Fundação Ford: diferenças entre revisões

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== História ==
== História ==
'''As origens: de 1936 a 1945'''
A Fundação Ford foi fundada em 1934 em Detroit.<ref>Frédéric Martel, ''De la culture en Amérique'', Paris, Gallimard, 2006, {{ISBN|2070779319}}, p.308</ref> Inicialmente, ela se dedicava a colaborar localmente, em seguida, ele cresceu e diversificou suas doações. Em 1950-1960, sob a liderança do presidente Henry Heald, a Fundação Ford ajudou universidades americanas e a divulgação da arte.<ref>Frédéric Martel, ''De la culture en Amérique'', Paris, Gallimard, 2006, {{ISBN|2070779319}}, p.311</ref> Ele subsidiou orquestras americanas com 80 milhões de US$;<ref>Frédéric Martel, ''De la culture en Amérique'', Paris, Gallimard, 2006, {{ISBN|2070779319}}, p.94</ref> distribuindo grandes somas para balés, teatros, etc: na década de 1960, a Fundação Ford era a que tinha mais fundos dos Estados Unidos.<ref>Frédéric Martel, ''De la culture en Amérique'', Paris, Gallimard, 2006, {{ISBN|2070779319}}, p.317</ref> Entre 1966 e 1986, distribui $ 200 milhões a mais de 1.000 Comunidade de Desenvolvimento da Corporations,<ref>Frédéric Martel, ''De la culture en Amérique'', Paris, Gallimard, 2006, {{ISBN|2070779319}}p. 468</ref> as organizações em bairros difíceis cuja finalidade é desenvolver atividades culturais.


Em uma cerimônia solene ocorrida na cidade de Dearborn, em Michigan, nos Estados Unidos, no dia 30 de julho de 1938, o cônsul da Alemanha acreditado em Cleveland, Karl Krapp, e seu congênere em Detroit, Fritz Heller, presentearam o industrial estadunidense Henry Ford pelo dia do seu aniversário. A pedido do führer, ofereceram-lhe a Grã-Cruz da Ordem da Águia Alemã (Großkreuz des Deutschen Adlerordens). Essa alta condecoração do Estado alemão havia sido criada no ano anterior por Adolf Hitler com o intuito de homenagear estrangeiros que desfrutavam da sua admiração. Outros dois indivíduos que receberam a referida medalha honorífica foram Benito Mussolini e o espanhol Francisco Franco.
Desde o início do século XXI, a Fundação Ford distribui aproximadamente 80 milhões de USD por ano para instituições culturais e artísticas.<ref>Frédéric Martel, ''De la culture en Amérique'', Paris, Gallimard, 2006, {{ISBN|2070779319}}, p.324</ref> Na França, financia entre outras o ''[[SOS Racisme]]'',<ref>[http://mobile.agoravox.fr/actualites/citoyennete/article/qui-finance-sos-racisme-79224 Qui finance SOS Racisme ?]</ref> o ''[[Conseil représentatif des associations noires de France]]'',<ref>[http://patricklozes.blogs.nouvelobs.com/archive/2009/04/index.html La mesure de la diversité souhaitée par le CRAN est majoritaire est France]</ref> e o ''L’Institut français des relations internationales'',<ref>{{Citar web |url=http://www.utpba.net/article13444.html |titulo=Pourquoi la Fondation Ford subventionne la contestation |acessodata=2014-08-30 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20071214130915/http://www.utpba.net/article13444.html |arquivodata=2007-12-14 |urlmorta=yes }}</ref> e também no passado, a ''Futuribles''<ref>{{Citar web |url=http://www.futuribles.com/pdf/Historique%20de%20la%20revue.pdf |titulo=Naissance et histoire d'une revue de prospective |acessodata=2014-08-30 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20120608095518/http://www.futuribles.com/pdf/Historique%20de%20la%20revue.pdf |arquivodata=2012-06-08 |urlmorta=yes }}</ref> e o Congrès pour la liberté de la culture,<ref>[http://www.cairn.info/revue-vingtieme-siecle-revue-d-histoire-2002-4-page-65.htm La diplomatie culturelle de la fondation Ford]</ref>, e a [[Repórteres sem Fronteiras]].<ref>[http://www.legrandsoir.info/Les-114-000-liens-entre-la-CIA-et-une-ONG-francaise.html Les liens a une ONG française.]</ref>


