Coleção numismática do Museu Paulista: diferenças entre revisões

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A '''coleção numismática do Museu Paulista''' é uma das diversas coleções do [[Museu Paulista|referido museu]]. Inaugurado em 1895, coleção numismática do Museu tem origem na Coleção Sertório, que englobava além de moedas e medalhas, diversos outros objetos.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=XKmhDwAAQBAJ&pg=PA132&lpg=PA132&dq=cole%C3%A7%C3%A3o+numism%C3%A1tica+do+Museu+Paulista&source=bl&ots=vTmqI_2sZC&sig=ACfU3U1rXFQqflGx41NtXFpj69wR_rw3bg&hl=pt-BR&sa=X&redir_esc=y#v=onepage&q=cole%C3%A7%C3%A3o%20numism%C3%A1tica%20do%20Museu%20Paulista&f=false|título=Tratado NumismÁtico|ultimo=Nogueira|primeiro=Adeilson|editora=Clube de Autores (managed)|lingua=pt-PT}}</ref>
A '''coleção numismática do Museu Paulista''' é uma das diversas coleções do [[Museu Paulista|referido museu]]. Seu núcleo inicial foi a aquisição do acervo do [[Museu Sertório]], realizada em outubro de 1890 por [[Francisco de Paula Mayrink]] e doada ao Estado de São Paulo, sendo grandemente ampliada ao longo das décadas. Atualmente, é a maior coleção [[numismática]] pública do Estado de São Paulo.


== Histórico ==
== Histórico ==
As coleções de numismática parecem comuns a todos os museus brasileiros do século XIX.<ref name=":1">{{Citar periódico|ultimo=Moraes|primeiro=Fábio Rodrigo de|data=Junho de 2008|titulo=Uma coleção de história em um museu de ciências naturais: o Museu Paulista de Hermann von Ihering|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0101-47142008000100006&lng=en&nrm=iso&tlng=pt|jornal=Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material|lingua=pt|volume=16|numero=1|paginas=203–233|doi=10.1590/S0101-47142008000100006|issn=0101-4714|acessodata=2020-02-19}}</ref>
As coleções de numismática são uma constante nos grandes museus de temática histórica. No Brasil surgem no século XIX as primeiras grandes coleções institucionais, como a do [[Museu Nacional (Rio de Janeiro)|Museu Nacional]] (iniciada em 1818), do [[Museu Emílio Goeldi]] (iniciada em 1871), e da [[Biblioteca Nacional do Brasil|Biblioteca Nacional]] (iniciada em 1880).<ref>{{citar periódico|ultimo=VIEIRA|primeiro=Rejane|data=1995|titulo=Um Grande Coleção do Moedas no Museu Histórico Nacional?|url=http://docvirt.com/docreader.net/mhn/15508|jornal=Anais do Museu Histórico Nacional|acessodata=18 de abril de 2020}}</ref><ref name=":0">{{Citar periódico|ultimo=Almeida|primeiro=Adilson José de|ultimo2=Ribeiro|primeiro2=Angela Maria Gianeze|ultimo3=Barbuy|primeiro3=Heloisa|ultimo4=Andreatta|primeiro4=Margarida Davina|data=00/2003|titulo=O Serviço de Objetos do Museu Paulista|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0101-47142003000100013&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt|jornal=Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material|lingua=pt|volume=10-11|numero=1|paginas=227–257|doi=10.1590/S0101-47142003000100013|issn=0101-4714}}</ref><ref name=":1">{{citar periódico|ultimo=PERRONI|primeiro=Lígia|data=2018|titulo=A numismática e o Museu Paulista: a formação de uma coleção de moedas e medalhas em um Museu de História Natural|url=https://www.academia.edu/37875292/A_numism%C3%A1tica_e_o_Museu_Paulista_a_forma%C3%A7%C3%A3o_de_uma_cole%C3%A7%C3%A3o_de_moedas_e_medalhas_em_um_Museu_de_Hist%C3%B3ria_Natural|jornal=I Congresso Internacional de Numismática - São Paulo|acessodata=18/04/2020}}</ref>


