Usuário(a):Letícia Cescon da Rosa/Testes

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Fernando de Azevedo[editar | editar código-fonte]

Fernando de Azevedo (São Gonçalo do Sapucaí, 2 de abril de 1894São Paulo, 18 de setembro de 1974) foi um educador, sociólogo, crítico, ensaísta, jornalista e administrador brasileiro, além de graduado em Direito pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Figura central na História da Educação brasileira, era defensor de uma educação pública, gratuita e laica em todos os seus níveis, considerando-a um dever do Estado e um direito do cidadão.[1]

Ocupou cargos de grande relevância, como o de diretor geral da Instrução Pública do Distrito Federal e da Instrução Pública de São Paulo, e esteve diretamente envolvido em ações determinantes para a educação nacional: foi, por exemplo, o autor da reforma educacional do Distrito Federal de 1928 (enquanto ocupava o cargo de diretor geral mencionado anteriormente); participou da elaboração do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932) e do Manifesto dos Educadores: Mais Uma Vez Convocados (1959); e exerceu papel fundamental no processo de criação da Universidade de São Paulo, entre diversas outras atuações.

Foi o responsável, também, por escrever dezenas de livros de relevância imensurável, dos quais é possível mencionar dois grandes destaques: Princípios da Sociologia (1935) e A Cultura Brasileira (1943), livro este escrito a título de introdução ao recenseamento que estava sendo feito no Rio de Janeiro sobre o Brasil como um todo; essa obra foi publicada em vários países e não somente tornou-se uma grande referência para os estrangeiros conhecerem o Brasil como também passou a constituir uma obra memória sobre a educação nacional;[2] além disso, é considerada “uma das escritas fundantes no campo da História da Educação brasileira”.[3]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Família, formação e primeiras vivências como educador[editar | editar código-fonte]

Fernando de Azevedo nasceu em 2 de abril de 1894, em São Gonçalo do Sapucaí, filho de Francisco Eugênio de Azevedo e de Sara Lemos de Almeida Azevedo. Em 1903, aos oito anos de idade, ingressou no Colégio Anchieta, internato masculino dirigido por padres jesuítas, do qual saiu posteriormente para ingressar no noviciado mineiro da Companhia de Jesus, em Campanha, onde realizou diversos estudos, entre eles Literatura Latina e Grega, Filosofia, Análise Matemática e Poética.[4] Na Companhia, teve suas primeiras experiências como educador ao substituir os professores da instituição quando estes, por algum motivo, não podiam reger suas cadeiras.[5] Foi de tal forma que percebeu ser o magistério a sua vocação, renunciando, assim, no ano de 1914, ao desejo inicial de uma vida religiosa. Nesse mesmo ano, partiu para Rio de Janeiro para iniciar seus estudos na Faculdade de Direito, ficando na cidade, porém, por pouco tempo, logo se mudando para Belo Horizonte.[6]

Na capital mineira, teve experiências importantes para sua trajetória como educador: no Ginásio do Estado, ocupou o cargo de professor substituto de Latim e de Psicologia; além disso, tendo se interessado pelas aulas de Educação Física, elaborou e enviou um projeto de lei à Câmara Estadual dos Deputados visando alterar o ensino em Belo Horizonte ao propor a obrigatoriedade da Educação Física em todos os níveis de ensino das escolas oficiais e particulares, projeto este que foi aprovado.[6] De acordo com Siracusa, essa teria sido a "gênese da sua vocação como educador e reformador da educação”.[4] Foi também nesse período que Azevedo escreveu Da Educação Física: o que ela é, o que tem sido e o que deveria ser (título da segunda edição de A poesia do corpo),[6] entre outras vivências que marcaram sua estadia em Belo Horizonte.