Adolf Hitler há muito manifestava uma forte simpatia por Henry Ford e manteve uma foto dele em seu escritório em Munique. No início dos anos 1920, Henry Ford escreveu execráveis escritos antisemitas, os panfletos The International Jews: The World`s Problem, transformados ulteriormente em livro e que inspiraram o líder nazista na sua perseguição implacável aos judeus na Europa. Traduzidos para a língua alemã, os escritos de Ford tiveram ampla circulação nos meios nazistas antes de 1933. Por essa razão, a primeira edição de Mein Kampf Hitler, dedicou a Henry Ford.
Em 1 de Julho de 2009, a Fundação Ford doou US $ 300.000 para a [[Wikimedia|Fundação Wikimedia]] para apoiar o desenvolvimento da plataforma multimídia [[Wikimedia Commons]].<ref>« [http://wikimediafoundation.org/wiki/Press_releases/Wikimedia_Ford_Foundation_Grant_July_2009 {{lang|en|Wikimedia Foundation receives Ford Foundation grant to grow Wikimedia Commons, a free educational media repository}}] », comunicado a imprensa pela wikimediafoundation.org</ref>


Afora as concepções lunáticas da existência de uma conspiração judaico-comunista internacional contra a qual ambos lutavam, a admiração de Hitler por Henry Ford advinha também dos métodos de racionalização industrial. Essa racionalização serviria como exemplo tanto ao modelo industrial do Reich, como ao sistema, igualmente fabril, de extermínio bárbaro de milhões de pessoas em campos de concentração, a exemplo de Auschwitz, Sobibor e Treblinka.
Exceto pelo seu nome , a Fundação Ford não tem nenhuma ligação com a Ford Motor Company e a família Ford há mais de trinta anos. Henry Ford II, o último membro da família no conselho de administração demitiu-se do conselho da fundação , em 1976.

Desde os anos 1920, Ford vinha contribuindo com o financiamento do Partido Nacional-Socialista na Alemanha e enviava de 10 a 20 mil marcos alemães como presente de aniversário para Adolf Hitler todos os anos, até 1944. <ref>{{Citar periódico|ultimo=Moniz Bandeira|primeiro=Luiz Alberto|data=2016|titulo=Der zweite Kalte Krieg – ein Anfangspanorama|url=http://dx.doi.org/10.1007/978-3-658-09414-0_3|local=Wiesbaden|publicado=Springer Fachmedien Wiesbaden|paginas=27–44|isbn=9783658094133}}</ref> Nos Estados Unidos, Henry Ford manteve um sistema conhecido pelos críticos como a “Gestapo de Ford”, o que também lhe rendeu o apelido dado pelo New York Times, em 1928, de “Mussolini do Highland Park” <ref>{{Citar periódico|data=2017-01-12|titulo=4. Die Verfolgung von Repressionen|url=http://dx.doi.org/10.1515/9783110521184-006|local=Berlin, Boston|publicado=De Gruyter|isbn=9783110521184}}</ref>.

Ford, além de perseguir e reprimir sindicalistas, organizou um sistema de vigilância e controle da vida privada de seus funcionários, por meio da criação de um Departamento de Sociologia da Ford Motor Company. Tal órgão procurava intervir nos aspectos privados dos trabalhadores das fábricas, como moradia, alimentação, lazer e modo de vida. Ford até mesmo contratou um ex-pugilista que serviu como “fiscalizador” do serviço privado de repressão política e social aos trabalhadores da Ford em Dearborn e que lhes fazia visitas inesperadas em seus lares. <ref>{{Citar periódico|data=2017-01-12|titulo=4. Die Verfolgung von Repressionen|url=http://dx.doi.org/10.1515/9783110521184-006|local=Berlin, Boston|publicado=De Gruyter|isbn=9783110521184}}</ref>