O acervo do Museu Sertório, núcleo inicial das coleções do Museu Paulista, continha uma “uma grande coleção numismática, contendo perto de duas mil moedas e medalhas de todos os países”, nas palavras do botânico sueco [[Albert Löfgren]], em visita à instituição em 1881.<ref name=":1" /><ref name=":2">{{Citar periódico|ultimo=Moraes|primeiro=Fábio Rodrigo de|data=2008-06|titulo=Uma coleção de história em um museu de ciências naturais: o Museu Paulista de Hermann von Ihering|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0101-47142008000100006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt|jornal=Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material|lingua=pt|volume=16|numero=1|paginas=203–233|doi=10.1590/S0101-47142008000100006|issn=0101-4714}}</ref>
No ano de 1895, por exemplo, segundo [[Hermann von Ihering]], a seção numismática do Museu Paulista "''possuía uma grande representação das moedas portuguesas e brasileiras deste século e do passado''".<ref name=":1" /> Naquele mesmo ano, o Museu recebeu ao menos duas propostas de aquisição de novas peças: a coleção particular de "moedas antigas" do Sr. Belli e a coleção numismática e arqueológica do Sr. Sérgio Catvieri, do Rio de Janeiro.<ref name=":1" /> Ihering tentou ainda trocar a coleção numismática do [[Seminário Episcopal]] por duplicatas de animais, proposta negada pelo padre então reitor do Seminário.<ref name=":1" />


Toda o acervo do museu, junto com o imóvel que o abrigava, foi adquirido pelo Conselheiro Francisco de Paula Mayrink em 29 de outubro de 1890, pela quantia de 250 contos de réis, e doado ao estado de São Paulo em dezembro do mesmo ano, expressando seu desejo de que a coleção fosse abrigada no edifício-monumento do Ipiranga, ainda em construção à época.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Carvalho|primeiro=Paula Carolina de Andrade|ultimo2=Carvalho|primeiro2=Paula Carolina de Andrade|data=2014-12|titulo=O Museu Sertório: uma coleção particular em São Paulo no final do século XIX (primeiro acervo do Museu Paulista)|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0101-47142014000200005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt|jornal=Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material|lingua=pt|volume=22|numero=2|paginas=105–152|doi=10.1590/S0101-47142014000200005|issn=0101-4714}}</ref>
Das aquisições efetivamente concretizadas, pode-se destacar a coleção de moedas de [[Júlio Ribeiro]], que já vinha sendo almejada pelo Museu Paulista. A verba para sua aquisição, 15 mil contos de Réis, foi liberada na Câmara Municipal em inícios de 1894.<ref name=":1" />


Quando da criação do Museu Paulista, em 1895, o seu primeiro regimento já prevê no capítulo I, artigo 5.o, a existência de “uma collecção de numismática”. Nesse mesmo ano a coleção numismática já "possuía uma grande representação das moedas portuguesas e brasileiras deste século e do passado", como afirma o então diretor [[Hermann von Ihering]] em carta ao diretor do [[Arquivo Nacional (Brasil)|Arquivo Nacional]].<ref name=":2" /><ref name=":1" />
=== Furto ===

Em agosto de 2007, a coleção numismática do Museu Paulista teve cerca de 900 peças furtadas.<ref name=":2">{{Citar web|titulo=Folha de S.Paulo - 900 cédulas e moedas raras são furtadas do museu do Ipiranga - 10/08/2007|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1008200714.htm|obra=www1.folha.uol.com.br|acessodata=2020-02-19}}</ref> Foram levadas três coleções de cédulas antigas e algumas moedas. No lote estão notas emitidas na Áustria e na Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial, e cédulas brasileiras do início do século 20.<ref name=":2" />
Nos primeiros anos do Museu Paulista as coleções são substancialmente aumentadas através de aquisições e doações. Ainda em 1895 é realizada a compra da coleção de moedas do filólogo [[Júlio Ribeiro]], no valor de 15 contos de Réis, utilizando verba liberada no ano anterior pela [[Câmara Municipal de São Paulo]].<ref name=":2" />

Em 1897 é comprada por 700 mil réis a coleção de Eugênio Hollander, em que constavam conforme a fatura, “...1 coleção de medalhas da campanha do Paraguai; 1 meio dobrão de ouro; 1 medalha de D. Pedro II 1834-ouro; 1 Pataca recunhada Pernambuco-prata; 1 moeda de D. Manuel prata”.<ref name=":2" />

Em 1902 é doada a rica coleção do ex-presidente da República [[Campos Sales]], contendo grande diversidade de peças numismáticas; em 1905 a coleção do dentista Oscar da Veiga é adquirida pelo museu após uma série de negociações, por um conto de réis, e em 1908, é adquirida uma coleção de 30 moedas de prata, comprada por 90$000.<ref name=":2" />

