Salmonella
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Salmonella sp. |
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Classificação científica | |||||||||||||||
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Espécies | |||||||||||||||
Salmonella bongori |
Salmonella é um gênero de bactérias, vulgarmente chamadas salmonelas[1] , pertencente à família Enterobacteriaceae, sendo conhecida há mais de um século. Tem, em seu nome, uma referência ao cientista estadunidense chamado Daniel Elmer Salmon, que associou a doença à bactéria pela primeira vez. As doenças causadas por salmonela e transmitidas por alimentos são consideradas um dos problemas mais alarmantes de Saúde Pública em todo mundo.
São bactérias gram-negativas, em forma de bacilo, na sua maioria móveis (com flagelos peritríquios), não esporuladas, não capsuladas, sendo que a maioria não fermenta a lactose[2]. As salmonelas são um gênero extremamente heterogêneo, composto por três espécies, Salmonella subterranea, Salmonella bongori e Salmonella enterica, esta última possuindo, atualmente, 2610 sorotipos [3]. A classificação em serogrupos depende do antigénio O, enquanto a classificação em serótipos depende do antigénio H.
O trato intestinal do homem e dos animais é o principal reservatório natural deste patógeno, sendo os alimentos de origem aviaria importantes vias de transmissão.
Dentre as de maior importância para a saúde humana, destacam-se a Salmonella typhi (Salmonella enterica enterica sorovar Typhi), que causa infeções sistêmicas e febre tifoide – doença endêmica em muitos países em desenvolvimento – e a Salmonella Typhimurium (Salmonella enterica enterica sorovar Typhimurium)[2], um dos agentes causadores das gastrenterites.
Índice
Factores de virulência[editar | editar código-fonte]
- Endotoxina, LPS - o lipídeo A do lipopolissacarídeo libertado quando da lise bacteriana é responsável pela sintomatologia característica;
- Catalase, superóxido dismutase e gene ATR - em particular o gene ATR (gene de resposta de tolerância ao ácido) protege a bactéria da ação corrosiva do ácido, quer gástrico, quer fagossómico;
- Sobrevivência no interior de macrófagos;
- Sistema de secreção do tipo III, utilizado para injetar fatores de virulência no interior de células eucarióticas. Ao segregarem essas proteínas efetoras (Sips ou Ssps) injetadas pelo SPI 1 no interior das células M presentes nas placas de Peyer do íleo. O SPI 2 é responsável pela doença sistémica subsequente.
- Antígenos: somático - antígeno O, flagelar (proteico) - antígeno H; capsular (polissacarídeo) - antígeno Vi
Patogênese[editar | editar código-fonte]
A salmonela, após ser ingerida pelo hospedeiro, passa pelo estômago, se multiplicam, aderindo-se e penetrando nas células epiteliais da região ileocecal. Migram para a lâmina própria levando à resposta inflamatória mediada por liberação de prostaglandinas, que estimulam o AMP cíclico produzindo secreção ativa de fluidos, que resulta em diarreia, ligando-se por meio de fímbrias específicas da espécie às células M. A bactéria introduz Sips ou SSps que levam a um rearranjo do citoesqueleto da célula M. Deste modo, a bactéria é envolvida por um fagossoma, induzindo a morte da célula hospedeira, e se dissemina para os tecidos adjacentes, explicando assim, a infeção do trato gastrintestinal.
Epidemiologia[editar | editar código-fonte]
Salmonella spp. pode colonizar todos os animais, enquanto que na Salmonella Typhi, o humano é o único reservatório. A salmonelose febre tifoide é endémica nos países subdesenvolvidos. Embora tenham sido encontradas resistências via plasmídeos ao cloranfenicol, ampicilina, a Salmonella Typhi tem baixa dose infeciosa (ao contrário de outros serótipos de Salmonella).
Boa parte dos répteis são parasitados por salmonelas, e o contato com suas fezes ou vestígios fecais pode ocasionar a contaminação[4]. Portanto, é importante cuidado higiênico pessoal e limpeza do ambiente no manuseio de répteis de estimação[5], como jabutis, tartarugas de aquário, iguanas e serpentes.
Factores de risco[editar | editar código-fonte]
- Idade
- Imunossupressão
- AIDS
- Leucemia
- Anemia
- Menor acidez gástrica.
- Febre alta
Doença e Sintomas[editar | editar código-fonte]
Patologias como gastroenterite, seticemia, febre entérica causam os sintomas da salmonelose.
- Gastrenterite: salmonelose mais frequente, sua sintomatologia surge 6 a 48 horas após ingestão de alimentos ou água contaminados; sintomas mais comuns são: diarreia não sanguinolenta, náuseas, dores abdominais tipo cólica e cefaleias. É autolimitada, durando de 2 dias a 1 semana.