A condecoração de Henry Ford com o maior título honorífico dado a estrangeiros pelo governo nazista nada mais foi do que um reconhecimento inter pares. Dois anos antes, no início de 1936, Edsel Ford, filho de Henry Ford e então presidente da Ford Motor Company anunciou a criação da Fundação Ford, que tinha por objetivo dispender recursos “à caridade, à educação e à ciência”. Mas, de fato, a criação da fundação filantrópica familiar servia a interesses econômicos muito claros aos contemporâneos.

Em 1934, um grupo de empresários, banqueiros e oficiais militares estadunidenses patrocinaram uma tentativa de golpe de Estado contra o presidente Franklin D. Roosevelt, golpe esse que visava à instauração de um regime filofascista nos Estados Unidos.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Moniz-Bandeira|primeiro=Luiz Alberto|data=2013|titulo=Wachstumsmarkt Brasilien|url=http://dx.doi.org/10.1007/978-3-658-02202-0|doi=10.1007/978-3-658-02202-0}}</ref> Malfadada a tentativa de golpe contra Roosevelt e no contexto econômico do New Deal, em 1935, o Congresso dos Estados Unidos aprovou o Revenue Act, uma espécie de taxação de grandes fortunas que chegava à casa dos 70%. <ref>{{Citar periódico|ultimo=Chaves|primeiro=Wanderson da Silva|titulo=O Brasil e a recriação da questão racial no pós-guerra: um percurso através da história da Fundação Ford|url=http://dx.doi.org/10.11606/t.8.2012.tde-22082012-111507}}</ref>

O maior prejudicado com a nova legislação seria justamente a multimilionária família Ford. Para dissimular do fisco a cobrança dos novos impostos foi, portanto, criada a Fundação Ford, transferindo-se, assim, 90% das ações da Ford Motor Co. pertecentes à família para a nova entidade “filantrópica”. Desde então, diferentemente do que se pensa, a Fundação Ford tornou-se a proprietária da Ford Motor Company. <ref>{{Citar web|titulo=HUG 26, ff. 078r-v, inc. Hoc idem est gravitas corporis quod conatus|url=http://dx.doi.org/10.1163/2468-0303-cohu_26-054|obra=Codices Hugeniani Online|acessodata=2019-11-03}}</ref> Os três únicos diretores da Fundação Ford no período eram Edsel Ford, presidente da Ford Motor Co. e igualmente presidente da Fundação; Bert J. Craig, secretário e tesoureiro da Ford Motor Co; e Clifford Longley, advogado da Ford Motor Co.

Pressionada pelo governo a dar, então, início a qualquer atividade filantrópica de relevo, a Fundação Ford anunciou, em dezembro de 1937, a doação de um terreno em Dearborn, Michigan, EUA, para a construção de quatro mil “moradias modelo” para operários locais. A Ford doou o terreno e o projeto, enquanto a construção ficaria a cargo de outros empresários que tivessem interesse no empreendimento. Originalmente anunciado como filantropia a operários, pelos baixos custos de aluguel ou venda, logo o projeto foi desconfigurado, tornando-se um empreendimento imobiliário de mais alto padrão, com centro de negócios, escolas, clínicas médicas, lojas, entre outros. De acordo com uma matéria da época, a iniciativa passou a beneficiar trabalhadores de “white collar”, conforme a expressão do jornal <ref>{{Citar livro|url=http://dx.doi.org/10.5962/bhl.title.57513|título=The making of a park system in La Crosse /|ultimo=Nolen|primeiro=John|data=1911|editora=The Inland printing company,|local=La Crosse, Wis. :}}</ref>.