Em 1917, em um breve retorno ao Rio de Janeiro, entrou em contato com as obras de Émile Durkheim, que despertaram suas preocupações sociais e impulsionaram seus estudos de Sociologia. Nesse mesmo ano, partiu para São Paulo, onde estudou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, na qual formou-se em 1918, e onde se casou e se estabeleceu com Elisa Assunção do Amarante Cruz, a quem conheceu em 1916 e com quem teve, posteriormente, três filhas e um filho: Lívia Azevedo de Oliveira, Lollia de Azevedo Marx, Fábio Amarante Cruz de Azevedo e Clélia de Azevedo Brandão.[6]

Trajetória na educação, na administração pública e no jornalismo[editar | editar código-fonte]

Em São Paulo, sua carreira docente teve início no Ginásio Anglo-Brasileiro (atual Colégio São Luís), no qual foi professor da cadeira de latim. Em seguida, no ano de 1920, iniciou sua carreira na Escola Normal de São Paulo junto de Manuel B. Lourenço Filho, a quem conheceu nesse mesmo ano.[7] Na Escola Normal paulista, teve contato com outros intelectuais de grande importância, como Antônio de Sampaio Dória, Alberto Levy e Renato Jardim;[8] lá, foi nomeado, no ano seguinte, professor de Latim e de Literatura, e, em junho 1925, professor da 3ª cadeira de Latim. Em 1926, deu passos importantes para a criação da Universidade de São Paulo ao iniciar sua campanha de fundação.[7]

No que diz respeito à sua trajetória jornalística, esta teve início em 1917, quando começou a prestar serviços ao Correio Paulistano, lá permanecendo até 1922. Em seguida, começou a atuar n’O Estado de S. Paulo, local em que realizou, dentre outros trabalhos relevantes enquanto redator e crítico literário, dois importantes inquéritos, a pedido de Júlio de Mesquita Filho: um sobre a Arquitetura Colonial Brasileira e outro sobre a Instrução Pública (nacional, mas sobretudo a de São Paulo).[7]

Em 1927, assumiu a Diretoria Geral da Instrução Pública do Distrito Federal, permanecendo no cargo até 1930. Durante esse período, empreendeu uma grande reforma educacional no ensino carioca, cujo projeto foi sancionado e aprovado pelo prefeito do Rio de Janeiro em 23 de janeiro de 1928 através do decreto nº 3.281. Após terminar sua posse na Diretoria Geral da Instrução Pública do Distrito Federal, Fernando de Azevedo retornou à capital paulista, retomando seus trabalhos como professor e jornalista.

Em 1931, tornou-se professor da disciplina de Sociologia na Escola Normal de São Paulo à convite de Lourenço Filho e, enquanto dirigente da Companhia Editora Nacional, fundou a Biblioteca Pedagógica Brasileira (BPB), dirigindo-a até 1946 e sendo responsável pelas importantes séries que a compunham, entre elas a “Iniciação Científica” e a “Coleção Brasiliana”, ambas lançadas nesse mesmo ano[9]. No ano seguinte, teve participação crucial na elaboração do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, tendo sido seu signatário e redator.

Em janeiro de 1933, assumiu a Diretoria Geral da Instrução Pública de São Paulo, cargo que ocupou até julho do mesmo ano.[6] Ainda em 1933, tornou-se diretor do Instituto de Educação de São Paulo, local onde também foi professor de Sociologia Educacional entre os anos de 1938 e 1941. Sobre o Instituto de Educação, é relevante mencionar que ele foi anexado à Universidade de São Paulo quando esta foi criada, em 1934 – fundação da qual Fernando de Azevedo foi peça fundamental.

Na USP, Azevedo desempenhou diversas funções; foi, por exemplo, professor catedrático do Departamento de Sociologia e Antropologia. Concomitantemente à sua atuação na USP, Fernando de Azevedo assumiu outros compromissos: foi um dos fundadores e presidente  da Sociedade Brasileira de Sociologia (1935); três anos depois, em 1938, foi presidente da Associação Brasileira de Educação, “uma sociedade civil, de adesão voluntária, que reunia professores e interessados em educação, fossem jornalistas, políticos, escritores ou funcionários públicos” (XAVIER; CUNHA, 2001, p. 390- 391). No ano de 1947, foi nomeado secretário da Educação e Saúde do Estado de São Paulo (cargo do qual pediu exoneração alguns meses depois). Em 1950, durante o Congresso Mundial de Sociologia, em Zurich, foi eleito vice-presidente da International Association Sociological (ISA), assumindo a direção da associação junto de Morris Ginsberg e Georges Davy, outros dois vice-presidentes, três anos depois, após a morte de Louis Werthi, então presidente da ISA. Em 1955, Anísio Teixeira, diretor do INEP à época, nomeou-o diretor do Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo (CRPE-SP). Azevedo foi também o responsável por inaugurar o Centro Cultural Brasil-Israel de São Paulo, do qual foi o primeiro presidente.