A essas aquisições se somam ao longo dos anos diversas ofertas, de peças individuais e pequenas coleções. Na intenção de enriquecer o acervo também são tentadas trocas com instituições: Em 1895, von Ihering tentou permutar a coleção numismática do Seminário Episcopal de São Paulo por duplicatas de animais empalhados do Museu, proposta negada pelo reitor do Seminário. Também foi proposta sem sucesso a permuta das duplicatas da coleção numismática com a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, em 1915.<ref name=":2" />

Hermann von Ihering, como um profissional das ciências naturais, carecia de conhecimentos específicos de numismática, o que o levou a se corresponder com o  célebre numismata [[Julius Meili]], na tentativa de sanar dúvidas sobre as peças do museu. Em sua correspondência com a Secretaria do interior também são recorrentes os pedidos para a contratação de um ajudante numismata para os quadros do museu, o que não se verificou em sua gestão, encerrada em 1916.<ref name=":2" />

No ano seguinte a gestão do Museu Paulista é assumida pelo historiador [[Afonso d'Escragnolle Taunay]], que permanece no cargo até 1946. Durante sua gestão, os relatórios institucionais de 1922 a 1925 passam a mencionar as coleções de numismática, já se prestando a consultas de pesquisadores; é também nesse período que o museu adquire a coleção de vales particulares em papel.<ref name=":0" />

Dessa maneira, a coleção numismática chega aos anos 1940 com cerca de 9.000 peças. Após a posse de [[Sérgio Buarque de Holanda]] como diretor do museu em 1946 a coleção se constitui como um setor específico: o Decreto-lei N. 16.565, de 27 de dezembro de 1946 reorganiza o Museu Paulista, criando a "Secção de Numismática", sendo também criado o cargo de numismata nos quadros do museu, aperfeiçoando o desenvolvimento e a manutenção da coleção numismática.<ref name=":0" /><ref>{{citar web|url=https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto.lei/1946/decreto.lei-16565-27.12.1946.html|titulo=Decreto-lei n. 16.565, DE 27 de dezembro de 1946|data=27/12/1946|acessodata=18/04/2020|publicado=SÃO PAULO|ultimo=|primeiro=}}</ref>

== Furtos ==
Na noite de 25 de janeiro de 1898, diversas moedas, incluindo exemplares de ouro, foram furtadas. Comunicando o fato à Secretaria do Interior, o diretor Hermann von Ihering estimava um prejuízo de cerca de 600 mil réis ao acervo.<ref name=":2" />

Em agosto de 2007, a coleção numismática do museu teve cerca de 900 peças furtadas. Foram levadas notas da coleção de [[Notgeld]], cédulas emitidas por bancos brasileiros no início do século XX, vales e moedas de ouro. O material foi avaliado à época por especialistas em torno de R$100.000. Parte do acervo foi recuperado dias depois pela Polícia Civil e apresentado no 17.<sup>o</sup> Distrito Policial no dia 11 do mesmo mês.<ref>{{citar web|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1008200714.htm|titulo=900 cédulas e moedas raras são furtadas do museu do Ipiranga|data=10/08/2007|acessodata=18/04/2020|publicado=Folha de São Paulo|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref>{{citar web|url=http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL102826-5605,00-POLICIA+RECUPERA+PARTE+DE+ACERVO+ROUBADO+DE+MUSEU+DO+IPIRANGA.html|titulo=Polícia recupera parte de acervo roubado de Museu do Ipiranga|data=11/09/2007|acessodata=18/04/2020|publicado=G1|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref>{{citar web|url=http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL85353-5605,00-ACERVO+DO+MUSEU+DO+IPIRANGA+E+FURTADO.html|titulo=Acervo do Museu do Ipiranga é furtado|data=09/08/2007|acessodata=18/04/2020|publicado=G1|ultimo=|primeiro=}}</ref>


