José Manuel Garcia (historiador)

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José Manuel Garcia
José Manuel Garcia (historiador)
José Manuel Garcia em 2019[1].
Nascimento 1956
Nacionalidade Portugal Português
Alma mater Universidade de Lisboa, Universidade do Porto
Profissão historiador
Principais trabalhos
  • Fernão de Magalhães: Herói, Traidor ou Mito: a História do Primeiro Homem a Abraçar o Mundo (2019)
  • O Terrível: a grande biografia de Afonso de Albuquerque (2017)
  • Dicionário essencial de história de Portugal (2010)
  • A viagem de Fernão de Magalhães e os portugueses (2007)

José Manuel Garcia, nascido em Santarém em Portugal em 1956, é um historiador português[2]. Académico e autor cuja área de atuação está centrada na expansão marítima de Portugal nos séculos XV ao XVII e, em particular na circum-navegação de Fernão de Magalhães e Juan Sebastián Elcano[3][4].

Ensino universitário[editar | editar código-fonte]

Depois de obter, em 1978, uma licenciatura em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tornou-se, em 2006, doutor em História pela Universidade do Porto com uma tese sobre A Historiografia Portuguesa dos Descobrimentos e da Expansão (séculos XV a XVII)[5].

Atividades profissionais e científicas[editar | editar código-fonte]

De 1988 a 1997, foi sucessivamente consultor científico, membro e colaborador da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Entre 1997 e 1999, foi um dos organizadores científicos da conferência internacional e da exposição Vasco da Gama e a Índia, realizada na Capela da Sorbone (Paris) em maio de 1998, que deram origem à publicação das respetivas atas e catálogo[6].

Em abril de 2001, foi consultor científico do Centro Nacional de Cultura durante a viagem dessa instituição à Indonésia e Timor. Entre 2004 e 2006, foi pesquisador responsável pelo Centro Damião de Góis do Instituto Nacional de Arquivos da Torre do Tombo, bem como pelo programa Diogo do Couto. Desde 2006, é investigador do Gabinete de Estudos Oliponenses da Câmara Municipal de Lisboa[5].

No âmbito das suas atividades científicas participou em inúmeras conferências e congressos na África (Cabo Verde e Mauritânia), América (Brasil, Chile e Estados Unidos), Ásia (Índia, Indonésia, Irão, Macau e Filipinas) e na Europa (Espanha, França e Portugal).

Também participou, entre 1983 e 2009, na organização de inúmeras exposições, publicações de catálogos[5], e na produção de documentários audiovisuais[7][8].

Obras e descobertas: a jornada Magalhães-Elcano[editar | editar código-fonte]

Conhecido por muito tempo como "Kunstmann IV" este mapa de 1519 de Jorge Reinel é muito provavelmente o que Magalhães ofereceu a Carlos Vo e difere das representações usuais da época pela dimensão bastante realista de seu "Mar do Sul" (Oceano Pacífico). O mapa mostrado aqui é um fac-símile produzido por Otto Progel em 1836 que se conserva na Biblioteca Nacional da França

[9], o original desapareceu em Munique durante a Segunda Guerra Mundial. Também atribuído a um dos irmãos Reinel, outro mapa semelhante de 1519, desta vez na projeção polar antártica[10] [11], encontra-se na Biblioteca do Palácio Topkapi, em Istambul, sob o nome de Hazine n ° 1825[12] [13].]]

Globo de 1520 pelo alemão Johann Schöner que, apesar do mapa de Jorge Reinel acima, subestima claramente o tamanho do Oceano Pacífico[14].

José Manuel Garcia é atualmente um dos maiores especialistas na circum-navegação não planeada[15][16][17] de Fernão de Magalhães e Juan Sebastián Elcano[18][19], com numerosas publicações relacionadas nas quais se apoiam outros historiadores[20][21] [22] [23] [24], e que podem ser encontrados reunidos em seu último trabalho de 2019 (Fernão de Magalhães: Herói, Traidor ou Mito: a História do Primeiro Homem a Abraçar o Mundo), fruto de doze anos de insvestigações sobre este tema[25].

Fundada em uma exploração contínua dos arquivos relacionados com Fernão de Magalhães e a sua expedição[26], a pesquisa de José Manuel Garcia contradiz um certo número de ideias feitas sobre a viagem Magalhães-Elcano.

Assim, segundo esse historiador, elementos arquivísticos recentemente revelados parecem confirmar que Fernão de Magalhães não nasceu em Sabrosa, mas no Porto [27], como já era suspeitado pelos trabalhos anteriores de Gil Fernández (2009)[28] [29] e evocados por Castro et al. (2010)[30].