Em 1959, Fernando de Azevedo participou da elaboração de um segundo manifesto da educação de grande importância, sendo, novamente, signatário e redator: trata-se do Manifesto ao povo e ao governo: mais uma vez convocados, publicado no ano de 1959

No ano de 1961, tornou-se secretário municipal da Educação e Cultura em São Paulo e foi eleito para a Academia Paulista de Letras (mas não tomou posse, pois, de acordo com Castro (1994), os acadêmicos tiveram ciência de que Azevedo defendia, em seu discurso de posse, a participação de escritoras na Academia). Também nesse ano, exonerou-se do cargo de secretário municipal da Educação em Saúde. Seis anos depois, em 1967, foi eleito para ocupar a cadeira 14 da Academia Brasileira de Letras (ABL), da qual tomou posse em setembro do ano seguinte. Em 1969, foi eleito à cadeira no 23 da Academia Paulista de Letras.

Além de todos os cargos e funções ocupados e desempenhados ao longo de sua vida, Fernando de Azevedo também participou e organizou diversas conferências, congressos, congregações e outros tantos eventos, como o I Congresso Brasileiro de Sociologia, em 1954, e o I Congresso Estadual de Educação, em 1956, por exemplo.

Fernando de Azevedo faleceu aos oitenta anos de idade, em São Paulo, em setembro de 1974.

O inquérito sobre a Instrução Pública (1926)[editar | editar código-fonte]

Tal inquérito foi presidido por Fernando de Azevedo em 1926, posteriormente ao inquérito de 1914, comandado por Júlio de Mesquita Filho, e teve como objetivo, segundo Campos, analisar a educação pública. Assim, o inquérito de 1926 foi

Dividido em três partes, sendo investigados os aspectos gerais do ensino no Estado: o ensino primário, secundário, profissionalizante e superior. Como no Inquérito anterior, os participantes foram submetidos a um questionário, porém esta investigação era composta por dezesseis perguntas que tinham por objetivo traçar a situação do ensino e fornecer subsídios para uma intervenção precisa e eficaz. Ao todo foram 34 depoimentos colhidos de junho a dezembro de 1926 (CAMPOS, 2018, p. 54).[10]

O Inquérito de 1926 foi de grande relevância não apenas para os rumos posteriores da educação brasileira, mas para a própria trajetória de Fernando de Azevedo. Em seu livro A Educação na Encruzilhada, ele afirma que

Se a literatura ganhou um crítico literário a menos, lucrou certamente a educação um trabalhador a mais. Desde 1926 até hoje, sem interrupção de um dia, toda a minha atenção se fixou e se concentrou sobre os problemas da educação nacional, que me acostumei a examinar, não simplesmente nos seus aspectos técnicos, e do ângulo de observação que fornece o trabalho especializado ou pedagógico, mas de todos os pontos de vista de que pode ser apreciada a questão entre todas fundamental da espiritual, cultural e técnica de uma nação (AZEVEDO, 1958, p. 26 apud SOARES, 1978, p.10).[11] Nesse Inquérito já se encontram, nitidamente definidas, as grandes diretrizes que orientaram daí por diante meu espírito, quer no exame dos problemas e de suas soluções, quer nas reformas escolares de que tive a iniciativa e a responsabilidade, no Rio e em São Paulo (AZEVEDO, 1958, p. 27 apud SOARES, 1978, p.10).[11]

