Nicetas, o Patrício
São Nicetas, o Patrício | |
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Nascimento | 761/762 Paflagônia |
Morte | 6 de outubro de 836 Catésia |
Veneração por | Igreja Ortodoxa |
Festa litúrgica | 13 de outubro ou 3 de abril |
Portal dos Santos |
São Nicetas, o Patrício (em grego: Νικήτας Πατρίκιος; romaniz.: Niketas Patrikios; 761/762 - 6 de outubro de 836), geralmente identificado com Nicetas Monômaco (em grego: Νικήτας Μονομάχος), foi um oficial eunuco e general bizantino da Paflagônia ativo na virada do século IX, que mais tarde na vida se tornou um monge e um oponente fervoroso da iconoclastia. Ele é honrado como santo e um Confessor da Fé pela Igreja Ortodoxa. Seu dia de festa é em 13 de outubro ou 3 de abril.
Vida
[editar | editar código-fonte]Infância e carreira
[editar | editar código-fonte]Nicetas nasceu na Paflagônia em 761-762, e seus pais provavelmente chamavam-se Gregório e Ana. A tradição posterior afirma que ele era descendente da imperatriz Teodora, esposa de Teófilo (r. 829–842) Isso é provavelmente impossível, mas algum tipo de relação não pode ser excluída. Outra tradição relata que ele também foi um parente da imperatriz Irene (r. 797–802).[1][2][3] Segundo sua hagiografia, foi castrado por seus pais na infância, recebeu uma boa educação e foi enviado para Constantinopla aos 17 anos (ca. 778), onde entrou em serviço da corte imperial.[4] Segundo a mesma fonte, Nicetas distinguiu-se entre os eunucos cortesãos e chamou a atenção da imperatriz-mãe Irene, que cuidou dos assuntos imperiais como regente após 780. Irene promoveu-o devido sua habilidade e seus laços de parentesco. Em 787, aparentemente Nicetas representou a imperatriz Irene no Segundo Concílio de Niceia, porém, dado a juventude de Nicetas é provável ser uma invenção de seu hagiógrafo,[2][3][5]
Logo depois, ele foi promovido para a posição de patrício, e foi enviado à Sicília como governador (estratego) do tema. Por conta dessa informação, ele é normalmente identificado com o patrício e estratego da Sicília Nicetas, que em 797 enviou uma embaixada para Carlos Magno, bem como com o patrício Nicetas Monômaco, que levou a mão de Santa Eufêmia para Constantinopla ca. 796 e construiu uma igreja na Sicília para abrigar as relíquias sagradas. O mandato de Niceta como governador da Sicília é, assim, colocado ca. 796-797, e terminou antes de 799, quando um certo Miguel foi governador do Tema da Sicília.[3][6][7] Se "Monômaco" represente um nome familiar em vez de uma alcunha (significa "combatente único"), Nicetas seria o primeiro membro atestado da família Monômaco, que ascenderia no século XI e produziria membros que ocupariam cargos, bem como um imperador, Constantino IX Monômaco (r. 1042–1055).[8]
Quase nada se sabe das atividades de Nicetas na década após a deposição de Irene em 802.[9] Segundo sua hagiografia, ele queria retirar-se para um mosteiro, mas foi proibido de fazê-lo pelo então imperador Nicéforo I, o Logóteta (r. 802–811) e seu filho Estaurácio.[5] Contudo, ele foi tentativamente identificado com algumas pessoas de mesmo nome e posição mencionadas nas crônicas: assim, pode ser o patrício Nicetas, que era dono da casa onde o Mosteiro de Gastria foi construído,[10][11] ou o patrício Nicetas que foi um dos fundadores da Igreja de Santo Estêvão em Trigleia, Bitínia.[12] Ele é também frequentemente equacionado com o almirante Nicetas que em 807-808 liderou a frota bizantina para recuperar a Dalmácia e Veneza,[13][14] que por sua vez é às vezes identificado com o Nicetas que era logóteta geral em 808-811.[15][16]
Vida monástica
