Medicina baseada em evidências
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A medicina baseada em evidências (MBE) - denominada medicina baseada na evidência em Portugal - é um movimento médico que usa evidências científicas existentes e disponíveis no momento, com boa validade interna e externa, para a aplicação de seus resultados na prática clínica, se baseando no método científico, especialmente àquelas tradicionalmente estabelecidas que ainda não foram submetidas ao escrutínio sistemático científico. Evidências significam, aqui, provas científicas.[1]
A Medicina Baseada em Evidências adota técnicas oriundas da ciência, engenharia e estatística tais como: meta-revisões da literatura existente (também conhecidas como metanálises), análise de risco-benefício, experimentos clínicos aleatorizados e controlados, estudos naturalísticos populacionais, dentre outras. Ela luta para que todos os médicos façam "uso consciencioso, explícito e judicioso da melhor evidência atual" quando fazem decisões em seu trabalho de cuidado individual dos pacientes.[2]
História
[editar | editar código-fonte]Um dos criadores deste movimento foi o professor Archie Cochrane, pesquisador britânico autor do livro Effectiveness and Efficiency: Random Reflections on Health Services (1972). Sua luta levou à crescente aceitação popular do conceito da medicina baseada em evidências. Seu trabalho foi reconhecido e homenageado com a criação dos centros de pesquisa de medicina baseada em evidências – os Cochrane Centres – e de uma organização internacional chamada de Cochrane Collaboration.[3]
Procedimento
[editar | editar código-fonte]A prática da MBE implica não somente conhecimento e experiência clínicas, mas também “expertise” em procurar, encontrar, interpretar e aplicar os resultados de estudos científicos epidemiológicos aos problemas individuais de seus pacientes. Implica ainda saber como calcular e comunicar os riscos e os benefícios dos diferentes cursos de ação aos seus pacientes.
Críticas e justificativas
[editar | editar código-fonte]Os críticos da MBE dizem que muitos médicos já fazem isto em sua prática médica. Também dizem que evidências científicas são, frequentemente, deficientes em muitas áreas do conhecimento médico. Dizem que a falta de evidência de benefícios e que a falta de benefícios não são a mesma coisa e que quanto mais dados são reunidos e agregados, mais difícil se torna comparar os resultados de uma pesquisa específica com aqueles do paciente que está sendo tratado.
A despeito de todos esses problemas, a MBE tem tido cada vez mais sucesso em atribuir a afirmação ex cathedra de um profissional de saúde para a forma menos válida de evidência. Agora, os todos médicos experts devem, sempre que possível, procurar basear seus pronunciamentos em referências da literatura relevante e mais atual. Assim, a Medicina Baseada em Evidências contrapõe-se a chamada Medicina Baseada na Autoridade.[1]
Exemplo e como funciona
[editar | editar código-fonte]Por exemplo, se um médico oftalmologista diz que não há necessidade de se realizar a limpeza de um aparelho que entra em contato com a córnea de seu paciente antes de usá-lo em outro paciente, ele deverá fornecer uma evidência - uma prova científica - dessa afirmação. Assim, deverá procurar um estudo epidemiológico em que foi acompanhado um número suficiente de pacientes que tiveram o exame realizado após assepsia do aparelho, comparado com um número semelhante de outros pacientes que tiveram o exame realizado sem a referida assepsia, por um período de tempo adequado. Se tal estudo não existir, deverá montar tal estudo. Após o período de acompanhamento (de anos a décadas) deverá ser analisada a história de todos os pacientes quanto a quaisquer alterações de saúde.
Segundo a Medicina baseada em Evidências, é apenas após a aplicação de um método estatístico adequado aos resultados de incidências de doenças (oculares e não oculares) de ambos os grupos, que se poderá chegar à conclusão de que a realização da assepsia do aparelho é necessária ou não. Qualquer profissional - seja médico ou não - que realize qualquer afirmação sobre a saúde de uma pessoa sem embasá-la em estudos científicos está fazendo medicina baseada em autoridade e não medicina baseada em evidências científicas.[1]
MBE no Brasil
[editar | editar código-fonte]A MBE foi introduzida no Brasil pelo Prof. Dr. Álvaro Nagib Atallah (pai da MBE no Brasil), Professor Titular e Chefe da Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências da Universidade Federal de São Paulo, Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Medicina Interna e Terapêutica da UNIFESP,[4] diretor do Centro Cochrane do Brasil.