Por outro lado a sua interpretação gráfica das medidas indicadas por Magalhães na memória geográfica (Lembrança geográfica) que o navegador português havia enviado a Carlos V em setembro de 1519[31], documento citado na íntegra por esse historiador[32], desafia a ideia recebida de que Magalhães ignorava a vastidão do Oceano Pacífico [33], chegando assim às mesmas conclusões do trabalho de Xavier de Castro (pseudónimo de Michel Chandeigne]][34], Jocelyn Hamon e Luís Filipe Thomaz sobre esta questão[35] [36] [37].

Essa interpretação dos vários cálculos apresentados por Magalhães nessa memória geográfica sugere efetivamente um oceano muito vasto entre o sul do continente americano e o objetivo principal dessa expedição marítima: o arquipélago das Molucas (na Indonésia atual), essas lendárias "ilhas das especiarias" que produziam exclusivamente cravo-da-índia[38] [39] [40] [41] [42].

Magalhães coloca as Molucas aproximadamente 4° a leste no domínio espanhol delimitado pela demarcação do extremo leste do anti-meridiano résultante do Tratado de Tordesilhas (1494), quando esse arquipélago está, na realidade, 5 ° a oeste (e, portanto, no domínio português): o que é um erro bastante pequeno, pois era então impossível medir com precisão as longitudes. A localização do arquipélago das Molucas só foi medida com precisão dois ou três séculos depois[43].

Outro argumento que sustenta essa interpretação das conceções geográficas evocadas na "Lembrança geográfica" de Magalhães encontradas no planisfério anónimo de 1519 que é atribuído ao cartógrafo português Jorge Reinel que, com seu pai Pedro Reinel também cartógrafo, se juntara a Magalhães em Sevilha[44] [45].

Consequentemente, não se pode excluir que este mapa fosse idêntico aos dois planisférios apreendidos pelos portugueses na Trinidad (nau capitânia da armada) em 28 de outubro de 1522[46] [47], ou semelhante ao globo pintado que, de acordo com o cronista espanhol Bartolomé de Las Casas, Magalhães e o cosmógrafo Rui Faleiro apresentaram ao jovem Carlos I de Espanha (futuro Carlos V; imperador do Sacro Império Romano) no final de fevereiro ou início de março de 1518 em Valladolid[48] [49] [50], uma entrevista real coroada de sucesso pois o soberano espanhol decidiu apoiar o projeto de expedição às Molucas[51].

Testemunhando o avanço cartográfico de que gozavam os navegadores portugueses na época, este mapa atribuído a Jorge Reinel, provavelmente desenhado no verão de 1519 sob as ordens de Magalhães, distingue-se, portanto, por apresentar um vasto oceano que separa a ponta do continente americano do pequeno arquipélago Molucas que dificilmente se distinguem na extremidade esquerda do documento[9] [10] [52] [11], diferentemente do famoso globo de 1520 do alemão Johann Schöner, no qual o "Mar do Sul" (futuro Oceano Pacífico) é quase inexistente e a América aparece como uma extensão da Ásia[14].

Bibliografia seletiva[editar | editar código-fonte]

Principais publicações em português[5][8][editar | editar código-fonte]

