Mimosa hostilis

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Mimosa hostilis arbusto jovem
Mimosa hostilis arbusto jovem
Mimosa hostilis planta jovem
Mimosa hostilis planta jovem
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Fabales
Família: Fabaceae
Gênero: Mimosa
Espécie: M. hostilis
Nome binomial
Mimosa hostilis
Benth.
Distribuição geográfica
Distribuição da Mimosa tenuiflora
Distribuição da Mimosa tenuiflora
Sinónimos

Mimosa tenuiflora, sin. Mimosa hostilis, também conhecida como jurema-preta,[2] Calumbi (Brasil), Tepezcohuite (México), carbonal, cabrera, jurema,binho de jurema, é uma árvore perene ou arbusto pertencente à família Fabaceae, da ordem das Fabales típica da caatinga, ocorrendo praticamente em quase toda região nordeste do Brasil (Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Bahia) e encontrada no México, El Salvador, Honduras[3] como também em Panamá, Colômbia e Venezuela.[4][5] É mais frequentemente encontrado em altitudes mais baixas, mas pode ser encontrado em altitudes de até 1000 m.[5]

Descrição[editar | editar código-fonte]

Os ramos semelhantes a samambaias têm folhas semelhantes a Mimosa, possui folhas pequenas alternas, compostas e bipinadas com vários pares de pinas opostas, crescendo até 5 cm de comprimento. Cada folha composta contém 15–33 pares de folíolos verdes brilhantes com 5–6 mm de comprimento. A árvore em si cresce até 8 m de altura[5] e pode atingir 4–5 m de altura em menos de 5 anos. As flores brancas e perfumadas ocorrem em pontas frouxamente cilíndricas com 4–8 cm de comprimento. No Hemisfério Sul ela floresce principalmente de setembro a janeiro, o fruto amadurece de fevereiro a abril. No Hemisfério Norte floresce e produz frutos de novembro a junho ou julho.[6] A fruta é quebradiça e tem em média 2,5–5 cm de comprimento. Cada vagem contém 4–6 sementes ovais, planas, marrom-claras e 3–4 mm de diâmetro. Existem cerca de 145 sementes/1g.[7] Possui espinhos e apresenta bastante resistência às secas com grande capacidade de rebrota durante todo o ano, bem adaptada para um clima seco.

Muda pequena de Mimosa tenuiflora com brotos e raízes

A casca da árvore varia de marrom escuro a cinza. Ele se divide longitudinalmente e o interior é marrom avermelhado.

A madeira da árvore é marrom avermelhada escura com centro amarelo. É muito denso, durável e forte, tendo uma densidade de cerca de 1,11 g/cm.[8]

Mimosa hostilis se dá muito bem após um incêndio florestal ou outro grande distúrbio ecológico.[9] É uma prolífica planta pioneira.[9] Deixa cair suas folhas no chão, formando continuamente uma fina camada de cobertura morta e eventualmente húmus. Junto com sua capacidade de fixar nitrogênio, a árvore condiciona o solo, preparando-o para o surgimento de outras espécies de plantas.

Segundo classificação apresentada no Erowid,[10] a jurema-preta corresponde à Mimosa hostilis. Para Menezes,[11] corresponde à Mimosa nigra ou Acacia jurema M., segundo ele semelhante à jurema-branca esgalhada e armada. Na descrição de Von Martius (1794–1868), no livro Flora brasiliensis (1840–1906),[12] a Mimosa hostilis pertence à familia Leguminosae (Fabaceae); subfamilia Mimoseae; tribo Eumimoseae (Mimosa L.), sect. Habbasia e ser. Leptostachyae.

Uso medicinal[editar | editar código-fonte]

Mimosa tenuiflora casca da raiz
Mimosa tenuiflora

Um chá feito de folhas e caule tem sido usado para tratar dores de dente.[13] Para casos de tosse e bronquite, um extrato aquoso (decocção) de Mimosa tenuiflora é bebido.[14] Um punhado de casca em um litro de água é usado sozinho ou em xarope.[14] A solução é bebida até que os sintomas desapareçam.[14]

Um estudo clínico preliminar descobriu que Mimosa tenuiflora é eficaz no tratamento de ulcerações venosas nas pernas.[15]

Extratos aquosos de Mimosa são amplamente utilizados para cicatrização de feridas[16] e queimaduras na América Central e do Sul. Consequentemente, os produtos da planta (geralmente agrupados sob o termo "Tepezcohuite") tornaram-se populares e como ingredientes em cosméticos comerciais.

