Jean-Pierre Chrétien
Jean-Pierre Chrétien | |
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Nascimento | 18 de setembro de 1937 Lille |
Cidadania | França |
Ocupação | historiador |
Distinções |
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Jean-Pierre Chrétien, nascido em 18 de setembro de 1937, em Lille. É um historiador francês, especialista em Grandes Lagos Africanos .
Biografia
[editar | editar código-fonte]Jean-Pierre Chrétien é professor licenciado de história, lecionando no liceu de Rouen, depois na École Normale Supérieure du Burundi ( Unesco ) no período de 1964 até 1968 e, posteriormente, na Universidade Lille III de 1969 a 1972. No âmbito das pesquisas, foi bolsista de pesquisa e depois diretor dos estudos em história africana no CNRS de 1973 até à sua reforma em 2003. Durante parte desse período, de 1986 a 2001, dirigiu o laboratório da Universidade de Paris I. "Mutações africanas a longo prazo” (Mald) [1], que foi icorpordo ao Centro para o Estudo dos Mundos Africanos (CEMAf) em 2006. É também um dos fundadores da revista Africa and History [2] .
Por ser especialista nos Grandes Lagos Africanos, que inicialmente estudou através do Burundi, Jean-Pierre Chrétien acompanhou especialmente os acontecimentos em Ruanda . Duas obras destacaram esse interesse, O Desafio do Etnicismo e A Mídia do Genocídio . O último estudo coletivo, dirigido e também realizado com o Repórteres Sem Fronteiras, foi feito a pedido da UNESCO, cujo conselho executivo "manifestou a sua preocupação com a utilização abusiva dos meios de comunicação de massa com vista ao incitamento direto e público ao genocídio"» [3] . Seu livro O Desafio do Etnicismo reúne palestras que proferiu sobre o tema principal que Jean-Pierre Chrétien tentou desenvolver referente às populações de Ruanda e do Burundi, entre 1990 a 1996 [4]. Questionava a análise étnica determinada destas sociedades. Ele argumenta, ao contrário de outros pesquisadores, que o que era considerado como grupos étnicos não corresponderia a esta definição e seria apenas a projeção dos valores dos colonizadores sobre esses países.
Foi perito no Tribunal Penal Internacional para Ruanda, sendo abordado por outros tribunais:
- a comissão de inquérito senatorial belga (1997);
- a Missão Parlamentar de Informação sobre Ruanda da Assembleia Nacional Francesa (1998);
- o Grupo de Trabalho da Organização da Unidade Africana (1999);
Em uma entrevista concedida à revista Jeune Afrique, ele declarou-se como um ativista da curiosidade que deveria ser levada para África [5] . Em outro artigo, ele se concentra em “salientar os problemas dos 'usos públicos da história" afim de questionar tanto a responsabilidade como a posição do pesquisador frente às crises contemporâneas (por exemplo, o genocídio dos tutsis no Ruanda) e o seu papel na influência dos principais debates sobre a memória das crises do passado (por exemplo, a Shoah ou a escravidão dos negros) [6] . Portanto, a partir do seus temas de investigação, é perceptível o quanto o debate histórico e político está presente; vide as pesquisas do caso de Ruanda.
Participou na Comissão de Inquérito ao Cidadão em 2004, por ser próximo a associação criadora Survie (Sobrevivência, traduzido do francês) . Ele também foi membro do Comitê de Vigilância em relação aos usos públicos da história [7] .
Debates e polêmicas em torno de sua obra
[editar | editar código-fonte]Parte de seus trabalhos foram elogiados por seus colegas historiadores, como sua obra Os Grandes Lagos da África - Dois Mil Anos de História (2000) que o historiador Gérard Prunier resenha como "uma soma" em um campo até então pouco abordado. . Outros não foram bem aceitos por alguns colegas acadêmicos.
Polêmica em torno de “a escola burundesa-francesa»
[editar | editar código-fonte]No ano de 1990, René Lemarchand (professor de antropologia e especializado em Ruanda e Burundi) criticou negativamente o trabalho de J. -P. Chrétien e outros pesquisadores, André Guichaoua e Gabriel Le Jeune assimilados à uma escola histórica "Burundi-Francesa". Lemarchand descreve que o problema com suas pesquisas :
nunca se sabe bem onde acaba a argumentação e começa a análise científica; onde começa a exortação, a vingança ou a afirmação gratuita (...) e onde começa o discurso do historiador-político[8].