  • José Manuel Garcia (2019). Fernão de Magalhães: Herói, Traidor ou Mito: a História do Primeiro Homem a Abraçar o Mundo. Queluz de Baixo: Manuscrito. ISBN 9789898975256 .
  • José Manuel Garcia (2018). Fernão de Magalhães: nos quinhentos anos do início da grande viagem. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda [8].
  • José Manuel Garcia (2017). O Terrível: a grande biografia de Afonso de Albuquerque. Lisboa: A Esfera dos livros .
  • José Manuel Garcia (2010). Dicionário essencial de história de Portugal. Barcarena: Presença .
  • José Manuel Garcia (2014). A magnífica Torre de Belém. Lisboa: Verso da História .
  • José Manuel Garcia (2014). «A representação dos conventos de Lisboa cerca de 1567 na primeira planta da cidade». Revista de História da Arte (11): 35-49 .
  • José Manuel Garcia (2012). O mundo dos Descobrimentos Portugueses, 8 volumes. Vila do Conde: Quidnovi. ISBN 978-989-554-915-3 .
  • José Manuel Garcia (2011). D. João II vs. Colombo: duas estratégias divergentes na busca das Índias. Matosinhos: Quidnovi .
  • José Manuel Garcia (2010). Dicionário essencial de história de Portugal. Barcarena: Presença .
  • José Manuel Garcia (2009). Cidades e fortalezas do Estado da Índia. Vila do Conde: Quidnovi. ISBN 978-989-628-167-0 .
  • José Manuel Garcia (2009). Os forais novos do reinado de D. Manuel. Lisboa: Banco de Portugal. ISBN 978-989-8061-65-2 .
  • José Manuel Garcia (2008). Lisboa do século XVII “a mais deliciosa terra do Mundo”: imagens e textos nos quatrocentos anos do nascimento do padre António Viera. Lisboa: Gabinete de Estudos Olisiponenses, Câmsra Municipal de Lisboa. ISBN 978-972-9231-02-5 .
  • José Manuel Garcia (2008). O livro de Francisco Rodrigues: o primeiro atlas do mundo moderno. Porto: Editora da Universidade do Porto. ISBN 978-972-8025-78-6 .
  • José Manuel Garcia (2007). A viagem de Fernão de Magalhães e os portugueses. Lisboa: Editorial Presença. ISBN 9789722337519 .
  • José Manuel Garcia (2005). «As iluminuras de 1502 do 'livro carmesim' e a iconologia manuelina». Cadernos do Arquivo Municipal. 8 (11): 38-55 .
  • José Manuel Garcia (2001). Pedro Álvares Cabral e a primeira viagem aos quatro cantos do mundo. Lisboa: Círculo de Leitores. ISBN 972-42-2479-1 .
  • José Manuel Garcia (1999). A viagem de Vasco da Gama à Índia, 1497-1499. Lisboa: Academia de Marinha. ISBN 972-781-010-1 .
  • José Manuel Garcia (1992). Portugal e os descobrimentos: o encontro de civilazações. Sevilla: Comissariado de Portugal para a exposiçao universal de Sevilha .

Principais publicações em inglês[53][editar | editar código-fonte]

  • José Manuel Garcia; Ivo Carneiro De Sousa (2002). The first Portuguese maps and sketches of Southeast Asia and the Phillipines, 1512-1571 (em inglês). Porto: Centro Portugues de Estudos do Sudoeste Asiático, D.L .
  • José Manuel Garcia (1995). Symposium III : Quincentenary of the era of Portuguese Discoveries : A series of lectures and discussions re-examining Portugal's contributions to the age of exploration (em inglês). San Diego, California: Portuguese Historical Center .
  • José Manuel Garcia (1994). Portugal and the division of the world : from Prince Henry to King John II (em inglês). Lisbon: Portuguese State Mint .
  • José Manuel Garcia (1992). Portuguese and the discoveries: the meeting of civilizations (em inglês). Lisbon: Commission of Portugal for the Seville Universal Exhibition .
  • José Manuel Garcia (1991). Portuguese travels and the meeting of civilizations (em inglês). Clifton, New York: Portuguese State Mint .

Conferências na Internet[editar | editar código-fonte]

Veja também[editar | editar código-fonte]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Romain Bertrand; Hélène Blais; Guillaume Calafat; Isabelle Heullant-Donat (2019). L’exploration du Monde. Une autre histoire des Grandes Découvertes. Col: L’Univers historique (em francês). Paris: Seuil. ISBN 978-202 140 62 52 .
  • Juan Gil Fernández (2009). El exilio portugués en Sevilla - de los Braganza a Magallanes (em espanhol). Sevilla: Fundación Cajasol. ISBN 978-84-8455-303-8 .
  • Juan Gil Fernández (2019). «Magallanes y Sevilla». In: Enriqueta Vila Vilar. Magallanes en Sevilla (em espanhol). Sevilla: Editorial Universidad de Sevilla-Secretariado de Publicaciones. pp. 37–64. ISBN 978-8447228591 [54].
  • Catherine Hofmann; Hélène Richard; Emmanuelle Vagnon (2012). L'âge d'or des cartes marines. Quand l’Europe découvrait le monde (em francês). Paris: Seuil. ISBN 978-2021084436 .
  • Luís Filipe Thomaz (1975). «Maluco e Malaca». In: Avelino Texeira da Mota. A viagem de Fernão de Magalhães e a questão das Molucas, Actas do II colóquio luso-espanhol de História ultramarina. Lisboa: Jicu-Ceca. pp. 27–48 .


