Marché du Film

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Marché du Film
Logótipo
Marché du Film
Lema "O coração da indústria cinematográfica"
Tipo Mercado de filmes
Fundação 1959
Sede  França, Cannes
Filiação Festival de Cannes
Diretor Guillaume Esmiol
Sítio oficial http://www.marchedufilm.com/

Marché du Film (francês para "Mercado de Filmes") é um dos maiores e mais importantes mercados de filmes do mundo. Estabelecido em 1959, sua ocorrência é anual, junto com o Festival de Cannes.

Nos anos 2020, mais de 12.500 profissionais da indústria cinematrográfica apresentaram cerca de 4 mil filmes e projetos na Marché du Film, gerando acordos multimilionários no total de $600 mil a $1 bilhão. Seu objetivo principal é trazer diferentes nomes da indústria audiovisual para criar conexões e discutir oportunidades de negócios, como colaborações, financiamento e distribuições.

História[editar | editar código-fonte]

Estabelecimento e primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Antes da criação da Marché du Film, as empresas de produção de filmes alugavam as salas do cinema Antibes para exibir seus filmes, e os produtores e profissionais da área discutiam seus negócios em hotéis e apartamentos que eles alugavam durante o Festival de Cannes. Em 1950, Robert Favre Le Bret, o diretor-executivo do Festival de Cannes, sugeriu incluir um mercado de filmes dentro do festival, mas sua ideia foi rejeitada pois o comitê ressaltou a significância artística e os valores do festival e não queriam misturá-lo com comércio. O Festival de la rue d'Antibes ocorreu paralelamente com o Festival de Cannes por uma década, por vezes com eventos importantes coincidentes. Ao ver o sucesso do mercado de filmes, o comitê do Festival de Cannes finalmente concordou em implementar a ideia. Em 1959, dois membros do Chambre Syndicale des Producteurs de Film Français (francês para Comitê do Sindicato dos Produtores de Filmes da França), Émile Natan e Bertrand Bagge estabeleceram o Marché du Film, com o investimento de André Malraux e Robert Le Bret.[1]

Em 1980, L’Association du Festival (francês para a Associação do Festival) decidiu estabelecer a Secrétariat Général du Marché du Film (francês para a Secretaria-Geral do Mercado de Filmes), chefiada por Michel Bonnet e Marcel Lathière. Eles começaram a preparar o mercado lentamente, ao introduzir tarifas para assinatura de filmes e aluguel de estandes. Porém, até a metade dos anos 90, a maior parte dos acordos eram feitas em reuniões nos hotéis e apartamentos alugados aonde os convidados do festival ficavam. A Marché du Film acontecia no porão do Palais des Festivals et des Congrès.[2] Em 1994, quando Pulp Fiction, dirigido por Quentin Tarantino, lucrou $ 200 milhões na bilheteria mundial, soma nunca antes vista em um filme independente, a comunidade de negociantes viu os cinema independente como uma oportunidade de negócios. Em 1995, a Marché du Film era gerenciada por Jérôme Paillard, antigo oboísta profissional, engenheiro de áudio e diretor financeiro da Erato Disques. Foi por sua iniciativa que os eventos do mercado foram movidos para os pavilhões da Promenade de la Croisette e estender a abrangência dos filmes à mostra para além do programa principal de Cannes. Também foi sua ideia publicar os guias do mercado de filmes com as fotos de todos os participantes (o guia foi apelidado de A Bíblia pelos frequentadores do mercado).[2][3] O número de participantes do mercado em 1995 foi mais de 2 mil.[4]

Em 2018, o Cannesmarket.com foi inaugurado, uma plataforma B2B para membros da indústria cinematográfica que havia surgido dentro da Cinando em 2003.[2] Em 2000, o número de participantes dobraram, e em 2005 o total de participantes foi de 8 mil.[4]

Década de 2010[editar | editar código-fonte]

Em 2012, mais da metade das exibições aconteceram em países europeus. Neste ano, o total de 4 mil filmes foram vendidos na Marché du Film, que estava em sua capacidade máxima.[4]

