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Discóbolo[editar | editar código-fonte]

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O Discóbolo (do grego Δισκοβόλος, Diskobólos, lançador de disco) é uma estátua do escultor grego Míron, que representa um atleta momentos antes de lançar um disco. Provavelmente seja a estátua de desportista em ação mais famosa do mundo.

Segundo nos dizem Plínio, o Velho e Luciano de Samósata, o original fora produzido em bronze em torno de 455 a.C para ser instalado em um palácio de Atenas, possivelmente criado para comemorar um atleta vitorioso no antigo pentatlo, mas a obra acabou se perdendo ao longo do tempo, provavelmente derretida durante a Idade Média, devido a escassez do metal no dado contexto [1]. A composição no entanto sobrevive em diversas cópias romanas, todas com variações entre si, o que deixa algumas dúvidas sobre a conformação exata do original.

Um trecho do livro Philopseudes, de Luciano, descreve brevemente como seria o Discóbolo original:

“Quando você entrou no corredor", disse ele, “não notou uma estátua totalmente linda lá em cima, do retratista Demetrios?” “Certamente você não está se referindo ao lançador de disco", disse eu, “aquele que se curvou na posição de arremesso, com a cabeça voltada para a mão que segura o disco e o joelho oposto ligeiramente flexionado, como quem vai saltar de novo após o arremesso?” “Não aquele", disse ele, "é uma das obras de Myron, aquele Diskobolos de que você fala ...” - Philopseudes (2.13.XVIII-X)

Índice[editar | editar código-fonte]

Contexto[editar | editar código-fonte]

Na Grécia do Período Clássico (séculos V - IV a.C.) os atletas eram indivíduos muito valorizados pela sociedade. Eles eram membros das mais ricas famílias da Hellas (como os gregos, ou helenos, daquele período chamavam agrupamento de cidades-estado que constituía uma unidade cultural)[2] e viajavam até Olímpia, na Grécia Ocidental, para a disputa dos Jogos Pan-Helênicos.

Apesar das semelhanças com as Olimpíadas atuais, nos jogos Jogos Pan-Helênicos os atletas tinham apenas um objetivo: vencer as modalidades as quais participavam. Segundo o educador físico com formação na história do esporte Fábio de Souza Lessa, "mais que competir, algo essencialmente exaltado pelo esporte contemporâneo, para os helenos o importante era vencer".[3]

A vitória em uma modalidade dos Jogos Pan-Helênicos era tratado como algo divino, os atletas eram quase como divindades e seus nomes eram atribuídos à grandes nomes da mitologia. Isso acontecia devido a crença de que esses atletas teriam sido contemplados com o "dom da invencibilidade" e, assim como os grandes generais, eram amostras das dádivas das divindades. Muito por conta dessa visão, os atletas passaram a serem representados nas grandes esculturas gregas do período clássico, as quais foram responsáveis por uma enorme revolução técnica na história da arte.[1]

Talvez a principal dessas esculturas clássicas tenha sido justamente o Discóbolo de Míron.

Estilo[editar | editar código-fonte][editar | editar código-fonte]

Estilisticamente o Discóbolo ilustra a transição do Estilo Severo para o Estilo Clássico. A descrição anatômica tem um caráter mais naturalista do que a idealização praticada pelos seus antecessores imediatos, e apesar de dinâmica, é mais ou menos confinada dentro do plano frontal, à maneira de um alto-relevo. A vanguarda da escultura grega logo após Míron se tornou celebrada por dar a verdadeira independência tridimensional à escultura, criando obras igualmente eficientes em todos os ângulos. Essas características, se lhe dão um caráter transicional, não lhe retiram mérito próprio como obra perfeitamente acabada sob todos os aspectos, quando analisada no contexto de seu próprio momento histórico e cultural. Sob outro ponto de vista, Míron foi um pioneiro justamente pela introdução de uma abordagem anatômica e cinesiológica mais próxima do natural, e por ter conseguido sintetizar em arte um ideal de beleza física, de equilíbrio dinâmico e de harmonia entre mente e corpo, antecipando em muitos aspectos a produção de Fídias e Policleto. Na representação de atletas, a composição de Míron foi uma completa novidade. Nas palavras de Arnold Hauser, o Discóbolo representa o primeiro momento, desde as pinturas do Paleolítico, em que

