Teoria da modernização: diferenças entre revisões

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== Origens ==
== Origens ==
A teoria da modernização atual teve origem nas ideias do sociólogo alemão [[Max Weber]] sobre o papel da racionalidade e da irracionalidade na transição da sociedade tradicional para a moderna. A abordagem de Weber forneceu a base para o paradigma da modernização popularizado pelo sociólogo [[Talcott Parsons]], que traduziu as obras de Weber para o inglês na década de 1930 e forneceu sua própria interpretação dela.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=eRLBjz2pWQMC&pg=PA20|título=Modernization and the Crisis of Development in Africa: The Nigerian Experience|ultimo=Dibua|primeiro=Jeremiah I.|editora=Ashgate|ano=2006|páginas=20–22|isbn=0-7546-4228-3}}</ref> <ref>{{Citar livro|título=Talcott Parsons on institutions and social evolution: selected writings|editora=University of Chicago Press|ano=1985|editor-sobrenome=Mayhew|localização=Chicago|isbn=0-226-64749-8}}</ref>
A discussão sobre os requisitos para o correto funcionamento das instituições democráticas são anteriores ao século XX. Encontramo-la em filósofos como [[Alexis de Tocqueville]] e [[Aristóteles]], por exemplo.{{sfn| Lopes| Esperidião| Castro| 2020| p=1-2}} Contudo, a teoria da modernização teve origem nas ideias do sociólogo alemão [[Max Weber]] sobre o papel da racionalidade e da irracionalidade na transição da sociedade tradicional para a moderna. A abordagem de Weber forneceu a base para o paradigma da modernização popularizado pelo sociólogo [[Talcott Parsons]], que traduziu as obras de Weber para o inglês na década de 1930 e forneceu sua própria interpretação dela.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=eRLBjz2pWQMC&pg=PA20|título=Modernization and the Crisis of Development in Africa: The Nigerian Experience|ultimo=Dibua|primeiro=Jeremiah I.|editora=Ashgate|ano=2006|páginas=20–22|isbn=0-7546-4228-3}}</ref> <ref>{{Citar livro|título=Talcott Parsons on institutions and social evolution: selected writings|editora=University of Chicago Press|ano=1985|editor-sobrenome=Mayhew|localização=Chicago|isbn=0-226-64749-8}}</ref>


Depois de 1945, a versão parsoniana tornou-se amplamente usada na [[sociologia]] e em outras [[ciências sociais]]. No final dos anos 1960, ela foi fortemente criticada por ser muito geral e não se adaptar a todas as sociedades da mesma maneira.<ref name="Tipps1973">{{Citar periódico |titulo=Modernization theory and the comparative study of national societies: A critical perspective |ultimo=Tipps |primeiro=Dean C. |ano=1973 |paginas=199–226 |doi=10.1017/S0010417500007039 |volume=15 |journal=Comparative Studies in Society and History}}</ref>
Depois de 1945, a versão parsoniana tornou-se amplamente usada na [[sociologia]] e em outras [[ciências sociais]]. No final dos anos 1960, ela foi fortemente criticada por ser muito geral e não se adaptar a todas as sociedades da mesma maneira.<ref name="Tipps1973">{{Citar periódico |titulo=Modernization theory and the comparative study of national societies: A critical perspective |ultimo=Tipps |primeiro=Dean C. |ano=1973 |paginas=199–226 |doi=10.1017/S0010417500007039 |volume=15 |journal=Comparative Studies in Society and History}}</ref>

Porém, foi [[Seymour Martin Lipset]], em seu artigo "Some Social Requisites of Democracy: Economic Development and Political Development" (1959), que colocou em relação complementar e direta desenvolvimento econômico e nível de democracia. Nesse sentido, “aspectos do desenvolvimento econômico, tais como urbanização, industrialização, riqueza e educação relacionam-se, em alguma medida, com a democracia”. Existiria uma relação causal entre eles na medida em que quanto mais urbanizado e industrializado, por exemplo, for um país mais rápido ele se tornará democrático.{{sfn| Lopes| Esperidião| Castro| 2020| p=1-2}}