[editar | editar código-fonte]Com a ascensão de Miguel I Rangabe (r. 811–813) para o trono, Nicetas foi ao menos capaz de receber tonsura (final de 811). De fato, o novo imperador encorajou-o nessa empreitada, serviu como seu patrocinador, e deu-lhe o Convento de Crisonice, próximo da Porta Dourada, onde Nicetas aposentou-se.[5] Nicetas permaneceu no mosteiro como seu hegúmeno (abade) até final de 815, quando a segunda fase da iconoclastia começou sob auspícios de Leão V, o Armênio (r. 813–820). Recusando-se a reconhecer as políticas iconoclastas do imperador, Nicetas deixou a capital e dirigiu-se para um de seus subúrbios. Ele foi acusado em certo momento de abrigar um ícone, mas sofreu punimento algum exceto a confiscação da imagem e seu confinamento para prisão domiciliar.[17]
Nada se sabe de sua vida durante o reinado de Miguel II, o Amoriano (r. 820–829),[18] mas no começo do reinado do filho e sucessor de Miguel, Teófilo, a perseguição dos iconófilos intensificou, e monges em particular tornaram-se os alvos do zelo iconoclasta do imperador. Apesar de sua provável conexão familiar com a esposa de Teófilo, Nicetas foi forçado a aceitar a comunhão com o patriarca iconoclasta, Antônio I Cassímata, ou então exilar-se. Niceta escolheu a última, e com um punhado de discípulos e outros monges partiu para a Bitínia. Ele gastou os anos seguintes movendo-de de localidade para localidade em torno da costa do mar de Mármara para evitar assédio dos oficiais iconoclastas, antes de finalmente estabelecer-se nas vilas de Zulupas e então Catésia, onde morreu em 8 de outubro de 836.[19][20] Segundo as fontes, Nicetas era especialista em "curar homens das atormentados por desejos sexuais" (K. Ringrose).[21]
Fontes hagiográficas
[editar | editar código-fonte]As principais fontes sobre Nicetas são sua hagiografia e os sinaxários A hagiografia sobreviveu em um manuscrito do século XII, agora situado no Biblioteca Nacional da Grécia em Atenas. Foi formalmente atribuído à Nicetas de Medício, mas foi escrito por um monge anônimo do Mosteiro de Asomaton, fundado por Nicetas em Catésia, em algum momento logo após a morte de Nicetas. O relato foi baseado em notas do sobrinho homônimo e discípulo de Nicetas, que sucedeu-o como abade do mosteiro.[22][23]
Referências
- ↑ Papachryssanthou 1968, p. 313–315.
- ↑ a b Lilie 1996, p. 7, 127.
- ↑ a b c Winkelmann 1998, p. 419–420.
- ↑ Ringrose 2003, p. 73.
- ↑ a b c Papachryssanthou 1968, p. 313, 315.
- ↑ Papachryssanthou 1968, p. 313, 316–317.
- ↑ Lilie 1996, p. 37, 130.
- ↑ Kazhdan 1991, p. 1398.
- ↑ Lilie 1996, p. 37.
- ↑ Winkelmann 1998, p. 420, 424.
- ↑ Treadgold 1988, p. 271.
- ↑ Winkelmann 1998, p. 420, 425.
- ↑ Winkelmann 1998, p. 431.
- ↑ Treadgold 1988, p. 144, 147.
- ↑ Treadgold 1988, p. 169.
- ↑ Winkelmann 1998, p. 431–432.
- ↑ Papachryssanthou 1968, p. 313–314, 317–319.
- ↑ Papachryssanthou 1968, p. 314 (Nota 29).
- ↑ Papachryssanthou 1968, p. 314, 319–323.
- ↑ Treadgold 1988, p. 277–280.
- ↑ Ringrose 2003, p. 86, 124.
- ↑ Papachryssanthou 1968, p. 309–313.
- ↑ Winkelmann 1998, p. 434.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8
- Lilie, Ralph-Johannes (1996). Byzanz unter Eirene und Konstantin VI. (780–802) (em alemão). Francoforte: Peter Lang. ISBN 3-631-30582-6
- Papachryssanthou, Denise (1968). «Travaux et Mémoires» (em francês). 3: 309–351
- Ringrose, Kathryn M. (2003). The Perfect Servant: Eunuchs and the Social Construction of Gender in Byzantium (em inglês). Chicago, Illinois: The University of Chicago Press. ISBN 978-0-226-72015-9
- Treadgold, Warren T. (1988). The Byzantine Revival, 780–842. Stanford, Califórnia: Stanford University Press. ISBN 0-8047-1896-2
- Winkelmann, Friedhelm; Ralph-Johannes Lilie; Claudia Ludwig, Rochow Pratsch; Zielke Ilse (1998). Prosopographie der mittelbyzantinischen Zeit: I. Abteilung (641–867), 3. Band: Leon (#4271) – Placentius (#6265). Berlim e Nova Iorque: Brill. ISBN 978-3-11-016673-6