J. -P. o respondeu [9] e as controvérsia e disputas marcaram a comunidade de historiadores que estudam a África Oriental e a região dos Grandes Lagos * . Alain Ricard, especializado em literatura africana e diretor da revista Politique Africaine, disserta em 1994 que: "No Canadá, surgiu uma polémica em torno de uma pretensa escola de história burundiano-francesa, que contesta as obras francesas pela sua aparente conformidade com as ideologias no poder em Bujumbura. Estas acusações injustas chamaram a atenção para o incidental e para os riscos de trabalhar demasiado sozinho numa frente tão exposta. O essencial continua a ser o notável trabalho histórico de J.-P. Chrétien, cuja obra é um testemunho que nos permite ler hoje a história do Burundi e, em parte, a história do Ruanda. Já em 1972, o termo genocídio foi utilizado para descrever os massacres de hutus no Burundi por Jean-Pierre Chrétien" [10].
Posteriormente, Lemarchand continuou a utilizar o trabalho de Chrétien, embora sendo fortemente critico [11]
O genocídio tutsi em Ruanda
[editar | editar código-fonte]Segundo Chrétien, as ideias coloniais relativas à etnicidade em Ruanda influenciaram fortemente as tendências da análise do conflito e genocídio dos tutsis em Ruanda pelas autoridades francesas [12] . Por questionar fortemente estas análises, Jean-Pierre gerou revolta de jornalistas, em especial Pierre Péan, e de historiadores que discordam das suas interpretações sobre o ocorrido [13] . Em seus trabalhos, o Sr. Chrétien defendeu a tese da premeditação do genocídio e criticou, com veemência, o Presidente Juvénal Habyarimana e o seu regime durante o período.
Debates além do âmbito político também ocorreram entre o historiador aqui elucidado e outros especialistas na África dos Grandes Lagos, que dizem respeito de avaliações divergentes da história da população desta região.
Em 1995, Jean-Pierre Chrétien foi apelidado de “ historiador profissional e etnólogo amador » pelo Club de l'horloge (Clock Club ou clube do relógio) [14] . As críticas ao Clock Club foram feitas por Bernard Lugan, que acusa o Sr. Chrétien por equiparar os grupos étnicos ruandesas a grupos sócio profissionais, e ainda o acusa de confundir ativismo pró-tutsi com pesquisa histórica [15] .
Para Jean-Pierre, estas críticas desprezam as suas observações [16] . Considera que a situação na região dos Grandes Lagos apresenta uma característica de “etnia particular” [17] , a qual só pode ser esquematizada pela história. A categoria anterior não deve ser interpretada apenas como um dado intemporal, mas sim entendida no seu desenvolvimento e progressão cronológica [18] . Para ele a região dos Grandes Lagos está “Longe de abranger uma identidade cultural específica, a etnicidade corresponde tradicionalmente a um fenómeno social de identidade hereditária (criadores versus agricultores). Mas esta concepção equivocada deu lugar a uma percepção “racial” categórica que se cristalizou muito rapidamente, em poucas décadas. Na década de 1960, acredito que o termo etnia ainda não era utilizado". Logo, segundo o autor, esta evolução que levou à atual divisão em Ruanda entre tutsis e hutus foi criada, e com grande responsabilidade, pela colonização que racializou as diferenças sociais anteriores.
Para o historiador, todavia, a obra de Bernard Lugan é “excessiva e marginal” [19]. Nota, com outros, o racismo explícito [20], os erros históricos [21], a constituição tendenciosa de um corpus fortemente embasado em fontes coloniais * e refuta a ideia atribuída a Lugan de uma África marcada por uma “ordem natural” aquém da história e organizada por conceitos de raça e etnia imutáveis [22] .
O trabalho de Chrétien sobre os Grandes Lagos e as raízes do genocídio tutsi também receberam traduções e recepções internacionais. Alguns foram traduzidos para o inglês e elogiados em revistas científicas, que destacaram em suas críticas a sua contribuição para a história da região e para a compreensão das eras colonial e pós-colonial [23] ou realçaram as suas qualidades de um grande sintetizador [24] .
Filip Reyntjens (especialista do ICTR ) formula, por outro lado, críticas científicas e evoca uma subestimação das divisões étnicas por parte de JP. Enquanto, para Chrétien, estas divisões foram idealizadas, pelo menos em Ruanda e no Burundi, pelo colonizador belga, para o Sr. Reyntjens, os conceitos só foram amplificados com a ocupação colonial [25] . As controvérsias entre MM. Reyntjens e Chrétien aumentaram após o genocídio dos tutsi, notavelmente no ano de 1995 na revista Esprit [26] . Dez anos mais tarde, o ensaísta Pierre Péan utilizou os estudos de Reyntjens para acusar J.P Chrétien de ser responsável pelo genocídio dos Tutsis [27] .