A Marché du Film moderna é um evento emblemático da indústria cinematográfica global, com um orçamento multimilionário e com 12 mil participantes, 3,2 mil produtores, 1,2 mil agentes e 800 gerentes do festival.[5][6][7] Há diversos pavilhões, apelidados de Vila Internacional, espalhados pela La Croisette, e alguns estão em novos locais, como Riviera.[8][9] O evento também oferece um grande banco de dados sobre detalhes de contatos da indústria, listas de projetos e horários de eventos.[10] Apesar de geralmente não haver a publicação de dados sobre um número significante de acordos feitos nos bastidores, Jérôme Payard estima que o volume total de dinheiro que passa pelo mercado está entre US$ 600 milhões e US$ 1 bilhão.[11]

Em 2016, 11.900 participantes se inscreveram no mercado, com a China quase alcançando os Estados Unidos, França e Inglaterra em número de participantes. Um total de 1.426 sessões e 985 longa-metragens aconteceram, com outros 1.050 projetos adicionais sendo apresentados.[10] Um dos maiores acordos do ano foi a compra do filme The Irishman, de Martin Scorcese, pela STX Entertainment por $50 milhões. Um total de 3.420 filmes foram comercializados, sendo 1.600 europeus e 830 americanos.[10] Os participantes notaram uma tendência cada vez maior de acordos feitos para filmes que estão no início de processo de criação: projetos com o roteiro finalizado e atores e diretores aprovados e com poucas cenas filmadas estão sendo vendidos. Além disso, a parte do mercado dedicada ao DVD e TV a cabo praticamente deixaram de existir.[12]

Década de 2020[editar | editar código-fonte]

Devido a quarentena causada pela pandemia de COVID-19, Marché du Film 2020 aconteceu online graças a parceria entre a Cinando e a Shift72.[13] Aconteceram mais de 150 eventos, com mais de 250 participantes apresentando nos estandes virtuais.[14]

Em 2021, um dos maiores acordos foi a compra da STX da sequência de Greenland, de Gerard Butler.[15]

Em 2022, Jérôme Paillard introduziu seu sucessor no cargo de diretor do mercado. Guillaume Esmiol é ex-líder de inovação da Groupe TF1 e diretor de marketing da startup Wefound.[16] Paillard e Esmiol foram codiretores da Marché du Film 2022. Em dezembro, Pailard se aposentou.[17] Ainda em 2022, o programa Ucrânia em Foco foi criado, enquanto iniciativas como o Vá a Cannes, Exibição de Documentários de Cannes e Rede de Produtores se dedicaram a projetos ucranianos.[18][19] Neste ano, a Marché du Film teve um grande foco no cinema da Índia. O número total de participantes foi 12 mil, com outros 13 mil participando dos eventos online.[17] No geral, houve um declínio nos números em comparação com os tempos pré-COVID.[11]

Guillaume Esmiol se tornou oficialmente o diretor do Marché du Film em 2023, com Jérôme Paillard se aposentando após 27 anos no cargo.[11] O novo lema do evento passou a ser "o coração da indústria cinematográfica". A praia no Palácio dos Festivais e Congressos foi dedicada a novas tendências da indústria, realidade virtual, streaming e aprendizado de máquina. Também foi aberto um clube para os produtores no pátio do palácio.[17]

O Marché du Film 2023 aconteceu entre 16 e 24 de maio, com 13 mil convidados.[17] O maior acordo anunciado foi a compra da Netflix dos direitos de distribuição do drama May December, de Todd Haynes.[20][21]

Programas[editar | editar código-fonte]

Um número de programas é oferecido pela Marché du Film em benefício dos produtores, diretores, organizadores de festivais, agentes de vendas e outros profissionais da indústria cinematográfica:[9]

Cannes XR

Programa dedicado a tecnologias de entretenimento imersivas.[5][22]

Cannes Docs

Programa dedicado a documentários. Também é uma plataforma B2B para conectar profissionais da área, promover festivais, empresas ou organizações, expandir redes de contatos e desenvolver projetos.

Cannes Next

Programa dedicado a tecnologias inovadoras na produção de filmes.[5][22]

Animation Day

Parceria da Marché du Film com o Festival de Cinema de Animação de Annecy dedicado a produção de filmes animados.

Goes to Cannes

Programa que realça projetos em andamento que estão procurando por agentes de vendas, distribuidores ou seleções de festivais.