Referências

  1. «José Manuel Garcia». 2020. Consultado em 13 abril 2020 .
  2. «José Manuel Garcia» (em francês). 2020. Consultado em 13 abril 2020 .
  3. «Entrevista com José Manuel Garcia». 30 de outubro de 2019. Consultado em 13 abril 2020 .
  4. «Fernando de Magallanes y Portugal» (em espanhol). 20 de marcha de 2018. Consultado em 13 abril 2020 .
  5. a b c d «Curriculum Vitae José Manuel da Costa Rodrigues Garcia» (em francês). 2015. Consultado em 13 abril 2020 .
  6. Elisabeth Santacreu. «En Inde sur les traces de Vasco de Gama» (em francês). 26 de maio de 1998. Consultado em 13 abril 2020 .
  7. «O Infante D.Henrique e a Expansão Portuguesa». 1995. Consultado em 13 abril 2020 .
  8. a b c «Agenda INCM 2019, 500 anos do início da grande viagem de Fernão Magalhães». 2019. Consultado em 13 abril 2020 .
  9. a b «Jorge Reinel (?) 1519, fac-símile de 1843» (em francês). 1519. Consultado em 13 abril 2020 .
  10. a b Castro et al. 2010, p. 69, 276-277, et 333-334.
  11. a b Castro 2017, p. 28-29.
  12. Couto 2013, p. 119, 128-129.
  13. Couto 2019, p. 81, 84, 100, 101, 104, 105, 107, 108, 109, 110, 111.
  14. a b «Johannes Schöner globe» (em inglês). 1520. Consultado em 13 abril 2020 .
  15. AFP. «Querelle historique hispano-portugaise autour de Magellan» (em francês). 11 de marcha de 2019. Consultado em 13 abril 2020 .
  16. AFP. «Les Portugais s'amusent de voir des Espagnols revendiquer l'exploit de Magellan» (em francês). 11 de marcha de 2019. Consultado em 13 abril 2020 .
  17. Javier Martin del Barrio. «Les explorateurs. 1519-1522, le drôle de tour de Fernand de Magellan» (em francês). 26 de julho de 2019. Consultado em 13 abril 2020 .
  18. «Voyage de Magellan» (em francês). 2007. Consultado em 13 abril 2020 .
  19. «INCM presents coins celebrating the circumnavigation journey of Ferdinand Magella» (em inglês). 30 de maio de 2019. Consultado em 13 abril 2020 .
  20. Romain Bertrand (2019). «1521 – La mort de Magellan» (em francês). Consultado em 13 abril 2020 .
  21. Castro et al. 2010, p. 1040-1041.
  22. Couto 2013, p. 121, 122, 124, 125, 126, 127, 130.
  23. Castro 2017, p. 343.
  24. Castro et Duviols 2019, p. 212, 228, 253.
  25. Patrícia Martins Carvalho. «Fernão de Magalhães foi um herói, um traidor ou um mito?». 29 de setembro de 2019. Consultado em 13 abril 2020 .
  26. «Documents Existing in Portugal About Ferdinand Magellan and His Travels» (em inglês). 2019. Consultado em 13 abril 2020 .
  27. Garcia 2019, p. 27-48.
  28. Gil Fernández. 2009, p. 328.
  29. Gil Fernández. 2009, p. 45-46.
  30. Castro et al. 2010, p. 41, 315-note 1.
  31. Castro et al. 2010, p. 45.
  32. Garcia 2007, p. 164-166, 314-315.
  33. Garcia 2019, p. 85-94.
  34. Jérôme Gautheret. «15 ans de travail au service de Magellan» (em francês). 6 de dezembro de 2007. Consultado em 13 abril 2020 .
  35. Castro et al. 2010, p. 22-23, 55-57, 65-67, 69, 276-277, 332-334 et notes 1.
  36. Castro 2017, p. 7, 26-29.
  37. Castro et Duviols 2019, p. 225, 228.
  38. Thomaz 1975, p. 45-48.
  39. Howe 1994, p. 15-22, 155.
  40. Castro et al. 2010, p. 15-18, 45-49, 439-440 note 2, 935.
  41. Castro 2017, p. 11, 184-186.
  42. Castro et Duviols 2019, p. 238.
  43. Castro et al. 2010, p. 22-23, 28, 55-57, 65-67, 69, 332-334 et notes 1.
  44. Castro 2017, p. 28.
  45. Castro et Duviols 2019, p. 228.
  46. Castro et al. 2010, p. 545, 794, 829.
  47. Couto 2013, p. 127-129.
  48. Las Casas 2002, p. 487-488.
  49. Castro et al. 2010, p. 523-note 1.
  50. Couto 2013, p. 119, 124-125, 127.
  51. Castro et al. 2010, p. 56.
  52. Hofmann et al. 2012, p. 25.
  53. «The first Portuguese maps and sketches of Southeast Asia and the Philippines, 1512-1571» (em francês). 2002. Consultado em 13 abril 2020 .
  54. «Magallanes y Sevilla». 2019. Consultado em 13 abril 2020 .

Artigos relacionados[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]