== Coleções ==
== Coleções ==

Dentre o acervo numismático, constam uma coleção de 330 cédulas da Áustria e da Alemanha, sendo a maioria da Primeira Guerra Mundial.<ref name=":2" /> Chamadas "[[Notgeld]]" ("dinheiro de emergência"), foram fabricadas para suprir a escassez da emissão do dinheiro oficial.<ref name=":2" /> Uma outra coleção é a de notas emitidas em cidades do interior quando faltavam valores usados como trocos, no início do século 20.<ref name=":2" /> Uma terceira coleção reune cédulas oficiais brasileiras desde 1830, emitidas pelos primeiros bancos nacionais.<ref name=":2" />
====== Vales ======
Essa coleção é formada por vales que eram convertidos em produtos ou serviços, emitidos por casas comerciais ou pessoas físicas, em diversos estados brasileiros. Também constam dessa coleção propagandas em forma de dinheiro, bilhetes de companhias de trens e bondes, fichas de controle de entrada e saída em fábricas ou fazendas e fichas de trabalho diário.<ref name=":0" />

====== Notgeld ======
Em 2003 foi incorporada ao acervo do museu uma coleção de Notgeld - emissões monetárias de emergência - formada por 330 cédulas emitidas na Áustria e Alemanha, em sua maioria datadas de entre 1913 e 1920, contando também com cédulas do período nazista.<ref name=":0" />


== Divulgação ==
== Divulgação ==
A coleção numismática do Museu Paulista foi objeto da obra “A coleção de moedas romanas da Universidade de São Paulo” , lançada conjuntamente pelo [[Museu de Arqueologia e Etnologia]] (MAE) e pelo [[Museu Paulista]], ambos da USP.<ref>{{Citar web|titulo=Catálogo numismático apresenta coleções de moedas antigas da USP {{!}} Museu Paulista|url=http://www.mp.usp.br/chamadas/catalogo-numismatico-apresenta-colecoes-de-moedas-antigas-da-usp|obra=www.mp.usp.br|acessodata=2020-02-19}}</ref>
As moedas da [[Roma Antiga]] ([[República Romana|República]] e [[Império Romano|Império]]) que integram o acervo do Museu Paulista integram o catálogo “A coleção de moedas romanas da Universidade de São Paulo”, lançada em 2015, contemplando também a coleção do [[Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo|Museu de Arqueologia e Etnologia da USP]], contando com 669 peças de ouro, prata e bronze de ambos os museus, emitidas entre 312 a.C. e 455 d.C. A publicação se divide em três partes, tratando da formação das coleções, a conservação e higienização das peças; e das moedas mais representativas do acervo. O projeto foi possibilitado por meio do edital Museus e Coleções Museológicas, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da [[Universidade de São Paulo]], lançado em 2013.<ref>{{citar web|url=http://www.mp.usp.br/chamadas/catalogo-numismatico-apresenta-colecoes-de-moedas-antigas-da-usp|titulo=Catálogo numismático apresenta coleções de moedas antigas da USP|data=|acessodata=18/04/2020|publicado=Museu Paulista|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref>{{citar livro|título=A Coleção de Moedas Romanas da Universidade de São Paulo|ultimo=FLORENZANO|primeiro=Maria Beatriz|editora=MAE - USP|ano=2015|local=São Paulo|página=|páginas=}}</ref>
No ano de 2016, uma mostra foi concebida com a participação da especialista em numismática do Museu Paulista, Angela Maria Gianeze Ribeiro, contando com cerca de 320 peças dos acervos dos dois museus, MAE e Museu Paulista.<ref name=":0">{{Citar web|titulo=Espaço Expositivo da Reitoria da USP recebe mostra de moedas da antiguidade romana {{!}} Museu Paulista|url=http://www.mp.usp.br/chamadas/espaco-expositivo-da-reitoria-da-usp-recebe-mostra-de-moedas-da-antiguidade-romana|obra=www.mp.usp.br|acessodata=2020-02-19}}</ref> Dividida em três partes, a mostra exibia a formação da coleção; o processo relacionado ao trabalho de conservação e higienização das peças; e mostra das moedas mais representativas do acervo.<ref name=":0" />


{{Referências}}
{{Referências}}

Revisão das 01h43min de 19 de abril de 2020

A coleção numismática do Museu Paulista é uma das diversas coleções do referido museu. Seu núcleo inicial foi a aquisição do acervo do Museu Sertório, realizada em outubro de 1890 por Francisco de Paula Mayrink e doada ao Estado de São Paulo, sendo grandemente ampliada ao longo das décadas. Atualmente, é a maior coleção numismática pública do Estado de São Paulo.