A reforma Fernando de Azevedo (reforma educacional de 1928 no Distrito Federal)[editar | editar código-fonte]

Em janeiro de 1927, Fernando de Azevedo tomou posse do cargo de diretor geral da Instrução Pública do Distrito Federal, após ter sido indicado ao então prefeito da capital federal, Antônio Prado Júnior, por Washington Luís, presidente da República à época, por Alarico Silveira, secretário do presidente, e por Renato Jardim, ex-diretor geral da Instrução Pública do Distrito Federal. Azevedo permaneceu no cargo até o ano de 1930.[12]

Durante esse período, empreendeu uma grande reforma educacional no ensino carioca, cujo projeto foi sancionado e aprovado pelo prefeito do Rio de Janeiro em 23 de janeiro de 1928 através do decreto nº 3.281. Tal reforma tinha como alguns de seus objetivos a obrigatoriedade e a gratuidade do ensino, além da instituição do ensino técnico profissional, do ensino primário e do ensino normal; visava também a  implantação de regime de concurso para todos os cargos, a construção de escolas primárias e profissionais, a descentralização de serviços e a reorganização da Escola Normal, remodelando o quadro de professores e reorganizando os cursos com vistas à predominância de matérias básicas à aplicação de novas técnicas de ensino[13][12].

Para realizá-la, uma das primeiras medidas tomadas por Fernando de Azevedo foi a realização de um recenseamento na capital federal a partir da divisão do público escolar em aspectos de sexo, idade e distritos escolares. O objetivo dessa atitude era obter um reconhecimento da realidade escolar carioca, visando, a partir disso, aproveitar, aprimorar e renovar, com a sua reforma, o que já existia no ensino do Distrito Federal, e não simplesmente descartar tudo o que já havia. Além disso, foi realizada uma série de conferências e congressos por todo o país com o objetivo de difundir e consolidar os ideais e métodos da escola nova; são exemplos o Congresso de Instrução Primária de Minas Gerais e a I Conferência de Ensino Primário de Santa Catarina. No Distrito Federal, ocorreram as Conferências de Educação entre fins de abril e de maio de 1928.

Desde a apresentação do projeto, da realização do recenseamento e até o fim de seu mandato, Fernando de Azevedo sofreu duras críticas. Isso, porém, não lhe impediu de realizar sua obra que, de acordo com Paschoal Lemme (2005), foi a mais importante e a mais profunda do ciclo de reformas educacionais que estavam ocorrendo no Brasil desde 1920.[13]

Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932)[editar | editar código-fonte]

O ano de 1932 foi um marco na vida de Fernando de Azevedo – e também na educação brasileira. Data desse ano um acontecimento de expressiva importância e repercussão: a publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, que visava discutir as bases da educação brasileira, pensando em uma política educacional de âmbito nacional. O papel de Azevedo na elaboração desse documento foi fundamental, pois além de ter sido signatário (junto de mais 25 intelectuais, entre eles Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Heitor Lyra e Cecília Meireles), foi também seu redator[14][15].

Tal manifesto, de acordo com Lemme (2005)[14], “tornou-se, indiscutivelmente, um documento histórico, não  somente  pelo  seu  caráter  abrangente [...] na definição de uma política nacional de educação e ensino, mas também porque foi único no gênero em toda a história da educação no Brasil”, e, como bem sintetizado pelo site do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), propunha

O ensino obrigatório e gratuito até a idade de 18 anos, custeado pelos estados da Federação e coordenado pelo Ministério da Educação. Defendia também a criação de fundos escolares ou fundos especiais constituídos de uma percentagem sobre as rendas arrecadadas pela União, os estados e os municípios. Sugeria que fossem criadas no país universidades encarregadas de fazer e transmitir ciência, e, finalmente, reivindicava a “reconstrução do sistema educacional em bases que [pudessem] contribuir para a interpenetração das classes sociais e a formação de uma sociedade humana mais justa desde o jardim-da-infância à universidade (CPDOC - Fundação Getúlio Vargas, s.d.).[15]

Universidade de São Paulo[editar | editar código-fonte]

