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Vestir um cocar para fins estéticos é um exemplo de apropriação cultural.

A apropriação cultural ocorre quando uma cultura adota elementos específicos de outra. Estes podem ser ideias, símbolos, artefatos, imagens, sons, objetos, formas ou aspectos comportamentais[1] que, uma vez removidos dos seus contextos culturais originais, podem assumir significados muito divergentes.

Visão geral[editar | editar código-fonte]

O termo "apropriação cultural" tem, muitas vezes, uma conotação negativa. Os chamados "conservadores culturais" costumam aplicá-lo quando se trata de uma apropriação de bens simbólicos de uma comunidade ou grupo étnico minoritário.

O teórico cultural e racial George Lipsitz[2] usa o termo seminal "antiessencialismo estratégico", definido como o uso calculado de uma forma cultural, fora do seu próprio país, para definir a si ou a seu grupo.

Antiessencialismo estratégico pode ser visto tanto em culturas minoritárias quanto em majoritárias; e não se limita à apropriação do outro. No entanto, como argumenta Lipsitz, quando a cultura da maioria tenta estrategicamente se "antiessencializar", apropriando-se de uma cultura minoritária, deve tomar cuidado para reconhecer as circunstâncias e a importância dessas formas culturais específicas, de modo a não perpetuar relações desiguais de poder.

A apropriação cultural é entendida de forma diferente em culturas distintas. Em países como os Estados Unidos, onde a dinâmica racial foi causa de segmentação cultural, exemplos de comunicação intercultural podem ser entendidos como formas de apropriação cultural. Já em outros, essa comunicação pode ser parte do fenômeno de caldeirão de raças.

A apropriação cultural também pode ser vista como resistência à sociedade dominante. Isto ocorre quando membros de um grupo marginalizado se apropriam e alteram aspectos da cultura dominante para afirmar a sua agenda e resistência. Esta atitude é exemplificada na novela Crick Crack, Monkey, de Merle Hodge, quando se mostra os colonizados se apropriando da cultura dos colonizadores. Outro exemplo histórico é a cultura Mod, no Reino Unido, na década de 1960, quando a classe trabalhadora jovem se apropriou do vestuário da classe média-alta, exagerando-o.

Argumentos a favor[editar | editar código-fonte]

Um artigo de Justin Britt-Gibson para o Washington Post olhou para a apropriação da cultura jamaicana por italianos e de outras culturas por afro-americanos, como um sinal de progresso:

Multidões de italianos com dreadlocks estavam fumando juntos, bebendo cerveja, dançando ao som de ritmos de Bob Marley, Steel Pulse e outros ícones do reggae. O mais impressionante foi o quão confortável esses italianos pareciam estar nos seus sapatos apropriados, adotando uma cultura estrangeira que de alguma forma tornava-se deles. A cena reforçou minha sensação de quão longe nós vivemos desde os dias em que pessoas vestidas, conversavam e celebravam só o que surgiu a partir de seu próprio fundo. Pela primeira vez na minha vida, eu estava plenamente consciente do conceito espiritual que somos todos simplesmente um. Essa sensação não me deixou. Em todos os lugares que eu olho, eu vejo os jovens — como os meus dois irmãos mais novos, um garoto de 11 anos obcecado por animes e um de 21 anos — adotando estilos, passatempos e atitudes fora da cultura em que eles foram criados. No mês passado, em uma barbearia em Los Angeles, eu estava esperando para obter a minha marca registrada com corte afro, quando notei um irmão e uns adolescentes atrasados ​​sentados, de olhos fechados, como o barbeiro cortando seu cabelo em um frohawk, penteado afro-americano, adaptação do moicano punk. Questionado por que ele escolheu o visual, o cara, sem levantar os olhos, deu de ombros, "algo diferente". Imediatamente, eu entendi. Minutos mais tarde, o seu corte "diferente" se tornou o meu novo visual.[3]

Michael Lázaro, um nativo americano, no seu ensaio "Anti-racist measures take culture away from sports", publicado pelo Observatório Lowell, escreve que o uso de um símbolo étnico por um time de futebol é um ato progressista, liberal, que pode ser usado por uma cultura para abraçar a história em vez de escondê-la.[4]

Identidade em apropriação cultural[editar | editar código-fonte]

Para a discussão sobre apropriação cultural, é necessário antes entender que este debate, naturalmente, se vincula às questões do conceito de representação de identidade, e não somente em poder ofender algum indivíduo pelo uso deliberado de determinada peça ou objeto. Essa abordagem, além de errônea, a vista da complexidade do tema é, rasa, e por vezes até perigosa, pois desvincular os reais princípios dessa discussão, tipificando apropriação em apenas uma ordem de etiqueta, reduzindo-a em uma problematização sobre “aquilo que se pode ou não pode usar” traz não só divergência e desinformação, como enfraquece toda a luta nela envolvida.