== Descrédito ==
A teoria da modernização foi fortemente contestada no contexto da [[Guerra Fria]], onde uma interpretação sobre essa teoria surgiu nos Estados Unidos. Ela pregava que o subdesenvolvimento era um traço cultural e psicológico de alguns países e que os países ricos poderiam reverter esse cenário por meio da introdução de valores modernos nesses espaços. Assim, através da assistência nos níveis cultural, econômico e militar, os países democráticos levariam progresso e prosperidade para esses locais. Como nada disso aconteceu, a teoria da modernização acabou sendo fragilizada e perdeu credibilidade entre os [[cientista político|cientistas políticos]].{{sfn| Lopes| Esperidião| Castro| 2020| p=3}}

== Revitalização ==
Desde a década de 1990, diversos estudiosos reforçam que, apesar de necessitar de revisão em seus métodos, a teoria da modernização é, em seu núcleo central, verdadeira. Ou seja, existe, de fato, uma relação intrínseca entre fatores econômicos e a vitalidade da democracia. Nesse sentido, o [[PIB]] per capita seria o melhor indicador para o nível democrático do país em questão. Porém, a teoria da modernização ainda possui muitos críticos, que apontam, entre outras coisas, que o aumento do PIB não teria relação direta com a democracia, mas da estabilidade das “instituições formais de regulação da distribuição de poder político”. Isso explica porque há uma tendência em países com nível intermediário de democracia, quando elevam o PIB per capita, a ter maior probabilidade de regressão dos níveis democráticos. O caso da [[América Latina]] vem sustentando essa visão.{{sfn| Lopes| Esperidião| Castro| 2020| p=4-5}}


== Críticas ==
== Críticas ==
A partir da década de 1970, a teoria da modernização foi criticada por vários estudiosos, incluindo [[André Gunder Frank|Andre Gunder Frank]] <ref>{{Citar livro|título=Theory and methodology of world development: The writings of Andre Gunder Frank|editora=Springer|ano=2010|editor-sobrenome=Chew|editor-sobrenome2=Lauderdale}}</ref> e [[Immanuel Wallerstein]].<ref>{{Citar periódico |titulo=Wallerstein's world capitalist system: a theoretical and historical critique |ultimo=Skocpol |primeiro=Theda |ano=1977 |paginas=1075–90 |doi=10.1086/226431 |jstor=2777814 |volume=82 |journal=[[American Journal of Sociology]]}}</ref>
A partir da década de 1970, a teoria da modernização foi criticada por vários estudiosos, incluindo [[André Gunder Frank|Andre Gunder Frank]] <ref>{{Citar livro|título=Theory and methodology of world development: The writings of Andre Gunder Frank|editora=Springer|ano=2010|editor-sobrenome=Chew|editor-sobrenome2=Lauderdale}}</ref> e [[Immanuel Wallerstein]].<ref>{{Citar periódico |titulo=Wallerstein's world capitalist system: a theoretical and historical critique |ultimo=Skocpol |primeiro=Theda |ano=1977 |paginas=1075–90 |doi=10.1086/226431 |jstor=2777814 |volume=82 |journal=[[American Journal of Sociology]]}}</ref>

Outro tipo de crítica aponta que, de forma geral, os estudos baseados na teoria da modernização analisam de forma binária se um país é ou não democrático através de indicadores, não levando em consideração os diversos níveis de democracia que podem existir entre esses dois polos. Para se ter um estudo mais acurado e próximo da realidade, contudo, seria importante levar esse aspecto em consideração, assim como trabalhar em um largo espaço temporal, pois as [[instituição|instituições]] tendem a demorar para mudar. Assim também é necessário perceber que cada região possui suas particularidades e padrões causais, sendo pouco profícuo a utilização de parâmetros globais.{{sfn| Lopes| Esperidião| Castro| 2020| p=2}}


A teoria da modernização também foi acusada de ser [[Eurocentrismo|eurocêntrica]], uma vez que a modernização começou na Europa, com a [[Revolução Industrial]], a [[Revolução Francesa]] e as [[Revoluções de 1848]].<ref>{{Citar livro|título=Sociology : a global introduction|ultimo=Macionis, John J.|data=2008|editora=Pearson Prentice Hall|localização=Harlow, England|isbn=978-1-282-35044-1|oclc=911071107|edition=4th}}</ref>
A teoria da modernização também foi acusada de ser [[Eurocentrismo|eurocêntrica]], uma vez que a modernização começou na Europa, com a [[Revolução Industrial]], a [[Revolução Francesa]] e as [[Revoluções de 1848]].<ref>{{Citar livro|título=Sociology : a global introduction|ultimo=Macionis, John J.|data=2008|editora=Pearson Prentice Hall|localização=Harlow, England|isbn=978-1-282-35044-1|oclc=911071107|edition=4th}}</ref>