Uso enteogênico[editar | editar código-fonte]

Mimosa tenuiflora' syn. Mimosa hostilis

Usada pelos índios xucurus-cariris em conjunto com a jurema-branca (Piptadenia stipulacea). É utilizada tradicionalmente para fins medicinais e religiosos. Sua casca é usada para fins medicinais e a casca de sua raiz é a parte da planta usada nas cerimônias religiosas pois possui grande quantidade de substâncias psicoativas da classe das triptaminas, como o DMT.[17]

Mimosa tenuiflora é um enteógeno usado pelo Culto da Jurema (O Culto da Jurema) no nordeste do Brasil.[18] Foi recentemente demonstrado que a casca da raiz mexicana seca de Mimosa tenuiflora tem um Conteúdo de dimetiltriptamina (DMT) de cerca de 1-1,7%.[5] A casca do caule tem cerca de 0,03% de DMT.[19]

As partes da árvore são tradicionalmente utilizadas no Nordeste do Brasil em uma psicoativa decocção também chamada de Jurema ou Yurema. Analogamente, o sacramento tradicional da Amazônia Ocidental Ayahuasca é produzido a partir de vinhas indígenas ayahuasca. Entretanto, até o momento não foram detectadas β-carbolinas como os alcalóides harmala em decocções de Mimosa tenuiflora, mas a Jurema é utilizada em combinação com diversas plantas.[20][21][22][23]

Isso apresenta desafios para a compreensão farmacológica de como o DMT da planta é tornado oralmente ativo como um enteógeno,porque a psicoatividade do DMT ingerido requer a presença de um inibidor da monoamina oxidase (IMAO), como uma β-carbolina. Se um IMAO não estiver presente na planta nem for adicionado à mistura, a enzima monoamina oxidase (MAO) metabolizará o DMT no intestino humano, impedindo que a molécula ativa entre no sangue e no cérebro.

A planta também é usada na fabricação clandestina de DMT cristalino. Nesta forma, é psicoativo por si só quando vaporizado e inalado.

O isolamento do composto químico yuremamina de Mimosa tenuiflora, conforme relatado em 2005, representa uma nova classe de fitoindoles,[24] o que pode explicar uma aparente atividade oral do DMT na Jurema .

Propridades químicas[editar | editar código-fonte]

A casca é conhecida por ser rica em tanino, saponinas, alcalóides, lipídios, Fitoesterol, glicosídeos, xilose, ramnose, arabinose, lupeol, metoxicalcona e kuculcanina.[25] Além disso, Mimosa hostilis contém labdane e [[diterpeno].