Logo, identidade neste contexto é tudo aquilo que compõe os traços de expressão de um indivíduo, isso, através de elementos como adereços, roupas, penteados, expressões artísticas, religiosas e corporais, etc. Estes diversos elementos relacionam-se a um conjunto de tradições intelectuais, portanto, são expressões da cultura[1].


Pensar tanto em expressões de cultura em sociedades multiculturais, assim como em apropriação, deve ser feito de maneira apropriada, pensando principalmente através da contextualização. Neste caso, portanto, em sociedades como a brasileira contemporânea - ainda classista[2] e proeminentemente racista[3] -, algumas culturas são mais privilegiadas que outras, no sentido de que, historicamente, alguns grupos sofrem mais que outros na história da estrutura desta sociedade e, assim, algumas culturas se sobrepuseram a outras, foram e são mais aceitas.


Logo, o conceito de identidade associa-se às problematizações de apropriação justamente devido ao reducionismo, onde determinados elementos da identidade de um grupo marginalizado quando usados por algum indivíduo de um grupo privilegiado, ou são mais aceitos ou vistos de forma estereotipada.


A exemplo, as problematizações sobre identidade e apropriação podem sim dizer respeito a utilização de elementos de uma cultura quando usados por indivíduos imbuídos de privilégios[4], assim como da exotificação, onde determinada expressão ou objeto ganha nuances de fetiches ou, por vezes, sendo tratado como exótico e consequentemente supervalorizado nas mãos de outros que não correspondem a originais dessa cultura[5].


Logo, a transfiguração de elementos de uma identidade quando utilizados de maneira incorreta ou desrespeitosa aos indivíduos que são originários dessa cultura é desrespeito, assim como uma desvalorização, e é na deturpação destes elementos que compõe a identidade de determinado indivíduo que surge a apropriação em si.


Esse processo de desvincular das causas ou utilizar-se de determinado aspecto cultural, quando denunciado, muitas vezes é descrito meramente como homenagem ou simbolismo, no entanto, o respeito pode ser expresso de outras formas, essas que não reduzem ou tipificam, assim como explica o antropólogo Rodney Willian (2019) a respeito de grupos socialmente marginalizados na sociedade brasileira e, muitas vezes, vítimas dessas ações de apropriação:


O corpo de um negro ou de um índio está impregnado de cultura e memória, traz as marcas de dor e sofrimento que a colonização impingiu. Essas peles não são fantasias. Portanto, apropriação cultural não é homenagem, é violência simbólica exercida de forma sutil ou explícita. (WILLIAN, 25, 2019)


Esse reducionismo ou tipificação de identidades pode muitas vezes ser entendido não apenas como homenagem, mas sim como uma naturalização da banalização ou deslegitimação das lutas relacionadas à identidades culturais, pois é sabido que em uma sociedade classista de oprimidos e opressores, já que além dos elementos, ideias que problematizam e tipificam agressões a minorias são vistas como ações de vitimismo, corroborando na insistência sistêmica de dizer que tais ações de opressão vêm somente do olhar preconceituoso, justamente, trazendo o decréscimo das pautas daqueles que são vítima.


A questão de identidade, portanto, é intrínseca a de apropriação desde seu conceito até as formas de debate, justamente devido a este debate envolver e acontecer junto a um processo de deturpação de culturas. Não faltam exemplos destes fenômenos, sejam em situações do cotidiano - na sua naturalização -, ou de instituições - na sua institucionalização -, assim, denunciando que assim como diversos preconceitos sociais, ambos são processos sistematizados na sociedade.


[1] Viana, Nildo. Introdução a sociologia, 2006.

[2]https://www2.ufjf.br/noticias/2020/03/23/descaso-com-a-condicao-social-e-evidencia-da-sociedade-de-classe-e-racista/

[3] https://economia.uol.com.br/colunas/2021/07/23/racismo-instrumentos-analise-aprofundada.htm

[4] https://www.metropoles.com/vida-e-estilo/comportamento/apropriacao-cultural-inflama-o-debate-da-questao-racial-na-moda?amp

[5] https://ffw.uol.com.br/blog/moda/estilista-francesa-isabel-marant-e-acusada-de-plagio/

Exemplos[editar | editar código-fonte]

Uma espécie comum de apropriação cultural é a adoção da iconografia de outra cultura. Os exemplos incluem as equipes de esportes usando nomes tribais nativos americanos, o uso de joias com símbolos religiosos como a cruz, sem qualquer crença, apropriando-se da história de outra cultura, como tatuagens da iconografia tribal polinésia, caracteres chineses, bandas celtas usadas ​​por pessoas que não têm interesse ou a compreensão do seu significado cultural de origem. Quando esses artefatos são considerados como objetos que simplesmente são vistos como "legais" ou quando são produzidos em massa, baratos para o consumidor kitsch, as pessoas que veneram e desejam preservar as suas tradições culturais indígenas talvez possam se sentir ofendidas. Na Austrália, artistas aborígenes têm discutido uma "marca de autenticidade" para garantir que os consumidores estão cientes de obras de arte que afirmam falso significado aborígene.[5][6] O movimento de tal medida ganhou força após a condenação, em 1999, de John O'Loughlin por venda fraudulenta de obras descritas como aborígenes mas pintadas por artistas não indígenas.[7]

