Reino do Bié
Reino do Bié | |||||||||
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Os cinco grandes reinos ovimbundos (e demais reinos tradicionais da região) na segunda metade do século XVIII
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Região | África Central | ||||||||
Capital | |||||||||
Países atuais | Angola | ||||||||
Línguas oficiais | Umbundo | ||||||||
Religião | Animismo | ||||||||
Soma Inene | |||||||||
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Período histórico | |||||||||
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O Reino do Bié, também chamado de Reino Bieno ou Bwié, foi um Estado nacional africano, localizado no Planalto Central de Angola, que teve como capitais as localidades de Vilé (atual Ecovongo) e Belmonte (atual Cuíto).
Seu território compreendia boa parte das províncias de Bié e Huambo, além de porções do Moxico, sendo uma das quatro grandes entidades nacionais dos ovimbundos.
Sua formação como entidade nacional se deu por volta de 1750, sob a égide do Soma Inene (Rei) Viye, sendo que só foi finalmente subjugado pelo Império Colonial Português em 1903.
Histórico
[editar | editar código-fonte]O primeiro Soma Inene (rei) bieno foi um homem chamado Viye, guerreiro e caçador da etnia nhaneca-humbe, do sul de Angola. Ele iniciou a migração para o atual Planalto do Bié e, durante o percurso, contraiu matrimônio com uma mulher do clã songa, do sudoeste angolano, chamada Cahanda. Ao chegar a região, liderou os ovimbundos orientais, que ainda estavam sob a tutela do reino Bailundo, formando o reino Bieno nas cercanias de 1750, estabelecendo ombala (cidade-capital) inicialmente na localidade de Vilé (atual Ecovongo), que atualmente é uma vila nas proximidades da cidade de Cuíto.[1]
O comércio de escravos e de produtos agrícolas da região despertou interesse português que fundou junto a ombala-capital um posto comercial e administrativo, em 1750.[2] Atritos com as lideranças tradicionais fizeram com que os lusitanos fundassem, cerca de vinte anos depois, um novo vilarejo administrativo e entreposto de comércio às margens do rio Cunhinga, que recebeu o nome de Belmonte (atual cidade do Cuíto).[3]
Às vésperas da Primeira Guerra Luso-Ovimbundo (ou Guerra de 1774-1778), o reino Bieno era o mais forte e extenso dos reinos dos ovimbundos, sendo liderado pelo rei Ndjilahulu I, desde 1771. Também neste período o antigo monarca, Eyambi I, havia morrido sem deixar herdeiro aparante, que levou a ocorrer uma guerra civil no Bié entre a facção monarca governante, ao redor da figura do rei Ndjilahulu I, e o seu irmão pretendente, Kangombe I. Portugal começou a interferir nos assuntos sucessórios dos bienos desde a sua expulsão para Belmonte, em 1771, apoiando a facção pretendente.[4]
Quando explodiu a Primeira Guerra Luso-Ovimbundo, os então reinos rivais de Bailundo e Bié somaram forças com o pequeno reino de Quingolo contra Portugal.[5] A primeira ação portuguesa foi justamente desmantelar a produção agrícola biena atacando as aldeias e as ombalas fronteiriças, entre 1774 e 1775, sufocando o reino economicamente. Neste ínterim, mesmo com as dificuldades financeiras, os bienos tomam o posto português de Belmonte, e Ndjilahulu I ali declara sua nova ombala-capital. Percebendo a dificuldade de empreender duas frentes contra bailundos e bienos, Portugal formou um contingente de mercenários e os colocou a serviço da facção de Kangombe I. Assim, entre 1776 e 1778, a guerra no território do reino tomou características de guerrilha. Paralelamente, em 1778, os bailundos caíram ante os portugueses, restando somente os bienos (o reino Quingolo havia se rendido no início da guerra). Assim, em 1778 tropas lusitanas cercaram Belmonte e a tomaram, empossando Kangombe I como rei, tornando o reino do Bié um Estado fantoche.[4][1]
Entre o século XVIII e o final do século XIX o reino do Bié permaneceu como zona de influência portuguesa, até a proclamação de Ndunduma I como rei (1888). Ele resolveu dar fim a ingerência portuguesa nos assuntos da nação, iniciando as hostilidades em 1890. Eles expulsou os feitores e oficiais portugueses, bem como removeu os colonos e comerciantes lusitanos das terras do Bié. No mesmo ano os portugueses enviaram uma expedição punitiva que derrubou o rei Ndunduma I, obrigando os monarcas locais a ser referendados por Luanda, enquanto acelerava a colonização com indivíduos portugueses e bôeres, e reforçava a guarnição da área. Mesmo assim, porções do reino permaneceram em estado de guerrilha até 1903/1904, ao final da Segunda Guerra Luso-Ovimbundo, quando cessou totalmente a resistência biena, huambina e bailunda.[6][7]
Monarcas bienos
[editar | editar código-fonte]A relação de monarcas do Reino do Bié enquanto entidade nacional é a seguinte:[1]
- Reino independente - 1750-1778
- Vyie (1750-1755);
- Ulundu I (1755-17??);
- Eyambi I (17??-1771);
- Njilahulu I (1771-1778);
- Reino fantoche português - 1778-1890
- Kangombe I (1778-1795);
- Kawewe I (1795-1???);
- Morna, Vasovava II (1???-1833);
- Mbandua I (1833-1839);
- Kakembembe I (1839-1842);
- Liambula I (1842-1847);
- Kayangula I (1847-1850);
- Mukinda I (1850-1857);
- Nguvenge I (1857-1859);
- Konya Cileno (1860-1883);
- Njamba Ya Mina I (1883-1886);
- Cyioka I (1886-1888);
- Ndunduma I (1888-1890).
- Reino independente - 1890
- Ndunduma I (1890).
Referências
- ↑ John Marcum, The Angolan Revolution vol I (1950-1962): The Anatomy of an Explosion. p. 102n.
- ↑ Laurindo, Martins Kamulengo Siluqui. Abordagem do Léxico Toponímico Municipal do Cuito da Província do Bié: Caso de Bairros, Comunas, Embalas e Aldeias. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 2015.
- ↑ a b Sungo, Marino Leopoldo Manuel. O reino do Mbalundu: identidade e soberania política no contexto do estado nacional angolano atual. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Florianópolis, 2015.
- ↑ Ceita, Constança do Nascimento da Rosa Ferreira de. Silva Porto na África Central – VIYE / ANGOLA: história social e transcultural de um sertanejo (1839-1890). Tese de Doutoramento. Universidade Nova de Lisboa, Departamento de Estudos Portugueses, 2015.
- ↑ Douglas Wheeler. «The Bailundo Revolt of 1902» (PDF). Redeemer's University. Consultado em 9 maio de 2015
- ↑ Stearns, Peter N.; William Leonard Langer (2001). The Encyclopedia of World History: Ancient, Medieval, and Modern. [S.l.: s.n.] 595 páginas