No que diz respeito à Universidade de São Paulo, Azevedo fez mais do que atuar em sua criação. Na verdade, o educador mostrou-se muito ativo, tendo ocupado, desde a criação até o ano de 1961 diversos cargos, tanto administrativos quanto de docência: ocupou o cargo de professor catedrático do Departamento de Sociologia e Antropologia; foi docente na disciplina de Sociologia II (essa denominação se deve à extinção da cadeira de Sociologia Educacional, que ocasionou, além da disciplina “Sociologia II”, a “Sociologia I”) entre 1943 e 1963 (tendo Florestan Fernandes como um de seus assistentes entre 1944 e 1954), após Roger Bastide deixar o cargo; e foi o diretor do Departamento de Educação.

Cabe dizer que tanto o Departamento de Sociologia e Antropologia quanto o de Educação pertenciam à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), da qual Fernando de Azevedo foi diretor no ano de 1941 e na qual foi professor catedrático de Sociologia até o ano de 1961. Além de todos esses cargos aqui citados, o educador foi ainda membro do Conselho Universitário por mais de 12 anos, desde a fundação da Universidade.

Também no ano de 1961, tornou-se Professor Emérito da universidade.

Manifesto dos Educadores: Mais Uma Vez Convocados (1959)[editar | editar código-fonte]

Fernando de Azevedo, além de redigir o Manifesto dos Pioneiros da Educação em1932, foi também o redator e primeiro signatário do Manifesto ao povo e ao governo: mais uma vez convocados, publicado no ano de 1959, que visava combater “o anteprojeto apresentado por Carlos Lacerda que modificava a Lei de Diretrizes e Bases em votação na Câmara dos Deputados [...] Assinado por 180 educadores, cientistas e escritores, teve larga repercussão não só no Brasil como também em todos os países da América Latina” (CASTRO, 1994, p. 227).

Fundo Fernando de Azevedo - Instituto de Estudos Brasileiros (IEB)[editar | editar código-fonte]

O Fundo Fernando de Azevedo foi doado ao Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo pelo próprio titular em março do ano de 1970. Trata-se de um vasto acervo tanto em questão de quantidade documental (cerca de 16.000 documentos) quanto de diversidade material, contendo correspondências – manuscritas e datilografadas –, recortes de jornais e fotografias, o que “possibilita a reconstrução das atividades profissionais exercidas pelo titular como educador, sociólogo, administrador, jornalista e escritor”.

Essa característica do corpus documental do Fundo Fernando de Azevedo de ser volumoso e diverso foi um dos motivos para a escolha desse conjunto documental para a elaboração do presente projeto, pois, devido a isso, tem-se uma rica fonte de documentos, importante para o estudo das redes de relações. Além disso, somam-se às razões para tal escolha o fato de o Fundo Fernando de Azevedo já ter sido estudado anteriormente através do projeto Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes (FAPESP), coordenado por Diana Vidal; por Azevedo nunca ter saído do Brasil, o que fez com que muitas de suas relações fossem constituídas através de um meio escrito; e pelo caráter transdisciplinar do projeto, que une as disciplinas de Humanidades Digitais e História da Educação.

O Fundo Fernando de Azevedo pode ser consultado presencialmente pela equipe do projeto a partir de janeiro de 2022, com a volta das atividades presenciais, que permitiu aos bolsistas a frequentação do Arquivo do IEB-USP, seguindo sempre os protocolos de segurança, o que permitiu o contato direto com esses documentos. Ao manuseá-los, ao lê-los atentamente e ao analisá-los, realizando pesquisas constantes de informações relevantes para o contexto social e histórico ao qual estava inserido Azevedo (como referências onomásticas e acontecimentos da época), tornou-se possível um grande envolvimento com a época em questão, com os acontecimentos e com os próprios correspondentes. Tornou-se possível também compreender minúcias dos fatos e acompanhar detalhadamente os processos intrínsecos a eles. Um exemplo são as correspondências de Manuel Bergström Lourenço Filho enviadas a Fernando de Azevedo no ano de 1927. Nelas, Lourenço Filho comenta constantemente sobre o projeto da reforma do ensino do Distrito Federal que Fernando de Azevedo estava empreendendo à época, indicando com grande precisão de datas o que estava acontecendo. Em uma das cartas datadas do dia 22 de setembro de 1927, por exemplo, Lourenço Filho deixa transparecer em que situação estava o projeto especificamente nesse período, como pode ser visto abaixo:

22 set. 927

Meu caro Fernando,

li hoje, com o maior agrado, que a reforma está em marcha batida para approvação, sanção e execução.

