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Modernização conservadora: diferenças entre revisões

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Barrington Moore identifica três caminhos possíveis para chegar à modernidade, desde o mundo [[economia pré-industrial|pré-industrial]] (op.cit., p.&nbsp;13, 15): as vias [[socialista]] [[revolucionária]], [[democrática]] e [[autoritária]]. A primeira levou à construção de [[sociedade capitalista|sociedades capitalistas]] e [[democrática]]s na [[Inglaterra]], [[França]] e [[Estados Unidos]]. Já a segunda, também [[capitalista]], "''na ausência de um forte surto revolucionário, passou através de formas políticas [[reacionário|reacionárias]] até culminar com o [[fascismo]]''." O terceiro caminho foi o [[comunismo]] que se desenvolveu na [[Rússia]] e na [[China]].<ref>[http://www.bnb.gov.br/projwebren/exec/artigoRenPDF.aspx?cd_artigo_ren=1140 O Termo Modernização Conservadora: sua origem e utilização no Brasil], por Murilo José de Souza Pires e Pedro Ramos. REN - Revista Econômica do Nordeste. Volume 40 nº 3, julho - setembro de 2009.</ref>
Barrington Moore identifica três caminhos possíveis para chegar à modernidade, desde o mundo [[economia pré-industrial|pré-industrial]] (op.cit., p.&nbsp;13, 15): as vias [[socialista]] [[revolucionária]], [[democrática]] e [[autoritária]]. A primeira levou à construção de [[sociedade capitalista|sociedades capitalistas]] e [[democrática]]s na [[Inglaterra]], [[França]] e [[Estados Unidos]]. Já a segunda, também [[capitalista]], "''na ausência de um forte surto revolucionário, passou através de formas políticas [[reacionário|reacionárias]] até culminar com o [[fascismo]]''." O terceiro caminho foi o [[comunismo]] que se desenvolveu na [[Rússia]] e na [[China]].<ref>[http://www.bnb.gov.br/projwebren/exec/artigoRenPDF.aspx?cd_artigo_ren=1140 O Termo Modernização Conservadora: sua origem e utilização no Brasil], por Murilo José de Souza Pires e Pedro Ramos. REN - Revista Econômica do Nordeste. Volume 40 nº 3, julho - setembro de 2009.</ref>


A abordagem da modernização conservadora abriu uma interessante linha de interpretação dos processos de construção do [[Estado]] e da [[modernização]] capitalista, tanto nos países centrais, quanto na [[América Latina]]. No [[Brasil]], o livro de Moore teve grande impacto, especialmente porque a segunda das três vias para a modernidade parecia se encaixar perfeitamente na trajetória [[brasileira]].<ref>[http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52582002000300005 A dialética da modernização conservadora e a nova história do Brasil], por José Maurício Domingues. ''Dados'' vol. 45, nº3. Rio de Janeiro, 2002.</ref> O conceito foi utilizado para explicar o desenvolvimento econômico do país [[regime militar de 1964|pós-1964]],<ref>"Marxismo na Economia Brasileira", por [[Guido Mantega]]. ''In'' SZMRECSÁNYI, Tamás e SUZIGAN, Wilson (orgs.)[http://books.google.com/books?id=motcMsGB1EMC&printsec=frontcover&dq=Hist%C3%B3ria+econ%C3%B4mica+do+Brasil+contempor%C3%A2neo:+colet%C3%A2nea+de+textos+apresentados&hl=pt-BR&ei=nu-yTbDsGJL0tgfvx6DqDg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CC0Q6AEwAA#v=onepage&q&f=false História econômica do Brasil contemporâneo], p. 153. [[Edusp]]/[[Hucitec]], 2002</ref> entendido como um processo de modernização que não destruiu os elementos tradicionais, provenientes da antiga sociedade pré-industrial, e no qual os proprietários rurais permaneceram no centro do poder político (''ver: [[Milagre econômico brasileiro]]'').
#abordagem da modernização conservadora abriu uma interessante linha de interpretação dos processos de construção do [[Estado]] e da [[modernização]] capitalista, tanto nos países centrais, quanto na [[América Latina]]. No [[Brasil]], o livro de Moore teve grande impacto, especialmente porque a segunda das três vias para a modernidade parecia se encaixar perfeitamente na trajetória [[brasileira]].<ref>[http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52582002000300005 A dialética da modernização conservadora e a nova história do Brasil], por José Maurício Domingues. ''Dados'' vol. 45, nº3. Rio de Janeiro, 2002.</ref> O conceito foi utilizado para explicar o desenvolvimento econômico do país [[regime militar de 1964|pós-1964]],<ref>"Marxismo na Economia Brasileira", por [[Guido Mantega]]. ''In'' SZMRECSÁNYI, Tamás e SUZIGAN, Wilson (orgs.)[http://books.google.com/books?id=motcMsGB1EMC&printsec=frontcover&dq=Hist%C3%B3ria+econ%C3%B4mica+do+Brasil+contempor%C3%A2neo:+colet%C3%A2nea+de+textos+apresentados&hl=pt-BR&ei=nu-yTbDsGJL0tgfvx6DqDg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CC0Q6AEwAA#v=onepage&q&f=false História econômica do Brasil contemporâneo], p. 153. [[Edusp]]/[[Hucitec]], 2002</ref> entendido como um processo de modernização que não destruiu os elementos tradicionais, provenientes da antiga sociedade pré-industrial, e no qual os proprietários rurais permaneceram no centro do poder político (''ver: [[Milagre econômico brasileiro]]'').