Essa foi a única iniciativa “filantrópica” da entidade que teve ampla repercussão antes de 1945. O real interesse por trás da criação da Fundação, i.e., dissimular a fortuna familiar adquirida ao longo dos anos de exploração da classe trabalhadora pela Ford Motor Co., fez com que ela permanecesse inexpressiva nas suas ações “humanitárias” durante os primeiros dez anos de existência. Já na Europa, a Ford Motor Co. mantinha fortes investimentos econômicos desde os anos 1920. Em particular, na Inglaterra e na Alemanha. Neste último, encontrou certas dificuldades decorrentes da ascensão do nacionalismo de ultra-direita no país, uma vez que parte da população sabotava a compra de produtos de empresas estrangeiras. Mesmo assim, a relação com o governo nazista que ascendeu em 1933 era mais amena e a Ford fabricou um terço dos caminhões do exército nazista, por exemplo, e dobrou de tamanho na Alemanha entre 1939 e 1945 <ref>{{Citar periódico|ultimo=Lima|primeiro=Claudia Silva|data=2017-03-09|titulo=OS PRESSUPOSTOS DE UM DEBATE: Teoria, Método e Ensino de História|url=http://dx.doi.org/10.18764/2446-6549/interespaco.v2n6p324-343|jornal=InterEspaço: Revista de Geografia e Interdisciplinaridade|volume=2|numero=6|paginas=324|doi=10.18764/2446-6549/interespaco.v2n6p324-343|issn=2446-6549}}</ref>.

Entre 1941 e 1945, a subsidiária da Ford Motor Co. em Colônia, na Alemanha, a FordWerke, utilizou, inclusive, trabalho escravo de presos estrangeiros e judeus, oriundos da Europa Oriental, da União Soviética, da Itália e da França. A própria Ford Motor Co. em 1998 abriu um amplo processo de investigação interna sobre a conduta da sua subsidiária na Alemanha, provocada por processos legais de sobreviventes do Holocausto que foram movidos contra a empresa por haverem trabalhado como escravos na FordWerke <ref>{{Citar periódico|ultimo=BAJOHR|primeiro=FRANK|titulo=No “Volksgenossen”:|url=http://dx.doi.org/10.2307/j.ctv301hb7.5|publicado=Princeton University Press|paginas=45–65|isbn=9780691188355}}</ref>.

Esses são alguns poucos e relevantes fatos do período de origem da Fundação Ford. Frente à oposição política que a família Ford mantinha ao governo de Franklin D. Roosevelt, até o final da II Guerra, a Fundação não atuou em parceria com o governo dos Estados Unidos. E suas atividades de caridade restringiam-se a poucas iniciativas em Michigan. A relação estreita com o Departamento de Estado e os órgãos de inteligência estadunidenses passaria a ocorrer a partir do início da chamada Guerra Fria,


== Críticas ==
== Críticas ==

Revisão das 23h44min de 3 de novembro de 2019

A Fundação Ford é uma entidade sediada na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos. Segundo seus instituidores, foi criada para financiar programas de promoção da democracia e redução da pobreza.

História

As origens: de 1936 a 1945

Em uma cerimônia solene ocorrida na cidade de Dearborn, em Michigan, nos Estados Unidos, no dia 30 de julho de 1938, o cônsul da Alemanha acreditado em Cleveland, Karl Krapp, e seu congênere em Detroit, Fritz Heller, presentearam o industrial estadunidense Henry Ford pelo dia do seu aniversário. A pedido do führer, ofereceram-lhe a Grã-Cruz da Ordem da Águia Alemã (Großkreuz des Deutschen Adlerordens). Essa alta condecoração do Estado alemão havia sido criada no ano anterior por Adolf Hitler com o intuito de homenagear estrangeiros que desfrutavam da sua admiração. Outros dois indivíduos que receberam a referida medalha honorífica foram Benito Mussolini e o espanhol Francisco Franco.