Histórico

As coleções de numismática são uma constante nos grandes museus de temática histórica. No Brasil surgem no século XIX as primeiras grandes coleções institucionais, como a do Museu Nacional (iniciada em 1818), do Museu Emílio Goeldi (iniciada em 1871), e da Biblioteca Nacional (iniciada em 1880).[1][2][3]

O acervo do Museu Sertório, núcleo inicial das coleções do Museu Paulista, continha uma “uma grande coleção numismática, contendo perto de duas mil moedas e medalhas de todos os países”, nas palavras do botânico sueco Albert Löfgren, em visita à instituição em 1881.[3][4]

Toda o acervo do museu, junto com o imóvel que o abrigava, foi adquirido pelo Conselheiro Francisco de Paula Mayrink em 29 de outubro de 1890, pela quantia de 250 contos de réis, e doado ao estado de São Paulo em dezembro do mesmo ano, expressando seu desejo de que a coleção fosse abrigada no edifício-monumento do Ipiranga, ainda em construção à época.[5]

Quando da criação do Museu Paulista, em 1895, o seu primeiro regimento já prevê no capítulo I, artigo 5.o, a existência de “uma collecção de numismática”. Nesse mesmo ano a coleção numismática já "possuía uma grande representação das moedas portuguesas e brasileiras deste século e do passado", como afirma o então diretor Hermann von Ihering em carta ao diretor do Arquivo Nacional.[4][3]

Nos primeiros anos do Museu Paulista as coleções são substancialmente aumentadas através de aquisições e doações. Ainda em 1895 é realizada a compra da coleção de moedas do filólogo Júlio Ribeiro, no valor de 15 contos de Réis, utilizando verba liberada no ano anterior pela Câmara Municipal de São Paulo.[4]

Em 1897 é comprada por 700 mil réis a coleção de Eugênio Hollander, em que constavam conforme a fatura, “...1 coleção de medalhas da campanha do Paraguai; 1 meio dobrão de ouro; 1 medalha de D. Pedro II 1834-ouro; 1 Pataca recunhada Pernambuco-prata; 1 moeda de D. Manuel prata”.[4]

Em 1902 é doada a rica coleção do ex-presidente da República Campos Sales, contendo grande diversidade de peças numismáticas; em 1905 a coleção do dentista Oscar da Veiga é adquirida pelo museu após uma série de negociações, por um conto de réis, e em 1908, é adquirida uma coleção de 30 moedas de prata, comprada por 90$000.[4]

A essas aquisições se somam ao longo dos anos diversas ofertas, de peças individuais e pequenas coleções. Na intenção de enriquecer o acervo também são tentadas trocas com instituições: Em 1895, von Ihering tentou permutar a coleção numismática do Seminário Episcopal de São Paulo por duplicatas de animais empalhados do Museu, proposta negada pelo reitor do Seminário. Também foi proposta sem sucesso a permuta das duplicatas da coleção numismática com a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, em 1915.[4]

Hermann von Ihering, como um profissional das ciências naturais, carecia de conhecimentos específicos de numismática, o que o levou a se corresponder com o  célebre numismata Julius Meili, na tentativa de sanar dúvidas sobre as peças do museu. Em sua correspondência com a Secretaria do interior também são recorrentes os pedidos para a contratação de um ajudante numismata para os quadros do museu, o que não se verificou em sua gestão, encerrada em 1916.[4]

No ano seguinte a gestão do Museu Paulista é assumida pelo historiador Afonso d'Escragnolle Taunay, que permanece no cargo até 1946. Durante sua gestão, os relatórios institucionais de 1922 a 1925 passam a mencionar as coleções de numismática, já se prestando a consultas de pesquisadores; é também nesse período que o museu adquire a coleção de vales particulares em papel.[2]

Dessa maneira, a coleção numismática chega aos anos 1940 com cerca de 9.000 peças. Após a posse de Sérgio Buarque de Holanda como diretor do museu em 1946 a coleção se constitui como um setor específico: o Decreto-lei N. 16.565, de 27 de dezembro de 1946 reorganiza o Museu Paulista, criando a "Secção de Numismática", sendo também criado o cargo de numismata nos quadros do museu, aperfeiçoando o desenvolvimento e a manutenção da coleção numismática.[2][6]