Na [[agricultura]], a expressão clássico da modernização conservadora é a [[revolução verde]], ou segunda [[Revolução Agrícola]], em que a produção agrícola foi modernizada, por meio de [[Implemento agrícola|implementos agrícolas]], pacotes agroquímicos, [[Transgênese|sementes modificadas]], etc., mas a estrutura agrária foi mantida. Segundo [[Alberto Passos Guimarães]], a estratégia de modernização conservadora, "''diferentemente da [[reforma agrária]], tem por objetivo o crescimento da produção agropecuária mediante a [[Mudança tecnológica|renovação tecnológica]], sem que seja tocada ou grandemente alterada a estrutura agrária.''"
Na [[agricultura]], a expressão clássico da modernização conservadora é a [[revolução verde]], ou segunda [[Revolução Agrícola]], em que a produção agrícola foi modernizada, por meio de [[Implemento agrícola|implementos agrícolas]], pacotes agroquímicos, [[Transgênese|sementes modificadas]], etc., mas a estrutura agrária foi mantida. Segundo [[Alberto Passos Guimarães]], a estratégia de modernização conservadora, "''diferentemente da [[reforma agrária]], tem por objetivo o crescimento da produção agropecuária mediante a [[Mudança tecnológica|renovação tecnológica]], sem que seja tocada ou grandemente alterada a estrutura agrária.''"

Revisão das 23h16min de 1 de outubro de 2013

Modernização conservadora é um conceito elaborado por Barrington Moore Jr.[1] para retratar o caso de [desenvolvimento econômico|desenvolvimento]] capitalista na Alemanha e no Japão. A revolução burguesa, bem como o processo de industrialização desses países, fez-se através de um pacto político entre a burguesia industrial e a oligarquia rural - pacto orquestrado no interior do Estado -, sem rupturas violentas. Os Junkers alemães, no caso da Alemanha, conseguiram controlar a transição para a modernidade sem se contrapor a ela e sem deixar de estimulá-la, sobretudo no que se refere à industrialização, e sem tampouco perder o controle do campo - mantendo suas propriedades herdadas do período feudal.

Barrington Moore identifica três caminhos possíveis para chegar à modernidade, desde o mundo pré-industrial (op.cit., p. 13, 15): as vias socialista revolucionária, democrática e autoritária. A primeira levou à construção de sociedades capitalistas e democráticas na Inglaterra, França e Estados Unidos. Já a segunda, também capitalista, "na ausência de um forte surto revolucionário, passou através de formas políticas reacionárias até culminar com o fascismo." O terceiro caminho foi o comunismo que se desenvolveu na Rússia e na China.[2]

  1. abordagem da modernização conservadora abriu uma interessante linha de interpretação dos processos de construção do Estado e da modernização capitalista, tanto nos países centrais, quanto na América Latina. No Brasil, o livro de Moore teve grande impacto, especialmente porque a segunda das três vias para a modernidade parecia se encaixar perfeitamente na trajetória brasileira.[3] O conceito foi utilizado para explicar o desenvolvimento econômico do país pós-1964,[4] entendido como um processo de modernização que não destruiu os elementos tradicionais, provenientes da antiga sociedade pré-industrial, e no qual os proprietários rurais permaneceram no centro do poder político (ver: Milagre econômico brasileiro).

Na agricultura, a expressão clássico da modernização conservadora é a revolução verde, ou segunda Revolução Agrícola, em que a produção agrícola foi modernizada, por meio de implementos agrícolas, pacotes agroquímicos, sementes modificadas, etc., mas a estrutura agrária foi mantida. Segundo Alberto Passos Guimarães, a estratégia de modernização conservadora, "diferentemente da reforma agrária, tem por objetivo o crescimento da produção agropecuária mediante a renovação tecnológica, sem que seja tocada ou grandemente alterada a estrutura agrária."

A formulação sobre a modernização conservadora apresenta pontos de contato com o conceito de revolução passiva, elaborado por Gramsci nos Cadernos do Cárcere, quando o autor analisa a continuidade na passagem do Risorgimento ao fascismo, sendo ambos considerados como "revoluções passivas". Gramsci também aplicou esse mesmo conceito à URSS, após o fracasso da NEP, que redundou no stalinismo. O autor percebe esse momento como um refluxo da URSS a uma fase econômico-corporativa incapaz de gerar uma nova hegemonia, suscitando apenas uma revolução passiva específica do Oriente.[5]

Referências

  1. MOORE JR, B. As origens sociais da ditadura e da democracia: senhores e camponeses na construção do mundo moderno. São Paulo: Martins Fontes, 1975. Versão original (em inglês): MOORE JR., Barrington. (1966), Social Origins of Dictatorship and Democracy: Lord and Peasant in the Making of the Modern World. Hardmondsworth, Penguin.
  2. O Termo Modernização Conservadora: sua origem e utilização no Brasil, por Murilo José de Souza Pires e Pedro Ramos. REN - Revista Econômica do Nordeste. Volume 40 nº 3, julho - setembro de 2009.
  3. A dialética da modernização conservadora e a nova história do Brasil, por José Maurício Domingues. Dados vol. 45, nº3. Rio de Janeiro, 2002.
  4. "Marxismo na Economia Brasileira", por Guido Mantega. In SZMRECSÁNYI, Tamás e SUZIGAN, Wilson (orgs.)História econômica do Brasil contemporâneo, p. 153. Edusp/Hucitec, 2002
  5. AGGIO, Alberto (org.) Gramsci - a vitalidade de um pensamento Parte III - Gramsci, a América Latina e o Brasil.

Ligações externas