"... o valor do 'movimento iminente' é plenamente reconhecido; aqui inicia a história do ilusionismo europeu, e onde encerra a história dos arranjos informativos e conceituais baseados em 'aspectos fundamentais' do sujeito. Em outras palavras, foi atingido o estágio no qual nenhuma beleza formal, por mais bem composta, por melhor em efeito decorativo que seja, justifica uma quebra nas leis da experiência sensível. As conquistas do naturalismo já não são incorporadas em um sistema de tradições imutáveis e aceitas somente dentro desses limites; a representação tem que ser correta a todo custo, e se a correção na representação é incompatível com a tradição, a tradição deve ser abandonada"

O historiador da arte Ernst Gombrich também comenta sobre a obra em seu "A História da Arte". Ele concordo com Hauser ao afirmar sucintamente que, foi no Discóbolo que os gregos, a partir de Míron, conquistaram o movimento. [1]

A questão do ilusionismo como recurso artístico, que se tornou tão cara aos gregos clássicos, fica mais evidente quando sabemos que, de acordo com os estudos atuais, embora o Discóbolo tenha enorme qualidade como obra de arte e tenha se tornado um modelo na representação do movimento do corpo humano, não representa o movimento real que o atleta faz no ato de lançar o disco. Na verdade, o movimento do atleta na escultura é bem ineficiente comparado aos métodos mais recentes utilizados pelos atletas.

Cópias[editar | editar código-fonte][editar | editar código-fonte]

Torso de Discóbolo restaurado como um Gladiador ferido. Museus Capitolinos Cópia Townley em mármore do Museu Britânico

A quantidade de cópias conhecidas indica que a obra foi muito popular na Roma Antiga. Quintiliano, em sua Institutio Oratoria, traçou um paralelo entre a postura do Discóbolo e o recurso retórico da antítese. As cópias, então realizadas geralmente em mármore, material mais barato e mais abundante que o bronze, por causa das especificidades do material precisavam incorporar alguma base de apoio maior para o peso da pedra na forma de troncos de árvore ou rochas, o que retira muito do impacto e elegância da composição original em bronze de Miron, que se mantinha somente com suas próprias pernas graças à maior resistência do metal. Esses pedestais foram encontrados aos montes no Monte Olimpo, porém as estátuas foram em sua maioria perdidas. [1]

Apesar das cópias romanas serem de grande importância e essenciais para o estudo e conhecimento dessas magníficas obras de arte, elas estão longe de serem perfeitas, podendo até serem perigosas e comprometerem nossa visão sobre a arte grega, generalizando as obras como pedaços de mármore frios, inanimados e insípidos. A prova de que isso de fato ocorre, é a estátua grega original de um auriga, provavelmente também uma homenagem à um atleta grego. (inserir imagem do auriga, algo que não tenho permissão)

Na imagem, percebemos a estátua toda detalhada, colorida, animada, muito embora não tenha sido nem de longe tão importante e influente como foi o Discóbolo. Coisa que não ocorre de maneira nenhuma nas cópias romanas convencionais. Cabe ressaltar que essas obras sequer são citadas nas bibliografias gregas, evidenciando a quantidade de obras grandiosas que foram perdidas. Esses originais gregos coloridos, sem dúvidas traziam muita vivacidade e naturalismo à escultura. Além disso, das cópias que chegaram aos nossos dias somente uma, em bronze, em tamanho menor que o original, está completa; todas as outras apresentam danos mais ou menos extensos.

Influência cultural[editar | editar código-fonte][editar | editar código-fonte]

O Discóbolo só foi identificado em tempos modernos quando uma cópia em estado relativamente completo foi encontrada em 1781 na Villa Palombara, em Roma, pertencente à família Massimo. Restaurada por Angelini, foi instalada no Palazzo Massimo alle Colonne, e então no Palazzo Lancellotti, tornando-se imediatamente estimadíssima pelos neoclássicos dos séculos XVIII e XIX, que a viram como a representação suprema do movimento corpóreo. Antes desta descoberta, que veio a ser nomeada como cópia Palombara ou Lancelotti, outros fragmentos de cópias do Discóbolo não haviam sido reconhecidos, e por isso alguns exemplares acabaram sendo reintegrados em ilustração de outros motivos, como um torso recomposto como um gladiador ferido, e outro recomposto duas vezes, primeiro como Endimião, e depois como um dos Nióbidas. A cópia Townley do Museu Britânico foi restaurada com uma cabeça que originalmente não pertencia à mesma estátua, daí sua posição marcadamente diferente das outras, olhando para baixo, enquanto que segundo a descrição de Luciano o original olhava para trás. Entretanto, a cópia Townley se tornou influente, e outras cópias foram feitas a partir dela. Ao longo do século XIX cópias novas do Discóbolo ingressaram na maioria das grandes coleções de escultura da Europa e América e foram usadas como modelos para os estudantes de escultura, pintura e desenho.