O jornalista camaronês Charles Onana critica-o por ter condenado inocentes no TPIR, bem como por ter uma atitude de ativista tendenciosa e contrária ao de um investigador. Ele também o critica por não ter doutorado nem DEA em história [28] .
Críticas ao Afrocentrismo
[editar | editar código-fonte]Em 2000, participou, em conjunto com outros investigadores franceses na publicação de análises críticas dos métodos e objetos dos defensores das chamadas teorias “ afrocêntricas ” [29] . Ele acabou por atrair polêmicas com Théophile Obenga, acadêmico africano que dá continuidade às teses afrocentristas de Cheikh Anta Diop sobre a origem subsaariana da Egito Antigo. Em um panfleto [30] e em diversas entrevistas [31], ele o descreve como um pesquisador “africanista eurocêntrico e racista” [31] .
Publicações
[editar | editar código-fonte]- Ruanda, a mídia do genocídio, Paris, Karthala, 2000 ( 1 ed. 1995)
- com Raymond Verdier e Emmanuel Decaux, Ruanda. Um Genocídio do Século XX, Paris, L'Harmattan, 1995, 262 p.
- O desafio da etnia : Ruanda e Burundi, 1990-1996, Paris, Karthala, 1997
- com Jean-Louis Triaud (dir.), História da África. Problemas de memória, Paris, Karthala, 1999
- Os Grandes Lagos de África. Dois mil anos de história , Paris, Aubier, 2000 (coll. “Champs histoire”, 2011)
- com François-Xavier Fauvelle-Aymar e Claude-Hélène Perrot (dir.), Afrocentrismos. A história dos africanos entre o Egito e a América, Paris, Karthala, 2000, 406 p.
- com Melchior Mukuri, Burundi, a divisão de identidade. Lógicas da violência e certezas “étnicas”, Paris, Karthala, 2002
- com Gérard Prunier (dir.), Grupos étnicos têm uma história, Paris, Karthala, 2003
- (dir.), África de Sarkozy : uma negação da história (com contribuições de Jean-François Bayart, Achille Mbembe, Pierre Boilley, Ibrahima Thioub ), Paris, Karthala, 2008
- com Marcel Kabanda, Ruanda, racismo e genocídio. Ideologia camítica, Paris, Bélin, 2013
- Gitega, capital do Burundi. Uma cidade do Velho Oeste na África Oriental Alemã (1912-1916) , Paris, Karthala, 2015, 264 p.
Condecoração e prêmios
[editar | editar código-fonte]- Chevalier da Légion d'honneur desde 13 de julho de 2019[32].
- Grande prêmio do Rendez-vous de l’histoire 2000.
- Prêmio Luc-Durand-Réville da Academia de Ciências Ultramarinas 2016 para Gitega, capital do Burundi
Referências
- ↑ http://mald.univ-paris1.fr/index.htm Mutations africaines
- ↑ Afrique et histoire sur Cairn.
- ↑ Avant-propos du livre Les médias du génocide, Karthala 1995
- ↑ Chrétien Jean-Pierre - Le défi de l'ethnisme - Karthala, Centre de Documentation regards, sans date
- ↑ « Pour moi, il est impossible que la recherche sur l’Afrique ne soit pas militante. Il faut défendre une curiosité à propos de ce continent contre l’idée qu’il n’intéresse personne ! »Jean-Pierre Chrétien, Jeune Afrique du 22 janvier 2006
- ↑ Misères de l’afro-pessimisme, Jean-Pierre Chrétien, Afrique et Histoire, n°3, 2005, p. 183
- ↑ «Adhérents du CVUH». blogspot.fr. Consultado em 7 de outubro de 2020.
- ↑ R. Lemarchand: « L'École historique franco-burundaise : une école pas comme les autres », CJAS/RCEA, 1990, pp. 242-325.
- ↑ "Burundi: Le Metier d'historien: Querelle d'école?" Canadian Journal of African Studies / Revue Canadienne des Études Africaines, Vol. 25, No. 3 (1991), pp. 450-467 doi:10.2307/485979
- ↑ Ver nomeadamente os documentos de arquivo do Palácio do Eliseu que podem ser consultados no sítio Web da Comissão de Inquérito dos Cidadãos e o artigo do Le Monde de 3 de julho de 2007 que comenta alguns deles: Ce que savait l'Elysée (O que sabia o Palácio do Eliseu).