Furtos

Na noite de 25 de janeiro de 1898, diversas moedas, incluindo exemplares de ouro, foram furtadas. Comunicando o fato à Secretaria do Interior, o diretor Hermann von Ihering estimava um prejuízo de cerca de 600 mil réis ao acervo.[4]

Em agosto de 2007, a coleção numismática do museu teve cerca de 900 peças furtadas. Foram levadas notas da coleção de Notgeld, cédulas emitidas por bancos brasileiros no início do século XX, vales e moedas de ouro. O material foi avaliado à época por especialistas em torno de R$100.000. Parte do acervo foi recuperado dias depois pela Polícia Civil e apresentado no 17.o Distrito Policial no dia 11 do mesmo mês.[7][8][9]

Coleções

Vales

Essa coleção é formada por vales que eram convertidos em produtos ou serviços, emitidos por casas comerciais ou pessoas físicas, em diversos estados brasileiros. Também constam dessa coleção propagandas em forma de dinheiro, bilhetes de companhias de trens e bondes, fichas de controle de entrada e saída em fábricas ou fazendas e fichas de trabalho diário.[2]

Notgeld

Em 2003 foi incorporada ao acervo do museu uma coleção de Notgeld - emissões monetárias de emergência - formada por 330 cédulas emitidas na Áustria e Alemanha, em sua maioria datadas de entre 1913 e 1920, contando também com cédulas do período nazista.[2]

Divulgação

As moedas da Roma Antiga (República e Império) que integram o acervo do Museu Paulista integram o catálogo “A coleção de moedas romanas da Universidade de São Paulo”, lançada em 2015, contemplando também a coleção do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, contando com 669 peças de ouro, prata e bronze de ambos os museus, emitidas entre 312 a.C. e 455 d.C. A publicação se divide em três partes, tratando da formação das coleções, a conservação e higienização das peças; e das moedas mais representativas do acervo. O projeto foi possibilitado por meio do edital Museus e Coleções Museológicas, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo, lançado em 2013.[10][11]

Referências

  1. VIEIRA, Rejane (1995). «Um Grande Coleção do Moedas no Museu Histórico Nacional?». Anais do Museu Histórico Nacional. Consultado em 18 de abril de 2020 
  2. a b c d e Almeida, Adilson José de; Ribeiro, Angela Maria Gianeze; Barbuy, Heloisa; Andreatta, Margarida Davina (00/2003). «O Serviço de Objetos do Museu Paulista». Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material. 10-11 (1): 227–257. ISSN 0101-4714. doi:10.1590/S0101-47142003000100013  Verifique data em: |data= (ajuda)
  3. a b c PERRONI, Lígia (2018). «A numismática e o Museu Paulista: a formação de uma coleção de moedas e medalhas em um Museu de História Natural». I Congresso Internacional de Numismática - São Paulo. Consultado em 18 de abril de 2020 
  4. a b c d e f g h Moraes, Fábio Rodrigo de (junho de 2008). «Uma coleção de história em um museu de ciências naturais: o Museu Paulista de Hermann von Ihering». Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material. 16 (1): 203–233. ISSN 0101-4714. doi:10.1590/S0101-47142008000100006 
  5. Carvalho, Paula Carolina de Andrade; Carvalho, Paula Carolina de Andrade (dezembro de 2014). «O Museu Sertório: uma coleção particular em São Paulo no final do século XIX (primeiro acervo do Museu Paulista)». Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material. 22 (2): 105–152. ISSN 0101-4714. doi:10.1590/S0101-47142014000200005 
  6. «Decreto-lei n. 16.565, DE 27 de dezembro de 1946». SÃO PAULO. 27 de dezembro de 1946. Consultado em 18 de abril de 2020 
  7. «900 cédulas e moedas raras são furtadas do museu do Ipiranga». Folha de São Paulo. 10 de agosto de 2007. Consultado em 18 de abril de 2020 
  8. «Polícia recupera parte de acervo roubado de Museu do Ipiranga». G1. 11 de setembro de 2007. Consultado em 18 de abril de 2020 
  9. «Acervo do Museu do Ipiranga é furtado». G1. 9 de agosto de 2007. Consultado em 18 de abril de 2020 
  10. «Catálogo numismático apresenta coleções de moedas antigas da USP». Museu Paulista. Consultado em 18 de abril de 2020 
  11. FLORENZANO, Maria Beatriz (2015). A Coleção de Moedas Romanas da Universidade de São Paulo. São Paulo: MAE - USP