service 
  21. Mashal, Mujib. «Pakistani troops aid Bahrain's crackdown». www.aljazeera.com 
  22. a b Bronson, Rachel. «SAUDI ARABIA'S INTERVENTION IN BAHRAIN: A NECESSARY EVIL OR A STRATEGIC BLUNDER?» (PDF) 
  23. Butler, William. «Saudi Arabian intervention in Bahrain driven by visceral Sunni fear of Shias». The Guardian 
  24. a b c d e f Nuruzzaman, Mohammed (2013). «Politics, Economics and Saudi Military Intervention in Bahrain» (PDF). Journal of Contemporary Asia. 43 
  25. Staff writers. «Why Saudi Arabia Crushed the Democratic Uprising in Bahrain». ADHRB 
  26. a b Gray, Matthew. Global Security Watch—Saudi Arabia (em inglês). [S.l.]: ABC-CLIO. ISBN 9780313387005 
  27. Bayyenat, Abolghasem (10 de junho de 2011). «Bahrain: Beyond the U.S.-Iran Rivalry - FPIF». Foreign Policy In Focus 
  28. Amirahmadi, Hooshang; Afrasiabi, Kaveh (29 de abril de 2011). «The west's silence over Bahrain smacks of double standards | Hooshang Amirahmadi and Kaveh Afrasiabi». the Guardian 
  29. a b Friedman, George. «Bahrain and the Battle Between Iran and Saudi Arabia». Stratfor 
  30. Gengler, Justin. «How Bahrain's crushed uprising spawned the Middle East's sectarianism». The Washington Post 
  31. Alam, Kamal. «Saudi Arabia Has Devastated Pakistan's History of Religious Tolerance and Diversity». Muftah 
  32. Bhadrakumar, M.K. «Asia Times Online :: Middle East News, Iraq, Iran current affairs». Asia Times. Consultado em 10 de junho de 2016. Cópia arquivada em 11 de junho de 2016 
  33. Sanger, David E.; Schmitt, Eric (14 de março de 2011). «Saudi Arabia's Action in Bahrain Strains Ties With United States». The New York Times