Adolf Hitler há muito manifestava uma forte simpatia por Henry Ford e manteve uma foto dele em seu escritório em Munique. No início dos anos 1920, Henry Ford escreveu execráveis escritos antisemitas, os panfletos The International Jews: The World`s Problem, transformados ulteriormente em livro e que inspiraram o líder nazista na sua perseguição implacável aos judeus na Europa. Traduzidos para a língua alemã, os escritos de Ford tiveram ampla circulação nos meios nazistas antes de 1933. Por essa razão, a primeira edição de Mein Kampf Hitler, dedicou a Henry Ford.

Afora as concepções lunáticas da existência de uma conspiração judaico-comunista internacional contra a qual ambos lutavam, a admiração de Hitler por Henry Ford advinha também dos métodos de racionalização industrial. Essa racionalização serviria como exemplo tanto ao modelo industrial do Reich, como ao sistema, igualmente fabril, de extermínio bárbaro de milhões de pessoas em campos de concentração, a exemplo de Auschwitz, Sobibor e Treblinka.

Desde os anos 1920, Ford vinha contribuindo com o financiamento do Partido Nacional-Socialista na Alemanha e enviava de 10 a 20 mil marcos alemães como presente de aniversário para Adolf Hitler todos os anos, até 1944. [1] Nos Estados Unidos, Henry Ford manteve um sistema conhecido pelos críticos como a “Gestapo de Ford”, o que também lhe rendeu o apelido dado pelo New York Times, em 1928, de “Mussolini do Highland Park” [2].

Ford, além de perseguir e reprimir sindicalistas, organizou um sistema de vigilância e controle da vida privada de seus funcionários, por meio da criação de um Departamento de Sociologia da Ford Motor Company. Tal órgão procurava intervir nos aspectos privados dos trabalhadores das fábricas, como moradia, alimentação, lazer e modo de vida. Ford até mesmo contratou um ex-pugilista que serviu como “fiscalizador” do serviço privado de repressão política e social aos trabalhadores da Ford em Dearborn e que lhes fazia visitas inesperadas em seus lares. [3]

A condecoração de Henry Ford com o maior título honorífico dado a estrangeiros pelo governo nazista nada mais foi do que um reconhecimento inter pares. Dois anos antes, no início de 1936, Edsel Ford, filho de Henry Ford e então presidente da Ford Motor Company anunciou a criação da Fundação Ford, que tinha por objetivo dispender recursos “à caridade, à educação e à ciência”. Mas, de fato, a criação da fundação filantrópica familiar servia a interesses econômicos muito claros aos contemporâneos.

Em 1934, um grupo de empresários, banqueiros e oficiais militares estadunidenses patrocinaram uma tentativa de golpe de Estado contra o presidente Franklin D. Roosevelt, golpe esse que visava à instauração de um regime filofascista nos Estados Unidos.[4] Malfadada a tentativa de golpe contra Roosevelt e no contexto econômico do New Deal, em 1935, o Congresso dos Estados Unidos aprovou o Revenue Act, uma espécie de taxação de grandes fortunas que chegava à casa dos 70%. [5]

O maior prejudicado com a nova legislação seria justamente a multimilionária família Ford. Para dissimular do fisco a cobrança dos novos impostos foi, portanto, criada a Fundação Ford, transferindo-se, assim, 90% das ações da Ford Motor Co. pertecentes à família para a nova entidade “filantrópica”. Desde então, diferentemente do que se pensa, a Fundação Ford tornou-se a proprietária da Ford Motor Company. [6] Os três únicos diretores da Fundação Ford no período eram Edsel Ford, presidente da Ford Motor Co. e igualmente presidente da Fundação; Bert J. Craig, secretário e tesoureiro da Ford Motor Co; e Clifford Longley, advogado da Ford Motor Co.

Pressionada pelo governo a dar, então, início a qualquer atividade filantrópica de relevo, a Fundação Ford anunciou, em dezembro de 1937, a doação de um terreno em Dearborn, Michigan, EUA, para a construção de quatro mil “moradias modelo” para operários locais. A Ford doou o terreno e o projeto, enquanto a construção ficaria a cargo de outros empresários que tivessem interesse no empreendimento. Originalmente anunciado como filantropia a operários, pelos baixos custos de aluguel ou venda, logo o projeto foi desconfigurado, tornando-se um empreendimento imobiliário de mais alto padrão, com centro de negócios, escolas, clínicas médicas, lojas, entre outros. De acordo com uma matéria da época, a iniciativa passou a beneficiar trabalhadores de “white collar”, conforme a expressão do jornal [7].