No fim do século XIX constantes referências à iconografia clássica circulavam também entre os esportistas. O Discóbolo e outras estátuas famosas, como o Apoxiômenos de Praxíteles, e o Gálata moribundo, da escola helenística, tinham suas posturas imitadas pelos adeptos da prática do nascente bodybuilding, fundando um repertório de exercícios que levaram à criação da primeira competição desta modalidade esportiva, realizada em Londres em 1901. Treinadores do início do século XX, como Saldo Monte, Diana Watts e Charles Atlas, propuseram a sua postura como um exercício para aperfeiçoamento das qualidades de graça e desenvolvimento muscular equilibrado. Durante o Nazismo a tradição clássica foi identificada como um modelo para o desenvolvimento da nação e do povo alemão. Fascinado pela arte grega, Adolf Hitler comprou a cópia Lancelotti em 1938 por cinco milhões de liras, enviando-a para a Gliptoteca de Munique. Em 1948 foi devolvida à Itália.

A influência do Discóbolo sobre a cultura, em especial do ocidente, ainda é grande nos dias de hoje. É uma das imagens mais publicadas na literatura sobre esportes, educação física e fisiculturismo, um dos mais conhecidos ícones da atual cultura do corpo. Fisiculturistas ainda regularmente incluem a pose do Discóbolo em suas exibições, também um ícone popular na tradição da fotografia do corpo masculino.

Ver também[editar | editar código-fonte][editar | editar código-fonte]

O Commons possui imagens e outros ficheiros sobre Discóbolo

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Baker, William Joseph. Sports in the Western world. University of Illinois Press, 1988, p. 24
  2. Ir para:a b Knight, Charles. The English cyclopædia: a new dictionary of universal knowledge. Biography, Volume 4. Bradbury & Evans, 1857, pp. 417
  3. Donovan, Jeremiah. Rome ancient and modern, and its environs. Crispino Puccinelli, 1844, p. 448
  4. Spivey, Nigel e Squire, Michael. Panorama of the Classical World. Getty Publications, 2011, p. 8
  5. Crowther, Nigel B. Sport in ancient times. Greenwood Publishing Group, 2007, p. 66
  6. Ir para:a b c d Honour, Hugh e Fleming, John. A world history of art. Laurence King Publishing, 2005, s/pp.
  7. Prettejohn, Elizabeth. The modernism of Frederic Leighton. IN Corbett, David Peters e Perry, Lara. English art, 1860-1914: modern artists and identity. Manchester University Press, 2000, p. 44
  8. Wilson, Nigel Guy. Encyclopedia of ancient Greece. Routledge, 2006, p. 649
  9. Disuswerfer des Myron. Skulpturhalle Basel, Skulptur des Monats, August 2004
  10. Hauser, Arnold. The social history of art, vol. I, 1951. Reimpressão Routledge, 1999, p. 42
  11. Hope, Charles e McGrath, Elizabeth. Artists and Humanists. IN Kraye, Jill. The Cambridge companion to Renaissance humanism. Cambridge University Press, 1996, p. 167
  12. Tomlinson, Alan. Sport and Design: Meanings, Values, Ideologies. IN Tomlinson, Alan & Woodham, Jonathan (eds.) Image, Power and Space. Meyer & Meyer Verlag, 2007, p. 133
  13. Ir para:a b Hoope, Victoria. Art Collecting and Myron's Discobolus: Lure of the Discus Thrower. Suite101, Apr 20, 2010
  14. Blumner, Hugo. The Home Life of the Ancient Greek. New York and London: Funk and Wagnalls Co., s/d. / Forgotten Books, Classic Reprint Series, s/d, p. 277
  15. Blanshard, Alastair. Gender and Sexuality. IN Kallendorf, Craig W. A Companion to the Classical Tradition. John Wiley and Sons, 2010, p. 337
  16. Ir para:a b Burns, Bryan E. Classicizing Bodies in the Male Photographic Tradicion. IN Hardwick, Lorna e Stray, Christopher. A Companion to Classical Receptions. John Wiley and Sons, 2010. p. 445
  17. Tomlinson, Alan. Sport and Design: Meanings, Values, Ideologies. IN Tomlinson, Alan & Woodham, Jonathan (eds.) Image, Power and Space
  1. a b c d GOMBRICH, E. H. História da Arte. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
  2. SWEET, Waldo E.. Sport and recreation in ancient greece. New York: Oxford University Press, 1987.
  3. LESSA, Fábio de Souza. Atletas na grécia antiga: da competição à excelência. Rio de Janeiro: Mauad X: FAPERJ, 2017.