- ↑ Par exemple : René Lemarchand, "Le génocide de 1972 au Burundi. Les silences de l’Histoire", Cahiers d'études africaines, 167, p. 551-568, 2002
- ↑ Voir notamment les documents d'archives de l'Elysée consultables sur le site de la Commission d'enquête citoyenne et l'article du journal Le Monde du 3 juillet 2007 qui commente certains d'entre eux : Ce que savait l'Elysée
- ↑ Pierre Péan, Noires fureurs, blancs menteurs, éd. Fayard/Mille et une nuits, 2005. Pierre Péan attaque ainsi son chapitre 20, « Jean-Pierre Chrétien, ou le cachet universitaire des sornettes du FPR : « Qui dira un jour la responsabilité de Jean-Pierre Chrétien dans la tragédie Rwandaise ? »
- ↑ Cette association, fortement ancrée à droite, lui a attribué le Prix Lyssenko pour « son analyse des ethnies africaines, décrites comme un fantasme de la colonisation » Voir ce site
- ↑ Bernard Lugan, Rwanda : le génocide, l'Église et la démocratie, éd. du Rocher, 2004 ; Contre-enquête sur le génocide, éd. Privat, 2007
- ↑ Jean-Pierre Chrétien, Afrique et Histoire, 3, 2005, p. 194 et note 50
- ↑ Geopolitique de l'Afrique. La region des grands lacs, par Jean-Pierre Chrétien, CNRS. Entretien avec Barbara Vignaux, diploweb.com, Date mise en ligne: janvier 2005.
- ↑ Les ethnies ont une histoire (avec Gérard Prunier), éd. Karthala, 2003
- ↑ Afrique et Histoire, 3, 2005, p. 188
- ↑ M. Kabanda, in Afrique et Histoire, 3, 2005, pp. 200-201
- ↑ Pierre Boilley, in Afrique et Histoire, 3, 2005, pp. 196-198
- ↑ Jean-Pierre Chrétien, Afrique et Histoire, 3, 2005, p. 188
- ↑ « While the book contributes greatly to Great Lakes history and the still-resonant world conversation on the 1994 genocide, it also sends a message about the intellectual perils that have attended the loss of pre-colonial times in today's African historical writing. These times, extrapolating from Chrétien, are essential to understanding the colonial and even the post-colonial eras. That long view is essential. But this book is not a brief for restoring pre-colonial historical practice as it was, but an illustration of what pre-colonialists need to do to modernize their field. Chrétien points the way » Kennell Jackson, Department of History, Stanford University dans H-Africa, mai 2004 à propos de The Great Lakes of Africa: Two Thousand Years of HistoryGoing Deep into Great Lakes Regional History
- ↑ « As an admirable synthesis of vast and rich archival works, this is an impressive contribution to the field, and a well-written resource for students and scholars.» Kevin C. Dunn (Hobart and William Smith Colleges) African studies quarterly, Volume 8, Issue 1, Fall 2004 The Great Lakes of Africa : Two Thousand Years of History . Jean-Pierre Chrétien
- ↑ « Du bon usage de la science : l'école historique burundo-française », Politique africaine, n° 37, mars 1990, pp. 107-113
- ↑ Filip Reyntjens, « Le rôle du facteur ethnique au Rwanda et au Burundi. Procès d'intention et refus du debat », Esprit, octobre 1995, pp. 178-181.
- ↑ Ibid Pierre Péan
- ↑ Charles Onana, Les Secrets de la justice internationale, éd. Duboiris, 2005
- ↑ François-Xavier Fauvelle-Aymar, Jean Pierre Chrétien et Claude-Hélène Perrot (dir.), Afrocentrismes. L’histoire des Africains entre Égypte et Amérique, Paris, Karthala, 2000, 406 p.
- ↑ Théophile Obenga, Le sens de la lutte contre l’africanisme eurocentriste, Khepera, L’Harmattan, 2001.
- ↑ a b Théophile Obenga, «La Fin de l'africanisme», AfricaMaat, interview audio en bonus.
- ↑ Documentation Radio France (31 de março de 2014). «Jean-Pierre Chrétien». France Inter (em francês): https://www.franceinter.fr/personnes/jean-pierre-chretien