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Botanic Gardens Conservation International (BGCI) & IUCN SSC Global Tree Specialist Group. 2019. «Mimosa hostilis». Lista Vermelha da IUCN de espécies ameaçadas da UICN 2024 (em inglês). ISSN 2307-8235. Consultado em 4 junho 2023 
  2. FERREIRA, Karla Cecília de Sousa; et al. (2013). «Diversidade, estrutura e dispersão de espécies arbóreas e arbustivas em área de caatinga no município de Malta, PB.» (PDF). p. 44. Consultado em 10 de dezembro de 2020 
  3. ?. «Tepezcohuite». Consultado em 15 de agosto de 2017 
  4. «Mimosa hostilis - ILDIS LegumeWeb». www.ildis.org. Consultado em 15 de julho de 2015 
  5. a b c d Rätsch, Christian (1998). Enzyklopädie der psychoaktiven Pflanzen. Botanik, Ethnopharmakologie und Anwendungen. Aarau: AT-Verl. p. 15. ISBN 978-3-85502-570-1 
  6. Camargo-Ricalde SL (dezembro de 2000). «[Descrição, distribuição, anatomia, composição química e usos da Mimosa tenuiflora (Fabaceae-Mimosoideae) no México]». Rev. Biol. Tropa. (em espanhol). 48 (4): 939–54. PMID 11487939 
  7. «Mimosa hostilis (Jurema Preta) em Perfil». b-and-t-world-seeds.com. Consultado em 4 de maio de 2008. Arquivado do original em 30 de março de 2022 
  8. «Kew: Projeto Fuelwood do Nordeste do Brasil - atividades e progresso». kew.org. Consultado em 5 de maio de 2008. Arquivado do original em 21 de setembro de 2012 
  9. a b Ivonete Alves Bakke; Olaf Andreas Bakke; Alberício Pereira Andrade; Ignácio Hernan Salcedo (março de 2007). «Produto forrageiro e qualidade de um povoamento de jurema-preta denso, espinhoso e sem espinhos». Pesquisa Agropecuária Brasileira. 42 (3): 341 –347. ISSN 0100-204X. doi:10.1590/S0100-204X2007000300006Acessível livremente 
  10. Erowid Plants - Mimosa in: The vaults of Erowid
  11. Menezes, Inácio. Flora da Bahia. Br, Brasiliana, 1949
  12. Martius, Carl Friedrich Philipp von Flora brasiliensis on line
  13. Ulysses P de Albuquerque (2006). «Table 1: List of medicinal plants used in a rural community in the municipality of Alagoinha, Pernambuco, NE Brazil». Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine. Re-examining hypotheses concerning the use and knowledge of medicinal plants: a study in the Caatinga vegetation of NE Brazil. 2 (1): 30. PMC 1557484Acessível livremente. PMID 16872499. doi:10.1186/1746-4269-2-30 
  14. a b c de Fátima Agra M, de Freitas PF, Barbosa-Filho JM (2007). «Synopsis of the plants known as medicinal and poisonous in Northeast of Brazil» (PDF). Brazilian Journal of Pharmacognosy. 17 (1): 114–40. ISSN 0102-695X. doi:10.1590/S0102-695X2007000100021 
  15. Rivera-Arce E, Chávez-Soto MA, Herrera-Arellano A, et al. (fevereiro de 2007). «Therapeutic effectiveness of a Mimosa tenuiflora cortex extract in venous leg ulceration treatment». J Ethnopharmacol. 109 (3): 523–8. PMID 17088036. doi:10.1016/j.jep.2006.08.032 
  16. Kokane, Dnyaneshwar D.; More, Rahul Y.; Kale, Mandar B.; Nehete, Minakshi N.; Mehendale, Prachi C.; Gadgoli, Chhaya H. (julho de 2009). «Evaluation of wound healing activity of root of Mimosa pudica». Journal of Ethnopharmacology. 124 (2): 311–315. PMID 19397984. doi:10.1016/j.jep.2009.04.038 
  17. Leite, Marcelo (30 de agosto de 2022). «The Resurrection of Jurema (3)». Chacruna (em inglês). Consultado em 20 de dezembro de 2022 
  18. «Jurema Ritual in Northern Brazil». www.maps.org 
  19. Jonathan Ott (1998). «Pharmahuasca: Human pharmacology of oral DMT plus Harmine». Journal of Psychoactive Drugs. 31 (2): 171–7. PMID 10438001. doi:10.1080/02791072.1999.10471741. Consultado em 19 de agosto de 2013. Cópia arquivada em 24 de janeiro de 2012 
  20. da Mota, Clarice Novaes. Jurema's Children in the Forest of Spirits: Healing and ritual among two Brazilian indigenous groups. Intermediate Technology, 1997.
  21. MOTA, Clarice Novaes da; ALBUQUERQUE, Ulysses P.. "As muitas faces da Jurema: de espécie botânica à divindade afro-indígena." Recife: Bagaço (2002).
  22. GRUNEWALD, R. Sujeitos da jurema e o Resgate da Ciência do Índio. In: LABATE, B. & GOULART, S.(orgs). O uso Ritual das plantas de poder. São Paulo. Mercado das Letras, 2005.
  23. CAMARGO, Maria Thereza Lemos de Arruda . As plantas medicinais e o sagrado: A etnobotânica em uma revisão historiográfica da medicina popular no Brasil. 1ª ed. São Paulo: Ícone, 2014.
  24. Vepsäläinen JJ, Auriola S, Tukiainen M, Ropponen N, Callaway JC (novembro de 2005). «Isolation and characterization of yuremamine, a new phytoindole». Planta Med. 71 (11): 1053–7. PMID 16320208. doi:10.1055/s-2005-873131 
  25. Camargo-Ricalde SL. (dezembro de 2000), «Description, distribution, anatomy, chemical composition and uses of Mimosa tenuiflora (Fabaceae-Mimosoideae) in Mexico», Rev Biol Trop., 48 (4), pp. 939–54, PMID 11487939 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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