Em outra correspondência, sem data (mas provavelmente em novembro de 1927, estimativa feita analisando a posição da carta em relação às outras, que estão datadas), Lourenço Filho menciona a oposição do jornal “O Globo” ao projeto e dá um panorama sobre as opiniões gerais:

Tenho lido sempre as opiniões sobre o projeto, mesmo as que “O Globo” tem publicado, em opposição. Fernando, meu caro, V. está vitorioso como ninguem! Da balança de todas as opiniões, de todos os comentarios, de todas as criticas, resulta uma só conclusão que ninguem de bom senso poderá recusar: a reforma que você propõe é um trabalho serio, honesto, de quem sabe o que faz [...]

É interessante mencionar que, como os exemplos acima deixam transparecer, através da leitura de correspondências é possível não apenas compreender e acompanhar os acontecimentos da época, mas também as opiniões, reflexões e sentimentos dos correspondentes, e até mesmo fatos que envolvem a esfera pessoal de suas vidas – um fator igualmente importante.

Com a leitura das correspondências, portanto, é possível analisar nos detalhes o que estava vivenciando Azevedo e, o mais importante, reconstituir sua rede de relações, compreender quais instituições estavam envolvidas e quais leituras estavam sendo feitas pelo educador, tarefa que requer pesquisas e atenção, sobretudo nos casos em que tais indicações são feitas de maneira indireta pelos correspondentes.

Prêmios, títulos e homenagens[editar | editar código-fonte]

  • Homenagem da Associação Brasileira de Educação (ABE) em decorrência do 10º aniversário da Reforma da Instrução Pública do Distrito Federal (1938)
  • Homenagem dos professores e estudantes da FFCL-USP pela sua nomeação como diretor de tal faculdade
  • Homenagem do Instituto de Educação do Rio de Janeiro (1945)
  • Prêmio Machado de Assis (1945)
  • Homenagem dos professores e assistentes da FFCL-USP devido a sua nomeação como Secretário da Educação e Saúde (1947)
  • Título de Sócio-Honorário do Centro Cultural Boliviano-Brasileiro (1951)
  • Homenagem da Escola Normal Puríssimo Coração de Maria de Rio Claro (SP) ao incluir seu retrato em sua galeria de retratos de educadores (1952)
  • Cruz de Oficial da Legião de Honra da França (1954)
  • Homenagem por sua aposentadoria como professor da USP (1961)
  • Título de Professor Emérito da FFCL-USP (1964)
  • Prêmio de Educação Visconde de Porto Seguro (1964)
  • Prêmio Jaboti - categoria "Personalidade Literário do Ano" (1964)
  • Título de Cidadão Paulistano (1967)
  • Homenagem por sua entrada na Academia Brasileira de Letras (1967)
  • Prêmio Moinho Santista - setor de Ciências Sociais (1971)
  • Indicdo ao Prêmio Juca Pato como Intelectual do Ano (1971)

Obras[editar | editar código-fonte]