Em outubro de 1996 o Prof. Dr. Álvaro Nagib Atallah funda o Centro Cochrane do Brasil, um dos 14 centros da Colaboração Cochrane ao redor do mundo. O Centro Cochrane do Brasil é a principal organização não governamental e sem fins lucrativos a promover o ensino, pesquisa e extensão em MBE, prática baseada em evidências e saúde baseada em evidências do Brasil. Além disso, é parceira da Universidade Federal de São Paulo e Ministério da Saúde.
Durante a pandemia da covid-19 no Brasil, o oncologista Bruno Filardi e o cardiologista autor do livro Manual de Medicina Baseada em Evidências (2021), José Alencar, se destacaram nas redes sociais ao debater e defender a MBE na corrida das vacinas e supostos tratamentos contra a COVID-19.[5][6][7][8] A bióloga e divulgadora científica Natalia Pasternak, também se destacou ao defender o movimento na CPI da COVID-19.[9][10]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Ceticismo científico
- História da medicina
- Método científico
- Odontologia baseada em evidências
- Medicina alternativa
- Pseudociência
Referências
- ↑ a b c El Dib, Regina Paolucci (março de 2007). «Como praticar a medicina baseada em evidências». Jornal Vascular Brasileiro (1): 1–4. ISSN 1677-5449. doi:10.1590/s1677-54492007000100001. Consultado em 27 de setembro de 2021
- ↑ Sackett, David L.; Rosenberg, William M. C.; Gray, J. A. Muir; Haynes, R. Brian; Richardson, W. Scott (13 de janeiro de 1996). «Evidence based medicine: what it is and what it isn't». BMJ (em inglês) (7023): 71–72. ISSN 0959-8138. PMC 2349778. PMID 8555924. doi:10.1136/bmj.312.7023.71. Consultado em 27 de setembro de 2021
- ↑ Tanjong-Ghogomu, Elizabeth; Tugwell, Peter; Welch, Vivian (2009). «Evidence-based medicine and the Cochrane Collaboration». Bulletin of the NYU hospital for joint diseases (2): 198–205. ISSN 1936-9719. PMID 19583554. Consultado em 27 de setembro de 2021
- ↑ Programa de Pós-Graduação em Medicina Interna e Terapêutica da UNIFESP
- ↑ «Reduzir tempo entre doses da vacina da Pfizer é "grande equívoco", diz pesquisador». O Antagonista. 26 de julho de 2021. Consultado em 27 de setembro de 2021
- ↑ «Pesquisadores debatem riscos sanitários e éticos de liberar vacinas sem eficácia total comprovada». revista piauí. Consultado em 27 de setembro de 2021
- ↑ «Médico lança Manual de Medicina Baseada em Evidências e cita importância do uso de máscaras na pandemia». www.segs.com.br. Consultado em 27 de setembro de 2021
- ↑ ESHOJE (17 de julho de 2021). «Estudo que defendia uso de Ivermectina no tratamento da Covid é despublicado». ESHOJE. Consultado em 27 de setembro de 2021
- ↑ Teófilo', 'Sarah (11 de junho de 2021). «'Evidências anedóticas não são evidências científicas', diz Natalia Pasternak à CPI». Política. Consultado em 27 de setembro de 2021
- ↑ «'Sobram estudos mostrando que kit-covid não funciona', diz Natalia Pasternak à CPI». Senado Federal. Consultado em 27 de setembro de 2021
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Goldacre, Ben (2015). Ciência picareta. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. ISBN 9788520011898
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Página do Centro Cochrane do Brasil
- Rede social do Centro Cochrane do Brasil
- Página de vínculo entre o Centro Cochrane do Brasil com o Ministério da Saúde
- Página do do Grupo de Pesquisa em Saúde Baseada em Evidências
- Página do Grupo de Pesquisa em Prática Baseada em Evidências
- Resumos de revisões sistemáticas Cochrane em sete idiomas (incluindo o português).
- Cochrane Library (Gratuita para brasileiros)
- Curso on-line de Revisão Sistemática e Metanálise