- Seticemia: todas espécies de Salmonella podem causar bacteriémia, mas em particular os sorovares, Salmonella choleraesuis, Salmonella paratyphi e Salmonella typhi; como grupos de risco, são crianças, idosos, gestantes e soropositivos;
- Febre entérica: vulgarmente conhecida por febre tifoide (diferente do tifo), infeção sistémica febril caraterizada por febre gradual constante, 10 a 14 dias após a infeção. Resulta especialmente de Salmonella typhi, boa produtora de antígeno Vi. Agentes bacterianos: Salmonella typhi, Salmonella paratyphi.
- Sintomas incluem cólicas abdominais, náuseas, vômitos, diarreia, calafrios, febre e cefaleia.
A colonização crônica por Salmonella typhi por um período superior a 1 ano após a doença sintomática pode ser assintomática, sendo a vesícula biliar o reservatório bacteriano preferencial.
Transmissão[editar | editar código-fonte]
- Ingestão de alimentos contaminados.
- Ingestão de água contaminada
- Disseminação fecal-oral;
- Contacto com pessoas doentes ou portadores assintomáticos.
Prevenção[editar | editar código-fonte]
- Lavar frequentemente as mãos;
- Evitar alimentos crus ou mal cozidos (ex.: ovos, frutas, peixes, palmitos);
- Correta pasteurização do leite e cocção de outros produtos como azeitonas, palmitos, etc.
- Controle de pragas urbanas, especialmente ratos, baratas e formigas, uma vez que frequentam esgotos e podem veicular mecanicamente sorotipos de Salmonella para os alimentos.
Vacinação[editar | editar código-fonte]
Apenas em populações com alto risco. A vacina é baseada no antígeno do polissacarídeo VIi.
Diagnóstico laboratorial[editar | editar código-fonte]
Para identificação do micro-organismo, realizam-se hemoculturas, que na primeira semana da doença, dão resultado positivo. Podem também fazer-se coproculturas, mas só após a terceira semana da doença dão resultado positivo. Outros métodos incluem a reação de Widal, que fazem a pesquisa de anticorpos anti-O, anti-H e anti-Vi da Salmonella. Esta reação não é específica: se o título anti-O for elevado, é sugestivo de Salmonella typhi, mas não específico, porque existem outras salmonelas que partilham esse antígeno. Se o título anti-H for elevado, podem existir reações cruzadas, o que leva a difícil interpretação. O título anti-Vi elevado, ocorre apenas 3 a 4 semanas da doença, sendo de pouca utilidade no diagnóstico precoce. O hemograma, em 26% dos pacientes, revela leucopenia e neutropenia. O isolamento do micro-organismo é o diagnóstico definitivo.
Tratamento[editar | editar código-fonte]
Como antibiótico de primeira linha, atualmente é usada a ciprofloxacina, mas para gestantes e crianças, é usada a ceftriaxona. No passado, o antibiótico de primeira linha era o cloranfenicol, mas devido seus efeitos adversos (anemias aplásticas e trombocitopenia irreversíveis), foi excluso da terapêutica.
Referências
- ↑ Stefhanie Piovezan (22 de março de 2017). «Pesquisa aponta presença de salmonela mais invasiva e mais resistente no Brasil». G1 São Carlos e Araraquara. Consultado em 22 de março de 2017. Cópia arquivada em 22 de março de 2017
- ↑ a b *Salmonella typhimurium fermentadora de lactose
- ↑ «Vacina(s) contra Salmonella». Universidade Federal de Minas Gerais [ligação inativa]
- ↑ Zalmir Cubas (tradução). «Saúde animal - Répteis domésticos e o risco de salmonelose». Consultado em 23 de abril de 2010
- ↑ André Grespan (2001). «Salmonelose Humana causada por Répteis». Anclivepa-SP. Consultado em 23 de abril de 2010
Bibliografia sobre nomenclatura de Salmonella[editar | editar código-fonte]
- Salmonella nomenclature. http://www.bacterio.cict.fr/salmonellanom.html. Acessado em 4 de agosto de 2009. ((em inglês))
- Global biodiversity information facility. Classification of genus: Salmonella. http://data.gbif.org/species/browse/taxon/13238740. Acessado em 4 de agosto de 2009. ((em inglês))
- NCBI: Taxonomy browser (Salmonella). http://www.ncbi.nlm.nih.gov/Taxonomy/Browser/wwwtax.cgi?mode=Undef&id=590&lvl=3&keep=1&srchmode=1&unlock. Acessado em 4 de agosto de 2009. ((em inglês))