A teoria da modernização também vem sendo crítica por estudiosos ligados à a teoria das múltiplas modernidades, que afirmam haver mais de uma modernidade e que a teoria da modernização promove a valorização de uma modernidade única.{{sfn| Schmidt| 2011}}


== Veja também ==
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* {{citar periódico |último= Schmidt| primeiro= Volker H.|data= 2011||título= Modernidade e diversidade: reflexões sobre a controvérsia entre teoria da modernização e a teoria das múltiplas modernidades |url= http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922011000200009&lng=en&nrm=iso |periódico= Sociedade e Estado |volume= 26| número=2| páginas= 155-183|doi= 10.1590/S0102-69922011000200009|acessodata= 10 de abril de 2021|ref=harv}}
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Revisão das 21h54min de 10 de abril de 2021

A teoria da modernização é usada para explicar o processo de modernização nas diferentes sociedades. Modernização refere-se ao percurso de uma sociedade que ela começa no estágio pré-moderno ou tradicional e se desenvolve para o moderno. A teoria da modernização tem origem nas proposições de Max Weber e serviram para o paradigma da modernização desenvolvido por Talcott Parsons. Essa teoria analisa os fatores internos de cada país que são capazes de modernizá-lo. Ela também aponta que com a correta assistência, os países tradicionais podem desenvolver-se da mesma maneira que os demais países nessa mesma fase. A teoria da modernização foi um paradigma dominante nas ciências sociais nas décadas de 1950 e 1960, quando perdeu sua validade. Ela teve uma nova onda de estudiosos depois de 1991, mas permanece sendo um modelo de análise controverso.[1]

A teoria da modernização sugere que as sociedades tradicionais se desenvolverão à medida que adotarem práticas modernas. Os defensores da teoria da modernização afirmam que os Estados modernos são mais ricos e poderosos e que seus cidadãos são mais livres para desfrutar de um padrão de vida elevado. A modernização é vista como necessária ou, pelo menos, preferível ao status quo. De acordo com essa teoria, as crenças religiosas tradicionais e os traços culturais geralmente tornam-se menos importantes à medida que a modernização avança.[2]

Origens

A discussão sobre os requisitos para o correto funcionamento das instituições democráticas são anteriores ao século XX. Encontramo-la em filósofos como Alexis de Tocqueville e Aristóteles, por exemplo.[3] Contudo, a teoria da modernização teve origem nas ideias do sociólogo alemão Max Weber sobre o papel da racionalidade e da irracionalidade na transição da sociedade tradicional para a moderna. A abordagem de Weber forneceu a base para o paradigma da modernização popularizado pelo sociólogo Talcott Parsons, que traduziu as obras de Weber para o inglês na década de 1930 e forneceu sua própria interpretação dela.[4] [5]

Depois de 1945, a versão parsoniana tornou-se amplamente usada na sociologia e em outras ciências sociais. No final dos anos 1960, ela foi fortemente criticada por ser muito geral e não se adaptar a todas as sociedades da mesma maneira.[6]

Porém, foi Seymour Martin Lipset, em seu artigo "Some Social Requisites of Democracy: Economic Development and Political Development" (1959), que colocou em relação complementar e direta desenvolvimento econômico e nível de democracia. Nesse sentido, “aspectos do desenvolvimento econômico, tais como urbanização, industrialização, riqueza e educação relacionam-se, em alguma medida, com a democracia”. Existiria uma relação causal entre eles na medida em que quanto mais urbanizado e industrializado, por exemplo, for um país mais rápido ele se tornará democrático.[3]

Descrédito

A teoria da modernização foi fortemente contestada no contexto da Guerra Fria, onde uma interpretação sobre essa teoria surgiu nos Estados Unidos. Ela pregava que o subdesenvolvimento era um traço cultural e psicológico de alguns países e que os países ricos poderiam reverter esse cenário por meio da introdução de valores modernos nesses espaços. Assim, através da assistência nos níveis cultural, econômico e militar, os países democráticos levariam progresso e prosperidade para esses locais. Como nada disso aconteceu, a teoria da modernização acabou sendo fragilizada e perdeu credibilidade entre os cientistas políticos.[7]