Historicamente, alguns dos mais debatidos casos de apropriação cultural ocorreram em locais onde o intercâmbio cultural é mais elevado, como ao longo das rotas comerciais no sudoeste da Ásia e sudeste da Europa. Por exemplo, alguns estudiosos do Império Otomano e do Antigo Egito argumentam que tradições arquitetônicas egípcias e otomanas há muito têm sido falsamente reivindicadas e elogiadas como persas ou árabes[8]. Por outro lado, quando a banda Pankrti de classe média eslovena adotou o estilo musical punk londrino enraizado no desemprego e outras questões específicas do Reino Unido, ele foi visto na Iugoslávia como a disseminação da cultura britânica e sua adaptação ao ambiente local.

Leprechauns aparecem em muitos contos mitológicos celtas, e a redução dessa figura mitológica a um conjunto de estereótipos e clichês pode ser percebido como ofensivo.[4] Um termo comum entre os irlandeses para alguém que se apropria ou deturpa a cultura irlandesa é Plastic Paddy.[9]

Em alguns casos, uma cultura geralmente vista como alvo de apropriação cultural pode tornar-se um agente de apropriação, particularmente após a colonização e um extenso período de reorganização da cultura sob o sistema do Estado-nação. Por exemplo, o governo de Gana foi acusado de apropriação cultural na adoção do Dia da Emancipação do Caribe e sua comercialização para turistas afro-americanos como um "festival africano".[10] Um ponto bindi, quando usado como um item decorativo por uma mulher não hindu, pode ser considerado apropriação cultural,[11] assim como o uso de hena em mehndi como uma decoração fora das cerimônias tradicionais.

Na Bolívia, os bolivianos acusam o Peru de se apropriar de danças de origem boliviana para apresentá-las como danças peruanas. Tal foi a indignação boliviana que, quando o Peru propôs um festival à UNESCO, entrou com uma demanda formal, até que finalmente chegaram a um acordo em que o Peru reconheceu perante a UNESCO que, no referido festival, danças de origem boliviana são dançadas e acompanhadas de música boliviana.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Arnd Schneider (2003) On ‘appropriation’. A critical reappraisal of the concept and its application in global art practices, published in Social Anthropology (2003), 11:2:215-229 Cambridge University Press
  2. Gail., Dines,; 1944-, Humez, Jean McMahon, (2011). Gender, race, and class in media : a critical reader 3rd ed. Thousand Oaks, Calif.: SAGE Publications. ISBN 9781412974417. OCLC 648922100 
  3. Britt-Gibson, Justin. "What's Wrong With This Picture? Race Isn't a Factor When My Generation Chooses Friends." The Washington Post. March 18, 2007. Retrieved January 3, 2010.
  4. a b Lazarus, Michael. "Anti-racist measures take culture away from sports." The Lowell. October 20, 2006. Retrieved January 3, 2010.
  5. James, Marianne. "Art Crime." Arquivado em 11 de janeiro de 2016, no Wayback Machine. Trends and Issues in Crime and Criminal Justice, No. 170. Australian Institute of Criminology. October 2000. Retrieved January 3, 2010.
  6. "The Aboriginal Arts 'fake' controversy." European Network for Indigenous Australian Rights. July 29, 2000. Retrieved January 3, 2010.
  7. "Aboriginal art under fraud threat." BBC News. November 28, 2003. Retrieved January 3, 2010.
  8. Ousterhout, Robert. "Ethnic Identity and Cultural Appropriation in Early Ottoman Architecture." Arquivado em 13 de junho de 2006, no Wayback Machine. Muqarnas Volume XII: An Annual on Islamic Art and Architecture. Leiden: E.J. Brill. 1995. Retrieved January 3, 2010.
  9. Arrowsmith, Aidan (1 de abril de 2000). «Plastic Paddy: Negotiating Identity in Second-generation 'Irish-English' Writing». Routledge. Irish Studies Review. 8 (1): 35–43. doi:10.1080/09670880050005093 
  10. Hasty, J. "Rites of Passage, Routes of Redemption: Emancipation Tourism and the Wealth of Culture", Africa Today, Volume 49, Number 3, Fall 2002, pp. 47-76. Indiana University Press. PDF available on subscription site muse.jhu.edu.
  11. Tripathi, Salil. "Hindus and Kubrick." The New Statesman. 20 September 1999. Retrieved 23 November 2006.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]