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Via Popília

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O trajeto da Via Popília.
 Nota: Não confundir com a Via Ânia.

A Via Cápua-Régio (em latim: Via ab Regio ad Capuam), conhecida também como Via Popília (em latim: Via Popilia) ou Via Ânia (em latim: Via Annia), é uma importante estrada romana construída em 132 a.C.. Naquele ano, a magistratura romana decretou a construção de uma estrada que ligasse definitivamente a cidade de Roma com as "cidades federadas de Régio" (em latim: Civitas foederata Regium), como era conhecido o extremo sul da península Itálica, o antigo Brúcio, moderna Calábria.

A estrada partia da Via Ápia em Cápua e passava por Nola, Nucéria Alfaterna e Salerno, no mar Tirreno. Dali, a estrada seguia na direção da planície do Sele, atravessando a cidade de Eburo (moderna Eboli). Depois de passar pela confluência entre os rios Sele e Tanagro, a estrada virava para o sul, seguindo o curso deste último até alcançar o vallo di Diano, um planalto onde, na época, estavam as cidades romanas de Atina (Atena Lucana), Tegiano, Consilino (Padula), Sôncia (Sanza) e os pagos de Marceliano e Fórum Ânio (depois Fórum Popílio). Muitos destes assentamentos foram completamente devastados por Alarico I em 410 e somente alguns foram reconstruídos na Idade Média, como foi o caso de "Fórum Popílio", reconstruída numa posição mais defensável com o nome moderno de Polla[1].

Trecho preservado da Via Popília na Calábria.

Deixando o vallo di Diano, a estrada seguia para o sul passando pela antiga cidade, hoje arruinada, de Nérulo e também por Murano (Morano Calabro). No percurso em direção a Régio, a estrada o território de Interâmnio (San Lorenzo del Vallo) e as cidades de Caprásia, que acredita-se que ficava em algum lugar da comuna de Castrovillari, Consência (Cosenza) e Mamerto (Martirano), lembrada pelos antigos cronistas romanos pela resistência de seus habitantes, aliados de Roma, contra Pirro durante a Guerra Pírrica e por ter emprestado seu nome aos soldados mamertinos, famosos mercenários sobretudo pelo papel que tiveram no início da Primeira Guerra Púnica. De Mamerto, a estrada continuava para o sul e alcançava a importante confluência fluvial de "Ad Sabatum Flumen", um ponto de passagem obrigatório e de importância estratégia para a anexação da região e para alcançar a antiga Vibona (Vibo Valentia)[2]. Prosseguindo ao longo da antiga estrada chegava-se em "Hipônio", uma cidade rebatizada, depois da Guerra Pírrica, como "Valentia", e unida com Vibona para formar a moderna Vibo-Valentia. Antes de chegar em Régio, o final da estrada, a via Cápua-Régio passava por Nicotera e pelo importante porto de Escileu (Scilla).

Questão do nome

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Embora a denominação "Via Popília" tenha certamente sido utilizada, a questão de qual o nome correto desta estrada romana é ainda hoje debatida. De fato, uma corrente (atualmente majoritária) defende a veracidade do nome "Via Popília", indicando o cônsul Públio Popílio Lenas como tendo sido o responsável pela construção da estrada. Ajuda esta tese a leitura que se faz do chamado Lapis Pollae (vide abaixo).

Outros estudiosos, entre os quais Vittorio Bracco[3], acreditam ser mais correto chamá-la de "Via Ânia", pois teria sido, na verdade, construída pelo cônsul de 153 a.C., Tito Ânio Lusco. Esta hipótese é sugerida por uma inscrição militar recuperada em Vibona, que cita um certo "Tito Ânio, pretor, filho de Tito" e a distância entre Vibona e Cápua (225 milhas).

Numa tentativa de resolver a contradição, uma outra hipótese tem sido defendida, que propõe uma forma de conciliar as duas inscrições. A estrada teria sido iniciada por Popílio e completada, no ano seguinte, por Ânio. Este, porém, não seria Tito Ânio Lusco e sim Tito Ânio Rufo, um dos pretores de 131 a.C..

Trata-se de uma inscrição recuperada em Polla (na província de Salerno) na qual estão indicados os principais centros populacionais atravessados pela "Via ab Regio ad Capuam":

Il cippo di Polla (Lapis pollæ) Trascrizione del testo originale

"Lapis Pollae" da Via Popília

VIAM·FECEI·AB·REGIO·AD·CAPVAM·ET
IN·EA·VIA·PONTEIS·OMNEIS·MILIARIOS
TABELARIOSQVE·POSEIVEI·HINCE·SVNT
NOVCERIAM·MEILIA·LI·CAPVAM·XXCIIII
MVRANVM·LXXIIII·COSENTIAM·CXXIII
VALENTIAM·CLXXX      AD·FRETVM·AD
STATVAM·CCXXXI    ·REGIVM·CCXXXVII
SVMA·AF·CAPVA·REGIVM·MEILIA·CCCXXI
ET·EIDEM·PRAETOR·IN
SICILIA·FVGITEIVOS·ITALICORVM
CONQVAEISIVEI·REDIDEIQVE
HOMINES·DCCCCXVII·EIDEMQVE
PRIMVS·FECEI·VT·DE·AGRO·POPLICO
ARATORIBVS·CEDERENT·PAASTORES
FORVM·AEDISQVE·POPLICAS·HEIC·FECEI

Tradução

Foi construída a estrada de Régio a Cápua e nela foram postos todos ponti, os miliários e os tabelários.
Dali até Nocera, 51 milhas, até Cápua, 84, até Murano, 74, a Cosência, 123, a Vibona Valentia, 180, ao estreito perto da Estátua[a], 231, até Régio, 237.
de Cápua até Régio um total de 321 milhas.
E eu próprio, pretor na Sicília, capturei e devolvi os escravos fugitivos dos italianos, num total de 917 homens, e também fiz questão que, pela primeira vez, as terras públicas dos pastores fossem substituídas por fazendas.
Neste lugar, construí um fórum e um templo públicos.

Considerando que uma milha romana corresponde a oito estádios (cerca de 1 480 metros), a distância entre Régio e Cápua equivalia a 475 quilômetros. Confrontando esta medida com a atual distância, nota-se a clara proximidade entre as medidas antigas e as modernas.

  1. Uma referência a Colonna Reggina e sua famosa estátua do deus Posídon, o símbolo do estreito (entre a península e a Sicília) na Antiguidade.

Referências

  1. Canino, Antonio. Campania:con 15 carte geografiche, 10 piante di città, 20 piante di antichità, edifici e grotte, 18 stemmi (em italiano). [S.l.]: Touring Club Italia 
  2. «Storia - Comune di Martirano» (em italiano). Comune.martirano.cz.it. Consultado em 11 de maio de 2012 
  3. Vittorio Bracco, Della Via Popilia (che non fu mai Popilia), «Studi lucani e meridionali», Galatina, 1977
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