Revitalização

Desde a década de 1990, diversos estudiosos reforçam que, apesar de necessitar de revisão em seus métodos, a teoria da modernização é, em seu núcleo central, verdadeira. Ou seja, existe, de fato, uma relação intrínseca entre fatores econômicos e a vitalidade da democracia. Nesse sentido, o PIB per capita seria o melhor indicador para o nível democrático do país em questão. Porém, a teoria da modernização ainda possui muitos críticos, que apontam, entre outras coisas, que o aumento do PIB não teria relação direta com a democracia, mas da estabilidade das “instituições formais de regulação da distribuição de poder político”. Isso explica porque há uma tendência em países com nível intermediário de democracia, quando elevam o PIB per capita, a ter maior probabilidade de regressão dos níveis democráticos. O caso da América Latina vem sustentando essa visão.[8]

Críticas

A partir da década de 1970, a teoria da modernização foi criticada por vários estudiosos, incluindo Andre Gunder Frank [9] e Immanuel Wallerstein.[10]

Outro tipo de crítica aponta que, de forma geral, os estudos baseados na teoria da modernização analisam de forma binária se um país é ou não democrático através de indicadores, não levando em consideração os diversos níveis de democracia que podem existir entre esses dois polos. Para se ter um estudo mais acurado e próximo da realidade, contudo, seria importante levar esse aspecto em consideração, assim como trabalhar em um largo espaço temporal, pois as instituições tendem a demorar para mudar. Assim também é necessário perceber que cada região possui suas particularidades e padrões causais, sendo pouco profícuo a utilização de parâmetros globais.[11]

A teoria da modernização também foi acusada de ser eurocêntrica, uma vez que a modernização começou na Europa, com a Revolução Industrial, a Revolução Francesa e as Revoluções de 1848.[12]

A teoria da modernização também vem sendo crítica por estudiosos ligados à a teoria das múltiplas modernidades, que afirmam haver mais de uma modernidade e que a teoria da modernização promove a valorização de uma modernidade única.[13]

Veja também

Outros projetos Wikimedia também contêm material sobre este tema:
Wikilivros Livros e manuais no Wikilivros

Referências

  1. Knöbl, Wolfgang (2003). «Theories That Won't Pass Away: The Never-ending Story». In: Delanty; Isin. Handbook of Historical Sociology. [S.l.: s.n.] pp. 96–107 [esp p. 97] 
  2. «Modernization». Britannica.com. Encyclopædia Britannica. Consultado em 17 de agosto de 2013 
  3. a b Lopes, Esperidião & Castro 2020, p. 1-2.
  4. Dibua, Jeremiah I. (2006). Modernization and the Crisis of Development in Africa: The Nigerian Experience. [S.l.]: Ashgate. pp. 20–22. ISBN 0-7546-4228-3 
  5. Mayhew, ed. (1985). Talcott Parsons on institutions and social evolution: selected writings. Chicago: University of Chicago Press. ISBN 0-226-64749-8 
  6. Tipps, Dean C. (1973). «Modernization theory and the comparative study of national societies: A critical perspective». Comparative Studies in Society and History. 15: 199–226. doi:10.1017/S0010417500007039 
  7. Lopes, Esperidião & Castro 2020, p. 3.
  8. Lopes, Esperidião & Castro 2020, p. 4-5.
  9. Chew; Lauderdale, eds. (2010). Theory and methodology of world development: The writings of Andre Gunder Frank. [S.l.]: Springer 
  10. Skocpol, Theda (1977). «Wallerstein's world capitalist system: a theoretical and historical critique». American Journal of Sociology. 82: 1075–90. JSTOR 2777814. doi:10.1086/226431 
  11. Lopes, Esperidião & Castro 2020, p. 2.
  12. Macionis, John J. (2008). Sociology : a global introduction 4th ed. Harlow, England: Pearson Prentice Hall. ISBN 978-1-282-35044-1. OCLC 911071107 
  13. Schmidt 2011.


Bibliografia