Essa foi a única iniciativa “filantrópica” da entidade que teve ampla repercussão antes de 1945. O real interesse por trás da criação da Fundação, i.e., dissimular a fortuna familiar adquirida ao longo dos anos de exploração da classe trabalhadora pela Ford Motor Co., fez com que ela permanecesse inexpressiva nas suas ações “humanitárias” durante os primeiros dez anos de existência. Já na Europa, a Ford Motor Co. mantinha fortes investimentos econômicos desde os anos 1920. Em particular, na Inglaterra e na Alemanha. Neste último, encontrou certas dificuldades decorrentes da ascensão do nacionalismo de ultra-direita no país, uma vez que parte da população sabotava a compra de produtos de empresas estrangeiras. Mesmo assim, a relação com o governo nazista que ascendeu em 1933 era mais amena e a Ford fabricou um terço dos caminhões do exército nazista, por exemplo, e dobrou de tamanho na Alemanha entre 1939 e 1945 [8].

Entre 1941 e 1945, a subsidiária da Ford Motor Co. em Colônia, na Alemanha, a FordWerke, utilizou, inclusive, trabalho escravo de presos estrangeiros e judeus, oriundos da Europa Oriental, da União Soviética, da Itália e da França. A própria Ford Motor Co. em 1998 abriu um amplo processo de investigação interna sobre a conduta da sua subsidiária na Alemanha, provocada por processos legais de sobreviventes do Holocausto que foram movidos contra a empresa por haverem trabalhado como escravos na FordWerke [9].

Esses são alguns poucos e relevantes fatos do período de origem da Fundação Ford. Frente à oposição política que a família Ford mantinha ao governo de Franklin D. Roosevelt, até o final da II Guerra, a Fundação não atuou em parceria com o governo dos Estados Unidos. E suas atividades de caridade restringiam-se a poucas iniciativas em Michigan. A relação estreita com o Departamento de Estado e os órgãos de inteligência estadunidenses passaria a ocorrer a partir do início da chamada Guerra Fria,

Críticas

James Petras, antigo professor de sociologia da Binghamton University e vários outros críticos, acusam a Fundação Ford de atuar como uma frente para a CIA. Ele documenta as doações que da Fundação Ford para organizações criadas pela CIA com o objetivo de interferir em regimes de outros países, como é o caso da organização Congress for Cultural Freedom.[10] A entidade Activistfacts[11] rastreia e revela ao público as fontes de financiamento de diversas organizações como a Fundação Ford.[12]

Petras aponta também para o antigo presidente da Fundação Richard Bissell, que mantinha sólido relacionamento com Allen Dulles, diretor da CIA e responsável pela criação do infame Projeto MKULTRA que, sob a coordenação de Sidney Gottlieb desenvolveu os experimentos com LSD e outras drogas em seres humanos sem o conhecimento das vítimas.

A acadêmica americana Joan Roelofs, em seu livro em inglês Foundations and Public Policy: The Mask of Pluralism (State University of New York Press, 2003) afirma que Fundações como a Ford desenpenhamm um papel fundamental em isolar movimentos de oposição aos interesses estadunidenses. Ela afirma que John J. McCloy, quando Presidente do Conselho da Fundação de 1958 a 1965 afirmou que a Fundação seria uma quase-extensão do Governo americano. (a citação em inglês: "...thought of the Foundation as a quasi-extension of the U.S. Government"). Roelofs cita o fato de que fazia parte do trabalho da Fundação visitar o Conselho de Segurança em Washington e verificar quais os projetos que deveriam ser patrocinados, por meio da Fundação, nos países do exterior. Roelofs acrescenta que a Fundação patrocinou programas para desestabilizar a resistência as ditaduras na Indonésia e em vários outros países.