  • A poesia do corpo (1916)
  • Antinous: estudo de cultura atlética (1920)
  • Da Educação Física: o que ela é, o que tem sido e o que deveria ser (1920) - segunda edição de A poesia do corpo e Antinous
  • No tempo de Petrônio (1923)
  • Velha e nova política: aspectos e figuras da educação nacional
  • Jardins de Salústio: à margem da vida e dos livros (1924)
  • O segredo da Renascença e outras conferências (1925)
  • Instrução pública no Distrito Federal (1927)
  • Páginas latina (1927) - co-autor: Francisco Azzi
  • A reforma do ensino do Distrito Federal: discursos e entrevistas (1929)
  • Ensaios (1929)
  • A evolução do esporte no Brasil: praças de jogos para crianças (1930)
  • Novos caminhos e novos fins: a nova política de educação no Brasil (1931)
  • Princípios de Sociologia: pequena introdução ao estudo de Sociologia Geral (1935)
  • A educação pública em São Paulo, problemas e discussões: inquérito para O Estado de S. Paulo em 1926 (1937)
  • A educação e seus problemas (1937)
  • Sociologia Educacional: introdução ao estudo dos fenômenos educacionais e e suas relações com outros fenômenos sociais (1940)
  • A cultura brasileira: introdução ao estudo da cultura no Brasil (1943)
  • Velha e nova política: aspectos e figuras da educação nacional (1943)
  • Universidades no mundo do futuro (1944)
  • As técnicas de produção do livro e as relações entre mestres e discípulos (1945)
  • Seguindo meu caminho: conferências sobre Educação e Cultura (1946)
  • As universidades no mundo de amanhã: seu sentido, sua missão e suas perspectivas atuais (1947)
  • Canaviais e engenhos na vida política do Brasil: ensaio sociológico sobre o elemento político na civilização do açúcar(1948)
  • Ruy e o humanismo (1949)
  • Um trem corre para o oeste: estudo sobre a Noroeste e seu papel no Sistema da Viação Nacional (1950)
  • Na batalha do humanismo e outras conferências (1952)
  • Em memória do comandante Murilo Marx (1953)
  • Discurso sobre Israel (1956)
  • A Educação entre dois mundos: problemas, perspectivas e orientações (1958)
  • Figuras de meu convívio (1960)
  • Educação na encruzilhada: problemas e discussões (1960) - segunda edição de A Educação Pública em São Paulo: problemas e discussões
  • A cidade e o campo na civilização industrial e outros estudos (1962)
  • Máscaras e Retratos: estudos literários sobre escritores e poetas do Brasil (1962) - segunda edição de Ensaios
  • Discursos dos acadêmicos Fernando de Azevedo e Cassiano Ricardo (1968)
  • História de minha vida (1971)
  • Transmissão da cultura (1976)
  1. «Fernando de Azevedo e a defesa da educação para todos». #Jornal da USP. 10 de junho de 2019. Consultado em 26 de julho de 2022 
  2. Educadores brasileiros: Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Fernando de Azevedo. São Paulo: Atta Mídia e Educação, 2006.
  3. ANJOS, J. J. T. dos. Fernando de Azevedo, “a cultura brasileira” e a história da educação: notas historiográficas. 2014. Revista Tempos E Espaços Em Educação, p. 155-165, 30 dez. 2014.
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  7. a b c CASTRO, Maria Cecília Ferraz Cardoso de (31 de dezembro de 1994). «O Arquivo Fernando de Azevedo: cronologia e bibliografia». Revista do Instituto de Estudos Brasileiros (37): 213–245. ISSN 2316-901X. doi:10.11606/issn.2316-901X.v0i37p213-245. Consultado em 26 de julho de 2022 
  8. CAMPOS, Ana Maria Antunes de. José Ribeiro Escobar: trajetória intelectual e profissional (1903 – 1938). 2018. 153 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação, Universidade Federal de São Paulo, Garulhos, 2018. Cap. 1, 2.
  9. CASTRO, Maria Cecília Ferraz Cardoso de (31 de dezembro de 1994). «O Arquivo Fernando de Azevedo: cronologia e bibliografia». Revista do Instituto de Estudos Brasileiros (37): 213–245. ISSN 2316-901X. doi:10.11606/issn.2316-901X.v0i37p213-245. Consultado em 26 de julho de 2022 
  10. CAMPOS, Ana Maria Antunes de. José Ribeiro Escobar: trajetória intelectual e profissional (1903 – 1938). 2018. 153 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação, Universidade Federal de São Paulo, Garulhos, 2018. Cap. 1, 2.
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