Frontières

Parceria da Marché du Film com a Fantasia International Film Festival, é um mercado e plataforma de rede de contatos focada especificamente em financiamento de filmes e co-produções entre a Europa e a America do Norte.[23][24][25]

Producers Network

Programa que convida mais de 500 produtores ao redor do mundo para uma série de encontros e eventos únicos especificamente feitos para criar oportunidades para construir redes de contatos e iniciar co-produções internacionais.

impACT

Iniciativa conjunta da Marché du Film com a Microsoft para promover ética, inclusão, representação e responsabilidade social na indústria cinematográfica.[26]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Fabien Ferasson de Quental (13 de maio de 2019). «Cannes 2019 : Les 60 ans du Marché International du Film». LesFrancais.press (em francês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  2. a b c Scott Roxborough (18 de maio de 2022). «Cannes Says Goodbye to Market Legend Jerome Paillard». The Hollywood Reporter (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  3. Louise Tutt (17 de maio de 2022). «My Screen Life: Marché du Film boss Jerome Paillard on flying planes, his favourite Cannes moment». Screen Daily (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  4. a b c Lecler 2016
  5. a b c «Marché du Film – Festival de Cannes». Immersify (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  6. «Marché du Film». Cinecittà (em italiano). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  7. «MARCHÉ DU FILM – CALL FOR PRODUCERS NETWORK AND IMPACT LAB APPLICATIONS». Filmco (em inglês). 9 de março de 2024. Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  8. «Ultimate tips for attending the Cannes Film Festival 2016». American Film Market (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  9. a b Melanie Goodfellow (15 de maio de 2019). «Jérome Paillard on the past, present and future of the Cannes Marché du Film». Screen Daily (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  10. a b c Emily Buder (17 de junho de 2016). «What is the Cannes Market, and Should You Bring Your Movie There?». No Film School (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  11. a b c «In Cannes, the real festival happens away from the red carpet». SWI swissinfo (em inglês). 1 de junho de 2022. Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  12. Graham Winfrey (6 de maio de 2016). «5 Ways the Cannes Market Will Impact Indie Film». IndieWire (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  13. Rachel Akbar (2 de maio de 2022). «Marché du Film, Festival de Cannes Case Study». Shift72 (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  14. Josh Wilson. «Cannes Marché Du Film To Launch Virtual Market». Forbes (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 24 de janeiro de 2024 
  15. Matt Donnelly (11 de julho de 2021). «With Cannes Market Half Over, Sellers Remain Optimistic While Deals Remain Scarce». Variety (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  16. Elsa Keslassy (11 de fevereiro de 2022). «Cannes Market Boss Jerome Paillard to Step Down After 2022 Edition». Variety (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  17. a b c d Rebecca Leffler (11 de abril de 2023). «10 things to know ahead of this year's Cannes Marche du Film». Screen Daily (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  18. Patrick Frater e Elsa Keslassy; Frater, Patrick; Keslassy, Elsa (13 de abril de 2022). «Cannes Film Market Unveils Full Ukraine in Focus Program with Selected Filmmakers, Producers (EXCLUSIVE)». Variety (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  19. «War films, protests and Russia boycotts: How Ukraine's plight shaped Cannes 2022». France 24 (em inglês). 25 de maio de 2022. Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  20. «Netflix strikes $11m domestic deal for Todd Haynes' Cannes title 'May December'». Screen Daily (em inglês). 23 de maio de 2023. Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  21. Mike Fleming Jr e Andreas Wiseman; Jr, Mike Fleming; Wiseman, Andreas (23 de maio de 2023). «Netflix Lands Todd Haynes' Buzzy Cannes Competition Film 'May December' In Splashy $11M North American Rights Deal». Deadline Hollywood (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  22. a b Charles Stéphane Roy (15 de junho de 2015). «Cannes' NEXT Pavilion: Do digital and cinema mix?». Canada Media Fund (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  23. John Hopewell (6 de abril de 2016). «Cannes Fest Inks Major Genre Industry Alliance With Fantasia's Frontières (EXCLUSIVE)». Variety (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  24. Vassilis Econoumou (6 de abril de 2023). «Frontières Platform announces its line-up of genre film projects for the Marché du Film». Cineuropa (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  25. Tom Grater (28 de abril de 2021). «Cannes Marche & Fantasia Select 13 Projects For Genre-Focused Industry Event Frontières». Deadline Hollywood (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 
  26. Vassilis Economou. «Cannes' Marché du Film launches impACT - Industry Report: Gender Equality, Diversity and Inclusion». Cineuropa (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2024 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]