Para estudiosos que adotam uma posição menos apaixonada, revela-se equivocado afirmar que a Fundação Ford teria atuado tal qual um braço dos interesses norte-americanos no Brasil. Tal premissa não tem sentido, sobretudo porque tal fundação financiava o CEBRAP - Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, entidade que, desde 1968, isto é, já no período de recrudescimento do autoritarismo do Governo Federal Brasileiro, promovia fóruns, palestras, seminários, publicava ensaios e estudos acadêmicos com notório viés de esquerda.

Dentre os livros publicados, insista-se, com dinheiro da fundação Ford, pode-se mencionar "O Colapso do Populismo no Brasil", de Otávio Ianni, livro destinado a interpretar o modelo político de 1946/64, bem como afirmar que o Brasil padeceu pelo populismo nessa época. Narra-se que fora uma tentativa errônea de fomentar a participação social e a representação social por meio de lideranças políticas de então, por exemplo, Leonel Brizola, João Goulart e Miguel Arraes. Trata-se de estudo documentado que revelou o colapso da república de 1946 por meio da adoção de políticas equivocadas de seus agentes políticos, o que despertou a reação das forças conservadoras e dos Estados Unidos da América, país considerado imperialista pelo CEBRAP e seus acadêmicos (todos financiados pela Fundação Ford).

Ora, nesse quadro, é pueril qualificar a fundação Ford como ente a serviço dos interesses dos Estados Unidos da América sendo que, ela mesma, entusiasta da liberdade de opinião, financiava entidades de estudos sociológicos de conhecido viés marxista. Enfim, tal narrativa enfadonha e conspiratória não tem sentido algum e eventual interferência nos interesses nacionais não deve ser atribuída à Fundação Ford, entidade que prima pelo trabalho, pelas liberdades e pelo desenvolvimento econômico de pessoas, sociedades e países.

Notas

  1. Moniz Bandeira, Luiz Alberto (2016). «Der zweite Kalte Krieg – ein Anfangspanorama». Wiesbaden: Springer Fachmedien Wiesbaden: 27–44. ISBN 9783658094133 
  2. «4. Die Verfolgung von Repressionen». Berlin, Boston: De Gruyter. 12 de janeiro de 2017. ISBN 9783110521184 
  3. «4. Die Verfolgung von Repressionen». Berlin, Boston: De Gruyter. 12 de janeiro de 2017. ISBN 9783110521184 
  4. Moniz-Bandeira, Luiz Alberto (2013). «Wachstumsmarkt Brasilien». doi:10.1007/978-3-658-02202-0 
  5. Chaves, Wanderson da Silva. «O Brasil e a recriação da questão racial no pós-guerra: um percurso através da história da Fundação Ford» 
  6. «HUG 26, ff. 078r-v, inc. Hoc idem est gravitas corporis quod conatus». Codices Hugeniani Online. Consultado em 3 de novembro de 2019 
  7. Nolen, John (1911). The making of a park system in La Crosse /. La Crosse, Wis. :: The Inland printing company, 
  8. Lima, Claudia Silva (9 de março de 2017). «OS PRESSUPOSTOS DE UM DEBATE: Teoria, Método e Ensino de História». InterEspaço: Revista de Geografia e Interdisciplinaridade. 2 (6). 324 páginas. ISSN 2446-6549. doi:10.18764/2446-6549/interespaco.v2n6p324-343 
  9. BAJOHR, FRANK. «No "Volksgenossen":». Princeton University Press: 45–65. ISBN 9780691188355 
  10. The Cultural Cold War: the CIA and the World of Arts and Letters. New York: New Press 2000
  11. (em inglês) Activistfacts - Acessado em 29/08/2014.
  12. (em inglês) Activistfacts - Ford Foundation. Acessado em 29/08/2014.

Informações e documentos

Ver também

Ligações externas

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